terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Após a primavera árabe, mais islão

Tras la Primavera Árabe, más islam

Não estavam nas barricadas da Avenida Bourguiba da Tunísia quando Ben Ali caiu, nem na Praça Tahrir do Cairo, mas sairam vitoriosos nas eleições democráticas na Tunísia e no Egito após a queda de ditaduras. Os islamistas ganharam de modo rotundo e de certa forma inesperada em dois dos países mais moderados e tolerantes do mundo islâmico.

A vitória do partido Enahda nas eleições legislativas da Tunísia (40% dos assentos) e da Irmandade Muçulmana, nas eleições recem-acabadas no Egito (47%) são a vanguarda do panorama que aguarda a Líbia e, talvez, Síria, se finalmente cair a ditadura de Assad. Os 'barbudos' não estavam na origem das revoltas contra as ditaduras, estrelada em 2011 por jovens de classe média, urbana e nas redes sociais online, mas ganharam na luta democrática. Organizações islâmicas passaram décadas praticando a caridade em toda a geografia árabe, e as classes rurais e baixas são profundamente religiosas.

Assim, quase sincronizados, os dois partidos islâmicos triunfalmente revelaram seu roteiro para o novo processo político e constitucional aberto na África do Norte. Na segunda-feira, a Lista Popular, formação na Tunísia encarregada de redigir a nova Constituição, anunciou que "a Sharia será a principal fonte de legislação." O processo - controlado pelo Enahda contradiz as promessas feitas na Europa pelo seu líder, Rachid Ghannouchi, que o Islã seria exibido na Constituição apenas como "uma descrição da realidade, sem implicações legais."

Mulheres primeiro

Na terça-feira, o líder da Irmandade Muçulmana do Egito, Mohamed Badie, disse no Cairo que a sua formação só votará em um presidente de "credenciais islâmicas" na eleição do novo chefe de Estado.

"O Ocidente tende a pensar de Sharia como 'menos álcool e menos biquínis nas praias', diz um diplomata veterano do Magreb. Certamente que é a preocupação da indústria do turismo, poderosa na Tunísia e Egito. Mas o debate afeta questões muito mais profundas.

A mais sensível é o Código de Família da Tunísia, a legislação do mundo árabe mais igualitária entre homens e mulheres, que poderia ser completamente reformado. Desde a vitória dos islâmicos nas eleições parlamentares, associações de mulheres tunisinas constantemente avisam do perigo e se manifestam nas ruas.

A resistência ante o ataque à tolerância e regras seculares será maior no Egito. Aqui, 10% da população é cristã e o exército ainda mantém grande parcela do poder. Não obstante, o islão radical é mais forte no Egito que na Tunísia, como demostram seus constantes atos de violência contra os coptas e seu segundo lugar nas eleições legislativas, atrás da Irmandade Muçulmana.

Via ABC

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