sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sunitas versus Shiitas: quem está por trás do conflito?

 
Nos últimos anos pudemos observar um agravamento no conflito Sunita-Shiita no Oriente Médio, que tomou forma de guerra fratricida na Síria, em ataques terroristas no Iraque e no Líbano, e protestos, agitação pública e confrontos violentos envolvendo represálias contra ativistas no Bahrain e na Arábia Saudita. O que está por trás da próxima onda de violência na região e quem está provocando uma guerra entre os islâmicos? Uma breve excursão na história de relações entre as duas principais denominações do Islã mostra que hoje não existem razões óbvias ou precondições objetivas para a guerra entre eles.

As diferenças entre os Sunitas e os Shiitas tê suas raizes no passado distante. Depois da morte do Profeta Muhammad em 632 surgiu uma disputa entre seus seguidores sobre quem deveria herdar sua autoridade política e espiritual sobre as tribos árabes. A maioria apoiou o candidato da companhia do Profeta e pai de sua esposa - Abu Bakr, que subsequentemente formou a dominação dos Sunitas, que hoje são em torno de 85% dos islâmicos. Entretanto, outros apoiaram o candidato do primo e genro do Profeta - Ali, declarando que o Profeta apontou ele como sucessor. Este grupo depois se tornou conhecido como Shiita que, em arábico, literalmente significa "seguidores de Ali". Os Sunitas venceram a disputa, e permaneceram no poder no califado árabe (islâmico) por centenas de anos, enquanto que os Shiitas permaneceram às sombras. Na história posterior de relações entre Sunitas e Shiitas não houveram sérios conflitos.

Hoje os Shiitas, divididos em pequenos movimentos (Ahmadiyya, Alawitas, Islaelitas, etc.) são em torno de 15% do número total de islâmicos. Os seguidores deste ramo do Islã são grande maioria na população iraniana, dois terços do Bahrain, mais da metade no Iraque, uma porcentagem significativa no Líbano, Azerbaijão e no Yemen.

Além do Alcorão, os Sunitas vivem de acordo com a "Sunnah" - um conjunto de regras e práticas baseadas em exemplos de vida do Profeta Muhammad. Apesar disso, os Sunitas geralmente compreendem seus textos sagrados literalmente, não deixando espaço para alegorias. Em alguns ramos do islã Sunita isso chega ao extremo. Por exemplo, durante o reinado Talibã no Afeganistão muita atenção foi prestada para o tamanho da barba dos homens, cada detalhe de vida foi estritamente regulamentado de acordo com a Sunnah.

Por causa das contradições mencionadas os Sunitas costumam acusar os Shiitas de heresia, e o último por sua vez expõe o excessivo dogmatismo da doutrina Sunita, que dá origem a vários movimentos extremistas como o Wahabismo.

A mídia ocidental está tentando convencer-nos de que o esparramamento de sangue no Oriente Médio é resultado do conflito Sunita-Shiita baseado em suas diferenças religiosas. Esta versão remove a responsabilidade do Ocidente na interferência de relações internacionais de países na região, bem como a aplicação de padrões duplos e alianças dúbias com os regimes mais reacionários e grupos radicais, incluindo os extremistas. O conflito (fomentado pelo estrangeiro) entre os Sunitas e Shiitas ameaça engolir a região no caos e violência por muitos anos. O conflito Sunita-Shiita está sendo manipulado por jogadores externos, que de tal forma realizam seus próprios interesses nacionais e corporativos (controle de recursos, militarização da região, enriquecimento dos "senhores da guerra" etc.).

Não apenas os Sunitas se opõe aos Shiitas, mas as elites políticas conectadas com o Ocidente por dúzias de vínculos econômicos, políticos, militares, financeiros e outros. Ademais, mitos sobre o "fanatismo Shiita" foram fabricados por motivos de propaganda, bem como os mitos sobre "ditaduras sangrentas dos aiatolás", "povo anti-Bashar al Assad", uma base ideológica inteiramente nova foi criada para esta "caça às bruxas". Os objetivos de longo prazo do conflito Sunita-Shiita são muito transparentes: a destruição ou enfraquecimento dos aliados do Irã na região, como o governo do Assad na Síria, bem como o "Hezbollah" no Líbano; o aumento da pressão sobre o governo da maioria Shiita no Iraque; e o isolamento do Irã no Golfo Pérsico e em toda a região.

O fundador da República Islâmica do Irã, Imam Khomeini precisamente estabeleceu: "O conflito entre os Sunitas e Shiitas é uma conspiração do Ocidente. O desacordo entre nós é financiado somente pelos inimigos do Islã. Aquele que não compreender isto - não é um Sunita nem um Shiita."

Dever-se-ia notar que o "front Sunita" contra os Shiitas é encabeçado pela Arábia Saudita e pelo Qatar (aliados regionais dos EUA). O Bahrain, Kuwait, Emirados Árabes Unidos estão também envolvidos nisto, mas em um nível menos. Quais são as razões para a boa vontade de Riyadh e seus aliados no Golfo para seguir a política tradicional "dividir e governar"?

Primeiramente, Riyadh e seus aliados não estão satisfeitos com o aumento do prestígio e influência do Irã na região e no mundo islâmico (o regime Shiita no Iraque, Alawi na Síria, o papel e importância dos Shiitas no Líbano) em geral.

Segundo, as monarquias do Golfo se amedrontaram com os eventos da "Primavera Árabe" que chocou o mundo árabe no seu núcleo e causou uma onda de protestos nos países do Golfo. A maioria dos protestos de maior escala aconteceram na Província Oriental da Arábia Saudita, que é densamente povoada por Shiitas. Apoiados pelos poderosos Sunitas, os governantes do Golfo não quiseram compartilhar poder e renda com a população Shiita e se utilizaram de métodos violentos para oprimir as demonstrações.

Os monarcas destes países acreditam que o confronto abertamente armado entre os Sunitas e Shiitas não apenas ajuda a se manter no poder, mas também os ajuda a assumir a absoluta liderança do mundo islâmico. Além disso, os monarcas não dispensam gastos na guerra e não hesitam em recrutar soldados mundo a fora e cooperar com grupos terroristas como Al-Qaeda, Jahbhat al Nusra, etc.

O contínuo conflito Sunita-Shiita não pode ser interrompido por quaisquer encontros internacionais ou conferências que servem como véu para cobrir crimes internacionais na Síria. Milhões de vidas de civis poderiam ser salvos se o Conselho de Segurança da ONU adotasse uma resolução para banir qualquer intervenção estrangeira nestes conflitos, e se os países que apoiam terrorismo forem submetidos a sanções como as que estão sendo aplicadas contra o Irã.

Via Globaldiscussion

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

"Unidos pelo Ódio" - Dugin analisa a crise ucraniana



Manuel Ochsenreiter.: Prof. Dugin, a mídia de massas Ocidental e políticos do establishment descrevem a recente situação na Ucrânia como um conflito entre a aliança de oposição  pro-Européia, democrática e liberal de um lado e um regime autoritário com um ditador como presidente no outro lado. O senhor concorda?


Dugin: Eu conheço essas histórias e considero esse tipo de análise completamente errada. Nós não podemos dividir o mundo ao estilo de Guerra Fria. Não existe um ‘mundo democrático’ que se coloca contra um ‘mundo anti-democrático’, como muito da mídia Ocidental relata.


 M.O.: O seu país, a Rússia, é um dos centro do chamado ‘mundo anti-democrático’ se acreditarmos na nossa mídia de massas. E lemos que a Rússia, com o presidente Vladimir Putin, tenta intervir na política interna ucraniana...


Dugin: Isso é completamente errado. A Rússia é uma democracia liberal. Dê uma olhada na constituição russa: nós temos um sistema eleitoral democrático, um parlamento funcional, sistema de livre mercado. A constituição é baseada no padrão Ocidental. Nosso presidente, Vladimir Putin, governa o país de maneira democrática. Nós não somos uma monarquia, nós não somos uma ditadura, nós não somos um regime comunista soviético.


M.O.: Nossos políticos na Alemanha chamam Putin de ‘ditador’.


Dugin: (Risadas) Fundamentados em que?


M.O.: Por causa de suas leis-LGBT, seu apoio à Síria, os processos contra Michail Chodorchowski e o ‘Pussy Riot’...


Dugin: Então eles o chamam de ‘ditador’ porque eles não gostam da mentalidade russa. Todos os pontos que você citou são completamente legítimos democraticamente. Não há sequer um elemento ‘autoritário’. Então nós não devemos confundir isso: mesmo que você não goste da política russa, você não pode negar que a Rússia é uma democracia liberal. O presidente Putin aceita as regras democráticas do nosso sistema e as respeita. Ele nunca violou uma única lei. Então a Rússia é parte do campo democrático liberal e o padrão da Guerra Fria não funciona para explicar a crise ucraniana.


M.O.: Então como nós podemos descrever esse conflito violento e sangrento?


Dugin: Nós precisamos de uma análise geopolítica e civilizacional muito clara. E nós temos que aceitar fatos históricos, mesmo que nesses dias eles não estejam em voga.


M.O.: O que o senhor quer dizer?


Dugin: A Ucrânia atual é um Estado que nunca existiu na história. É uma entidade recentemente criada. Esta entidade tem pelo menos duas partes completamente diferentes. Essas duas partes têm diferentes identidades e culturas. Há a Ucrânia ocidental que está unida com a identidade do Leste Europeu. A vasta maioria das pessoas vivendo na Ucrânia ocidental se consideram como Leste Europeus. E essa identidade é baseada na rejeição completa de qualquer ideia pan-Eslávica junto da Rússia. Russos são considerados inimigos existenciais. Nós podemos colocar assim: eles odeiam os russos, a cultura russa e claro, a política russa. Isso é parte importante da identidade deles.


M.O.: O senhor, como russo, não fica chateado com isso?


Dugin: (Risadas) De maneira alguma! É uma parte da identidade. Isso não necessariamente significa que eles querem guerrear contra nós, mas eles não gostam de nós. Nós devemos respeitar isso. Veja, os estadounidenses são odiados por muito mais gente e eles também aceitam isso. Então quando os Ucranianos ocidentais nos odeiam, não é bom nem ruim – é um fato. Vamos simplesmente aceitar isso. Nem todo mundo tem que nos amar!


M.O.: Mas os ucranianos do leste gostam mais de vocês russos!


Dugin: Não tão rápido! A maioria das pessoas vivendo na parte oriental da Ucrânia compartilham uma identidade comum com o povo russo – histórica, civilizacional e geopolítica. A Ucrânia Oriental é um país absolutamente russo e eurasiano. Então existem duas Ucrânias. Nós vemos isso muitos claramente nas eleições. A população está dividida em qualquer questão importante. Especialmente quando se trata de relações com a Rússia nós presenciamos o quão dramático se torna esse problema: uma parte é absolutamente anti-Rùssia, a outra parte absolutamente pró-Rússia. Duas sociedades diferentes, dois países diferentes e duas diferentes identidades nacionais e históricas vivendo em uma entidade.


M.O.: Então a questão é: qual sociedade domina a outra?




Dugin: Essa é uma parte importante da política ucraniana. Nós temos duas partes e temos a capital, Kiev. Mas em Kiev nós temos as duas identidades. Não é a capital nem da Ucrânia Ocidental e nem da Ucrânia Oriental. A capital da parte ocidental é Lviv, a capital da parte oriental é Kharkiv. Kiev é a capital de uma entidade artificial. Estes são todos fatos importantes para entender o conflito.


M.O.: A mídia ocidental, assim como os ‘nacionalistas’ ucranianos iriam discordar fortemente do termo ‘artificial’ para o Estado ucraniano.


Dugin: Os fatos estão claros. A criação do Estado da Ucrânia dentro das fronteiras de hoje não foi resultado do desenvolvimento histórico. Foi uma decisão burocrática e administrativa da União Soviética. A República Socialista Soviética Ucraniana era uma das 15 repúblicas constituintes da União Soviética desde a sua inserção em 1922 até o seu fim em 1991. Durante essa história de 72 anos as fronteiras da república mudaram muitas vezes, com uma parte significativa do que agora é a Ucrânia ocidental sendo anexada pelo Exército Vermelho em 1939 e a adição da Criméia russa em 1954.


M.O.: Alguns políticos e analistas dizem que a solução mais fácil seria a partição da Ucrânia em um Estado Oriental e outro Ocidental.


Dugin: Não é tão fácil quanto parece porque nós teríamos problemas com minorias nacionais. Na parte ocidental da Ucrânia vivem hoje muitas pessoas que se consideram russas. Na parte oriental vive uma parte da população que se considera ucranianos ocidentais. Você vê: uma simples partição do Estado não iria realmente resolver o problema, mas até mesmo criar um novo. Nós podemos imaginar a separação da Criméia, porque essa parte da Ucrânia é um território populado puramente por russos.


M.O.: Por que parece que a União Europeia está muito interessada em ‘importar’ todos esses problemas para a sua esfera?


Dugin: [Isso] Não é do interesse de qualquer aliança europeia, é do interesse dos EUA. É uma campanha política dirigida contra a Rússia. O convite de Bruxelas para a Ucrânia se juntar ao Ocidente trouxe imediatamente o conflito com Moscou e o conflito interno da Ucrânia. Isso não é absolutamente surpreendente para ninguém que conheça sobre a sociedade e a história ucraniana.


M.O.: Alguns políticos alemães disseram que eles estavam surpresos com as cenas de Guerra Civil em Kiev...


Dugin: Isso diz mais respeito aos padrões de educação histórica e política dos seus políticos do que sobre a crise na Ucrânia...


M.O.: Mas o presidente ucraniano, Viktor Yanukovych rejeitou o convite do ocidente.


Dugin: Claro que rejeitou. Ele foi eleito pelo oriente pró-Rússia e não pelo ocidente. Yanukovych não pode agir contra os interesses da sua própria base eleitoral. Se ele aceitasse o convite Ocidental/[da]União Europeia, ele seria imediatamente um traidor aos olhos dos seus eleitores. Os apoiadores de Yanukovych querem a integração com a Rússia. Para colocar de forma clara: Yanukovych simplesmente fez o que era lógico para ele fazer. Sem surpresa, sem milagre. Simplesmente a política lógica.


M.O.: Há agora uma aliança política de oposição muito plural e colorida contra Yanukovych: Esse aliança inclui os típicos liberais, anarquistas, comunistas, grupos de direitos gays, também nacionalistas e até grupos neo-nazistas e hooligans. O que mantem esse diferentes grupos e ideologias juntos?


Dugin: Eles estão unidos por puro ódio contra a Rússia. Yanukovych é, aos olhos deles, é um proxy da Rússia, o amigo do Putin, o homem do oriente. Eles odeiam tudo relacionado à Rússia. Esse ódio os mantem juntos; esse é um bloco de ódio. Para colocar claramente: o ódio é a ideologia política deles. Eles não amam a União Europeia ou Bruxelas.


M.O.: Quais são os principais grupos? Quem está dominando as ações da oposição?


Dugin: São claramente os mais violentos grupos neo-nazistas do chamado Euromaidan. Eles incitam a violência e provocam uma situação de guerra civil em Kiev.


M.O.: A mídia de massas do ocidente alega que o papel desses grupos extremistas é dramatizado pela mídia pró-Rússia para difamar a totalidade da aliança de oposição.


Dugin: Claro que eles alegam. Como eles pretendem justificar [o fato de que] a União Europeia e os governos europeus apoiam extremistas, racistas e neo-nazistas fora das fronteiras da União Europeia enquanto que dentro dela eles tomam as ações mais melodramáticas e caras contra até mesmo os mais moderados grupos de direita?


M.O.: Mas como podem, por exemplo, os grupos de direitos gays e liberais de esquerda lutar juntamente com neo-nazistas que são reconhecidamente não muito receptivos a gays?


Dugin: Primeiramente, todos esses grupos odeiam a Rússia e o presidente russo. Isso faz deles camaradas. E os grupos liberais de esquerda não são menos extremistas do que os grupos neo-nazistas. Nós tendemos a pensar que eles são liberais, mas isso esta horrivelmente errado. Nós percebemos frequentemente, especialmente na Europa Oriental e na Rússia, que o Lobby Homossexual, os ultra-nacionalistas e os grupos neo-nazistas são aliados. O Lobby Homossexual também tem ideias muito extremistas sobre como deformar, reeducar e influenciar a sociedade. Nós não devemos nos esquecer disso. O lobby gay e lésbico não é menos perigoso para qualquer sociedade do que neo-nazistas.


M.O.: Nós conhecemos tal aliança também em Moscou. O blogger liberal e candidato a prefeito de Moscou, Alexei Navalny, era apoiado por essa aliança de organizações de direitos gays e grupos neo-nazistas.


Dugin: Exatamente. E essa coalizão [a favor de] Navalny também era apoiada pelo Ocidente. A questão é: [a preocupação] não está em nada relacionada com o conteúdo ideológico desses grupos. Isso não é de interesse do ocidente.


M.O.: O que o senhor quer dizer?


Dugin: O que aconteceria se organizações neo-nazistas apoiassem Putin na Rússia ou Yanukovych na Ucrânia?


M.O.: A União Europeia começaria uma campanha política; todas as imensas corporações de mídia massiva do ocidente iriam fazer a cobertura e escandalizar [o fato].


Dugin: Este é exatamente o caso. Então a questão é apenas sobre qual o lado que tais grupos apoiam. Se o grupo é contra Putin, contra Yanukovych, contra a Rússia, a ideologia desse grupo não é um problema. Se esse grupo apoia Putin, a Rússia ou Yanukovych, a ideologia imediatamente se transforma em um imenso problema. A questão é toda sobre qual campo geopolítico o grupo defende. Não é nada além de geopolítica. O que está acontecendo na Ucrânia é uma lição muito boa. A lição nos diz: a geopolítica está dominando aqueles conflitos e nada mais. Nós testemunhamos isso também em outros conflitos, por exemplo na Síria, na Líbia, no Egito, na região do Cáucaso, no Iraque, no Irã...


M.O.: Qualquer grupo alinhado ao Ocidente é um ‘grupo bom’ sem importar se ele é extremista?


Dugin: Sim, e qualquer grupo que se coloque contra o Ocidente – mesmo que esse grupo seja secular e moderado – será chamado de ‘extremista’ pela propaganda ocidental. Essa aproximação é exatamente o que domina os campos-de-batalha geopolíticos atualmente. Você pode ser o guerreiro salafista mais radical e brutal, você pode odiar judeus e comer órgãos humanos na frente de uma câmera, contanto que você lute pelo interesse ocidental contra o governo sírio, você será um respeitado e ajudado aliado do Ocidente. Quando você defende uma sociedade pluri-religiosa, secular e moderada, a propósito, [são] todos ideais do Ocidente, mas você toma a posição contra os interesses ocidentais, como o governo sírio, você é o inimigo. Ninguém está interessado no que você acredita, a questão é toda sobre qual campo geopolítico você escolheu, se você está certo ou errado aos olhos da Hegemonia Ocidental.


M.O.: Prof. Dugin, especialmente os grupos de oposição ucranianos se auto-denominando de’nacionalistas’ iriam discordar fortemente do senhor. Eles alegam: “Nós somos contra a Rússia e contra a União Europeia, nós tomamos uma terceira posição!”. A mesma coisa que ironicamente seria dita por um guerreiro salafista na Síria: “Nós odiamos estadounidenses tanto quanto o governo sírio!”. Existe algo como uma possível terceira posição na guerra geopolítica de hoje?


Dugin: A ideia de tomar uma terceira posição independente dos dois blocos dominantes é muito comum. Eu tive algumas interessantes entrevistas e conversas com a principal figura da guerrilha separatista da Chechênia. Ele me confessou que realmente acreditava na possibilidade de uma Chechênia Islâmica independente e livre. Mas depois ele entendeu que não existe uma ‘terceira posição’, sem possibilidades para isso. Ele entendeu que luta contra a Rússia ao lado do Ocidente. A mesma terrível verdade acerta os ‘nacionalistas’ ucranianos e os guerreiros árabes salafistas: Eles são proxies ocidentais. Pra eles é difícil aceitar porque ninguém gosta da ideia de ser um idiota útil de Washington.


M.O.: Para falar claramente: a ‘terceira posição’ é absolutamente impossível?


Dugin: Sem possibilidades para isso atualmente. Na geopolítica existe o poder terrestre e o poder marítimo. Hoje o poder terrestre é representado pela Rússia, o poder marítimo por Washington. Durante a 2ª Guerra Mundial a Alemanha tentou impor uma terceira posição. Esta tentativa foi baseada precisamente nesses erros políticos que estamos conversando agora. A Alemanha entrou em guerra contra o poder marítimo representado pelo Império Britânico e contra o poder terrestre representado pela Rússia. Berlim lutou contra as principais forças mundiais e perder a guerra. O fim foi a completa destruição da Alemanha. Então quando mesmo a vigorosa e forte Alemanha daquela época não foi forte o suficiente pra impor a terceira posição, como os grupos muito menores e mais fracos querem fazer isso hoje? É impossível, é uma ilusão ridícula.


M.O.: Qualquer pessoa que alega lutar por uma ‘terceira posição’ independente hoje é um proxy do Ocidente?


Dugin: Na maioria dos casos, sim.


M.O.: Moscou parece muito passive. A Rússia não apoia nenhum proxy, por exemplo, nos países da União Europeia. Por que?



Dugin: A Rússia não possui uma agenda imperialista. Moscou respeita a soberania e não interferiria na política interna de nenhum outro país. E esta é uma política honesta e boa. Nós vemos isso mesmo na Ucrânia. Nós vemos muito mais políticos da União Europeia e até mesmo políticos estadounidenses e diplomatas viajando para Kiev para apoiar a oposição do que políticos russos apoiando Yanukovych na Ucrânia. Nós não devemos nos esquecer que a Rússia não tem qualquer interesse hegemônico na Europa, mas os estadounidenses têm. Falando francamente, a União Europeia não é uma entidade genuinamente europeia – é um projeto imperialista transatlântico. Ela não serve o interesse dos europeus, mas os interesses da administração de Washington. A ‘União Europeia’ é em realiadde anti-europeia. E o ‘Euromaidan’ é em realidade ‘anti-Euromaidan’ – eles são puramente proxies estadounidenses. A mesma cosia serve para os grupos de direitos homossexuais e organizações como o FEMEN ou os grupos liberais de esquerda.


*Todos os créditos da entrevista a Manuel Ochsenreiter.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Correa sobre Chevron: Novas formas de neocolonialismo tratam de esconder a verdade

O presidente do Equador, Rafael Correa, reiteirou esta terça desde Havana, Cuba, que a Chevron busca através de novas formas de neocolonialismo esconder a verdade do impacto ecológico que causou à Amazônia do país sul-americano.



Em uma entrevista exclusiva para teleSUR com a jornalista Arleen Rodríguez, desde a II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), o presidente afirmou que "o julgamento moral ganhamos, porém falta o julgamento neocolonialista pois esta ordem mundial obedece ao mais forte".

O chefe de estado equatoriano comentou que os tribunais aos quais recorreu a transnacional se deixam levar por potências. "Todos já sebemos a quem esses tribunais obedecem".

"A única forma de mudar essa ordem mundial tão injusta é com a integração, já que o sonho da integração de nossos libertadores se converteu em uma necessidade de sobrevivência", disse o presidente, que além disso comentou que durante seu governo foi vítima de ataque impiedoso de organizações como a CIA que buscam difamá-lo.

"Temos que enfrentar campanhas implacáveis através dos meios de comunicação e das organizações não-governamentais que estão no país e que se for para fortalecer a democracia, que fortaleçam a democracia de seus países".

Em relação da retirada do Equador em 21 de janeiro do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) comentou que "a nossa América deve se livrar de todas as instituições colonialistas" que a seu ver não colaboram para o desenvolvimento do país senão dar poder às grandes potências e colocou como exemplo o caso das Ilhas Malvinas, território argentino sob do mínio da Inglaterra.

Via teleSUR

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

CIA mantém prisões de tortura clandestinas na Polônia


A Agência Central de Inteligência (CIA) utiliza desde 2003 um centro de reclusão oculto no território polonês para torturar os suspeitos do atentado de 11 de setembro de 2001, informou nesta quinta-feira o jornal The Washington Post.

Dois oficiais de alto escalão da agência estadunidense firmaram um acordo com agentes da Inteligência polonesa, a qual a CIA teve que pagar em torno de 15 milhões de dólares por utilizar a prisão secreta exclusiva para amedrontar os prisioneiros trazidos de Guantánamo, por exemplo.

A agência de inteligência começou a transportar réus condenados por seus vinculados ataques às torres gêmeas à prisão localizada em torno dos lados poloneses, antes de pagar em dinheiro que foi destinado desde Alemanha à embaixada estadunidense em Varsóvia (capital polonesa), em um par de caixas de cartão por bolsa.

Esta foi a primeira de três prisões secretas utilizadas pela CIA na Europa para interrogar e torturar terroristas.

O jornal salienta que Jalid Sheij Mohamad, conhecido como autor material dos atentados de 11 de setembro, foi torturado neste local com diferentes técnicas de castigo, desde bofetadas, privação de sono, até afogamento dissimulado.

O Comitê Seleto sobre Inteligência do Senado dos Estados UNidos tem previsto publicar parte dos dados de 6 mil páginas que expõe surpreendentes detalhes sobre os programas de detenções e interrogações da CIA.

Segundo as Nações Unidas, o presidente Barack Obama finalizou o programa de prisioneiros da CIA em sua primeira semana de mandato.

Não obstante, em 2005 a organização de direitos humanos Human Rights Watch acusou Polônia e Romênia, entre outros países de ter permitido que a CIA mantivesse centros de interrogatóio financiados pela Casa Branca (sede do governo dos EUA).

O investigador especial do Parlamento Europeu, Dick Marty, publicou em 2007 a prova da existência de cárceres secretas no leste da Europa, mas todos os governos eslavos rechaçaram esta possibilidade.

O principal objetivo atual da CIA é captar informação no exterior no marco da luta contra o terrorismo internacional. Há alguns anos se estimava que contava com 17 mil trabalhadores e um orçamento anual de 3 bilhões de dólares.

Nota do Blog: Obama recentemente publicou que fechará os programas de espionagem da NSA e diminuirá todos os outros de todas as outras agências. Mas, a luz desta informação das prisões secretas, podemos confiar na sua promessa? De nenhuma maneira. O que vai acontecer, e já está acontecendo, é um ocultamento ainda mais profundo dos interesses dos EUA; a dissolução dos programas existentes apenas será um meio de reformar as agências e filtrar ainda mais as informações que vem e vão.

Via Telesur

domingo, 19 de janeiro de 2014

A verdade sobre o programa nuclear secreto de Israel

Israel andou roubando segredos nucleares e dissimuladamente fabricando bombas desde 1950. E os governos ocidentais, incluindo o Reino Unido e os EUA, fecham os olhos. Mas como podemos esperar que o Irã freie suas ambições nucleares se os israelitas não jogam limpo?

Dimona
Muito abaixo das areias desérticas, um Estado do Oriente Médio preparado para o combate constrói bombas nucleares às escondidas, usando tecnologia e materiais providenciados por poderes aliados ou roubados por redes clandestinas de agentes. É o tipo de coisa e de relatos usados para caracterizar os piores medos com relação ao programa nuclear iraniano. Na verdade, nem os EUA nem a inteligência britânica acreditam que Teerã tenha decidido construir uma bomba, e os projetos atômicas iranianos estão sob constante monitoramento internacional.

No entanto, o conto exótico da bomba escondida no deserto é verdadeiro. É apenas algo que se aplica a um outro país. Em uma façanha de subterfúgio, Israel conseguiu montar um arsenal nuclear subterrâneo - agora estimado em 80 ogivas, em par com Índia e Paquistão - e ainda testaram uma bomba a quase meio século atrás, com um mínimo de alarido internacional ou sequer consciência pública do que estava acontecendo.

Apesar do fato de que o programa nuclear israelense tem sido um segredo aberto desde um técnico descontente, Mordechai Vanunu, difundiu em 1986, a posição oficial israelense até hoje nunca confirmou ou negou sua existência.

Quando o ex-portavoz de Knesset, Avraham Burg, quebrou o tabu mês passado, declarando a posse de Israel tanto de armas nucleares como de armas químicas e descrevendo a política oficial não-divulgada como "antiquada e infantil" um grupo de direita formalmente o chamou para uma investigação policial por traição.

Enquanto isso, os governos ocidentais ajudaram com a política de "opacidade" evitando toda menção do fato. Em 2009, quando uma repórter de Washington veterana, Helen Thomas, perguntou ao Barack Obama no primeiro mês de sua presidência se ele sabia de algum país no Oriente Médio que tenha bombas nucleares, ele desviou do assunto dizendo apenas que não gostaria de "especular".

Os governos do Reino Unido seguiram esse comportamento. Perguntado na House of Lords em Novembro sobre as armas nucleares israelenses, Baroness Warsi respondeu tangenciando. "Israel não declarou um programa de armas nucleares. Nós temos discussões regulares com o governo de Israel no domínio de questões nucleares", disse a ministra. "O governo de Israel está sem dúvida nas nossas visões. Nós encorajamos Israel a participar no Tratado de Não Proliferação [NPT em inglês]".

Mas através das rachaduras na parede, mais e mais detalhes continuam a emergir de como Israel construiu suas armas nucleares contrabandeando partes e roubando tecnologia.

O conto serve como um contraponto histórico na atual luta prolongada sobre as ambições nucleares iranianas. Os paralelos não são exatos - Israrael, diferentemente do Irã, nunca assinou o Tratado de Não Proliferação de 1968, então não poderia violá-lo. Mas quase certamente quebrou um tratado banindo testes nucleares, bem como incontáveis leis nacionais e internacionais restringindo o tráfico de materiais nucleares e tecnologia.

A lista de nações que secretamente venderam a Israel material e tecnologia para a fabricação de ogivas, ou quem fechou os olhos ao seu roubo, inclui hoje os partidários mais ferrenhos contra a proliferação: EUA, França, Alemanha, Reino Unido e até mesmo a Noruega.
Mordechai Vanunu

Enquanto isso, os agentes israelenses comandam a compra de material e a tecnologia encontrada, em alguns dos mais sensíveis estabelecimentos industriais do mundo. Este ousado e incrivelmente bem sucedido anel de espionagem, conhecido por Lakam, o acrônimo hebreu para o som-inócuo de Science Laision Bureau, incluiu figuras coloridas como Arnon Milchan, um bilhonário, produtor de Hollywood e de filmes tais como Pretty Woman, LA Confidential e 12 Years a Slave, que finalmente admitiu seu papel mês passado.

"Vocês sabe o que é ser uma criança de vinte e poucos anos e seu país deixá-lo ser James Bond? Uau! A ação! Foi incrível", disse ele no documentário israelita.

A história de vida de Milchan é colorida, e diferente o bastante para ser sujeito de um sucesso que ele banca. No documentário, Robert de Niro relembra a discussão do papel de Milchan na aquisição ilícita de ogivas nucleares. "Em algum ponto eu perguntei sobre aquilo, sendo amigos, mas não de uma forma acusatória. Eu apenas gostaria de saber", disse De Niro. "E ele disse: sim, eu fiz. Israel é meu país".

Milchan não estava envergonhado sobre usar as conexões de Hollywood para ajudar sua segunda e sombria carreira. Em certo ponto, ele admitiu no documentário, ele usou a isca de uma visita ao ator Richard Dreyfuss para conseguir um cientista top dos EUA, Arthur Biehl, para se juntar ao trabalho de uma de suas companhias.

De acordo com a biografia de Milchan, feita pelos jornalistas Meir Doron e Joseph Gelman, ele foi recrutado em 1965 pelo presidente israelita, Shimon Peres, com quem ele encontrou em Tel Aviv em um bar noturno (chamado Mandy's, nomeado depois que sua própria esposa, Mandy Rice-Davis, se envolveu num escândalo de sexo). Milchan, que então comandou a companhia, nunca olhou para trás, ocupando um cargo central no programa de aquisição clandestina israelita.

Ele foi responsável por garantir tecnologia de enriquecimento de Urânio, conseguir projetos centrífugos que um executivo alemão foi subornado a extraviar em sua cozinha. Os mesmos diagramas, pertencendo ao consórcio europeu de enriquecimento de Urânio, Urenco, foram roubados em uma segunda vez por um empregado paquistanês, Abdul Qadeer Khan, que usou para encontrar seu programa de enriquecimento e para estabelecer um contrabando nuclear global, vendendo o design para Líbia, Coreia do Norte e Irã.

Por esta razão, as centrífugas israelitas são muito parecidas com as iranianas, uma convergência que permitiu aos israelitas desenvolver um vírus de computador, de codenome Stuxnet, nas suas próprias centrífugas antes de deixá-la para o Irã em 2010.

Indiscutivelmente, as façanhas de Lakam foram ainda mais ousadas que as de Khan. Em 1968, organizou o desaparecimento de um cargueiro cheio de Urânio em minério no meio do Mediterrâneo. No que ficou conhecido como o caso Plumbat, os israelitas usaram uma rede de companhias para comprar uma consignação de óxido de Urânio, conhecido como Yellowcake, em Antwerp. O Yellowcake foi concedido em tambores etiquetados por 'Plumbat', um derivado de Chumbo, e carregado em um cargueiro arrendado por uma companhia de telefone liberiana. A venda foi camuflada como transação entre companhias da Alemanha e Itália com ajuda de oficiais alemães, em troca de uma oferta israelita para ajudar os alemães com tecnologia centrífuga.

Quando o barco, o Scheersberg A, ancorou em Rotterdam, todo pessoal foi demitido sob pretexto de que o navio foi vendido e um pessoal israelita tomou seu lugar. O barco embarcou em direção ao Mediterrâneo onde, sob a guarda naval israelita, a carga foi transferida para outro barco.

Documentos britânicos e estadunidenses desclassificados ano passado também revelaram um prévio desconhecimento da aquisição israelita de mais de 100 toneladas de yellowcake da Argentina em 1963 ou 1964, sem as salvaguardas tipicamente usadas em transações nucleares para prevenir o material usado em armas.

Israel teve algumas vertigens sobre a proliferação de armas nucleares bem conhecidas e materiais, dando ao regime de apartheid sul-africano ajuda no desenvolvimento de sua própria bomba nos anos 70 por 600 toneladas de yellowcake.
Dimona, planta camuflada

O reator nuclear israelita também exigiu óxido de Deutério, também conhecido como água pesada, para moderar a reação de fissão. Para isso, Israel foi atrás da Noruega e do Reino Unido. Em 1959, Israel conseguiu comprar 20 toneladas de água pesada que a Noruega vendeu ao Reino Unido, mas foi escessivo para o programa nuclear britânico. Ambos governos suspeitaram de que o material seria usado para fabricar armamento, mas decidiram olhar de outra forma. Em documentos vistos pela BBC em 2005, oficiais britânicos argumentaram que seria "zeloso demais" impôr salvaguardas. Por sua vez, Noruega se encarregou de apenas uma visita de inspeção em 1961.

O projeto de armas nucleares israelita nunca poderia ter ficado oculto, embora, sem uma enorme contribuição da França. O país que tomou a mais ferrenha linha na contra-proliferação quando se tratou do Irã, dirigido por um senso de culpa sobre permitir a queda de Israel em 1956 no conflito de Suez, simpatia dos cientistas franco-judaicos, compartilhamento de inteligência sobre Algéria e um direcionamento para a venda de especialistas franceses e estrangeiros.

"Houve uma tendência para tentar exportar e houve um sentimento geral de apoio a Israel", contou Andre Finkelstein, ex-vice deputado n no Comissariado Francês de Energia Atômica e deputado diretor geral na Agência Internacional de Energia Atômica, a Avner Cohen, um estadunidense-israelita historiador nuclear. O primeiro reator francês foi crítico como em 1948, mas a decisão de construir armas nucleares parece ter sido tomada em 1954, depois que Pierre Mendès France fez sua primeira viagem para Washington como presidente do conselho de ministros da caótica Quarta República. Na volta ele contou a um assessor: "É exatamente como um encontro de uma quadrilha. Todo mundo põe sua arma na mesa, e se você não tiver arma você não é ninguém. Então temos que ter um programa nuclear."

Mendès France deu ordem para começar a construir bombas em dezembro de 1954. E conforme construíra seu arsenal, Paris vendeu material de assistência para outros Estados aspirantes, não apenas Israel.

"Assim foi muitos, muitos anos até que tenhamos feito exportações estúpidas, incluindo Iraque e a planta no Paquistão, o que foi uma loucura", lembrou Finkelstein em uma entrevista que pode agora ser lida em uma coleção dos papeis de Cohen em um thintank Wilson Centre em Washington. "Nós tivemos sido o país mais irresponsável na não-proliferação".

Em Dimona, engenheiros franceses resolveram ajudar Israel a construir um reator nuclear e uma planta de reprocessamento secreto ainda mais secreta capaz de separar Plutônio do combustível gasto no reator. Essa foi a real doação que o programa nuclear israelita visava na produção de armas.

No fim dos anos 50, haviam 2500 cidadãos franceses em Dimona, transformando-a de uma vila para uma cidade cosmopolita, completa com liceus franceses e estradas cheias de Renaults, e já todo empenho foi conduzido sob um grosso véu de segredo. O jornalista investigador estadunidense Symour Hersh escreveu em seu livro The Samson Option: "Trabalhadores franceses em Dimona foram proibidos de escrever diretamente a parentes e amigos na França ou em qualquer lugar, mas enviam correio a uma caixa-postal na América Latina".

Os britânicos foram mantidos fora desse laço, sendo informados em diferentes momentos que a enorme construção estava em institutos de pesquisa em pradarias desérticas e em uma planta de processo de Manganês. Os estadunidenses, também mantidos no escuro tanto por Israel como pela França, mandaram aviões espiões U2 sobre Dimona em uma tentativa de encontrar o que estavam buscando. Os israelitas admitiram possuir um reator, mas insistiram que tinha propósitos totalmente pacíficos. O combustível gasto foi enviado para a França para reprocessamento, eles diziam, ainda providenciando filmagens do que supostamente estava sendo carregado em cargueiros franceses. Durante toda a década de 60 foi negada a existência de uma planta de reprocessamento subterrânea em Dimona que produzia Plutônio para bombas.
Produtor Arnon Milchan com Bred Pitt e Angeolina Jolie

Israel recusou visitas de compostura feitas pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), assim no início dos anos 60 o presidente Kennedy exigiu que aceitassem inspetores estadunidenses. Físicos estadunidenses foram despachados para Dimona, mas foram atrasados desde o início. As visitas nunca foram duas vezes ao ano como combinado com Kennedy e foram sujeitas a repetidos adiamentos. Os físicos norteamericanos enviados para Dimona não foram permitidos trazer seu próprio equipamento ou coletar dados. O inspetor líder estadunidense, Floyd Culler, um especialista em extração de Plutônio, notou em suas anotações que foram novamente engessadas e pintadas paredes em uma das construções. Concluiu-se que antes de cada visita estadunidense, os israelitas construíam falsas paredes em torno dos elevadores que desciam seis andares para a planta de reprocessamento subterrânea.

Conforme mais e mais evidência de um programa de armas isralita emerge, o papel estadunidense progrediu de um joguete involuntário para cúmplice. Em 1968 o diretor da CIA, Richard Helms, contou ao presidente Johnson que Israel de fato construiu armas nucleares e que sua força aérea levou tipos a largarem eles.

A cronometragem não poderia ter sido pior. O NPT, tentado a prevenir muitos gênios nucleares de escapar das suas garrafas, compôs-se e se notícias surgissem que um dos Estados supostamente sem armas nucleares secretamente tivesse construído sua própria bomba, teria que se tornar letra morta que muitos países, especialmente árabes, recusariam a assinar.

A Casa Branca de Johnson decidiu não dizer nada, e a decisão foi formalizada em 1969 no encontro entre Richard Nixon e Golda Meir, no qual o presidente estadunidense concordou em não pressionar Israel a assinar o NPT, enquanto que o primeiro ministro israelita concordou que seu país não seria o primeiro a "introduzir" armas nucleares no Oriente Médio e não fazer nada para tornar pública sua existência.

De fato, o envolvimento dos EUA se tornou mais profundo que mero silêncio. No encontro em 1976 que teve só recentemente se tornado público conhecimento, o diretor deputado da CIA, Carl Duckett, informou uma dúzia de oficiais da Comissão de Regulamento Nuclear dos EUA que a agência suspeitou que algumas das bombas de fissão israelitas foram de urânio, roubadas diante do nariz estadunidense de uma planta de processamento na Pensilvânia.

Não apenas foi uma quantidade alarmante de material de fissão sendo perdida na companhia, Corporação de Materiais e Equipamento Nucleares (Numec), mas foi visitada por um verdadeiro agente de inteligência israelita, incluindo Rafael Eitan, descrito pela firma como ministro de defesa "química" israelita, mas, na verdade, um alto agente do Mossad da chefia de Lakam.

"Foi um choque. Todo mundo ficou de boca aberta", lembra Victor Gilinsky, que foi um dos oficiais norteamericanos informados por Duckett. "Foi um dos casos mais flagrantes de material nuclear desviado, mas as consequências pareceram tão surpreendentes para as pessoas envolvidas e para os EUA que ninguém realmente quis saber o que estava acontecendo".

A investigação foi adiada e nenhuma cobrança foi feita.

Poucos anos mais tarde, em 22 de setembro de 1979, um satélite dos EUA, Vela 6911, detectou o duplo-flash típico de um teste de arma nuclear na costa da África do Sul. Leonard Weiss, um matemático e especialista em proliferação nuclear, estava trabalhando como assessor no momento e depois tendo sido informado sobre os incidentes pelas agências de inteligência dos EUA e dos laboratórios de armas nucleares do país, ele se tornou convicto de um teste nuclear, em contravenção sobre o Tratado Limitado de Teste (Limited Test Ban Treaty).

Foi apenas depois de ambas administrações, de Carter e depois de Reagan, tentarem silenciá-lo sobre o incidente e tentarem caiar com um não-convincente painel de inquérito, que raiou sobre Weiss que foram os israelitas, e não os sul-africanos, que detonaram a bomba.

"Foi dito que isto criaria um problema de política externa muito sério para os EUA, se fosse dito que foi um teste. Alguém deixou claro que os EUA quisessem que ninguém ficasse sabendo", disse Weiss.

Fontes israelitas contaram a Hersh que o flash pego pelo satélite Vela foi o terceiro de uma série de testes dos testes nucleares da Índia Oceânica que Israel conduziu em cooperação com a África do Sul.

"Foi fodido", uma fonte lhe contou. "Houve uma tempestade e nós pensamos que bloquearia Vela, mas houve uma brecha no tempo - uma janela - e Vela se cegou pelo flash".

A política estadunidense de silêncio continua ainda hoje, ainda apesar de Israel parecer continuar a agir no mercado negro nuclear, embora em volumes reduzidos. Em um documento no mercado ilegal de material e tecnologia nuclear publicado em Outubro, o Instituto de Ciência e Segurança Internacional baseado em Washington (ISIS) notou: "Sob a pressão dos EUA nos anos 1980 e 90, Israel... decidiu amplamente parar sua procura ilícita pelo programa de armas nucleares. Hoje, há evidência que Israel pode ainda fazer procurações ocasionais ilícitas - operações ferroadas dos EUA e casos legais mostram isto".

Avner Cohen, autor de dois livros sobre bombas israelitas, disse que a política de opacidade tanto de Israel como de Washington é mantida agora por inércia. "Em nível político, ninguém quer tratar disso com medo de abrir a caixa de Pandora. Isto se tornou de muitas formas um fardo para os EUA, mas pessoas em Washington, todo caminho até Obama não irá tocar nisto, por causa do medo de se comprometer com muitas bases do entendimento Israel-EUA".

No mundo árabe e além, cresce a impaciência com o enviesado status quo nuclear. O Egito em particular ameaçou rumar ao NPT a menos que haja progresso com relação a criar uma zona livre de força nuclear no Oriente Médio. Os poderes ocidentais prometeram manter uma conferência na proposta em 2012, mas foi jogada fora, largamente no comando estadunidense, para reduzir a pressão sobre Israel a atender e declarar seu arsenal nuclear.

"De alguma maneira o kabuki vai em frente", disse Weiss. "Se é admitido que Israel tem armas nucleares ao menos você pode ter uma discussão honesta. Parece a mim ser muito difícil manter uma resolução sobre o Irã sem ser honesto sobre o assunto".

Via Theguardian

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Filósofos devem se opor à arrogância do cientificismo

Por William Reville

O mundo moderno funciona com a tecnologia baseada na ciência, e ninguém questiona a sério a importância da ciência.

Essa importância vem tentando muitos cientistas renomados a adotar uma atitude de desprezo chamada de "cientificismo" em relação a outras disciplinas. Cientificismo aplica a ciência para responder questões em áreas onde ela não possui competência. Mas o cientificismo é simplesmente errado, e pode trazer consequências desastrosas à ciência se permitido se desenvolver. A Filosofia tem um papel importante em identificar as áreas onde a ciência tem competência, mas, de modo geral, os filósofos não estão confrontando o cientificismo

Cientificismo vem em formas mais radicais e mais moderadas. A forma mais radical afirma que a ciência é a única forma válida de buscar o conhecimento. A mais moderada não vai tão longe, mas aplica a ciência de forma inadequada a uma variedade de questões.

A mais radical é uma reivindicação ridícula adotada por alguns cientistas. Um dos cientistas que a defende é o biólogo Richard Lewontin, que disse: "A fim de compreender corretamente o universo, as pessoas devem rejeitar as explicações irracionais e sobrenaturais do mundo e aceitar um aparato social e intelectual, a ciência, a única geradora da verdade" (New York Review of Books, 1997.)



A mais moderada é frequentemente dirigida contra a religião por proeminentes cientistas. Em um programa de TV Newsnight da BBC2 em 2009, Richard Dawkins fez uma declaração ignorante: "Deus tem o mesmo status que as fadas". Em outras palavras, de acordo com Dawkins, acreditar em Deus é infantil e irracional. Mas Dawkins não nos ilumina com que aspectos a filosofia de fadas da vida rivaliza com a filosofia cristã. E razoavel ser cristão - e quem duvida deveria ler, por exemplo, livros escritos pelo físico matemático e teólogo anglicano John Polkinghorne, como Quarks, Chaos e Christianity.

Penso que essa posição extrema de Dawkins e outros contra a religião deriva do fato de que esses cientistas são materialistas fundamentalistas. Materialismo é uma filosofia que acredita que nada existe, exceto o material: ou seja, materia e energia. Então o sobrenatural não existe e a religião é um absurdo. No entanto, materialismo é uma filosofia que não é - é provavelmente não pode ser - provada.

Materialismo e ciência
A Ciência estuda o mundo natural. É materialista em seu método mas não em sua filosofia. Ci~encia não nega o sobrenatural, ela simplesmente não tem nada a dizer sobre isso. Ciência e religião respondem diferentes aspectos da realidade e não se contradizem, como observado pelo renomado cientista e escritor Stephen J Gould no seu livro Rocks of Ages. Não é necessário ser materialista para ser cientista. Muitos grandes cientistas foram cristãos e hoje, aproximadamente 40 por cento deles acreditam em um Deus pessoal.

É razoavel ser materialista. Mas, desde que o materialismo não é provado, os materialistas devem aceitar que, não importa o quão improvavel isso seja, há uma possibilidade de que eles possam estar errados e uma dimensão sobrenatural possa existir. Materialistas são então obrigados a respeitar a posição de pessoas religiosas e acreditam no sobrenatural mas aceitam tudo o que a ciência tem e possa descobrir. E claro, os religiosos tem uma obrigação equivalente para com os materialistas.

Aqueles que defendem o cientificismo são severos não apenas com a religião, mas também com a filosofia em geral. Por exemplo, o renomado químico Peter Atkins diz em seu artigo Science as Truth (History of Human Sciences, 1995): "Eu considero que seja uma proposta defensável que nenhum filósofo ajudou a desvendar a natureza; filosofia é apenas o refinamento do impedimento." E Stephen Dawkins, em seu livro The Grand Design (2010), diz: "Nós queremos saber, nós procuramos respostas: Qual é a natureza da realidade? O universo possui um criador? Tradicionalmente, essas são questões para a filosofia, mas a filosofia está morta. Filósofos não estão em sincronia com os progressos modernos da ciência". Alguém poderia imaginar que tais comentários poderia causar uma tempestade de protestos públicos de filósofos, mas nenhuma tempestade surgiu. Por que não?

Ao longo do século 20, filosofos se contentaram em aplaudir educadamente a ciência do lado de fora. A ciência agradece agora a filosofia declarando-a morta. Uma função muito importante da filosofia é identificar questões científicas. Isto é importante a fim de manter a ciência dentro dos trilhos. A filosofia (N.d.T.: ou os assim chamados "filósofos") não está fazendo o seu trabalho.


Via Irish Times

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Brasil e Argentina se aliam à Rússia para projetos nucleares



 

RT informou que a Rússia negocia com Argentina e Brasil a possibilidade de construir novas centrais nucleares. Segundo funcionários da nação eurasiática, os países da América Latina são muito interessantes para a Russia neste campo.

O diretor da agência russa Rosatom informou que um grupo de Estados latinoamericanos está interessado em desenvolver seus próprios programas nucleares.

“Uma série de países anunciou seus programas de desenvolvimento de energia nuclear, e o alcance destes programas é compreensível, mas não passaram ao nível da licitação. Por ora se mantêm conversações preliminares. Entre eles figuram, por exemplo, Argentina e Brasil. América Latina apresenta para nós um grande interesse”, afirmou Serguéi Kiriyenko, conselheiro delegado da corporação estatal Rosatom.

No final do ano passado informou-se que Argentina ia anunciar um concurso para a construção de uma central nuclear com capacidade de 1800 megavats. Neste país latinoamericano agora opera a central nuclear Atucha, com duas unidades de potência, uma das quais está sendo completada e cuja realização está prevista para este ano de 2014.

Quanto a Brasil, Rosatom mostrou interesse em particular como construtor e investidor no programa estatal de construção de entre quatro e oito centrais nucleares para 2030.

Ao mesmo tempo, o funcionário informou que a Rússia também mantém negociações com Eslováquia neste sentido, “mas a discussão segue sendo preliminar”, segundo Kiriyenko.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Dugin: EUA estão por trás dos atentados em Vologrado


Entrevista ao conhecido politólogo e filósofo russo, Alexander Dugin, para o sítio web Algerie Patriotique e no qual compartilha sua análise sobre os terríveis atentados na Rússia cometidos em finais de 2013. Para Dugin, os ataques terroristas não são mais um novo ataque à Rússia de Putin por sua política externa, principalmente por seu papel no Oriente Médio. Retirada de Elministerio.

Entrevista: Que análise faz sobre a deterioração da segurança na Rússia depois dos atos terroristas em Vologrado?

Dugin: Não acredito que seja a deterioração da segurança na Rússia. Alguns atos terroristas são quase incontroláveis quando se trata de regiões com populações mais ou menos homogêneas que apoiam, em certa medida, os grupos terroristas como é o caso no Cáucaso Norte, Rússia. O fato de que a atividade terrorista está aumentando ultimamente demonstra que as forças que querem desestabilizar a Rússia se concentram nos Jogos Olímpicos de Sochi.

Os Estados Unidos e os países da OTAN querem mostrar Putin, que se opõe radicalmente ao liberalismo e à hegemonia estadunidense, como um "ditador" ao comparar Sochi com Munique da época de Hitler. É a guerra midiática. Nesta situação, as forças que apoiam a política hegemônica estadunnidense, especialmente as redes sub-imperialistas locais, como os wahabistas patrocinados pela Arábia Saudita, tratam de confirmar esta imagem convertendo a Rússia em um país onde não há um mínimo de segurança e que estão prontos para instalar a ditadura com atos terroristas dirigidos principalmente aos Jogos Olímpicos de Sochi de Putin.

Sabemos que o chefe da inteligência saudita, Bandar Bin Sultan, propôs a Putin garantir a segurança da Rússia em troca do cessar do apoio russo a Damasco. Putin se enfureceu e rechaçou explicitamente, acusando os sauditas de serem terroristas, que realmente são e pior que os que servem aos interesses dos Estados Unidos.

Assim, os grupos wahabistas ativos na Rússia, guiados pelos sauditas, e através deles por seus amos em Washington, cumpriram a ameaça de Bandar Bin Sultan. Em última instância, são os Estados Unidos que atacam a Rússia de Putin para castigá-lo por sua política independente e insubmissa à ditadura hegemônica liberal estadunidense.

E: Quem está por detrás?

Dugin: Creio que expliquei em minha resposta à pergunta anterior. Enquanto a quem em concreto organizaram este ato terrorista, não sei sobre isso mais que outros. Parece que são as redes wahabistas do Cáucaso Norte e as mulheres de terroristas liquidados pelos serviços especiais russos. Creio que vergonhozamente são utilizados pelos chefes cínicos, consciente ou inconscientemente, trabalhando para os interesses estadunidenses.

E: Alguns creem que estes ataques terroristas são o resultado do contínuo apoio da Rússia à Síria e Ucrânia. Você compartilha desta opinião?

Dugin: Está absolutamente certo. Se trata do "castigo americano" realizado pelos cúmplices dos estadunidenses através dos sauditas.

E: Quais serão as medidas que o Kremlin tomará para evitar uma escalada da violência no país?

Dugin: Creio que o aumento da violência durante o período dos Jogos Olímpicos de Sochi é inevitável. Espero que em Sochi se consiga controlar a situação, apesar de tudo, mas é teoricamente impossível conseguir rodeado de regiões organizamente ligadas a certos grupos de população no norte do Cáucaso, onde de encontram as principais bases dos terroristas. Dessa vez não é Chechênia, que é fundamental para o sistema do terrorismo, mas antes Daguestão e Kabardino-Balkária. Se tratará de fazer o melhor, mas não se deve esquecer que se trata de uma grande potência mundial, os Estados Unidos, que nos ataca. Isto é um desafio muito sério que requer uma resposta simétrica. Assim veremos...