segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pode Washington derrubar três governos ao mesmo tempo?

Por Thierry Meyssan

Washington, que falhou em bombardear a Líbia e a Síria simultaneamente, está agora engajado em novas demonstrações de sua força: organizar mudanças de governo em três Estados ao mesmo tempo, em diferentes regiões do mundo: Síria (CentCom), Ucrânia (EuCom) e Venezuela (SouthCom).

Para isso, o Presidente Obama mobilizou quase todo o time do Conselho de Segurança Nacional.

Primeiro a Conselheira Susan Rice e Embaixadora da ONU Samantha Power. Essas duas mulheres são campeãs da conversa ‘democrática’. Por muitos anos elas se especializaram em advogar interferências nos assuntos internos de outros países sob o pretexto de prevenir genocídio. Mas por trás dessa retórica generosa, elas não poderiam ligar menos para vidas não estadounidenses, como mostrado pela Sra. Power durante a crise de armas químicas no subúrbio Goutha de Damasco. A Embaixadora, que estava ciente da inocência das autoridades sírias, tinha ido para a Europa com o marido para participar de um festival de cinema dedicado a Charles Chaplin, enquanto o seu governo denunciava um crime contra a humanidade, sendo a resposanbilidade colocada sobre o Presidente Al Assad.




Então os três coordenadores regionais: Philip Gordon (Oriente Médio e Norte Africano), Karen Donfried (Europa e Eurasia) e Ricardo Zuñiga (América Latina).

- Phil Gordon (amigo pessoal e tradutor de Nicolas Sarkozy) organizou a sabotagem da Conferência de Paz Geneva 2 enquanto a questão palestina não fosse resolvida ao gosto dos EUA. Durante a segunda sessão da conferência, enquanto John Kerry falava de paz, Gordon se reuniu em Washington com os chefes de inteligência da Jordânia, Qatar, Arábia Saudita e Turquia para preparar outro ataque. Os conspiradores juntaram um exército de 13.000 homens, dos quais apenas 1.000 receberem um breve treinamento militar para dirigir tanques e tomar Damasco. O problema é que a coluna pode ser destruída pelo Exército Sírio antes de chegar à Capital. Mas eles falharam em fechar um acordo sobre como defendê-la sem a distribuição de armas anti-aéreas que posteriormente poderiam ser usadas contra Israel.

- Karen Donfried é a antiga official da inteligência nacional na Europa. Ela há muito lidera o German Marshall Fund em Berlim. Hoje ela manipula a União Europeia para esconder a intervenção de Washington na Ucrânia. Apesar da conversa de telefone vazada envolvendo a Embaixadora Victoria Nuland, ela obteve sucesso em convencer os europeus de que a oposição em Kiev quer unir-se a eles e lutam pela democracia. Não obstante, mais da metade dos rebeldes do Maidan são membros do partido nazista e brandem retratos do colaborator [nazista] Stepan Bandera.

- Finalmente, Ricardo Zuñiga, que é neto do homônimo Presidente do Partido Nacional de Honduras, que organizou os golpes de 1963 e 1972 em favor do General López Arellano. Ele dirigia a estação da CIA em Havana, onde ele recrutou e financiou agentes para formar oposição a Fidel Castro. Ele mobilizou a extrema esquerda trotskista da Venezuela para depor o Presidente Nicolás Maduro, acusado de ser um stalinista.

O processo todo é auxiliado pela liderança de Dan Rhodes. Esse especialista em propaganda já escreveu uma versão oficial do onze de setembro, esquematizando o relatório da Comissão Presidencial de Inquérito. Ele conseguiu remover todos os traços do golpe militar (o poder foi removido das mãos de George W. Bush próximo das 10 da manhã e retornado naquela noite; todos os membros de seu gabinete e do Congresso foram colocas em bunkers vigiados para ‘garantir a sua segurança’) para que nós lembremos apenas dos ataques.

Em todos os três casos, a narrative do EUA ée baseada nos mesmos princípios: acuse os governos de matarem os próprios cidadãos, qualifique os oponentes como ‘democráticos’/ imponha sanções contra os ‘assassinos’ e por fim opere o golpe.

Cada vez o movimento começa com protestos durante os quais os oponentes são mortos e onde ambos lados se acusam mutuamente de violência. Na verdade, forças especiais dos EUA ou OTAN são colocadas em telhados e atiram tanto no povo quanto na polícia. Este foi o caso em Daraa (Síria) em 2011, em Kiev (Ucrânia) e Caracas (Venezuela) essa semana. Ah, que azar: autopsias na Venezuela mostraram que duas vítimas, um oponente e um pró-governo, foram mortos pela mesma arma.

Qualificar os oponentes como ativistas democráticos é um mero jogo e retórica. Na Síria eles são Takfiristas apoiados pela pior ditadura do mundo, a Arábia Saudita. Na Ucrânia, uns poucos sinceros pro-europeus rodeados de muitos nazistas. Na Venezuela, jovens trotskistas de boas famílias cercados de esquadrões de assassinos. Em todos os lados o falso oponente dos EUA, Johhn McCain, traz o seu apoio, verdadeiro ou falso, aos oponentes.

O apoio aos opositores se dá com o National Endowment for Democracy (NED - Doação Nacional para a Democracia). Essa agência do governo dos EUA se apresenta falsamente como uma ONG fundada pelo Congresso. Mas ela foi criada pelo presidente Ronald Reagan, junto com o Canadá, o Reino Unido e a Austrália. É chefiada pelo neocon Carl gershman e pela filha do General Alexander Haig (antigo Comandante Supremo da OTAN e posteriormente Secretário de Estado), Barbara Haig. Este é o NED (na verdade, o Departamento de Estado), que empre o ‘opositor’ senador John McCain.
A este grupo operacional, deve-se adicionar o Albert Einstein Institute, uma ‘ONG’ financiada pela OTAN. Criada por Gene Sharp, ela treinou agitadores profissionais em duas bases: Sérvia (Canvas) e Qatar (Academy of Currency).

Em todos os casos, Susan Rice e Samantha Power demonstram ares de ultraje antes de impor penaliades, logo repetidas pela União Europeia, enquanto elas são na realidade patrocinadoras da violência.

Ainda está para ser visto se os golpes serão bem-sucedidos. O que está longe de ser uma certeza.
Washington, então, está tentando mostrar ao mundo que ainda é o mestre. Para ter mais certeza sobre si mesmos, ele lançou os operações na Ucrânia e Venezuela durante os Jogos Olímpicos de Sochi. Mas Sochi acabou este final de semana. Agora é a vez de Moscou de jogar.

Via Voltairenet 
 
Tradução Sérgio Gouvêa

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Venezuela triunfa: opositor se entrega e é preso

O dirigente da Voluntad Popular, Leopoldo López, se entregou nesta terça-feira aos executivos da Guarda Nacional Bolivariana em cumprimento ao mandado de prisão. Dirigentes dos laranjas informaram que em um helicóptero  é levado de La Carlota a Ramo Verde. O presidente Maduro disse que seria levado a uma prisão fora de Caracas.

O dirigente de Voluntad Popular, Leopoldo López, se entregou a GNB em cumprimento ao mandado de prisão por sua participação intelectual nos protestos violentos de 12 de fevereiro em Caracas.

López chegou ao meio dia à sede do Ministério do Interior e Justiça (MIJ) como previsto. O líder opositor se dispôs diante de militares e foi levado para uma unidade da GNB para seu transporte.

López permanecerá nos calabouços do Sebin enquanto se realiza o processo. Durante o ocorrido, López foi embarcado em uma caminhonete para completar o caminho à sede policia. Passadas as 3 da tarde, o dirigente dos laranjas subiu ao helicóptero de La Carlote com destino a Ramo Verde. Esta informação foi divulgada por membros da Voluntad Popular.

Por sua vez, o presidente Nicolás Maduro, durante um ato no Palácio de Miraflores, informou que López seria levado a uma prisão fora de Caracas.


Cabe destacar sua prisão. López falou aos manifestantes congregados na sede da Justiça e assegurou que "se sua prisão é a liberdade de um povo, valerá a pena".

Se despediu de sua esposa Lilian Tintori, que estava abatida.

"Vou me submeter a uma justiça corrupta e injusta e que não respeita leis", denunciou o terrorista López que, cinicamente, recebe mandos de Washington. "Tive muito tempo para pensar, analisar, ouvir rádio e assistir TV, ler o que li, falar com minha família e as opções que tinha era ir-me do país, e não me vou de Venezuela nunca. A outra opção era me esconder, como clandestino, mas essa opção podia deixar a dúvida em alguns que estão aqui, de que nós tinhamos algo a esconder", declarou.

Durante os protestos, manifestantes tentaram bloquear o caminho de um tanque da Guarda Nacional Bolivariana.

NdoB.: é muito fácil utilizar do entreguismo cínico quando se tem todo um poder internacional pelas costas, em meio a um país assolado pelo poder supracitado. Washington está por trás de tudo, é quem financia toda oposição aos bolivarianos como, por exemplo, Caprilles, ex-adversário de Cháves.

Evo Morales denuncia golpe de Estado dos EUA na Venezuela

O presidente da Bolívia, Evo Morales, manteve que os EUA tentam executar um golpe de Estado na Venezuela, e enviou uma mensagem de apoio ao seu companheiro venezuelano, Nicolás Maduro.

Segundo o presidente boliviano, Washington "usa grupos de jovens venezuelanos para desestabilizar" a situação na Venezuela e procura a intervenção nesse país por parte de organismos internacionais.

"Quando já não podem nos dominar politicamente, não só na América Latina, mas em outros países do mundo, financiam grupos violentos de terroristas e depois tratam de justificar uma intervenção de cascos azuis ou da OTAN. Essa é a nova estratégia política intervencionista dos EUA", comentou.

"O que passou em 2008 aqui [na Bolívia] está se passando agora na Venezuela. Aqui grupos violentos tomaram e queimaram oficinas, golpearam policiais e militares. Mas o povo se ergueu e derrotou essa tentativa de golpe de Estado", acrescentou.

Via RT

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Chomsky desvenda o Apocalipse Zumbi

 
O acadêmico linguista, filósofo e ativista estadounidense Noam Chomsky deixou evidente uma verdade pouco conhecida da sociedade dos EUA ao responder sobre por que há uma preocupação cultural com o "apocalipse zumbi" nesse país.

"Acredito que é um reflexo do medo e do desespero. Os Estados Unidos é um país extraordinariamente amedrontado e, em tais circunstâncias, as pessoas inventam, como um escape ou alívio, relatos nos quais acontecem coisas terríveis".

"O medo nos Estados Unidos é em realidade um fenômeno bastante interessante", continuou. "Na verdade se relembra as colônias. Há um livro muito interessante de um crítico literário, Bruce Franklin, chamado 'As Estrelas da Guerra'. É um estudo da literatura popular desde os primeiros dias até a atualidade, e há um par de temas que se desenvolvem nele que são bastante surpreendentes".

Segundo Chomsky, um dos principais temas na literatura popular trata de que "estamos a ponto de enfrentar a destruição por parte de algum terrível inimigo e no último momento somos salvos por um superherói, ou uma superarma ou, nos últimos anos, por crianças da escola secundária que vão às colinas para afugentar os russos".

O linguista assegura que nesta maneira de ver as potenciais ameaças "há um subtema". "Resulta que este inimigo, este horrível inimigo que vai nos destruir, é alguém que estamos oprimindo. Se regressarmos aos primeiros anos, o terrível inimigo era os índios", explica Chomsky, citado por The Raw Story.

"Os colonos, por sua vez, eram os invasores. Sem importar o que você pensa sobre os índios, eles estavam defendendo seu próprio território". Depois de uma breve discussão sobre a Declaração da Independência, Chomsky salienta que uma das queixas que figuram nela é que o rei Jorge "empurrou contra os colonos os pobres índios selvagens, cuja forma de guerra era a tortura e a destruição, e assim sucessivamente".

"Bom, Thomas Jefferson, que foi quem escreveu tais coisas, sabia muito bem que os ingleses eram os selvagens e ímpios cuja conhecida forma de guerra era a destruição, a tortura e o terror, e que assumiram o controle do país expulsando e exterminando os nativos. Mas está distorcido na Declaração de Independência" disse Chomsky, indicando que este é mais um exemplo da tese de Franklin de que os povos oprimidos se convertem, na imaginação popular dos opressores, em "terrível, impressionante inimigo" empenhado na destruição dos EUA.

Chomsky logo salientou que o seguinte grupo satanizado foram os escravos. Começou-se a crer que "ia haver uma revolta de escravos e que a população escrava ia se levantar e matar todos os homens, violar todas as mulheres e destruir o país".

"E se extende até os tempos modernos, com os narcotraficantes hispânicos que vêm destruir esta sociedade", disse Chomsky ironicamente. "E estes são temores reais, isso é muito do que há por trás da extremamente incomum cultura das armas nos Estados Unidos", disse o filósofo.

"Temos que ter armas para nos proteger das Nações Unidas, do Governo federal, dos extrangeiros e dos zumbis, suponho", disse, continuando com uma linha sarcástica.

"Creio que quando explode [o medo] em grande parte é só o reconhecimento, em algum nível da psique, de que tu tens tua bota no cú de alguém e que há algo está mal, e que as pessoas a quem tu oprime poderiam se levantar e se defender".

Via RT

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

"A arte contemporânea é uma fraude"



 A crítica mexicana Avelina Lésper denuncia a especulação e a bolha econômica, como foi a imobiliária, de obras que "carecem de valores estéticos".

Não foram poucos os que se identificaram, há um par de anos, com aquela mulher da limpeza de um museu alemão tão zelosa de seu trabalho que se empenhou a fundo para eliminar algumas terríveis manchas que haviam em alguma das obras expostas. Nem ocorreu suspeitar que formavam parte vital da peça Wenn es anfängt durch die Decke zu tropen (Quando começa a gotejar o teto) do artista Martin Kippenberger, avaliada em 800 mil euros. O Museu Ostwald de Dortmund (cujas primeiras entradas no Google são sobre o sucesso, superando sua rede oficial), chegou a afirmar que "estamos tentando esclarecer antes que tipo de capacitação tem o pessoal da limpeza".

A crítica de arte mexicana Avelina Lésper diria que essa pobre trabalhadora, ademais de um grande sentido do asseio, tinha também um grande sentido comum. Lésper, colaboradora de diferentes meios de comunicação latinoamericanos e diretora do programa de televisão El Milenio visto pela Arte, é uma das vozes que mais soam contrárias à arte contemporânea, questionando desde os ready-made (uso de objetos comuns como o vaso sanitário de Duchamp) às performances efêmeras.

-Como definiria a arte contemporânea em uma palavra?
-Fraude.

-Explique-se...
-Carece de valores estéticos e se sustenta em irrealidades. Por um lado, pretende através da palavra mudar a realidade de um objeto, o que é impossível, outorgando-lhes características que são invisíveis e valores que não são comprováveis. Além disso, supõe-se que temos que aceitá-los e assimilá-los como arte. É como um dogma religioso.

-E por outro lado?
-Também é uma fraude porque está sustentada por nada mais que o mercado, que é fluido e artificial na maioria dos casos. Outorgam-se às obras valores artificiais para que pense: "se custa 90 mil euros é porque deve ser arte". Estes preços são uma bolha, como existiu a da imobiliária.

-Estourará?
-Tem que estourar. Uma torre de papel sanitário de Martin Creed custa 90 mil euros. O objeto não é o importante, mas o que tu pode demonstrar economicamente através da tua compra.

-E não podem comprar Murillo ou Picasso?
-Não podes especular com pintura antiga porque há pouca. Por sua vez, este tipo de obra são realizadas em minutos, algumas são feitas em fábricas.

-Não poder-se-ia especular com obra atual com valores estéticos?
-A arte toma tempo. Não há jeito de Antonio López terminar um quadro... por sua vez, deve esperar que o pintor ou escultor faça suas obras. Por outro lado, a arte necessita de talento, que o artista tenha algo a mostrar através de sua obra. Com a arte contemporânea os artistas não precisam ter nada.

-Pode dar algum exemplo?
-Quando Duchamp fez seu ready-made proibiu a todos os artistas o processo intelectual. Qualquer objeto é arte, o que seja. Sob este ponto de vista, imagine a quantidade de obras de arte que tu tens. Tudo a tua volta é passível de se converter em arte. Não tem que esperar que esse artista forme, demonstre seu talento e que acabe mostrando algo, o que é terrivelmente difícil. Outro exemplo é Santiago Sierra com seus ready-made. Diz-te: "Isto é uma privada da Índia". Que impressionante!

-Como um mínimo pensam na definição...
-O crítico Arthur Danton disse: "deixem que os filósofos pensemos na obra, vocês tragam seus objetos". Se pões como tema a privada sanitária, já chegará o mestre a elaborar o discurso e te faz da miséria, das últimas castas que recolhem a merda... há toda uma justificação social e moral. Se manifesta que isso carece de valor estético, automaticamente te dizem que está contra a mensagem social. É uma arte chantagista também. Utiliza esse tipo de discurso para que o aceite como arte. Se não o aceitar, está contra ele e és um ignorante.

-A denúncia social foi sendo feita ao longo da história da arte...
-Foi sendo feita, mas não como valor da obra. Os Fuzilamentos de 3 de maio de Goya valem pela realização artística, porque sua pintura foi transcendental e profundamente moderna em seu momento. E segue sendo moderna hoje. Por isso vale uma pintura de Goya, não pelo seu discurso.

-Estão sendo confundidas a arte com a mensagem?
-Agira a arte só é mensagem. Não há arte, só há panfletos. Estas obras não podem existir sem os museus. As obras, paradoxalmente, estão melhores no catálogo que ao vivo. E já não digamos com os artistas de performance, que só têm o registro fotográfico do que fazem porque dizem que é efêmero, ainda que repitam 700 vezes. São obras que só existem nos catálogos e através dos discursos e da teoria que lhes colocam os comissários e especialistas em estética. São objetos de luxo, uma nova forma de consumo.

-A maioria das pessoas não gostam da arte contemporânea porque é difícil de entender...
-É que não há nada para entender. É uma arte que exige assimilar e não discutir, por isso também é dogmática. Te exige fé, que acredite nela, não que a compreenda, como as religiões. Quer submeter nosso intelecto. Todo tempo quem se equivoca é o espectador, o artista e a obra são infalíveis. Se tu dizes que carece de valores estéticos, de inteligência, que não te propõe nem demonstra nada, então te dizem que és um ignorante.

-Quem decide o que é arte?
-É uma decisão arbitrária que se toma entre as instituições, museus, universidades... é uma arte da academia. Isso de que é independente e livre é mentira.

-É financiado?
-Totalmente, não pode viver sem os financiamentos do Estado. É uma arte parasitária. A maioria dos artistas contemporâneos vivem do Estado.

-O público não pinta nada?
-Não. Por isso é demagogia pura que dizem que essa arte tem intenções sociais e que manifesta intenções morais. Rechaça as pessoas, que para eles são ignorantes. Esta arte não vive das pessoas, vive das instituições e da especulação.

-Poderíamos dizer que reflete a sociedade atual?
-Refletir é muito diferente de denunciar. Eles parasitam a sociedade em que vivem, reflete melhor Madoff. Ambos são parte de uma mesma mentira social que criou o capitalismo através da especulação econômica. A arte contemporânea é parte do fracasso capitalista.

-Somos órfãos da arte?
-Sim, porque não há espaço para os artistas que estão criando de verdade. O que mostra o Macba ainda que esteja vazio? Na Espanha há muitos centros de arte contemporânea que nasceram a par da bolha imobiliária, para que tenha uma ideia de como está a coisa. O que te pode mostrar Jeff Koons que imita objetos de feira o qualquer ready-made? Eles fizeram do material a obra: Agora para dizer guerra já não precisa pintar os fuzilamentos, agora escreve a palavra guerra em um letreiro. Isso é não ter pensamento abstrato. Jamais a arte tinha se despojado tanto das metáforas... o problema é que estão acabando com uma capacidade cognitiva.

-Nos querem burros?
-Exatamente. E sabes por quê? Isso tem por trás de si o mais pedestre que possas imaginar, o dinheiro. Por isso é também um fracasso do capitalismo. Tudo o que foi feito pelo dinheiro nestas duas últimas décadas fez um dano enorme à humanidade. Por dinheiro se destruiu a economia da Europa, dos Estados Unidos, temos o narcotráfico na América Latina... e por dinheiro estão destruindo a arte.

-Alguma boa notícia vinculada à arte?
-Claro, mas as galerias precisam que estejam amparadas pelas instituições. Quando a Rainha Sofia deixou de comprar em Arco, Arco quebrou.

-A Rainha Sofia deixou de comprar em Arco e começou a expor Picasso...
-... e Goya, para que as pessoas sigam...

-Isso seria o início da mudança?
-Exatamente. Chega um momento em que as instituições vão ter que escutar a população e deixar de trabalhar para interesses privados.

-O que pensa de artistas espanhóis contemporâneos como Tàpies ou Barceló?
-Barceló tem alguns desenhos e aquarelas sensacionais. Tàpies está supervalorizado. Surgiu porque a arte espanhola começou a se ver órfã de criadores e foi a oportunidade de elevar um tipo como Tápies, com uma linguagem e uma criação limitadíssima.

-Vê mal a arte espanhola?
-A arte espanhola é um fenômeno para análise. Foi a cúspide da arte mundial, teve criadores que contribuiram com nada e agora os artistas simplesmente não existem. E a crítica espanhola está entregue e submissa ao sistema. Quando a Espanha se dará conta de que perdeu seu lugar na arte?

-Não é a única coisa que perdeu...
-Mas é um fator muito delicado. A arte não nos tirará da crise, mas contribui à humanidade.

Via revistacultura

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A Guerra secreta de Dostoiévski


A seguir um capítulo do livro Sekretnaya Agentura, sobre espionagem e subversão, de Eduard Makarevich.




O grande escritor russo Fiódor Mikhailovich Dostoiévski não podia evitar e tentação de uma revolução. Ele já era famoso como autor do conto “Gente Pobre” quando teve um encontro com um certo Mikhail Petrashevski. Os pontos de vista liberais do burocrata do Ministério de Relações Exteriores deixaram uma impressão no jovem Dostoiévski. Ele tinha então apenas 26 anos de idade – uma idade de grandes esperanças e desejos de mudar o mundo. E com tais intenções que o escritor começou a visitar o clube secreto de Petrashevski. Vários tipos de pessoas se reuniram lá: intelectuais não nobres de nascimento, representantes do nacionalismo com visões liberais, oficiais empolgados com ideias socialistas, etc.

Alguém estava expondo sobre o capítulo seguinte dos ensinamentos do socialista utópico francês Charles Fourier quando a polêmica entrou em pleno vapor sobre a essência da questão discutida. Dostoiévski se mostrou um ardente debatedor. Ele rompeu com Petrashevski por pontos de vista sobre patriotismo. Como veemente ocidentalista, Petrashevski rejeitou o sentimento nacional, o qual ele relacionou ao patriotismo. Com algum tipo de entusiasmo precipitado, ele se dirigiu ao encontro com uma e sempre a mesma tese, embora a abordasse de diferentes ângulos. A tese seguia:

Apenas pelo desenvolvimento, que é perder as características individuais, que a nação pode atingir o auge do desenvolvimento cosmopolita. Quanto mais baixo uma pessoa estiver na escala de desenvolvimento moral, político ou religioso, mais nitidamente sua nacionalidade se manifestará.

Dostoievski se opôs e falou severamente: Esse rigor veio de uma fé inteligente e do fato que o brilhante crítico literário Vissarion Belinsky, a quem o jovem escritor respeitava profundamente, manteve as mesmas convicções. Essas objeções eram, por certo, em defesa da nacionalidade:

Há muito temos admirado tudo que é europeu, e só porque é da Europa e não da Rússia. Mas chegou a hora da Rússia se desenvolver por conta própria. Dentro de nós a vida nacional é forte, e somos chamados a falar a nossa palavra ao mundo . Um povo sem nacionalidade é como um homem sem personalidade. A grandeza do poeta e a que ele vem a incorporar a nacionalidade no mais elevado grau.

O frenesi das discussões no círculo de Petrashevski superou qualquer desejo de agir – uma condição típica dos intelectuais. Alguns não foram terrivelmente incomodados por esse desejo, mas Dostoiévski estava atormentado pela inação. Debates não traziam nenhuma paz à sua alma. No momento que essa discórdia espiritual tinha atingido Dostoiévski, um certo Nikolai Speshnev aparece no círculo.

Um proprietário de terras relativamente rico, bem afeiçoado, fanfarrão, romântico e galanteador, Speshnev pertenceu àqueles russos que viam a vida como um campo de batalha. Dostoiévski se deu bem com ele imediatamente, chamando-o de “meu Mefistófeles”.

Speshnev inicialmente atacou Petrashevski através da ideias de espalhao o socialismo, ateísmo e o terror. Para isso a haveria a imprensa clandestina. Ele sem cerimônia deixou de lado a teoria socialista utópica de Fourier e propôs uma orientação para o Manifesto Comunista, que Marx e Engels já tinham escrito naquele tempo. E sua próxima proposta foi excepcional em seu radicalismo extremo. Ele falou, não mais e nem menos, sobre um golpe armado com uma força de ataque de grupos terroristas – “células de cinco”.

Petrashevski entrou em pânico – tais propostas não se encaixam em seu estilo de vida e os objetivos do seu círculo. Foi Dostoiévski que salvou a situação com o programa revolucionário. Sem qualquer qualificação ele disse a Speshnev “Nós não estamos no mesmo caminho como Petrashevski. Nós precisamos de nosso próprio círculo, uma sociedade secreta. Vamos procurar pelos homens certos”.

Depois de um anúncio tão franco, ele fez sua primeira visita ao seu amigo Apollon Maikov, o mesmo poeta que escreveu:

Divinos segredos da harmonia elementar
Não serão descobertos em livros de homens sábios
Por acaso e vagando só pelas margens de águas quietas
Ouça com sua alma o sussurrar dos juncos

Que tipo de conversa ocorreu entre eles iremos transmitir nesta descrição precisa e bem fundamentada de Yuri Seleznev, um dos biógrafos de Dostioévski:

“É claro que você entende,” começou Dostoiévski, “que Petrashevski é um tagarela, um homem frívolo e que nada vem de suas empreitadas. E então algumas pessoas sérias decidiram romper com seu círculo e formar uma sociedade especial, secreta, com uma imprensa secreta para publicar vários livros e até jornais. Há sete de nós: Speshnev, Mordvinov, Mombelli, Pavel Filipov, Grigoriev, Vladimir Miliutin e eu. Nós te escolhemos como o oitavo, quer se juntar à sociedade?

"Mas qual é o objetivo?"

"A Realização de um golpe de Estado na Rússia, é claro..."

"E eu me lembro", Maikov contaria sobre essa noite após vários anos, "Dostoiévski, sentando como um Sócrates prestes a morrer com seus amigos, em um pijama e um colar solto, exercendo toda sua oratória sobre a sacralidade da causa, sobre o nosso dever de salvar a Pátria..."

"Então, sim ou não?" concluiu.

"Não, não e não"

Na manhã seguinte, após o chá, como ele estava partindo:

"Precisa dizer que não haverá uma palavra sobre isso?"

"Claro que não."

Isso não deu certo com Maikov, mas com os outros ele teve sucesso. Com Nikolai Grigoriev, por exemplo. Este cavalheiro se tornou especialmente próximo a Dostoiévski, quase seu braçoi direito na criação da nova sociedade secreta. Como se fosse um chefe de gabinete. Todos os assuntos organizacionais foram discutidos com ele, e havia muito o que discutir. Dostoiévski estava em exultante expectativa. As perspectivas, os objetivos, as atividades - tudo alçava seu espírito.

E então um golpe cruel e preciso caiu sobre ele. No final da noite de 23 de abril de 1849, policiais beteram à porta. Dostoiévski foi preso, e com ele seus colegas do novo círculo. Petrashevsky e seus companheiros de jornadas também foram levados.para o Fontanka 16, o quartel general da Terceira Seção. Lá eles foram recebidos por Leontii Vasilevich Dubelt, então chefe adjunto da Terceira Seção, liderada pelo conde Aleksei Orlov. Dubelt dirigiu toda a operação para esmagar o circulo de Petrashevski.

Os deveres profissionais de Dubelt tratavam primeiramente com investigações e se utilizar de informantes secretos, e ele manejou seus agentes habilmente. Os grupos de Dostoiévski e Petrashevski foram pegos com tanto ânimo e de forma tão completa por causa da infiltração dentro do circulo deste último por um dos melhores agentes da Terceira Seção, Ivan Liprandi. De origem italiana, era oficial de Estado na Rússia e durante a investigação da trama Dezembrista deu informações muito úteis. A essa altura ele foi convidado pela Terceira Seção a se envolver em um trabalho conjunto, ele não hesitou em sua decisão e respondeu de forma afirmativa.
Liprandi acabou por ser um agente competente. E o seu melhor trabalho - o seu melhor resultado - foi obter adesão no círculo de Petrachévski, um feito marcado por discursos notáveis​​, polêmicas gerais e relações confidenciais, tanto com colegas e Petrashevski. E foi ele quem abriu o caminho so clube para outro agente de Dubelt, Antonelli.

Era Antonelli que Liprandi tinha em mente quando tinha pensado em uma forma de desacreditar Petrashevski e colocá-lo na prisão. O plano de Liprandi era bem simples. Antonelli foi para aconselhar Petrashevski a se reunir em segredo com os homens de Shamil, o mesmo Imam Shamil que liderou um movimento rebelde na região do Cáucaso, e contra quem o exército russo estava lutandoSe essa encontro acontecesse, então Petrashevski e seu círculo seriam julgados sob a lei para estabelecer ligação com um inimigo da Rússia. Não se trataria mais apenas uma discussão das teorias de Fourier, com isso seria difícil por alguém na cadeia. A operação estava sendo preparada, e dois circassianos de uma companhia de guarda-costas do Imperador foram escolhidos para o papel de emissários de Shamil. Mas de repente os preparativos pararam.  Tudo cheirava a uma grande provocação, e Dubelt não poderia fazer a sua mente. Além disso, uma outra base para iniciar uma investigação e prisão foi anunciada - a leitura de uma carta proibida de Belinsky para Gogol. Liprandi prontamente entregou esta informação para seu chefe. 

Dubelt usou bem seu agente, definindo tarefas, dando conselhos e resolvendo situações que surgiram. E Liprandi também pôs muito esforço. Seus agradecimentos seria a patente de coronel e trabalhar na equipe da Terceira Seção. Tal promoção de status de agente oficial foi um caso inédito na história dos serviços de segurança. Dubelt o fez responsável pela censura política e agentes nos círculos políticos, tendo em conta a sua propensão para invenções e o seu potencial em se "fantasiar". Liprandi já era conhecido como o autor de tratados históricos interessantes. 

A organização de Petrashevski foi desmantelada pela base. Dubelt atribuiu esta operação grande significado, porque preocupava, antes de mais nada, uma organização da intelligentsia. E os intelectuais, em seu raciocínio, eram pessoas que geraram idéias e de suas fileiras emergiam os mestres do pensamento dos homens. Sob sua influência, o destino da Rússia poderia ser alterado. E aqui temos de compreender quem exatamente Dubelt era. 

Leontii Vasilevich Dubelt foi um esplêndido achado do chefe original do Terceira Seção, Conde Benckendorff. De raciocínio rápido e corajoso, Rotmeister Dubelt tinha adquirido um gosto para o serviço militar a partir dos 15 anos. Ele nunca se curvou às balas, mas, mesmo assim, um dos projéteis malditos conseguiu feri-lo em Borodino. Depois de ter sido notado por sua coragem e capacidade de organização, serviu como um ajudante para o General Dokhturov e, em seguida, o renomado Raevksy. Dubelt lutou nas campanhas russas em toda a Europa e terminou a guerra em Paris. 

Ah, Europa, Europa! Civilização no início do século 19 evocava imagens de estradas, bens de consumo e liberdade. Na Rússia, por sua vez, as sociedades secretas de oficiais estavam se formando, e Leontii Vasilevich estava próximo a eles. Os futuros Dezembrista S. Volkonsky e M. Orlov eram ambos seus amigos, e as idéias de liberdade pareciam indivisível do brilho das ombreiras do coronel arrojado.  

Após a rebelião na Praça do Senado, o comandante do regimento de infantaria Dubelt não foi preso, ele havia se envolvido em conversas sobre a liberdade, mas ele não era um membro de uma organização secreta. No entanto, ele o fez em uma lista de suspeitos e esteve diante de uma comissão de investigação nomeada pelo Imperador. Foi aqui que Benckendorff o viu, sentado naquela comissão - vendo-o e comprometendo-o a memória, o chefe da Terceira Seção ficou satisfeito com o comportamento do coronel. Dubelt evitou um julgamento, mas manteve-se num registo de figuras "incertas". Ele também não estava fazendo a vida mais fácil para os seus próprios superiores, com os quais ele estava em conflito. Em algum momento ele não se conteve e dostensivamente demitiu-se do serviço, o exército não estava perturbado com a partida brilhante do coronel. Nesta hora dramática, Benckendorff convidou Dubelt para trabalhar com ele na Terceira Seção. 

O chefe do movimento do serviço secreto era estranho e inesperado, embora como Dubelt, ele também tinha estado em Paris. Mas ele voltou com diferentes impressões. Como S. Volkonsky disse:
Benckendorff retornou de Paris ... e como um homem influenciável e pensativo, viu o utilidade nos guardas franceses. Ele assumiu que em bases honrosas e optando por homens honestos e brilhantes, a introdução deste ramo de supervisores seria útil para o czar e a pátria, e, portanto, preparou um projeto para a formação dessa diretoria. Ele nos convidou, muitos entre os nossos companheiros, para entrar neste grupo do que ele chamou pensadores benevolentes ... 

E ele convenceu Dubelt a se juntar ao grupo chamado de Terceira Seção. Desde o exército para os policiais, mas de forma honrosa. Tendo concordado, Dubelt iria escrever para sua esposa que ele solicitou a Benckendorff não ter planos para ele se tivesse que assumir deveres ignóbeis. Ele não concordaria em entrar no Corpo de Policiais se ele estivesse "ordena que um homem bom e honrado acharia terrível contemplar." Ainda Benckendorff considerou sinceramente serviço dos policiais uma causa nobre e conseguiu convencer até mesmo quando bastante cansado disso. E assim, o coronel de infantaria tornou-se um coronel policial.

 E que talento foi descoberto no campo das investigações! Dubelt tinha a incrível habilidade de construir uma imagem de um caso a partir de poucos fatos e em seguida dar um prognóstico. De tal manira que ele adivinhou qual teria sido o destino de Pushkin. Dentro do cinco anos Dubelt já era general e chefe de gabinete da Corporação, e mais tarde gerenciando a Terceira Seção. A personalidade dura e direta que havia prejudicado sua carreira nas forças armadas não impediu o seu serviço com Benckendorff, e ele foi estimado não apenas pelo serviço secreto, como também por muito de seus alvos operacionais.

O trabalho de Dubelt era com homens instruídos, no departamendo de Benckendorff ele era considerado o mais esclarecido e letrado, ele mesmo um pouco. Ele trabalhou com editores de jornais densos, com pessoas como Pushkin e Herzen. Eles conheciam seu principal método - convencimento e persuasão. Esse era o estilo de Benckendorff ampliado pela sensibilidade literária de Dubelt, sua tolerância e tato, sua simpatia e empatia. O oficial sentiu que a tragédia daqueles investigados estava "indo na direção errada". Ele sinceramente simpatizava com eles e tentou mudar a direção. Herzen aqui é próximo a Benckendorff quando ele notou que Dubelt era o homem mais esperto da Terceira Seção, e mais esperto que todas as três seções da Chancelaria Imperial juntos.

Os casos Petrashevski e Dostoiévski levaram à prisão 37 pessoas. Os prisioneiros foram tratados com cortesia, e enquanto estavam inegavelmente na cadeia, o regime era ao menos tolerável. Os suspeitos foram acusados principalmente de ler e discutir a carta banida de Belinsky a Gogol, uma que foi escrita em 1847 em conexão com uma publicação do livro de Gogol Correspondência com amigos. Gogol era favorável à ideia de governo monárquico na Rússia e tomou frente como defensor das relações estabelecidas, ele via a Igreja como aliada do Czar em cultivar dentro do povo russo o espírito de lealdade ao regime. Belinsky o denunciava passional e raivosamente: A Rússia, dizia, era um país onde "pessoas negociam pessoas", onde não havia "garantia para os indivíduos", mas apenas grandes organizações de vários ladrões estatais e bandidos". E a Igreja era "sempre o suporte para o chicote e um lacaio do despotismo", enquanto a chamada profunda religiosidade do povo russo era mais um mito do que a realidade.

O prório Dubelt conduziu o interrogatório, e mesmo assim, por vezes era manos interrogarótio que discussão e argumentos sobre pontos de visão de mundo. Dubelt falou como um oponente e mentor, razoavelmente e convincente. E como isso aconteceu, isto se tornou longe de ser inútil. Ele tinha o dom do raciocício, que era uma qualidade inestimável para um oficial da política policial. Quando estava lá, o efeito pode ser surpreendente - como no caso de Dostoiévski, sobre o qual a profundidade dos julgamentos de Dubelt deixaram uma grande impressão.

Em forma de tese, os julgamentos ocorreram conforme o seguinte:

1 - A vida deve ser da fato justa e imparcial. mas isso é impossível enquanto as pessoas não forem esclarecidas e educadas. E se as pessoas forem esclarecidas e lhes for dado educação esntão um senso de honra e dignidade será cultivado nelas, então ninguém pegaria uma besta, mas "meio homem" e o tornario um homem pleno. Apenas após isso pode ser dada a liberdade. Educação e formação são os precursores da liberdade.

2 - Em relação à liberdade a questão tem dois lados: Irá um camponês esclarecido arar o solo, ou ele partiu para procurar a "verdade"?

3 - Seus debates sobre a carte levou à conspiração, e a conspiração é o caminho para desordem e caos. Mas desejar o caos não é uma qualidade de homens inteligentes.

4 - O principal dever de um homem inteligente e honrado é acima de tudo amar a sua pátria, e isso significa servir fielmente seu Czar.

5 - Pessoas totalmente absorvidas com o secular, preocupações terrenas, nunca compreenderão o significado da vida e não percebem nenhuma mensagem direcionada às suas almas pelo Altíssimo, essa é a tragédia daqueles que perderam seu caminho.

E mais um motivo de Dubelt, a sexta das teses emitidas. O que é a Rússia sem o Czar, sem a Ortodoxia? Nada! Revoluções, golpes de Estado - tudo isso vem da Europa. Nós temos o nosso caminho, o caminho da Rússia.

Leontii Vasilevich era obviamente inclinado à eslavofilia, e por vezes falava como Gogol. Com isso, ele foi capaz de convencer Dostoiévski, que guardou suas conclusões ao coração. Os argumentos não foram rejeitados, mesmo que viessem de um genereal da polícia. Dostoiévski faria sua mensagem à comissão investigativa sob influência de Dubelt. Ele disse que leu a carta de Belinsky, mas poderia o homem que informou sobre ele dizer a qual dos dois, Belinsky ou Gogol, ele foi mais parcial? O escritor também fez saber que foi sempre a pátria e as mudanças progressivas para mudar a vida, e que isso deve emanar de uma autoridade sem nenhuma revolução ou convulção.

Dostoiévski tinha apenas assimilado o conteúdo de suas discussões com Dubelt, integrado sua nova posição de pensamento e elaborado isso à comissão investigativa quando um novo golpe foi tratado - a decisão da corte.

A corte militar considera o réu Dostoiévski culpado de ter recebido uma cópia da carta criminal de Belinsky e lido essa carta em encontros. Dostoiévski estava como réu durante a leitura de Speshnev da obra inflamatória do tentente Grogoriev sob o título "Uma discussão de soldado". E então a corte militar sentenciou o tenente engenheiro reservista Dostoiévski por não informar as autoridades para ser privado de todas as posições e direitos de propriedade e ser sujeito a pena de porte por pelotão de fuzilamento.

Para Dostoiévski a sentença foi um choque, o mundo tinha acabado e se tornado obscuro. E foi assim por 36 dias até que a sentença fosse cumprida.

E então aconteceu um milagre. Nicolau I emitiu um veredito final: "quatro anos de trabalho pesado e então serviço o exército como soldado raso". Junto com uma observasão pedantemente astuta: "Anunciar anistia somente somente saquele minuto em que tudo estiver preparado para a execução". Assim foi feito, e mais uma vez um golpe tremendo. Apesar de ser 22 de dezembro de 1849, sete da manhã com escuridão e gelo cobrindo a praça Semenovsky, para Dostoiévski o mundo ressucitou e começou a respirar em novas cores e sons. 

Após um após o outro, estes choques nervosos criados como tensão emocional que todas as exortações de Dubelt foram gravadas em sua memória, e elas não deixaram Dostoiévski até o fim de seus dias criativos. Ou seja, sob a influência de Dubelt, e sob a impressão produzida por debates com ele, Dostoiévski após seu retorno de trabalhos forçados na Sibéria havia se tornado um ortodoxo monarquista convicto e um opositor consciente da revolução e todos os seus contágios.

Se lermos nas entrelinhas nas seguintes obras, cartas e notas do diário de Dostoiévski e olhar para as suas iniciativas no âmbito social, podemos detectar a sombra de Dubelt. Julgue por si mesmo. Em uma carta para o mesmo Maikov, algum tempo depois de 1859, Dostoiévski escreve:

Eu li a sua carta e não entendi o ponto principal. Estou falando de patriotismo, com a idéia da Rússia, sobre um senso de dever, honra nacional, sobre tudo o que você fala com tal êxtase. Mas meu amigo! Alguma vez estiveste em outra mente? Eu sempre compartilhei esses sentimentos e convicções. Rússia, dever, honra - sim! Eu sempre fui verdadeiramente russo - Falo-vos francamente ... Sim! Quero compartilho contigo a idéia de que a Europa e seu objetivo será concluída pela Rússia. Para mim, isso tem sido claro ...

Quase se espera por Dostoiévski terminar sua declaração solene a Maikov com a frase de Dubels: "Nós temos o nosso caminho, o caminho russo".

Quando dostoiévski estava cumprindo a determinação, realizando serviços como oficial subalterno no comando de um pelotão, à noite ele iria escrever seu conto "A vila de Stepanshikovo". Foi difícil de escrever e mais ainda de encontrar leitores. Na revista Russky Vestnik, editada por Mikhail Nikiforovich Katkov, todos estavam em dúvida: eles precisavam imprimir isso? Sovremennik o pegou, mas Nikolai Alekseevich Nekrasov, o principal editor, também não pode decidir. Sua recusa, é verdade, ele velou com referência à taxa irrisória que estava disponível a ser paga caso a obra fosse realmente impressa. Dostoiévski rejeitou com honra, e finalmente Andrei Aleksandrovich Kraevsky concordou em publicar a história em Notas Pátrias por uma taxa de 120 rublos por edição impressa.

O que era tão terrível que causou a reação nos editores mencionados acima de serem tomados por um sentimento de perigo, com até mesmo Nekrasov disendo "Dostoiévski passou do seu auge, ele não escreve mais nada importante"? Foi o personagem terrível e ridículo que Dostoiévski trouxe ma pessoa de Foma Fomich Opiskin, um ditafor ideologico local. Opiskin era um falso profeta possuido por um fetiche de mundança social, se apegando às ideias de liberdade incondicional, juntamente com o patriotismo, e começou a esclarecer os moradores locais. Ele ensinou liberdade e patriotismo enquanto odiava a Rússia, e ele ensinou a fim de satisfazer a propria vaidade política, seu poder sobre outras almas, que por sua vez foram enganadas e debochadas pelas frases liberais e patrióticas. As pessoas, hipnotizadas por tal imprudência "acadêmica", continuaram engolindo o veneno, aceitando o pregador como genuíno mestre. 

Quando Dostoiévski estava escrevendo "A Vila de Stepantchikovo", palavras de Dubelt permaneceram com ele: "Será um camponês esclarecido arar a terra? Ele não vai se tornar escravo de uma idéia prejudicial, ele vai partir em busca da "verdade?" Pode-se ler como a história é uma ilustração das palavras de um general da Terceira Seção. É por isso que o trabalho intimidava os editores esclarecidos dos principais jornais literários da Rússia?  

Dostoiévski continuou seu diálogo com eles, quando ele estava escrevendo o texto para anunciar o lançamento do jornal Vremya. A idéia básica da revista foi a afirmação na consciência social de um novo caminho de desenvolvimento do Estado fundado na resolução da questão do campesinato - a abolição da servidão. Dostoiévski considerou tal decisão uma revolução social de enorme significado. Portanto na abordagem assinantes, ele não esquece de enfatizar: " Esta revolução é a fusão da educação e seus representantes com o seio do povo e da comunhão de todo o grande povo russo com todos os elementos de nossa vida atual".
 
E Dubelt se pronunciou sobre o mesmo. Afinal, dez anos antes, ele havia sugerido a Dostoiévski:

A vida deve ser da fato justa e imparcial. mas isso é impossível enquanto as pessoas não forem esclarecidas e educadas. E se as pessoas forem esclarecidas e lhes for dado educação esntão um senso de honra e dignidade será cultivado nelas, então ninguém pegaria uma besta, mas "meio homem" e o tornario um homem pleno. Apenas após isso pode ser dada a liberdade. Educação e formação são os precursores da liberdade.

E novamente de Dubelt, um credo familiar: "Nós temos nosso próprio caminho, o caminho da Rússia" Dostoiévski aparentemente desenvolve isso: "Sabemos agora que... que não estamos em condições de nos jogar em uma das formas sociais ocidentais vividas e produzidos a partir de seus próprios princípios ... Nós finalmente nos convencemos de que também somos uma nacionalidade separada, em um grau mais elevado e único, e que a nossa tarefa é criar para nós uma nova forma, a nossa própria forma nativa retirada de nosso solo, a partir do espírito popular e elementos populares... " e acrescenta quase como encantado: "Aqui, o primeiro e principal passo é a expansão reforçada da educação ". 

Na primavera de 1870, Dostoiévski, vivendo naquele tempo com a sua família na Itália, leu em um jornal local um artigo de Moscou: "Na Academia Petropavlovskaya no bairro Razumovsky, um estudante com o nome de Ivanov foi encontrado assassinado. Os detalhes do crime são terríveis. Suas pernas estavam envoltas em uma capa carregado com tijolos... Ele era bolsista na Academia e dava a maior parte do dinheiro para sua mãe e irmã". Então outros detalhes apareceram;. Descobriu-se que o estudante Sergei Nechaiev fundara uma organização terrorista em Moscou a chamou "o Comitê de represália do Povo", cujo emblema era um machado. 

Começando, Nechaiev decidiu organizar células terroristas de cinco; estes compunham O Comitê de represália do Povo. Estes homens que se vinculados a uma célula renunciaram sua humanidade e fizeram um voto de servir a causa da destruição terrível e cruel. Este Comitê fazia os preparativos para uma revolução política, tendo inicialmente organizado a fúria das massas. Mas o estudante Ivanov, um membro do Comitê falou contra esse plano e se envolveu em uma longa e feroz discussão com Nechaiev sobre o assunto. O debate terminou mal: Ivanov foi "condenado" por decisão secreta, ou seja, assassinado, e seu corpo jogado em um buraco no gelo, suas pernas foram carregadas de tijolos.

Essa é toda a história, mas isso chocou Dostoiévski. Era como se tudo o que tivesse retornado a círculo completo de vinte e poucos anos atrás. A figura de Speshnev à tona, juntamente com o seu programa de conspirações para um golpe armado, onde a força de ataque seria essas mesmas células de cinco. 

Spechniev foi um precursor para Nietcháiev. Onde estaria o destino do próprio Dostoiévski se os agentes de Dubelt não tivessem parado a corrida desenfreada ao terror político? Dostoiévski admite: "Eu provavelmente não poderia ter sido um Niechaiev mas um Nechaievita, não podemos garantir, talvez, eu poderia ter sido... nos dias de minha juventude."

As reflexões de Dostoiévski sobre a terrível história do estudante Ivanov, sobre Speshnev, sobre si mesmo, e novamente sobre Dubelt, precedeu a resseção da vontade de falar, e de uma certa medida de se arrepender, perante o mundo. A princípio, ele pensou em um panfleto político, mas quanto mais ele ponderou, mais clara a sua ideia para um romance se tornou. Um romance como um ato de arrependimento, um romance e um aviso, um romance sobre o seu destino, graças a Deus, isso nunca aconteceu.

Ele entitulou a história de "Demônios", e os principais atores, todos esses demônios, são em grande parte baseados em pessoas reais. O assassino Nechaiev virou Pyotr Verkhovensky, enquanto o assassinado estudante Ivanov, tendo em vista que se opôs ao plano de Nachaiev, ficou com o plano de Shatov. Shatov procura por um novo significado, mas ele cambaleia em suas conclusões intelectuais. Também havia o ancião Verkhovensky, o pai de Pyotr, cujo personagem é destinado a expor as diferentes interpretações de pais e filhos sobre o problema do niilismo contemporâneo, a partir do qual somente pode vir o mal. É uma continuação das idéias de Ivan Sergeievich Turgenev, cujo "Pais e filhos" se tornou para a Rússia um romance e um aviso sobre o terrível poder do niilismo. Não foi em vão que a Terceira Seção manifestou sua gratidão para com Turgenev por revelar a desinteressante figura do niilista revolucionário Bazarov.

Do problema do niilismo, Dostoiévski foi mais longe com a ideia de demonismo, a ideia da total destruição e desintegração, mas sob a máscara de luta para o homem, por justiça e pela vinda de um mundo melhor. As dissimuladas ideias de demonismo em ultima instância trituram o homem em pó e resultam em derramamento de sangue. É isso que Dostoiévski procurou expressar em sua obra.

Mas quem em "Demônios" é o heroi, portador do ideal demoníaco? Stavrogin - assim Dostoiévski nomeou seu idealista. Stavrogin é o personagem principal, em torno do qual gira o vórtice do diabolismo. Descobrindo a essência de Stavrogin e sua linha de pensamento, Dostoiévski exorciza de si mesmo o jovem que estava pronto a seguir Speshnev vinte anos atrás.

E no fimdas contas esse drama demoníaco é... o sabão que Nikolai Vsevolodovich Stavrogin passou na corda em que ele mesmo se enforcou. Foi esse romance, embora escrito de forma voluntária, talvez um produto de uma ordem implícita da Terceira Seção? Eles aprovaram o "Pais e filhos" de Turgenev afinal de contas. Dubelt deveria estar satisfeito, a prevenção do demonismo correspondeu a seus pontos de vista bem como os objetivos gerais do serviço secreto.

"Demônios" é o epitáfio de Dubelt, um romance para a glória da Terceira Seção.

Via The Soul of The East

Tradução por Conan Hades