domingo, 22 de maio de 2016

Os Pântanos Eleusinos de Freud


Por Aleksandr Dugin*

O modelo perverso da psicanálise

Nos últimos anos os clichês da Civilização Ocidental moderna estão sendo introduzidos de maneira agressiva em nossa sociedade na esfera da economia, cultura e política, mas também na área da psicologia e psiquiatria. Isso não é surpreendente, uma vez que a mudança dos paradigmas sociais soviéticos para os princípios burgueses precisam enquadrar-se na lógica das “reformas” que abarcam todas as áreas da atividade humana. Pela mudança do sistema social soviético para um modelo americano-liberal protestante, os “engenheiros” do pós-comunismo estão tentando construir um tipo de “novo-russo”, o que significa uma transformação profunda a nível psicológico, no que tange à sexologia e até mesmo em sentido antropológico, no significado amplo desse termo. Então, acompanhado de “chocolates Snickers” e Mickey Mouse, chega em nossa realidade social Freud e um grupo suspeito de seus seguidores. No nível da psicanálise, conduzido de forma a aniquilar o antigo inconsciente, o processo ocorre de uma maneira brutal, rápida e de maneira proposital, como em todas as outras áreas.

Após o terror da psiquiatria soviética materialista, mecânica e brutal que trata a psique humana em termos próximos ao léxico do Professor Pavlov, agora se introduz um novo modelo para a psicanálise, que pretende tratar com seriedade e de maneira atenciosa a área da psique humana. Ainda que a “psiquiatria materialista” soviética fosse repugnante e cínica, o perigo ao qual nosso povo está exposto através do uso da metodologia freudiana é claramente mais sério e terrível. Afinal, o materialismo é tão indiferente ao mundo interior do homem (cuja existência ele praticamente nega) que adaptar-se a ele não foi tão difícil por sua agressão direta. Mas quando se trata da psicanálise e suas técnicas, a mente é submetida a uma violência muito mais sofisticada, que é muito mais difícil de representar.

Essas reflexões nos levam a considerar o problema da psicanálise em termos tradicionais, que por si mesmos podem dar uma ideia adequada de uma estrutura espiritual completa do ser humano e ao mesmo tempo expor as maquinações traiçoeiras do “inimigo humano”.

As revelações de René Guénon

Em sua obra “O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos” René Guénon formulou a base para a crítica das visões psicanalíticas. Vamos examinar a premissa básica que Guénon aplicou a essa área.

Em primeiro lugar, Guénon percebeu nos psicanalistas modernos e psicólogos em geral, que “há uma estranha contradição à medida que eles continuam a considerar elementos pertencentes inegavelmente à ordem sutil (“l’ordre subtil”), de um ponto de vista puramente materialista, isso é, sem dúvida, o resultado de uma educação materialista prévia.”. Aqui, em outras questões relacionadas à alma humana, até os representantes mais “avant-guarde” da ciência moderna não são capazes de se desvencilhar dos preconceitos materialistas peculiares ao ingênuo otimismo mecanicista dos séculos XVIII e XIX. Guénon destaca que “Freud, o fundador da ‘psicanálise’, sempre reiterou que permaneceu sendo materialista”. Nesse caso nós estamos tratando de um “materialismo transposto”, isto é, com a transferência para a esfera das leis da mente daquilo que é peculiar unicamente ao mundo corpóreo. Em outros livros Guénon apontou a uma abordagem similar na maioria das doutrinas neoespiritualistas, que misturam tradição com um conteúdo técnico e considerações científicas vulgares, compreendidos apenas em partes (o clímax dessa tendência é encontrado nos trabalhos sobre “UFO” e “indivíduos extrassensitivos”).

Em seguida, Guénon chama a atenção para o uso contínuo do termo “inconsciente” enquanto aplicado para a compreensão da realidade psíquica. Ao mesmo tempo ele percebe a “demonstração de interesse pela continuação da realidade psíquica exclusivamente em regiões inferiores, que corresponde ao homem e às ‘quebras’ nos ambientes espaciais, onde penetram os efeitos mais ‘negativos’ do mundo sutil, com máxima precisão refletida no termo ‘infernal’ (em latim, a palavra se refere à ‘inferior’ e ‘inferno’).”.

“A natureza satânica [da psicanálise] - escreve Guénon – é revelada claramente na interpretação psicanalítica do simbolismo”. O simbolismo autêntico, do ponto de vista da tradição, possui uma natureza sobre-humana, revelando-se através de uma doutrina sacramental completa ou de específicas visões e sonhos proféticos e iniciáticos. Se de uma maneira geral a psicanálise e a psicologia antes de Freud sugeria uma interpretação profana e distorcida do simbolismo, reduzindo-a a um nível puramente humano, depois do Freud os caracteres interpretados tornaram-se ainda menos adequados – em um sentido “infra-humano” e “infernal”. Da simples redução da psicanálise ele passou a uma completa anulação de suas proporções normais. O símbolo para os freudianos é algo puramente “infernal”, grotesco e satânico. A própria natureza repugnante e cínica das interpretações freudianas servem como uma indicação do “selo” do diabo, se as pessoas não fossem tão cegas e indiferentes à nossa época obscura.

“Psicanalistas (e espiritualistas) são geralmente incapazes de reconhecer a verdadeira natureza do que fazem. Mas ambos são conduzidos por certa vontade destrutiva, usando uma força muito similar, senão idêntica, como no caso da psicanálise e espiritualistas. Ainda que ninguém possua especificamente essa vontade, os seus porta-vozes ativos reproduzem bem a sua tarefa central, enquanto todos os outros instrumentos são inconscientes e nem sequer imaginam a qual propósito eles servem.”

Guénon alerta que “o uso da psicanálise para propósitos terapêuticos é extremamente perigoso para aqueles que ocupam o lugar de pacientes, e para aqueles que ocupam o lugar de doutores, pois não é possível entrar em contato com tais forças e permanecer impune.”. Considerando que a pessoa buscando o atendimento do analista deve ser uma criatura fraca, por definição, será quase impossível resistir à “destruição psicológica” provocada na alma humana. “Essa pessoa possui todas as possibilidades de perecer de maneira irremediável no caos das forças obscuras que foram trazidas à superfície inadvertidamente. Ainda que ela seja capaz de superar esse caos, ele ainda preservará sua marca até o fim de sua vida como uma mancha indelével.”.

Guénon contrapôs os autores que associaram a psicanálise à ritos de iniciação tradicionais, que são necessariamente utilizados em uma “condescendência ao inferno” simbólica. “Só é possível falar de uma paródia profana dessa ‘condescendência ao inferno’ – visto que o propósito e o tema dessas ações são completamente diferentes, e além disso, na psicanálise não há o menor traço da ascensão subsequente, que constitui a segunda fase da iniciação. Pelo contrário, a psicanálise corresponde à ‘queda no pântano’.” Sabe-se que o “pântano” estava localizado na antiga estrada para os Campos Elísios, onde os profanos caíam, aqueles que reivindicavam a iniciação não possuindo as qualidades apropriadas e tornando-se vítima de sua própria negligência. Esse “pântano” existe tanto a nível microcósmico como a nível macrocósmico e na linguagem dos evangelhos é chamado de “extrema escuridão”. “Se a ‘descida ao inferno’ significa a exaustão da substância ativa de alguma capacidade inferior para a ascensão subsequente em direção às esferas superiores, a ‘queda no pântano’ é uma vitória completa da capacidade inferior do ser, a sua dominação sobre ele e eventualmente a sua completa absorção.”.

Finalmente, a última consideração importante colocada por Guénon está relacionada à especificidade da “transmissão psicanalítica” uma vez que se sabe que todo psicanalista deve submeter-se à psicanálise antes de aplicá-la a outrem. Esse fato confirma que “pessoas afetadas pela psicanálise nunca permanecem sendo o que elas eram antes”. “O teste desse método produz na pessoa uma marca indelével, como a iniciação, com a única diferença que a iniciação é orientada em direção ascendente para o desenvolvimento de capacidades espirituais, e a psicanálise, por outro lado, abre o caminho para o desenvolvimento de forças infra-humanas. Nós estamos lidando com uma simulação de transmissão iniciática, e mais do que qualquer coisa lembra a transmissão praticada pela feitiçaria e bruxaria.”. Guénon aponta que não se sabe claramente como se deu a transmissão -para outros- de algo que os fundadores da psicanálise devem ter recebido de algum lugar. Quem “persuadiu” Freud a seguir por esse campo obscuro ainda não está claro. No entanto, independente disso, Guénon aponta o fato de que todo o conteúdo da psicanálise é quase uma analogia completa aos rituais obscuros relacionados à “adoração do diabo”. Portanto, é necessário buscar algo nessa área.

Freud e a demônia Lilith

Agora nós iremos abordar esse aspecto da doutrina freudiana, associado não só com a perversão da tradição, mas com o destaque que ele outorga ao sexo. Aqui, da mesma forma, nos encontramos frente a uma tendência muito dúbia que não só exalta o sexo como base para a interpretação das atividades psicofísicas, mas também impõem de maneira implícita um entendimento muito específico acerca do erotismo, elevando-a como a norma. Descrevendo as estruturas do inconsciente, Freud identifica duas categorias como tendências básicas – Eros e Thanatos. O “eros”, no entanto, é entendido como um vago e constante desejo-tensão sem um objeto particular em questão e nem uma orientação clara e nem mesmo um sentido. A descrição detalhada de “eros” não é algo universal, mas descreve um tipo muito especial de sexualidade, erotismo como exclusivamente feminino, sintomas descritos em detalhe por Bachofen, e mais tarde por Weininger e Evola. “Eros”, para Freud, é uma cópia carbono da experiência psicológica das antigas culturas matriarcais, vestígios psíquicos que em realidade foram preservados pela humanidade na forma de “resíduos”; elementos residuais do inconsciente.

Explorando a sexualidade humana, Freud sustenta a ideia de que o eros matriarcal é oprimido, soterrado por um complexo patriarcal, associado com a percepção e imperativos éticos. Em outras palavras, ele parece negar a sexualidade masculina, patriarcal, descrevendo-a em termos de “repressão”, “complexo”, “violência”, etc. Freud elaborou o mapa do inconsciente, e em meio a sexualidade matriarcal, o identificou com o “eros” como tal, o outro polo – “Thanatos”, ou seja, “morte”. É absolutamente característico que a morte de Freud era compreendida de uma maneira radicalmente materialista, como uma destruição final e completa, como a destruição total do corpo psicofísico do homem. O próprio Freud descreveu a relação entre “eros” e “Thanatos” de uma maneira vaga, no entanto, é possível ver entre esses dois polos uma unidade dialética antagônica. Parece que no seu entendimento “eros” é uma exaltação dinâmica dos desejos subconscientes dispersados, a sua máxima intensidade, enquanto Thanatos é, pelo contrário, o desejo por tranquilidade, um relaxamento da tensão erótica em estagnação e o congelamento da energia sexual. A unidade deles pode ser vista em sua natureza comum, enraizada nas experiências profundas do inconsciente, nas regiões autônomas inferiores da psique, onde a divisão entre o movimento e a imobilidade é confusa, incerta e “flutuante”, onde a “existência” e a “não existência” encontram-se em leve transição uma em relação à outra.

E ainda, para Freud, esses dois termos consistem uma débil axiologia de valores “hierárquicos”. “Eros”, a intensidade de impulsos erótico-matriarcais dispersos, é apresentado como algo potencialmente “positivo”, enquanto “Thanatos”, a completa calma do subconsciente, é retratado como algo negativo. Mas a origem positiva do “eros” matriarcal está em luta constante com níveis elevados da psique, contra a consciência, o sentido do “eu”, etc. É como se esses níveis estivessem oprimidos pelo elemento de “desejo”, decomposto e fragmentado, martelando continuamente as experiências eróticas subconscientes que emergem contra as regiões estáticas do “Thanatos”. Nas vicissitudes dessa luta, Freud compreendia os sonhos, reservas, doença mental, cultura, e até mesmo religião e mitologia. Nesse processo, ele destaca várias nuances, introduz um número específico de termos, formula alguns princípios terapêuticos de psicanálise. Porém, a essência de sua visão de mundo está relacionada à aprovação da centralidade de uma sexualidade puramente “feminina” (femínea em sua qualidade interior, não porque ele prestava atenção especial ao sexo em suas concepções), que deve ser “libertada” da gélida opressão da “subjetividade consciente”, “vestígios de patriarcado”, de acordo com Freud, cheios de “thanatosfilia”.

Esse conjunto de valores da doutrina freudiana, a “sexualidade matriarcal”, corresponde exatamente à tese central de Guénon em sua crítica à psicanálise. De fato, o mundo da “extrema escuridão”, as regiões psíquicas sutis, próximas à fronteira inferior do inferno, sempre descritas na tradição como “o reino das mães”, a região da “Grande Mãe”, como os mundos de “demônios femininos”, as “amazonas”, “rainhas subterrâneas”, etc. Nas doutrinas gnósticas elas são descritas como “mundos das mães”, regiões de “Achamoth”, o Éon feminino, que, habitando no dia da criação, seguindo o exemplo do Paraíso, tenta gerar os mundos por partenogênese. Mas a imitação da criação feita pelo “Éon feminino” falha: Achamoth consegue criar apenas monstros e aberrações, como o seu potencial plástico criativo não está fertilizado pelo divino; Homem de poder celestial, o Anthropos de Luz. Na tradição judaica, a realidade descrita por Freud como “eros” está unicamente correlacionada com a demônia Lilith, a primeira “esposa de Adão”, que acabou sendo “desafortunada” e foi expulsa para a região dos sonhos, pesadelos e visões do mal. Note que a mitologia associada com Lilith no Talmud e na Cabala possui muitos paralelos com os principais temas do freudismo.

Nós devemos citar a observação feita por Guénon em uma nota de rodapé no texto dedicado à crítica da psicanálise. Guénon aponta o fato de que os maiores teóricos da perversão intelectual moderna pertencem ao povo judaico (além de Freud, ele também menciona Bergson e Einstein). Do ponto de vista de Guénon, isso se deve ao fato de que o “judaísmo” possui a tendência da “civilização nômade”, separada de tradições ortodoxas no mundo moderno ela expressa impulsos puramente negativos, corruptores e sombrios, destinada a obscurecer completamente as reminiscências da estrutura tradicional da civilização, preservada pela inércia desde a Idade Média. Guénon chama esses impulsos de “nomadisme devie”, isto é “nomadismo pervertido”. Então, é possível correlacionar o erotismo “matriarcal” freudiano às especificidades de sua identidade étnica, fora das formas religiosas ortodoxas.

Em outro contexto, esse ponto de vista é confirmado por completo pelos estudos de Weininger, que em seu livro “Sexo e Caráter” identifica exclusivamente o tipo psicológico “judeu” e “judaico”, em sua totalidade, com uma psicologia puramente feminina. Weininger descreve a fórmula em sua forma radical - “no judeu, assim como na mulher, a personalidade é completamente ausente” ou “um verdadeiro judeu, como uma mulher, está desprovido de seu próprio Eu” ou “o judeu absoluto não possui alma”. Weininger, partindo de observações psicológicas da vida judaica em seu cotidiano, na política, na arte, etc. (é preciso destacar que ele era um judeu, então o seu testemunho não pode ser atribuído a um antissemitismo vulgar), carrega uma compreensão das especificidades da psicanálise freudiana como uma doutrina que canoniza especialmente como feminina a especificidade erótica que complementa e confirma a tese da orientação “matriarcal” do “Eros” no entendimento de Freud. Também é interessante que Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, chegou à conclusão sobre a identidade nacional do freudismo e a distinguiu da psicanálise, que é baseada em um estudo do “inconsciente” não judeu. Em um comentário ao “Livro dos Mortos” tibetano Jung alude ao fato de que o freudismo apela somente para as regiões mais baixas do “inconsciente”, associadas com a inclinação primária e vegetativa ao coito, deixando a ampla vida mental, todos os arquétipos, imagens e a estrutura do “inconsciente” esquecidos atrás dos bastidores. Antes da Segunda Guerra Mundial, Jung até mesmo escreveu sobre dois tipos de inconscientes coletivos – o “Ariano” e o “Judaico” (mais tarde, talvez por razões políticas, ele não tratou desse tema). De qualquer forma, a opinião de Jung corresponde exatamente à máxima escrita por Weininger de que “judeus não possuem alma”, e “o judeu em sua base profunda não possui nada”.

É preciso acrescentar como uma hipótese acerca das origens misteriosas da psicanálise, como aponta Guénon, que de acordo com seus biógrafos, Sigmund Freud era um membro de círculos iniciáticos maçônicos, conhecidos como a loja “B’nai B’rith” e foi aí que, aparentemente, as suas experiências iniciais o marcaram com o epigrafo de Virgílio (“Eneida”) para “Interpretação dos sonhos” – “Flectere si nequeos súperos, Acheronta movebo” (“Não sendo capaz de adentrar os domínios elevados, eu me dirigi ao Aqueronte”). Aqueronte – um rio subterrâneo na mitologia grega, separando o mundo dos vivos do mundo das sombras, o mundo dos mortos. A “travessia” significa literalmente descender ao inferno. É um tipo de prática “contra-iniciática”, que estabelece um relacionamento entre o homem e o mundo da “extrema escuridão”, “o mundo de Lilith” ou o “lado esquerdo”, o nome da realidade correspondente no “Zohar”, o principal livro da Cabala.

A revolução sexual do homem

Um olhar imparcial à psicanálise de Freud nos leva à conclusão de que um ligeiro desvio em direção a essa realidade sinistra e sem recuperação da sexualidade pessoal pode dar lugar a uma imersão em áreas perigosas do “baixo psiquismo”, o mundo das mães subterrâneas do qual não se pode retornar. Mas ao mesmo tempo não se pode negar o problema em si mesmo, que consiste em uma desestabilização progressiva da sexualidade humana, nas crescentes frustrações e complexos enraizados no erotismo. O caminho da psicanálise é “liberar”, especialmente as energias femininas que se encontram vibrando aleatoriamente nas baixas regiões da psique. Obviamente, essa liberação não pode curar nem uma mulher, assim como no mito gnóstico de Acamoth, o Éon feminino criava somente monstros e aberrações sem a participação da masculinidade. E ainda, a emancipação do “erotismo matriarcal” não leva a nada, a não ser patologias culturais, artísticas e até mesmo políticas. (É digno de nota que entre os políticos do período pós-perestroika haviam muitos do tipo “feminino”, o que era frequentemente acompanhado por sua identidade nacional específica). Mas qual é a alternativa? Quais orientações eróticas devem ser aceitas como a norma?

A crise da sexualidade reflete uma crise mais abrangente na civilização moderna e ao nível da sexualidade ela manifesta um processo de degradação humana e social mais amplo e profundo. A própria crise é uma consequência da quebra com a tradição assim como os problemas eróticos dos homens modernos, consequência da perda da postura tradicional perante o gênero e a realidade sexual.

Toda tradição integral está baseada na centralidade do sol, o agente ativo, a luz dos princípios espirituais, e o principal condutor foi considerado sempre um homem. Assim como a restauração da tradição significaria inevitavelmente a aprovação do espiritual sobre o material, o Sagrado sobre o profano, da mesma forma, o caminho da reabilitação sexual só pode ocorrer através da aprovação da primazia e centralidade do erotismo masculino, que manifesta o princípio formativo; solar e apolíneo. O erotismo masculino cria um eixo existencial e espiritual, organizando e orientando a potência dispersa do desejo feminino. O homem define de maneira estrita o sujeito e o objeto do desejo, estabelece a distância ética e proporções estéticas, e é consciente da sacralidade da energia do grande amor, dos raios resplandecentes do sol espiritual. É claro, erotismo masculino de fato suprime os impulsos caóticos do subconsciente, ele compele uma descarga de energia a resignar-se e a ordem não pode deixar de causar alguma inconveniência a esses poderes psíquicos. Porém, o abuso do eros “matriarcal” por parte de um homem (tanto interno como externo) não é, ao contrário do que diz Freud, “thanatosphilia” e “sistemas de poder”. Isso é, pelo contrário, a transformação dos poderes imanentes da alma, a sua “angelificação”, sua sacralização. É o limite, que coloca um fim ao caos erótico do homem, não é a insignificante “Thanatos” da psicanálise. É o ato de criação, criatividade, energia, a direção da ação heroica, em quaisquer de suas manifestações – no ascetismo religioso, no amor passional, no esforço intelectual, na arte da guerra, ou na criatividade.

Freud buscava dissolver o eixo do erotismo masculino, utilizando as “águas profundas” do erotismo matriarcal. Nesse sentido, o “Pântano Eleusino” não é apenas um homem sujeito à castração, mas a mulher condenada ao papel do estéril Achamoth gnóstico. Frustração, complexos e alienação não desaparecem. Psicanalistas apenas ensinam a perceber o caos sem propósito do desejo insatisfeito como a fonte de “prazeres fictícios”. Dificilmente será necessário provar que isso é uma ilusão psicológica. Através da destruição do homem, distorcendo e representando de maneira errônea o seu erotismo especial, positivo e criativo, os seguidores de Freud não estão satisfeitos com uma “revolução sexual”, mas com um mundo radicalmente “dessexualizado”. Endossando perversão, patologia, homossexualismo, impulsos incestuosos e pornografia, etc. Os adeptos da psicanálise baniram definitivamente da realidade social o “princípio fálico”, a figura do Herói, o homem solar, a autêntica entidade heroica e, ao mesmo tempo, a fonte desse prazer. A mania pelo “erotismo” leva à irreversível perda desse erotismo. Tem-se observado a tempos que a remoção dos tabus sexuais em alguns países europeus levou à uma nítida redução nas relações sexuais entre as pessoas. Isso é uma espécie de ironia infernal do “Mundo de Lilith” – as pessoas são enganadas; a demônia predadora e a sua corte intentam de maneira egoísta guardar a energia do desejo humano unicamente para eles mesmos, para as criaturas “vampíricas” do mundo sutil.

A alternativa em relação à “escuridão” freudiana – o retorno dos homens, na revolução do herói fálico contra a degeneração moderna, no retorno do sacramento do sexo em todo o seu escopo sagrado. Os homens de verdade sentem repúdio pelo espírito sujo da civilização baseada no “nomadismo perverso”. É improvável que os verdadeiros heróis estão dispostos a viver em um mundo designado por aqueles “que não possuem alma” e nem “o próprio si mesmo” (Weininger).

É evidente que as primeiras vítimas dessa revolução devem ser os arautos dos “Pântanos Eleusinos”, os psicanalistas-sabotadores, agentes secretos do “exército do Dr. Freud”, servos do “lado esquerdo” e da “extrema escuridão do mundo”, sejam conscientes ou inconscientes disso.

*Tradução: Maurício Oltramari