domingo, 6 de setembro de 2015

Jihadistas chechenos deixam Síria e juntam-se a Kiev


 Não é de se surpreender: jihadistas do Estado Islâmico, grupo terrorista financiado pelos Estados Unidos e que saiu do controle de seus tentáculos (aqui, aqui e aqui), e que se opõem à Rússia nos confrontos chechenos, estão saindo da Síria e rumando para a Ucrânia (cujo governo também é financiado pelos Estados Unidos), onde se supõe com isto uma reunião de forças por parte da OTAN em uma possível Terceira Guerra Mundial. Com o exército de Assad tomando controle do território sírio, os terroristas são realocados para outro ponto de atuação: governo de Kiev, ou o Praviy Sektor, batalhão neonazista também financiado pela OTAN, e que também está saindo de controle do governo de Kiev. A reportagem abaixo se trata de uma entrevista a um terrorista jihadista que fala um pouco sobre o deslocamento de forças islâmicas para lutar pelo Ocidente, por aqueles que supostamente desejam destruir.
"Morte separatista", escrito na faca
 [Anna Nemtsova para o Daily Beast]Um batalhão de combatentes do Cáucaso é entregue a Kiev na Guerra da Ucrânia. Contudo, a sua presença pode causar mais estrago do que auxiliar.

MARIUPOL, Ucrânia – Apenas a uma hora de distância dessa cidade sitiada, em um antigo resort localizado no mar de Azov*, que hoje é uma base militar, militantes da Chechênia – veteranos jihadistas em suas próprias terras e, mais recentemente, na Síria – agora servem no que é chamado de Batalhão Xeique Mansur. Alguns deles afirmam terem sido treinados, pelo menos, no Oriente Médio junto a combatentes do conhecido Estado Islâmico, ou EI.

Em meio às forças desiguais que se alistaram na luta contra os separatistas da região oeste da Ucrânia, Donbass, apoiado pela Rússia, poucos são mais controversos e mais nocivos para a reputação da causa que eles dizem querer servir. O Presidente russo Vladimir Putin adoraria apresentar os combatentes que ele apoia como cruzados enfrentando perigosos jihadistas, ao invés do governo Ucraniano que pretende integrar intimamente o país com a Europa Oriental.

Ainda assim, muitos ucranianos patriotas, desesperados para conquistar terreno na luta contra as forças apoiadas pela Rússia, estão dispostos a aceitar os militantes chechenos para seu lado.

Ao longo do último ano, dezenas de combatentes chechenos cruzaram a fronteira da Ucrânia, alguns de maneira legal, outros de maneira ilegal, e em Donbass encontraram-se com o Pravyi Sektor, uma milícia de extrema-direita. Os dois grupos, com dois batalhões, possuem muito pouco em comum, mas eles compartilham um inimigo e compartilham essa base.

O Daily Beast conversou com os militantes chechenos sobre o seu possível apoio ao Estado Islâmico e os seus afiliados no Norte do Cáucaso, que agora é chamado de Estado Islâmico e Emirado do Cáucaso e é considerado uma organização terrorista tanto pela Rússia quanto pelos Estados Unidos.

Os combatentes chechenos declararam-se motivados com a chance de lutar contra os russos na Ucrânia, a quem eles chamam de “invasores do nosso país, Ichkeria”, outro termo para designar a Chechênia.

De fato, eles estavam aborrecidos com as autoridades ucranianas por não terem permitido a entrada de mais militantes chechenos vindos do Oriente Médio e das montanhas do Cáucaso. O batalhão Xeique Mansur, fundado em outubro de 2014, “precisa de reforços”, eles afirmam.

O homem que os chechenos deferem como o seu “emir”, ou líder, é chamado “Muslim”, um nome de batismo comum no Cáucaso. Ele relatou como cruzou a fronteira ucraniana no ano passado: “Levei dois dias para atravessar a fronteira ucraniana, e as autoridades que controlam a fronteira atiraram em mim,” ele disse. Ele vive tranquilamente nessa base militar, mas está indignado porque um número maior de seus recrutas não pode chegar até ali. “Três dos nossos chegaram vindos da Síria, e quinze ainda estão esperando na Turquia” ele disse ao Daily Beast. “Eles querem abraçar o meu caminho, querem juntar-se ao nosso batalhão agora mesmo, mas as autoridades que patrulham a fronteira ucraniana não estão deixando que eles entrem”.

Muslim mostrou um pedaço de papel com o nome de outro checheno que está vindo juntar-se ao batalhão. O bilhete escrito à mão relata que Amayev Khayadhzi foi preso na Grécia no dia 4 de setembro de 2014, e agora poderia ser deportado para a Rússia. (na Grécia, o advogado de Khayadhzi contou ao Daily Beast via telefone que há uma chance de seu cliente ser transferido para a França, onde está sua família).

“Outros dois amigos nossos estão presos e ameaçados de deportação para a Rússia, onde eles ficariam presos por toda a vida ou seriam mortos por Kadyrov”, Muslim contou ao Daily Beast, referindo-se ao aliado de Putin e presidente da Chechênia, Ramzam Kadyrov.

O comandante apontou a um jovem militante próximo a ele: “Mansur veio para cá da Síria”, disse Muslim. “Ele utilizou o EI como base de treinamento para aprimorar as suas habilidades em combate”. Mansur esticou a sua mão direita, que estava desfigurada, segundo ele, por um ferimento de artilharia. E outros dois projéteis continuam cravados em suas costas, ele relatou.

“Sem fotografias”, Mansur sacudiu negativamente a sua cabeça quando um jornalista tentou tirar uma foto sua. Nem de sua mão, e nem de costas: “Minha religião não permite isso”.

De fato, para demonstrar que são perigosos, armados, e que seu número estava crescendo, esses chechenos postaram uma fotografia na rede social russa Vkontakt, que em realidade é controlada pelo governo russo. Porém, muitos deles tiveram seus rostos censurados, provavelmente para evitar processos, seja na Rússia ou no Ocidente.

“Kadyrovtsy [Kadyrov] conhece meu rosto e minha mão muito bem”, Mansur explicou ao Daily Beast.

Mansur disse que não teve de correr ao longo da fronteira sendo alvejado por balas como Muslim. “Nós conseguimos chegar a um acordo com os Ucranianos”, ele relatou.

A chegada de combatentes chechenos pró-Ucrânia do estrangeiro ajudou a aliviar os problemas de imigração dos chechenos já residentes na Ucrânia, os militantes explicaram.

Kadyrov enviou alguns de seus chechenos para lutar no conflito ao lado dos russos no ano passado, disse Muslim, e como resultado “havia um risco temporário de algumas famílias chechenas serem deportadas da Ucrânia... mas desde quando nós começamos a chegar aqui em Agosto do ano passado, nenhum checheno vivendo na Ucrânia teria razões para reclamar”.

Os ex-combatentes da Síria estavam indo para a Ucrânia porque estavam desapontados (ou horrorizados) pela ideologia do EI?

“Nós estamos lutando contra a Rússia há mais 400 anos; hoje eles [os russos] explodem e queimam vivos os nossos irmãos, juntamente com suas crianças, então aqui na Ucrânia nós continuamos lutando nossa guerra,” disse o comandante. Muitos chechenos hoje na Ucrânia relembraram a guerra da Chechênia nos anos 90 como uma guerra pela independência, que foi reconhecida por um breve período, e depois revogada.

Desde então a guerra no Cáucaso transformou-se em terrorismo, vitimando aproximadamente mil civis, muitos deles crianças, em uma série de ataques terroristas. E independentemente do inimigo em comum, isso se apresenta como um sério problema para Kiev, se ela aceitar receber esses combatentes.

“O governo ucraniano devia estar ciente de que os islâmicos radicais lutam contra a democracia,” diz Varvara Pakhomenko, uma especialista do International Crisis Group. “Hoje eles aliam-se com os nacionalistas ucranianos contra a Rússia, amanhã eles estarão lutando contra os liberais.”

Pakhomenko disse que algo similar aconteceu na Geórgia em 2012 quando o governo de lá foi acusado de cooperação com radicais islâmicos da Europa, Chechênia, e do Pankisi Gorge, uma região habitada por chechenos na Geórgia.

Para os observadores internacionais cobrindo o terrorismo na Rússia e no Cáucaso nos últimos quinze anos, a presença de radicais islâmicos na Ucrânia soa de maneira “desastrosa”, disseram ao Daily Beast os membros do International Crisis Group.

Não obstante, muitos ucranianos e oficiais em Mariupol apoiam a ideia de contratar mais milicianos chechenos. “Eles são guerreiros corajosos, prontos para morrer por nós, eles são amados, e da mesma maneira serão todos aqueles que nos protegerem da morte,” relatou Galina Odnorog, um voluntário que abastece os batalhões com equipamento, água, comida e outros itens. Na noite anterior as forças ucranianas contabilizaram seis soldados mortos e mais de uma dúzia de feridos.

“EI, terroristas – qualquer um é melhor do que nossos líderes preguiçosos,” disse Alexander Yaroshenko, deputado do conselho legislativo local. “Eu me sinto mais confortável ao redor de Muslim e seus rapazes do que com o nosso prefeito ou governador.”

O batalhão do Pravyi Sektor, que coopera com os militantes chechenos, é uma lei em si mesmo, no que diz respeito às suas ações, e frequentemente está fora de controle, tendendo a incorporar qualquer um em suas fileiras, de acordo com a própria vontade. Em julho, duas pessoas foram mortas e oito ficaram feridas em uma batalha entre a polícia e o Pravyi Sektor, houve troca de tiros e granadas. Na segunda-feira, militantes do Pravyi Sektor provocaram batalhas nas ruas do centro de Kiev, deixando três policiais mortos e mais de 130 feridos.

Ainda assim, o governo de Kiev está considerando a transferência do Pravyi Sektor para uma unidade especial do SBU, o serviço de segurança ucraniano, o que fez com que muitas pessoas questionassem se a milícia chechena irá juntar-se às unidades do governo também. Até agora, nem o batalhão do Pravy Sektor nem o batalhão de milicianos chechenos estão registrados com as forças oficiais.

Na Ucrânia, que continua perdendo dezenas de soldados e civis toda semana, muitas coisas podem sair fora do controle, mas “seria inimaginável permitir que os atuais e os ex-combatentes do EI viessem a participar de qualquer unidade controlada ou apoiada pelo governo” diz Paul Quinn-Judge, principal conselheiro do International Crisis Group na Rússia e na Ucrânia. “Seria politicamente desastroso para a administração de Poroshenko: nenhum governo Ocidental em sã consciência aceitaria isso, e seria um enorme presente para a propaganda do Kremlin. O governo ucraniano estaria melhor servido promovendo as suas decisões para encaminhar o EI de volta para a fronteira”.

*N.T. – A autora refere-se ao tempo do trajeto percorrido de carro entre os dois lugares.

Traduzido por Maurício Oltramari e revisado por Portal Legionário

Dostoievsky: Racionalismo Demoníaco

Em seu trabalho Dostoievsly e a Metafísica do Crime, o sociólogo dr. Vladislav Arkadyevich Bachinin analisa a aparentemente única correlação contraditória entre o racionalismo iluminista e o surgimento de forças infernais na obra Os Demônios de Dostoievsky. Segue abaixo:

A Razão Imoral de um Automaton Vivo

Pyotr Verkhovensky, o cínico sangue-frio que facilmente ultrapassa quaisquer obstáculos morais, representa um tipo especial de criminoso, ao qual é aplicável a metáfora de "homem-máquina".

Na França de 1748, o livro de Lematrie sob aquele título foi lançado. Seu autor molda o homem como uma máquina auto-regulada que se move por linhas perpendiculares. Na concepção de Lametrie um ser humano foi a direta semelhança a um relógio ou cravo, e ao mesmo tempo uma necessidade natural. Mas possuindo instintos, sentimentos e paixões, ele é privado de uma alma. Lametrie assumiu que o termo alma carecia de qualquer substância essencial qualquer que seja. O mundo no qual o homem-máquina habita é antropocêntrico; não há lugar para Deus. A realidade é arranjada de acordo com os princípios da mecânica newtoniana, e o mundo se apresenta como um conglomerado mecânico de elementos inanimados. Os processos naturais e sociais são movidos por uma e mesma força mecânica.

A filosofia da racionalidade mecânica se abre como único resultado da evolução do racionalismo clássico. A eliminação de todo conteúdo metafísico prepara o fundamento tanto para a chegada do positivismo quanto para a realização de planos a fim de construir a futura sociedade estritamente racionalizada com parâmetros calculados inteiramente sob o controle de uma vontade diretora. O homem-máquina e o Estado-máquina, que precisam um do outro, surgem como algo que lembra as razões télicas de Aristóteles, e direta e gradualmente determinarão o desenvolvimento de esquemas antropocêntricos positivistas.

De acordo com a pintura mecanicista do mundo, sempre existe a ameaça de deformações intencionais nas estruturas da ordem cósmica. Objetivamente existem possibilidades de violação da medida e da harmonia, da destruição da ordem e ascensão do caos. Um assassino pode realizar a possibilidade objetiva da morte que existe para sua vítima. Um ladrão ou bandido é capaz de realizar a possibilidade objetiva de alterar valores materiais no espaço social de umas mãos para outras, etc. Ou seja, fica apenas para o homem aplicar certos esforços para a possibilidade de desintegração das estruturas existentes, seu movimento para a realidade. Em tempos as forças mecânicas foram suficientes para isto. Ademais, quanto maior o grau de mecanismo de tais empresas, menor o espiritual, ético, religioso e de outros componentes similares, e mais efetivas provarão ser as ações destrutivas.

Dostoievsly tem a filosofia do homem-máquina aplicável primeiro e acima de tudo aos caracteres que representam o prático homem de negócio junto de tipos comerciais do modelo ocidental, i.e., a tais homens como Luzhin, Rakitin, Epanchin, Totsky, Ferdyschenko, etc. Indiferentes à realidade metafísica, eles subscrevem aos "ideais de Geneva" de Rousseau permitindo a possibilidade da "virtude sem Cristo". Imersos no orgulho de uma existência sem graça, prosaica e pragmática, "tendo ouvidos, eles não ouvem, e tendo olhos eles não veem". Tudo que vem de cima, das esferas da realidade metafísica, não chega às suas almas, e portanto estão imersos na escuridão da ignorância e incompreensão das coisas mais significativas da vida. Os pensamentos e sentimentos destes "Bernardos" carregam um caráter mundano e não diretamente dirigidos além. Eles não gostam de pensamentos abstratos, considerando um passa-tempo inútil. Para eles, como para Lametrie, Deus e a alma são magnitudes de falsa moral. Para eles todo o mundo habita no estado "desencantado" de um gigantesco conglomerado de elementos inanimados. Em nenhum deles Deus brilha faiscante. Todos estes homens são espiritualmente máquinas vivas empobrecidas, doentes, no entanto, por uma mão misteriosa, mas como Lev Shestov diria sobre eles, não são conscientes que suas vidas não são vidas, mas mortes.

Em suas descrições Dostoievsky expôs sua crítica da mente longe-da-limpeza, inteiramente imunda e imoral, mais precisamente a razão banal e básica "euclidiana" que é que são surdos à metafísica das morais absolutas, a mente que vê na alma "só vapor", que é governada por razão fria solitária e vê todo o mundo como aglomerado de ferramentas para alcançar seus insípidos objetivos.

Entre os espécimes do homem-máquina replicados por Dostoievsky, Pyotr Verkhovensky representa o exemplar mais odioso. Ele é calculista, impiedoso, e está pronto a ir toda a distância para alcançar seus objetivos, sem parar diante das mais vis infâmias e crimes.

A realidade criminal, dentro do que existe a verdade de Verkhovensky, o "eu", é distinguida por características tais como um duro distanciamento de outros mundos valorativos, e acima de tudo do mundo dos absolutos religiosos, morais e das leis naturais. Em segundo lugar, inerente a isto está uma aguda tensão nas relações com a realidade valorativa oficial. E sua terceira particularidade é uma vulnerabilidade para o desmaio, explicada pelo fato de que por toda sua posição antagônica, aspira copiar as estruturas das realidades legais em seu próprio estilo. Assim como o mal parodia Deus, tentando imitá-lo, o mundo criminoso busca, por toda sua natureza caricatural de seus esforços, reproduzir estereótipos normativo-valorativos dos mundos legítimo e sacro, tentando adquirir vitalidade adicional a seu custo.

Não é acidental que o assassinato de Chatov em Os Demônios traz as marcas de um sacrifício ritual. Juntamente com isto toma a forma de uma monstruosa paródia de um ritual antigo: ao invés da solenidade de um rito sagrado, há a imunda baixeza de toda a cena; ao invés da aberta oficialidade, há a covardia, o ato secretamente cerrado; ao invés de clamar em favor de forças superiores, há um jogo sobre elementos obscuros do mal, uma comiseração de todos os participantes do assassinato através do sangue derramado da vítima e do medo mútuo de um diante do outro.

O Espaço Normativo da Associação Político-Criminoso

Verkhovensky deliberadamente forma um espaço normativo-valorativo de "moralidade" corporativa-criminosa com princípios ásperos de auto-organização e auto-preservação. Ele requer aquela atitude de membros associados para que suas tarefas e objetivos sejam extremamente sérias, sem permitir ceticismo, auto-ironia ou crítica. Violadores são imediatamente punidos. Violência aplicada preenche uma função protetora, atuando como meios de soldadura e auto-defesa para seu micro-mundo artificial.

À parte da similaridade na estrutura e nas formas da atividade político-criminosa e organizações puramente criminosas, entre as duas há distinções essenciais. E assim, se os fins últimos de um grupo criminoso são limitados à resolução de tarefas mercantis auto-interessadas, então os fins das associações político-criminosas ultrapassam os limites dos interesses mercantis e são orientadas em direção ao alcance de domínio político, através do qual os membros da associação passam a uma posição de elite reinante.

Se criminosos associados, como regra, não emitem um desafio ao Estado e ao sistema estatal, mas preferem lidar com cidadãos individuais, uma associação político-criminosa audaciosamente caminha a um antagonismo com o poder estatal e suas instituições.

Se um grupo criminoso representa uma única forma de "coisa em si" e não esconde seu egoísmo corporativo, então uma associação político-criminosa mascara seus interesses fundamentais com a cortina de fumaça de mentiras sobre os interesses do povo que supostamente concernem a ele.

A última circunstância, notada por Dostoievsky, permite homens tais como Verkhovensky recrutar apoiadores não apenas do espectro de "perdedores" pouco-educados e fanáticos com um desejo doente por intrigas e poder, mas também envolver jovens com bom coração, mesmo que com "vibrações" nas suas visões. O fato da última provar-se genuinamente trágica, desde que estes encrenqueiros confidentes, que estudaram o lado magnânimo do coração humano e foram capazes de mexer em suas cordas como se fosse um instrumento musical, ultimamente transformaram estes jovens em criminosos.

Dostoievsky lamentava que a juventude contemporânea, em caminho da maturidade de firmar convicções e dureza morais, estava indefesa contra o "demonismo". Entre muitas unidades materiais elas dominam uma ideia superior, e uma educação genuína é substituída por estereótipos de negação impúdica através da voz de alguém, da insatisfação e impaciência. Como resultado "mesmo o menino honesto e puro, mesmo aquele estudioso, poderia de repente se tornar um Nechaevita... ou seja, de novo, se ele se cruzasse com Nechaev..." (21, 133). Para tais garotos, os atos criminosos de Nechaev e Verkhovensky se pintam como proezas políticas.

As transformações fatais que tomaram lugar nas almas de muitos "garotos russos" foram facilitadas por um "momento de tormentas", que forçou a civilização russa em primeiro lugar calmamente, e depois mais rápido, a escorregar por uma superfície lisa rumo ao caos.

"Em minha novela Os Demônios", escreveu Dostoievsky, "eu tentei expressar aqueles vários e diversos motivos pelos quais mesmo o mais puro dos corações e a mais sincera pessoa pode ser levada a cometes a mais monstruosa vilania. O terror está em que aí pode-se fazer a coisa mais infâmia e horrível, algumas vezes completamente sem ser um canalha! E não é algo apenas entre nós, mas por todo o mundo é assim, sempre e no início das eras, durante tempos de transição, em tempos de descontrole na vida das pessoas, de dúvidas e negações, ceticismo e instabilidade nas convicções sociais fundamentais. Mas temos mais do que em qualquer lugar, e especialmente em nossos tempos, e esta característica é a característica mais dolorosa e triste de nosso tempo presente. Na possibilidade de ver a si mesmo, e até mesmo, quase por vezes,  como uma questão de fato, não como um canalha, ao trabalhar em uma abominação clara e indefensável - eis nossa tragédia contemporânea!" (21, 131).

Racionalidade de "Máquina" de um Programa Político

Verkhovensky, possuindo um poder forte e mecanicamente voluptuoso, encontrou um programa político mecanicista que corresponde à sua natureza. Suas posições básicas remontam aos seguintes pontos:

- Um novo tipo de Estado com formas predominantemente totalitárias de governo é necessário.
- Este Estado deveria manter seus súditos em constante terror, sem cessar, conduzindo a vigilância de todos "a qualquer hora e a qualquer minuto".
- Desde que gênios, talentos e indivíduos admiráveis representam uma ameaça ao poder dos "líderes-máquinas" por sua natureza extraordinária, todas as pessoas serão levadas a um nível padrão de desenvolvimento através de terror ideológico e político, no curso do qual Cícero terá suas línguas cortadas, Copérnico seus olhos arrancados, Shakespeare amarrado em pedras, etc.
- Para o decreto deste programa, é necessário começar com a total destruição de tudo, na prática levando à transição da ordem ao caos.

Dois vetores uniram-se nesse programa político-criminoso - a racionalidade "de máquina" dos vilões desalmados com a irracionalidade demoníaca dos maníacos em fúria.

Um dos paradoxos mais impressionantes da personalidade de Verkhovensky é aquela combinação surpreendente do "tipo máquina" com um entusiasmo maníaco por destruição. Isto concede à figura do demônio político um caráter especialmente sinistro. Com a direta participação da insensível "máquina" em produzir desordem, eventos na novela tomam a forma de uma vindoura tempestade, um caos entronado, quando uma dúzia de assassinatos e suicídios são cometidos, ao lado de muitas lutas de loucura e fogo grandioso de um incêndio. Como resultado, o mundo fechado no quadro da novela começa a se parecer com um monstruoso covil de bestas, onde há ausência de amor e misericórdia, onde há somente lutas impiedosas de todos contra todos.

Dostoievsky viu uma das fontes desse caos nas mentalidades filosóficas de conteúdo racionalista, materialista e ateu que penetraram [na Rússia] do Ocidente. Caindo em solo russo, as doutrinas de Darwin, Mill, Strauss e outros representantes do pensamento "progressivo" europeu, como regra foram tomados na consciência eslava, não experiente de tantos séculos de escolas filosóficas, como axiomas filosóficos adamantinos. Ademais as conclusões práticas foram frequentemente tiradas deles, conclusões de possibilidade das quais os professores ocidentais não suspeitavam.

Claro, o conhecimento positivo não diretamente ensinou qualquer vilania. E se Strauss, Dostoievsky nota com ironia explícita, negou e brincou com Cristo, por sua vez ao homem e à humanidade ele demonstrou o amor mais carinhoso e desejou o futuro mais radiante.

Mas então isto é o que me parece indubitável - dar a todos estes professores superiores contemporâneos a completa oportunidade de destruir a antiga sociedade e construir uma nova - então virá uma tal escuridão, um tal caos, algo tão cru, cego e desumano, que toda a construção colapsaria sob o curso da humanidade antes que ele pudesse ter sido completado. Uma vez rejeitado Cristo, a mente humana pode chegar aos resultados mais espantosos. Isto é um axioma. A Europa, pelo menos nas representações superiores de seu pensamento, rejeita Cristo, e como é sabido, estamos obrigados a imitar a Europa. (21, 132 - 133)

Para Dostoievsky, a atividade valorativa-orientadora e prática-transformadora da consciência moral, legal e política deve ser fundamentada em princípios do teocentrismo. Ele dissemina o espírito da Teodiceia sobre todas as esferas da vida social e espiritual, sem exceção. A consciência legal ocidental é predominantemente antropocêntrica, e como regra não aceita fundamentos normativos-valorativos religiosos ou metafísicos.

Estes fundamentos são desnecessários para o homem-máquina, que descobre por suas ações que a imoralidade aberta, o crime e o maquiavelismo político são tudo de uma e mesma natureza. Todas elas começam com a negação dos princípios superiores do ser, dos valores e normas absolutos.

via souloftheeast

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Maduro: EUA estão por trás da crise migratória na Europa


O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pensa que os EUA é o principal causador da atual crise migratória que transtorna a Europa.

Em uma entrevista concedida à agência russa de notícias Russian Today, o presidente venezuelano assegurou na quinta que as políticas aplicadas por Washington no Oriente Médio e no Norte da África provocaram a crise migratória europeia.

"O desastre no Iraque quem causou foram os EUA na época de Bush (ex-presidente estadunidense) com um falso propósito; com uma mentira se meteram e destruíram um país que é origem da civilização. Agora Iraque está esquartejado em 20 pedaços", salientou Maduro. 

Do mesmo modo, recordou que a situação passou na Líbia e depois na Síria, onde os EUA, mediante o financiamento de terroristas, busca destruir o país.

A seu ver, todas estas intervenções estadunidenses foram planejadas para se apropriar do petróleo destes países através de transações ilegais no mercado negro.

Assim, salientou que a Europa está pagando as consequências destes desastres gerados por EUA no Oriente Médio, pelo que atualmente as nações europeias não podem confrontar a terrível crise migratória que estão sofrendo.

"A Europa está recebendo milhares de migrantes e não sabem o que fazer. E os perguntei (a vários chanceleres europeus) quê medidas vão tomar, e não sabem o que vão fazer com os pobres da terra que chegam do Afeganistão, do Iraque, da Síria, da Líbia e de Tunis", comentou.

Para finalizar, o presidente venezuelano considerou que os EUA, a parte do Oriente Médio, pretende criar caos em outras regiões do mundo, em referência às ações subversivas da ultradireita venezuelana que, segundo Maduro, estão apoiadas por Washington.

No último 19 de agosto, Katerina Konecna, deputada tcheca no parlamento europeu, asseverou que as políticas dos EUA no Oriente Médio e no norte da África provocam "em grande medida" a crise migratória europeia.

Segundo um informe da Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 2000 pessoas foram mortas no ano de 2015 ao tentar cruzar as águas do Mediterrâneo rumo à Europa.

EUA assumem agora o lado fascista na história


Em uma celebração em Pequim na quinta-feira, dia 3 de setembro de 2015, marcando o aniversário de 70 anos da liberdade chinesa do agressor Japão logo do final da Segunda Guerra Mundial na China, os Estados Unidos conspicuamente evitaram de se posicionar ao lado de seu antigo aliado da Segunda Guerra, a China, que foi um dos aliados pró-democracia durante a guerra, e ao invés disso retrospectivamente mudou de lado, para o lado do antigo eixo dos poderes fascistas, entre eles Japão e Alemanha.

A diplomacia internacional está duramente focada no simbolismo historico, algo que qualquer um que está envolvido em diplomacia internacional entende. A diplomacia internacional é constantemente sobre história, e sobre fazer historia; esta é a natureza dessa profissão; e o simbolismo histórico neste evento diplomático em particular foi claro: os EUA retrospectivamente deixaram o lado anti-fascista dos Aliados, e mudaram para o lado do Eixo; os EUA agora se identificam com as nações do Eixo da Segunda Guerra - os agressores. Os EUA não mais se identifica com o lado das nações que foram agredidas.

A BBC, reportando as preparações da China para o evento, referiu-se à "notável ausência dos líderes ocidentais" da lista de pessoas que aceitaram os convites. "A parada serve a um papel duplo: uma reflexão sobre o passado e um sinal para o futuro. Os discursos dos oficiais chineses sobre os horrores do passado chinês - humilhação histórica nas mãos de poderes coloniais - estão diretamente ligados aos atuais interesses chineses sobre soberania e integridade territorial, incluindo os Mares Oriental e Sul chineses. Em um nível visceral dentro da sociedade chinesa, é impossível separar o passado do presente". A reportagem ainda fechou reconhecendo a resolução do presidente chinês, Xi Jinping, de "proteger os interesses essenciais da China". Esta é uma referência simpática e não de todo hostil, no fim de um artigo. A captação da BBC de uma foto que era similarmente honesta, e sem qualquer coloração propagandística do então planejado evento: "A parada comemora o que a China chama de 'Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa'". É de fato como a China a chama, e como de fato foi; e a BBC estava honestamente apresentando a perspectiva chinesa sobre uma parte momentânea da história chinesa. Os comuns noticiários anti-chineses e anti-russos do Ocidente não estavam presentes nesta admirável reportagem da BBC.

Então, na quinta, 3 de setembro, o dia do evento, a agência de notícias oficial da China, Xinhua (agora chamada "Nova Agência de Notícias da China", a fim de enfatizar o rompimento da China com relação à posição marxista-leninista dos tempos da Guerra Fria) manifestaram que "Xi chama os países a lembrar da história e perseguir o desenvolvimento pacificamente", e suas notícias abriram:

O presidente chinês Xi Jinping disse na quinta que todos os países deveriam tomar lições da história da Segunda Guerra e buscar um desenvolvimento pacífico.

Xi fez as observações enquanto saudava uma grande parada militar para comemorar o aniversário de 70 anos da vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês Contra a Agressão Japonesa e a Guerra do Mundo Anti-Fascista.

"É nossa sincera esperança que todos os países adquiram sabedoria e força da história, persigam pacificamente o desenvolvimento e trabalhem juntos para abrir um futuro promissor de paz mundial", disse ele a mais de 800 convidados chineses e estrangeiros.

A vitória da China na guerra foi um grande triunfo vencido pelo povo chinês em luta, ombro a ombro, com seus aliados anti-fascistas e com os povos em todo o mundo, disse ele.

"Como o principal cenário oriental da guerra anti-fascista, a guerra chinesa de resistência fez uma crítica contribuição para a vitória de todo o mundo", acrescentou Xi.

"Nenhuma força é maior que as que trabalham juntas em uma mente" ele disse, notando que durante a guerra, pessoas de todos os aliados anti-fascistas e outras forças em torno do mundo uniram mãos na luta contra seu inimigo comum.

"Nós os chineses nunca esqueceremos o incalculável apoio dado pelos países amantes de paz e justiça, pessoas e organizações internacionais, à nossa luta contra os japoneses agressores."


A reportagem descreveu a visão de Xi para o futuro da China:

Com uma memória dolorosa do passado, disse Xi, que o povo chinês têm persistentemente se comprometido em um caminho de pacífico desenvolvimento e uma estratégia de abertura em que todos ganham.

"Uma China mais forte e mais desenvolvida significará uma força mais forte para a paz mundial", disse o presidente.

O Jornal de Notícias Econômicas Alemão, em reportagem, notou:

Muitos líderes se abstiveram de participar na parada militar - a fim de não ofender os EUA entre outros aliados do Japão. A Alemanha e os EUA enviaram apenas seus embaixadores. O único líder da União Europeia lá era o presidente da República Tcheca, Milos Zeman. O muito criticado na China, conservador de direita, primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, negou o convite para o memorial à vitória da resistência chinesa.

Então, quem esteve lá? Quem de fato aceitou o convite?

Entre os aproximadamente 30 convidados estatais foram Vladimir Putin, os Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, o Presidente Park Geun-hye da Coreia do Sul, que também sofreu com as agressões japonesas. Na parada também marcharam em torno de 1000 soldados de 17 países como Rússia, Cuba, Kazaquistão, México, Paquistão e Sérvia.

Em outras palavras, este evento, que foi sobre Segunda Guerra, teve uma lista atendida que refletiu, ao invés da Segunda Guerra, a Guerra Fria - guerra entre o capitalismo e o comunismo - embora o comunismo esteja hoje completamente morto e só deixou vestígios na simbologia geopolítica, que já se apagam. A ideologia contra a qual os EUA travou a Guerra Fria deveria, portanto, agora ser ignorada, não mais tratada como se a Guerra Fria estivesse ainda viva e fosse ainda o foco central da política externa dos EUA. O foco desta Guerra Fria dos EUA sobre o evento da Segunda Guerra é doente, especialmente na era das ameaças reais dos jihadistas islâmicos ao redor do mundo, uma ameaça real tanto para o Oriente quanto para o Ocidente. Essa Segunda Guerra Fria pode produzir uma Terceira Guerra Mundial, uma guerra nuclear global. Para quê? Sobre o quê? Não sobre terrorismo islâmico. Mas isto é, apesar de tudo, o que os líderes dos EUA estão procurando: restaurar a Guerra Fria, depois de todo senso decente para uma coisa dessas foi deixada de lado. Um artigo de Xinhua foi mancheteado "Poucos no Ocidente se lembram do papel da China na Segunda Guerra: especialista de Oxford", e abriu: "Poucos no Ocidente se lembram do fato de que a China foi o primeiro país a entrar no que se tornou a Segunda Guerra, e foi um aliado dos Estados Unidos e da Grã Bretanha logo depois de Pearl Harbor até a rendição do Japão em 1945, disse um especialista de Oxford".

CCTV America mancheteou em 25 de agosto "China divulga lista de líderes mundiais a atender a parada do Dia da Vitória", e notou: "repórteres na conferência mostraram interesse sobre os líderes que não atenderão ao convite da celebração".

O BRICS Post reportou que, "Com exceção da presidente brasileira, Dilma Rousseff, que está lutando contra a oposição doméstica, os líderes dos Estados do BRICS são esperados a atender a parada chinesa no próximo mês para fortificar laços".

O Portal Matutino do Sul da China, na mais minuciosa de todas as reportagens sobre a lista dos que atenderão, mancheteou "Apenas os 'amigos verdadeiros' da China atenderão à parada de aniversário ao passo que os líderes-chave ocidentais e Kim Jong Un não estarão lá". A reportagem afirmou: "O único chefe de Estado ou governo da União Europeia é o presidente Milos Zeman da República Tcheca. O primeiro ministro Shinzo Abe do Japão não atenderá, embora o antigo primeiro ministro japonês Tomiichi Murayama atenderá. Pyongyang [Coreia do Norte] mandará seu membro Politburo, Choe Ryong-hae. Os EUA, o Canadá e a Alemanha enviarão representantes das suas missões diplomáticas na China [alguém da embaixada], enquanto a França e a Itália enviarão ministros estrangeiros". No entanto, o antigo primeiro ministro britânico, Tony Blair, também atendeu, como fez o presidente Vladimir Putin da Rússia e Park Geun-hye da Coreia do Sul.

Em outras palavras: os EUA, Canadá, Alemanha e Coreia do Norte enviarão os representantes de níveis mais baixos; a República Tcheca, a Coreia do Sul e a Rússia enviaram o de maior nível; e França, Itália, Bretanha e Japão ficaram no meio. China é um dos países do BRICS, assim é natural que os BRICS enviem representantes de nível maior. A Coreia do Norte enviou apenas um membro da Politburo, isto indica que Pyongyang está profundamente insatisfeita com o grau de apoio que a China alcançou recentemente. Japão enviou um antigo primeiro ministro, isto mostra que o governo japonês realmente não quer outra guerra entre dois gigantes econômicos da Ásia: é uma concessão extraordinária do país cuja derrota foi celebrada no evento.

A lista de convidados é um livro completo de informação sobre onde as coisas realmente estão na estrutura das relações internacionais. É um estatuto histórico, sobre o presidente, bem como sobre o passado. O simbolismo pode não ser tão descaradamente claro como palavras, mas é tão mais significativo, porque é a realidade crua, que palavras podem representar apenas (ou talvez até confundir). Claramente, a administração de Obama fez de tudo que pôde para apoiar as potências antigamente fascistas, Japão e Alemanha, contra a China, retrospectivamente, nesta ocasião. Japão é menos disposto que a Alemanha para andar junto ao esforço da Alemanha para reconstruir relações mundiais sobre a fundação da Segunda Guerra com os EUA tendo mudado 180 graus para se tornar agora o poder líder fascista (substituindo o que a Alemanha foi). A Itália também não tende a abraçar inteiramente o papel dos EUA como líder fascista mundial. Assim, também, o Reino Unido não tende inteiramente a aceitar (a aliança EUA-RU está se esgaçando). A Coreia do Norte está aparentemente junto dos EUA apenas por causa da sua relação com a China. Coreia do Sul é mais interessada em não ofender a China do que contribuir a fortalecer a relação de vassalo que tem com o fascista EUA. É extraordinário, mas isto se fortalece enquanto a Coreia do Norte enfraquece os laços com a China.

No entanto, ao passo que os EUA adota uma liberdade simbólica do nazismo, como faz com o financiamento do Praviy Sektor na Ucrânia e de grupos neonazistas por todo o mundo, sua ideologia continua liberal. EUA precisam desesperadoramente de homens fortes que lutem por seus interesses, e não há nada de mais inteligente do que apoiar grupos neonazistas para que façam o trabalho sujo e manter o controle à distância. Na Ucrânia, todavia, estes grupos, que caíram na armadilha de George Soros e outros, estão gradativamente percebendo o erro, e se voltando contra o governo de Kiev em favor do qual lutavam, passando para o lado anti-EUA, dos separatistas pró-russos.

parte deste artigo foi retirado de estrategicculture

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Conheça as meninas por trás das fotos de Nabi Saleh


"As fotos se tornaram virais. Isso é importante", disse Ahed Tamimi, 14 anos, "assim o mundo pode ver o que acontece". Ahed é a garota loura à esquerda na foto amplamente publicada de um violento confronto entre mulheres e crianças palestinas contra um soldado israelense na vila Nabi Saleh, Cisjordânia. No quadro Ahed está mordendo no soldado depois que ele a espancou no rosto. Desde que agora imagens não famosas foram primeiramente publicadas, Tamimis, e Ahed em particular, foram visitadas por multidões de jornalistas querendo saber como a família palestina se sentiu ao ver o pequeno Mohammed Tamimi, de 12 anos, também conhecido como Abu Yazan, despencou no chão.

Nas fotografias as garotas e as mulheres palestinas olham em pânico, e a expressão do soldado israelita é frenética. Abaixo dele está Abu Yazan, que olha como se gemesse de dor, amassado e empurrado pelo solado, seu braço amassado como se estivesse pressionado contra uma pedra. As quatro mulheres Tamimis - Nariman e Nawal, mães de meia-idade, e as garotas, Ahed e Nour, adolescentes - enfrentaram o soldado que tentava deter Abu Yazan por ter jogado pedra durante um protesto semanal contra os confiscos de terras.

"Quando você vê alguém da sua família em perigo, você não tem tempo para pensar", disse Nour Tamimi, 16 anos, quando sentamos no pátio da casa de Ahed. Ela é prima de Ahed e aparece na extrema direita, vestindo um top preto nas imagens virais.

"Ele estava me batendo e eu vi sua mão no meu rosto, então eu o mordi", disse Ahed com sua voz suave.

Ahed e Nour pareceram dolorosamente envergonhadas quando conversamos, Ahed mais que Nour. Ambas vestidas em seus jeans e camisetas, Ahed com uma estampa de Lola Bunny, interesse amoroso de Bugs Bunny. Ahed gosta de jogar futebol e dançar. Ela estuda inglês na escola, mas se envergonha de falar. Quando crescer, ela quer ser juíza. As duas foram a sofás ao ar livre, então se mudaram para uma cozinha para fazer um lanche da tarde, sanduíches com lebane, um iogurte típico do Oriente Médio, e shata, um tempero vermelho apimentado. Quando preparavam o lanche, elas fofocaram como meninas fazem. A noite estava fresca e agradável , um agradável mudança com relação à onda de calor que recentemente cobriu a região. O risto das duas, e a chegada de dúzias de visitantes das cidades ao redor da Cisjordânia deram um tom festivo à noite. Estava bem diferente do tumulto que passaram quatro dias atrás.

Ainda assim, os militares de Israel empoleiraram-se num checkpoint aéreo, procurando carros que entravam e saíam de Nabi Saleh. Alguns residentes foram proibidos de deixar a vila, inclusive os parentes de Ahed na terça-feira pela manhã. As duas foram detidas por uma hora e meia, antes que as forças israelitas as mandassem de volta para dentro da sua cidade.

Quando as fotos explodiram nas redes, a mídia internacional legendou o uso da força contra uma criança com um braço quebrado como o conto de "Davi e Golias", enquanto a mídia israelita ficou consternada que um grupo de mulheres botou um soldado pra correr. As mulheres morderam, arranharam, estapearam e socaram o soldado. Então elas tiraram a balaclava do rosto dele. Embora não tenha sido fotografado, e não incluso em um vídeo que também capturou a cena do fim de semana, foi Bassem Tamimi (marido de Nariman e pai de Mohammed e Ahed) e seu filho mais novo de nove anos, Salam Tamimi, quem também foram golpeados pelos soldados.

Em seguida o ministro da cultura e de esportes de Israel, Miri Regev, clamou por regulamentações perdidas no uso de fogo vivo por soldados, caluniando a "humilhação" que as fotos trouxeram ao exército israelita.

Agora para a família de Tamimi o incidente que se tornou um espetáculo na internet foi tão somente em uma outra sexta-feira vivendo na ocupação, nem mais nem menos. Começou com uma demonstração e terminou com cinco membros da sua família no hospital. Nariman tem asma e usa muletas, depois ela foi baleada por soldados israelitas meses atrás na rótula do joelho. Ela precisou de tratamento. Bassem, Ahed e Abu Yazan também sofreram estilhaços nos seus corpos. Como foi com Salam, ele foi baleado com uma bala de borracha, deixando seu dedo quebrado.

Uniformemente toda a família Tamimi ficou surpresa que tanta gente da mídia estrangeira tenha chegado para seguir as fotos icônicas. Além disso, que o protesto chamou atenção do governo israelita.

"Eles fizeram um grande estardalhaço com a 'humilhação' do soldado, mas estão matando o povo palestino", disse Nour, fazendo referência ao que disse Regev. Às adolescentes de Nabi Saleh, o exército israelita já é visto como belicoso. Em 2013, quando o jornalista e autor Ben Ehrenreich escreveu uma característica sobre Nabi Saleh para o The New York Times Magazine, Nariman estimou que umas 100 pessoas da vila tinham sido presas, e em torno de 500 violadas durante as demonstrações. Recentemente, dois dos membros da cidade - também parte do clã Tamimi - foram mortos por soldados israelitas. Mustafa Tamimi, 27, foi espancado na cabeça com uma bomba de gás lacrimogênio em 2011 e Rudshi Tamimi, 31, foi morto com tiro à queima-roupa no ano seguinte.

Para jovens em Nabi Salah, a morte de Mustafa e Rudshi causaram uma última impressão e as dificuldades a pioraram. "Depois de seis anos começaram a saber como lidar", disse Nour, indicando o tempo que os residentes de Nabi Saleh protestaram, que começaram em 2009 depois do fechamento do acesso ao povo à paisagem natural.

"Três anos e meio atrás meu amigo foi morto por soldados israelitas, então eu me tornei mais forte. Assim eu disse pra mim mesma 'por que não ser uma jornalista' que manda mensagem de todas as crianças, para todas as pessoas no mundo?" disse Janna Jihad, 9 anos, prima e amiga de Ahed. "Mustafa", Jihad continuou, "ele foi um amigo para todas as crianças em Nabi Saleh".

Jihad, uma irada e confidente garota que cresceu entre Nabi Saleh e West Palm Beach, na Flórida, então disse "sou a menor jornalista do mundo!" Ela tem uma página no facebook com em torno de 20.000 seguidores que leem suas postagens e veem suas fotos dos protestos de Nabi Saleh. Sua linha do tempo é cheia de imagens de seus parentes e colegas correndo do gás lacrimogênio tipicamente lançados em protestos durante as marchas semanais. Quando ela crescer, Jihad disse que quer reportar à CNN ou Fox, para ter uma plataforma a fim de alcançar pessoas divulgando sobre os modos com que as crianças sofrem com a ocupação. A morte de Mustafa, o baleamento de Nariman, o de Salam, o de outro parente três semanas antes que foi fuzilado com cinco balas no peito, deixou Jihad com a impressão de que sua vila está no caos "todo dia, todo dia, todo dia. Não é vida". Como falamos Ahed se uniu ao grupo de crianças que se reuniram em uma colina para ver Halamish, construída sobre as terras de Nabi Saleh. A construção foi feita por linhas-duras de Gush Emunim nos anos 1970 e desdeentão se tornou um subúrbio equipado com piscinas, caminhadas e guardas armados nos portões. Em Nabi Saleh, a maioria das ruas não são pavilhadas. A disparidade na riqueza é radicalmente aparente.

Voltando a Bassem, o pai de Ahed quando jovem costumava brincar nas encostas que agora estão cobertas por casinhas Halamish. O baixo vale era coberto por campos e jardins floridos.

"Há uma relação entre nós e esta terra", ele disse, entre conversas com vizinhos sobre um futuro Estado único ou dois Estados em Israel e no território palestino e sobre quão se ampliaram os conflitos não-violentos das demonstrações semanais. Bassem apoia o Estado único, o que ele vê como um fim lógico à ocupação que começou quando era criança. Sua esperança é que as demonstrações como Nabi Saleh se espalhem furiosamente e inaugurem condições, urgentemente, para o fim de uma ocupação sobre a qual comentadores estão dizendo que mudou de temporária para permanente. Até então ele continuará protestando toda sexta-feira - venha o que vier.

via mondoweiss