sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Escola de Frankfurt e o "Politicamente Correto"

Por Michael Minnicino*

As pessoas da América do Norte e da Europa Ocidental agora aceitam um nível de feiúra nas suas vidas cotidianas que é quase sem precedente na história da civilização ocidental. A maioria de nós se tornou tão habituado que a morte de milhões por fome e doença nos tira nada mais que um suspiro, ou um murmúrio de protesto. Nossas próprias ruas urbanas, moradas para legiões de desabrigados, são governadas por Dope, Inc., a maior indústria no mundo, e sobre aquelas ruas os americanos agora assassinam uns aos outros a um grau não visto desde a Idade das Trevas.

Ao mesmo tempo, milhares de horrores menores são lugar-comum e passam não noticiados. Nossas crianças gastam tanto tempo sentadas diante da televisão quanto na escola, assistindo com alegria as cenas de tortura e de morte que poderiam chocar uma audiência no Coliseu Romano. A música está por toda parte, quase inevitável - mas não agita nem tranquiliza - rasga os ouvidos, algumas vezes cuspindo obscenidade. Nossas artes plásticas são feias, nossa arquitetura é feia, nossas roupas são feias. Devem ter ocorrido períodos na história onde a humanidade viveu sob tipos similares de brutalidade, mas nosso tempo é crucialmente diferente. Nossa era pós-Segunda Guerra é a primeira na história na qual estes horrores são completamente evitáveis. Nosso tempo é o primeiro a ter tecnologia e recursos para alimentar, abrigar, educar e humanamente empregar qualquer pessoa na terra, não importa o quanto cresce a população. Agora, quando mostradas as ideias e provadas as tecnologias que podem resolver a maioria dos horríveis problemas, a maioria das pessoas recua a uma implacável passividade. Tornamo-nos não apenas feios, mas impotentes.

No entanto, não há razão para que nossa situação moral-cultural atual tenha legalmente ou naturalmente se tornado o que é; e não há razão para que esta tirania da feiúra deva continuar um instante a mais.

Considere a situação apenas um século atrás, nos anos de 1890. Na música, Claude Debussy estava completando seu Prelude to the Afternoon of a Faun, e Arnold Schönberg estava começando a experimentar o atonalismo; ao mesmo tempo, Dvorak trabalhava em seu Nona Sinfonia, enquanto Brahms e Verdi ainda viviam. Edvard Munch apresentava The Scream, e Paul Gauguin seu Sel-Portrait with Halo, mas na América, Thomas Eakins ainda pintava e ensinava. Mecânicos como Helmholz e Mach mantiveram os maiores cargos científicos na universidade, ao lado dos estudantes de Riemann e Cantor. De Rerum Novarum do Papa Leão XIII estava sendo promulgado, ainda enquanto as seções da Segunda Internacional Socialista se tornavam terroristas e se preparavam para a guerra de classes.

A crença otimista de que se pode compor música como Beethoven, pintar como Rembrandt, estudar o universo como Platão e Nicolau de Cusa, e mudar a sociedade mundial sem violência, estava viva nos anos 1890 - reconhecidamente estava fraca e sob cerco estava morta. Agora, dentro de curtos vinte anos, essas tradições clássicas da civilização humana foram varridas do mapa, e o Ocidente comprometeu-se com uma série de guerras de carnificina inconcebível.

O que começou em torno de cem anos atrás foi o que podemos chamar de contra-Renascimento. O Renascimento dos séculos quinze e dezesseis foi uma celebração religiosa da alma humana e do crescimento potencial da humanidade. A beleza na arte não poderia ser concebida como algo menos que a expressão dos princípios científicos mais avançados, como demonstrado pela geometria sob a qual a perspectiva de Leonardo e do grande Domo da Catedral de Florença de Brunelleschi foram baseados. As mentes mais finas do dia direcionaram seus pensamentos para os céus e para poderosas águas, e mapearam o sistema solar e a rota do Novo Mundo, planejando grandes projetos a alterar o curso dos rios a fim do melhoramento da humanidade. Em torno de cem anos atrás, no entanto, era como se uma lista tivesse sido feita, com todas as conquistas maravilhosas do detalhado Renascimento - a serem revertidos. Como parte desse movimento "New Age [Nova Era]", como foi chamado, o conceito de alma humana foi minado pela mais vociferadora campanha intelectual na história; a arte forçosamente foi separada da ciência, e a ciência em si foi tornada o objeto de profunda suspeita. A arte foi tornada feia porque, como foi dito, a vida se tornou feia.

A mudança cultural das ideias do Renascimento que construíram o mundo moderno foi devido ao tipo de feiúra da francomaçonaria. No começo, era uma conspiração política formal para polarizar teorias de que fossem especificamente designadas a enfraquecer a alma da civilização judaico-cristã de um tal modo a fazer as pessoas acreditarem que a criatividade não era possível, que a aderência à verdade universal era evidência de autoritarismo, e que a razão em si era suspeita. Essa conspiração foi decisiva ao planejar e desenvolver, como meios de manipulação social, as vastas indústrias irmãs de rádio, televisão, filme e música gravada, propaganda e eleição de opinião pública. A pervasiva e psicológica posse da mídia foi propositalmente fomentada para criar a passividade e o pessimismo que afligem nossas populações de hoje. Tão bem sucedida foi essa conspiração que se impregnou na nossa cultura; não precisa mais ser uma "conspiração", pois tomou vida própria. Seus sucessos não são discutíveis - você precisa apenas ligar o rádio ou a televisão. Até mesmo a nomeação de uma Suprema Corte de Justiça é deformada em uma erótica novela, com o público torcendo do lado de fora para seu personagem preferido.

Nossas universidades, o gado de nosso futuro tecnológico e intelectual, tornou-se sobrecarregado pelo estilo Comintern do "Politicamente Correto" New Age. Com o colapso da União Soviética, nossos campi agora representam a maior concentração de dogma marxista no mundo. A irracional explosão adolescente dos anos 1960 se tornou institucionalizada em uma "revolução permanente". Nossos professores olham por cima dos ombros na esperança de que o modo atual explodirá antes que uma denúncia de algum estudante oblitere um trabalho de vida; alguns gravam suas leituras, temendo acusações de "insensibilidade" por alguns enfurecidos "Guardas Vermelhos". Estudantes na Universidade de Virgínia recentemente solicitaram com sucesso a abandonar o requerimento para ler Homero, Chaucer, e outros DEMS ("Dead European Males [Machos Europeus Mortos]") porque tais escritos são considerados etnocêntricos, falocêntricos e geralmente inferiores aos "mais relevantes" autores do Terceiro Mundo, mulheres ou homossexuais.

Isso não é a academia de uma república; isso é a Gestapo de Hitler e a NKVD de Stalin extirpando "desviacionistas" e banindo livros - a única coisa que falta é a fogueira pública.

Teremos que enfrentar o fato de que a feiúra que vemos ao redor de nós foi conscientemente fomentada e organizada de um tal modo que a maioria da população esteja perdendo a habilidade cognitiva para transmitir à próxima geração as ideias e métodos sob os quais nossa civilização foi construída. A perda dessa habilidade é o primeiro indicador de uma Idade das Trevas. E uma nova Idade das Trevas é exatamente onde estamos enfiados. Em tais situações, o registro da história é inequívoco: ou criamos um Renascimento - um renascimento dos princípios fundamentais sob os quais a civilização originou - ou nossa civilização morre.

I. A Escola de Frankfurt: a Intelligentsia Bolchevique

O único e mais importante componente organizacional dessa conspiração foi um thinktank comunista chamado de Instituto de Pesquisa Social (I.S.R.), mas popularmente conhecido como Escola de Frankfurt.

Nos dias inebriantes imediatamente após a Revolução Bolchevique na Rússia, foi amplamente acreditado que a revolução proletária momentaneamente se espalharia dos Urais para a Europa e, ultimamente, para a América do Norte. Eu não; os dois únicos esforços no governo dos trabalhadores no Ocidente - em Munique e Budapeste - duraram apenas meses. A Internacional Comunista (Comintern), então, começou várias operações para determinar o porquê foi assim. Uma foi encabeçada por Georg Lukacs, um aristocrata húngaro, filho de um banqueiro do Império dos Habsburgos. Treinado na Alemanha e já um teórico literário importante, Lukacs se tornou um comunista durante a Primeira Guerra Mundial, escrevendo como se juntou ao partido, "Quem nos salvará da civilização ocidental?" Lukacs estava bem encaixado na missão comunista: ele foi um dos Comissários de Cultura durante o curto tempo de Hungria Soviética em Budapeste, em 1919; na verdade, historiadores modernos ligam o fato de ter sido curto o experimento em Budapeste às ordens de Lukacs demandando educação sexual nas escolas, fácil acesso à contracepção e o abandono de leis de divórcio - tudo o que revoltou a população Católica Romana da Hungria.

Fugindo para a União Soviética depois da contra-revolução, Lukacs foi encoberto na Alemanha em 1922, onde ele presidiu um encontro dos sociólogos e intelectuais pró-comunismo. Este encontro fundou o Instituto de Pesquisa Social. Ao longo da próxima década, o Instituto se empenhou no que devia se tornar a mais bem sucedida operação bélica psicológica contra o Ocidente capitalista.

Lukacs identificou que qualquer movimento político capaz de trazer o bolchevismo ao Ocidente teria que ser, em suas palavras, "demoníaco"; teria que "possuir o poder religioso que é capaz de encher toda a alma; um poder que caracterizou o cristianismo". Entretanto, Lukacs sugeriu, um tal movimento político "messiânico" poderia apenas acontecer quando o indivíduo acredita que suas ações são determinadas "não por um destino pessoal, mas por um destino da comunidade" em um mundo "que foi abandonado por Deus". O bolchevismo trabalhou na Rússia porque essa nação foi dominada por uma forma gnóstica peculiar de cristianismo tipificada pelos escritos de Fyodr Dostoevsky. "Esse modelo para o novo homem é Alyosha Karamazov", disse Lukacs, referindo-se ao personagem de Dostoevsky que voluntariamente renunciou sua identidade pessoal a um homem santo, e assim deixou de ser "único, puro e, portanto, abstrato".

Esse abandono da unicidade da alma também resolve o problema das "forças diabólicas à espreita em toda violência" que devem ser desencadeadas a fim de criar uma revolução. Nesse contexto, Lukacs citou o a seção do Grande Inquisidor de Os Irmãos Karamazov de Dostoevsky, notando que o Inquisidor que está interrogando Jesus resolveu o problema do bem e do mal: uma vez que o homem compreender sua alienação de Deus, então qualquer ato em serviço do "destino da comunidade" é justificado; um tal ato "não deve ser um crime nem uma loucura... pois crime e loucura são objetificações de desabrigo transcendental".

De acordo com um testemunha ocular, durante os encontros da liderança soviética húngara em 1919 preparar listas para o pelotão de fogo, Lukacs geralmente citaria o Grande Inquisidor: "E nós que, por sua felicidade, tomamos seus pecados para nós, permanecemos diante de vocês e dizemos 'julguem-nos se vocês forem capazes e tiverem ousadia'".

O Problema do Gênese

O que diferenciou o Ocidente da Rússia, Lukacs identificou, foi a matriz judaico-cristã que enfatizou exatamente a unicidade e a sacralidade do indivíduo que Lukacs abjurou. No seu núcleo, a ideologia dominante do Ocidente sustentou que o indivíduo, através do exercício da sua razão, poderia discernir a Vontade Divina em uma relação imediata. O que era pior, da posição de Lukacs: essa razoável relação necessariamente implicava que o indivíduo poderia e deveria mudar o universo físico em busca do Bem; que o Homem deveria ter domínio sobre a Natureza, como estabelecido na injunção bíblica no Gênese. O problema era que, tão logo o indivíduo acreditava - ou mesmo tinha esperança na crença - que sua fagulha divina da razão poderia resolver os problemas enfrentando a sociedade, então essa sociedade nunca alcançaria o estado de desesperança e alienação que Lukacs reconheceu como pré-requisito necessário para a revolução socialista.

A tarefa da Escola de Frankfurt, assim, foi, em primeiro lugar, minar o legado judaico-cristão através de uma "abolição da cultura" (Aufhebung der Kultur no Alemão de Lukacs); e, em segundo, determinar as novas formas culturais que aumentaria a alienação da população, criando assim um "novo barbarismo". Para esta tarefa, juntaram-se dentro e em torno da Escola de Frankfurt uma incrível sorte de não apenas comunistas, mas também socialistas sem-partido, fenomenólogos radicais, sionistas, freudianos renegados e por fim alguns membros de um auto-proclamado "culto a Astarte". A diversificada filiação refletiu, a uma certa extensão, o patrocínio: embora o Instituto de Pesquisa Social começara com apoio do Comintern, ao longo das próximas três décadas seus recursos de fundos incluíram várias universidades alemãs e americanas, a Fundação Rockefeller, Columbia Broadcasting System, American Jewish Committee, vários serviços de inteligência americanos, o escritório do Alto Comissariado dos EUA para a Alemanha, a International Labour Organization, e o Instituto Hacker, uma elegante clínica de psiquiatria em Beverly Hills.

Similarmente, a obediência política do Instituto: embora o pessoal do topo sustentasse o que poderia ser chamado de relação sentimental à União Soviética (e há evidência de que alguns deles trabalharam para a inteligência soviética nos anos 1960), o Instituto viu seus objetivos como maior do que a política externa da Rússia. Stalin, que estava horrorizado com a operação indisciplinada e "cosmopolita" estabelecida por seus predecessores, cortou o Instituto no início dos anos 1920, forçando Lukacs a uma "autocrítica", e logo o prendeu como simpatizante aos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

Lukacs sobreviveu para logo tomar sua antiga posição de Ministro da Cultura durante o regime anti-stalinista Imre Nagy na Hungria. Das outras figuras do topo do Instituto, as perambulações políticas de Herbert Marcuse são típicas. Ele começou como comunista; tornou-se um protegido do filósofo Martin Heidegger mesmo quando este se juntou ao Partido Nazista; indo à América, trabalhou para o Escritório de Serviços Estratégicos da Segunda Guerra (OSS, na sigla em inglês), e mais tarde se tornou o maior analista do Departamento de Estado dos EUA sobre a política soviética durante o apogeu do período de McCartney; nos anos 1960, voltou de novo a ser o mais importante guru da Nova Esquerda; e terminou seus dias ajudando a fundar o Partido Verde, extremista e ambientalista, na Alemanha Ocidental.

Em tudo isto parecendo incoerência de alternância de posições e financiamentos contraditórios, não há conflito ideológico. A constante é o desejo de todos os partidos em responder à questão original de Lukacs: "Quem salvar-nos-á da civilização Ocidental?"

Theodoro Adorno e Walter Benjamin

Talvez o mais importante, se conhecido, dos sucessos da Escola de Frankfurt foi a transformação da mídia eletrônica de rádio e televisão em poderosos instrumentos de controle social que eles representam hoje. Isso cresceu do trabalho originalmente feito por dois homens que chegaram ao Instituto no final dos anos 1920, Theodoro Adorno e Walter Benjamin.

Depois de completar os estudos na Universidade de Frankfurt, Walter Benjamin planejou migrar para a Palestina em 1924 com seu amigo Gershom Scholem (que mais tarde se tornou um dos mais famosos filósofos, bem como gnóstico judeu, de Israel), mas foi prevenido por um caso amoroso com Asja Lacis, uma atriz latviana e longarina do Comintern. Lacis levou-o para a ilha italiana de Capri, um centro culto do tempo do Imperador Tibério, usado como base de treinamento do Comintern; o outrora apolítico Benjamin escreveu a Scholem de Capri, que ele encontrou "uma liberação existencial e uma intensiva visão da atualidade do comunismo radical".

Lacis mais tarde levou Benjamin a Moscou para mais doutrinação, onde ele encontrou o dramaturgo Bertold Brecht, com quem ele começaria uma longa colaboração; logo depois, ao trabalhar para a primeira tradução alemã do entusiasta das drogas francês Baudelaire, Benjamin começou sérias experimentações com alucinógenos. Em 1927, esteve em Berlim como parte de um grupo liderado por Adorno, estudando os trabalhos de Lukacs; outros membros do grupo de estudos incluiu Brecht e seu parceiro de composição Kurt Weill; Hans Eisler, outro compositor que mais tarde tornar-se-ia um compositor renomado de Hollywood e co-autor com Adorno do compêndio Composition for the Film; o fotógrafo vanguarda Imre Moholy-Nagy; e o condutor Otto Klemperer.

De 1928 a 1932, Adorno e Benjamin tiveram intensiva colaboração, ao fim da qual começaram publicando artigos no jornal do Instituto, o Zeitschrift fär Sozialforschung. Benjamin foi mantido às margens do Instituto, muito por causa de Adorno, que mais tarde se apropriaria muito do seu trabalho. Assim que Hitler chegou ao poder, a equipe do Instituto fugiu, mas, enquanto que a maioria foi rapidamente para novos desdobramentos nos EUA e na Inglaterra, não havia trabalho oferecido a Benjamin, provavelmente devido ao ânimo de Adorno. Ele foi para França e, depois da invasão alemã, fugiu para a fronteira espanhola; esperando prisão instantânea pela Gestapo, desesperou-se e morreu em um sombrio quarto de hotel por causa de overdose.

A obra de Benjamin permaneceu quase completamente desconhecida até 1955, quando Scholem e Adorno publicaram uma edição do seu material na Alemanha. Todo o renascimento ocorreu em 1968 quando Hannah Arendt, a antiga amante de Heidegger e colaboradora do Instituto na América, publicou um grande artigo sobre Benjamin na revista New Yorker, seguida no mesmo ano pelas primeiras traduções ao inglês de sua obra. Hoje, toda livraria de universidade no país ostenta uma prateleira inteira devotada às traduções de todos os fragmentos que Benjamin escrevera, além de exegese, tudo com datas de copyright dos anos 1980.

Adorno era mais novo que Benjamin, e tão passivo quanto o mais velho era agressivo. Nascido Teodoro Wiesengrund-Adorno em uma família corsicana, recebeu aulas de piano desde cedo de um tio que vivera com a família e fora o acompanhante de concerto da estrela de ópera internacional Adelina Patti. Pensava-se que Theodoro tornar-se-ia um músico profissional, e que ele estudasse com Bernard Sekles, professor de Paul Hindemith. No entanto, em 1918, enquanto era ainda um estudante do ginásio, Adorno encontrou Siegfried Kracauer. Kracauer foi parte de um salão kantiano-sionista que encontrou na casa de Rabbi Nehemiah Nobel em Frankfurt; outros membros do círculo de Nobel incluíram o filósofo Martin Buuber, o escritor Franz Rosenzweig e dois estudantes, Leo Lowenthal e Erich Fromm. Kracauer, Lowenthal e Fromm juntar-se-iam ao I.S.R. (Instituto de Pesquisa Social, na sigla em inglês) duas décadas mais tarde. Adorno comprometeu Kracauer ao ensiná-lo sobre a filosofia de Kant; Kracauer também introduziu-o aos escritos de Lukacs e a Walter Benjamin, que estava ao redor da panelinha de Nobel.

Em 1924, Adorno mudou-se para Viena para estudar com os compositores atonalistas Alban Berg e Arnold Schönberg, e ficou conectado à vanguarda e círculo oculto em torno do velho marxista Karl Kraus. Aqui, ele não apenas encontrou com seu futuro colaborador, Hans Eisler, mas também entrou em contato com as teorias do freudiano extremista Otto Gross. Gross, um viciado em cocaína já por longo tempo, morreu em uma sarjeta de Berlim em 1920, enquanto ajudava a revolução em Budapeste; ele desenvolvera a teoria de que a saúde mental poderia apenas ser ativada através do renascimento do antigo culto de Astarte, que varreria o monoteísmo da "família burguesa".

Salvando a Estética Marxista

Por 1928, Adorno e Benjamin satisfizeram sua sede por viagens, e estabeleceram-se no I.S.R. na Alemanha para fazer algum trabalho. Como assunto, eles escolheram um aspecto do problema posto por Lukacs: como dar à estética uma base firmemente materialista. Era uma questão de alguma importância, naquele época. As discussões soviéticas oficiais sobre arte e cultura, com  seus selvagens giros no "realismo socialista" e na "prolekult", eram estúpidas e só serviam para descreditar as reivindicações do marxismo à filosofia entre intelectuais. Os próprios escritos de Karl Marx sobre o assunto eram superficiais e banais, na melhor das hipóteses.

Em essência, o problema de Adorno e Benjamin foi Gottfried Wilhelm Leibniz. No início do século dezoito, Leibniz teve uma vez de novo obliterado o centenário dualismo gnóstico que divide mente e corpo, demonstrando que a matéria não pensa. Um ato criativo na arte ou na ciência apreende a verdade e o universo físico, mas não é determinado pelo universo físico. Ao concentrar o passado, autoconscientemente, no presente para afetar o futuro, o ato criativo, propriamente definido, é tão imortal quanto a alma que visiona o ato. Isto tem implicações filosóficas fatais para o marxismo, que se baseia inteiramente na hipótese de que a atividade mental é determinada pelas relações sociais excretadas pela produção humana de sua existência física.

Marx contornou o problema de Leibniz, como fizeram Adorno e Benjamin, embora o último fez isto com muito mais penacho. Está errado, disse Benjamin em seus primeiros artigos sobre o assunto, começar com o razoável, hipotetizando a mente como base do desenvolvimento da civilização; este é um legado infeliz de Sócrates. Como alternativa, Benjamin uma fábula aristotélica na interpretação do Gênese: assuma que Eden fosse dada a Adão como estado físico primordial. A origem da ciência e da filosofia não está na investigação e no domínio da natureza, mas em nomear os objetos da natureza; no estado primordial, nomear uma coisa era dizer que tudo que foi dito sobre aquela coisa. Em favor disso, Benjamin cinicamente recordou as linhas de abertura do Evangelho de acordo com São João, cuidadosamente evitando o Grego filosoficamente mais amplo, preferindo a Vulgata (assim, na frase "no início era o Verbo" a conotação da palavra original Grega logos - discurso, razão, raciocínio, traduzida por "Verbo" - é substituída por um significado mais restrito da palavra latina verbum). Depois da expulsão do Eden e do requerimento de Deus de que Adão comesse seu pão ganhado com o suor do seu rosto (a metáfora marxista de Benjamin para o desenvolvimento da economia), e da maldição posterior de Deus sobre a Babel de Nimrod (ou seja, o desenvolvimento dos estados-nações com línguas distintas, que Benjamin e Marx viram como processo negativo saído do Eden do "comunismo primitivo"), a humanidade tornou-se "estranha" ao mundo físico.

Assim, Benjamin continuou, os objetos ainda emitem uma "aura" de sua forma primordial, mas a verdade é agora desesperadamente esquiva. Na verdade, o discurso, a linguagem escrita, a arte, a criatividade em si - pelos quais dominamos fisicamente - meramente favorece o estranhamento ao tentar, no jargão marxista, incorporar objetos da natureza nas relações sociais determinadas pela estrutura de classe dominante naquele ponto na história. O artista criativo ou o cientista, portanto, é um receptáculo, conforme Ion o rapsodo descreveu-se para Sócrates, ou como uma moderna "teoria do caos" advoga: o ato criativo salta para fora da miscelânea da cultura como se fosse mágica. Quanto mais o homem burguês tenta transmitir o que ele pretende em relação a um objeto, menos verdadeiro ele se torna; ou, em uma das mais citadas afirmações de Benjamin, "a verdade é a morte da intenção".

Este truque filosófico permite-se fazer muitas coisas destrutivas. Ao tornar a criatividade historicamente específica, você a rouba tanto da imortalidade como da moralidade. Não se pode hipotetizar a verdade universal, ou a lei universal, pois a verdade é completamente relativa ao desenvolvimento histórico. Ao descartar a ideia da verdade e do erro, você também pode jogar fora os conceitos "obsoletos" de bom e e mal; se você está, nas palavras de Friedrich Nietzsche, "além do bem e do mal". Benjamin é hábil, por exemplo, ao defender o que ele chama de "satanismo" dos simbolistas franceses e de seus sucessores surrealistas, pois no núcleo deste satanismo "encontra-se o culto do mal como instrumento político... para desinfetar e isolar contra todo diletantismo moralizante" da burguesia. Condenar o satanismo de Rimbaud como mau é tão incorreto quanto enaltecer um quarteto de Beethoven ou um poema de Schiller como bons; pois ambos julgamentos são cegos para as forças históricas que agem inconscientemente sobre o artista.

Assim, é nos dito, a estrutura de acordes do Beethoven tardio esforçava-se para ser atonal, mas Beethoven não poderia conscientemente romper com o mundo estrutural do Congresso de Viena (a tese de Adorno); de modo semelhante, Schiller realmente quis estabelecer que a criatividade era a liberação do erótico, mas, como uma verdadeira criança do Iluminismo e Immanuel Kant, ele não poderia fazer do requisito uma renúncia da razão (tese de Marcuse). A epistemologia torna-se uma relação pobre de opinião pública, desde que o artista não cria conscientemente obras a fim de elevar a sociedade, mas, ao invés disso, inconscientemente transmite as afirmações ideológicas da cultura na qual ele nascera. O problema não é mais o que é universalmente a verdade, mas o que pode ser possivelmente interpretado por guardiões auto-nomeados do Zeitgeist.

"Os Maus Novos Dias [The Bad New Days]"

Assim, para a escola de Frankfurt, o objetivo de uma elite cultural na era moderna "capitalista" deve ser apagar a crença de que a arte deriva da emulação autoconsciente de Deus, o Criador; a "iluminação religiosa", diz Benjamin, deve ser mostrada que "reside em uma iluminação profana, uma inspiração materialista e antropológica, para a qual o haxixe, o ópio ou o que quer que seja possa dar uma lição introdutória". Ao mesmo tempo, as novas formas culturais devem ser encontradas para aumentar a alienação da população, a fim de que se compreender o quão verdadeiramente alienado é viver sem socialismo. "Não construir os bons antigos dias, mas os maus novos", disse Benjamin.

A direção adequada na pintura, portanto, é a tomada do Van Gogh tardio, que começou a pintar objetos em desintegração, com o equivalente de um olho fumante de haxixe que "perde e seduz coisas do mundo familiar para fora". Na música, "não é sugerido que pode-se compor melhor hoje" que Mozart ou Beethoven, disse Adorno, mas deve-se compor atonalmente, pois o atonalismo é doente, e "a doença, dialeticamente, é ao mesmo tempo a cura... a extraordinária e violenta reação de protesto que tal música confronta na sociedade presente... parece, no entanto, sugerir que a função dialética da música pode já ser sentida... negativamente, como 'destruição'".

O propósito da arte moderna, da literatura e da música deve ser destruir a elevação do potencial - burguês - da arte, da literatura e da música; assim que o homem, desprovido de sua conexão com o divino, vê apenas sua opção criativa ser revolta política. "Organizar o pessimismo significa nada além de expelir a metáfora moral da política e descobrir na ação política uma esfera reservada cem porcento para imagens". Assim, Benjamin colaborou com Brecht para trabalhar estas teorias de forma prática, e seus esforços conjuntos culminou na Verfremdungseffekt ("efeito de estranhamento"), tentativa de Brecht de escrever suas peças para fazer o público deixar o teatro desmoralizado e desordenadamente furioso.

O Politicamente Correto

A análise de Adorno-Benjamin representa quase toda a base teórica de todas as tendências estéticas do politicamente correto, que agora amaldiçoa nossas universidades. O pós-estruturalismo de Roland Barthes, Michel Focault e Jacques Derrida, a semiótica de Umberto Eco, o desconstrucionismo de Paul deMan, todos abertamente citam Benjamin como a fonte das suas obras. A mais vendida novela do terrorista italiano Eco, O Nome da Rosa, é um pouco mais que um hino para Benjamin; DeMan, o antigo colaborador nazista na Bélgica que se tornou um prestigioso professor de Yale, começou sua carreira traduzindo Benjamin; a infame afirmação de 1968 de Barthes de que "o autor está morto" significava uma elaboração do dictum sobre intenção de Benjamin. Benjamin foi atualmente considerado herdeiro de Leibniz e de Wilhelm von Humboldt, o filólogo colaborador de Schiller cujas reformas educacionais geraram o tremendo desenvolvimento da Alemanha no século dezenove. Mesmo que recentemente, em 1991, o Washington Post se referira a Benjamin como "o mais fino teórico literário alemão do século (e muitos teriam cortado aquela qualificação de alemão)."

Os leitores indubitavelmente ouviram uma ou outra história de horror sobre como um Departamento de Estudos Afro-Americano procurou um banimento para Othello, porque é "racista", ou como um professor feminista radical lecionou um encontro de Associação de Línguas Modernas sobre bruxas como sendo "verdadeiras heroínas" de Macbeth. estas atrocidades ocorrem porque os perpetradores são hábeis em demonstrar plausivelmente, na tradição de Benjamin e Adorno, que a intenção de Shakespeare é irrelevante; o que é importante é o "subtexto" racista e falocêntrico de que Shakespeare estava inconsciente quando escreveu.

Quando o Estudos de Mulheres (Woman's Studies) ou o Departamento de Estudos do Terceiro Mundo (Third World Studies Department) organiza estudantes para abandonar os [estudos] clássicos em favor de autores negros e feministas, as razões dadas são puramente de Benjamin. Não é que estes escritores modernos são melhores, mas eles são de algum modo mais verdadeiros porque sua prosa alienada reflete os problemas sociais modernos dos quais os antigos autores eram ignorantes! Estudantes são ensinados que a linguagem em si, como disse Benjamin, é meramente uma conglomeração de "nomes" falsos impingidas sobre a sociedade por seus opressores, e são advertidas contra o "logocentrismo", o excesso de confiança burguês em palavras.

Se estas palhaçadas pelos campi parecem "retardadas" (nas palavras de Adorno), é porque elas estão designadas a ser. O mais importante avanço da Escola de Frankfurt consiste na realização de que suas monstruosas teorias poderiam se tornar dominantes na cultura, como resultado das mudanças na sociedade trazidas pelo que Benjamin chamou de "idade da reprodução mecânica da arte".

II. O Establishment se Torna Bolchevique: o "Entretenimento" Substitui a Arte

Antes do século XIX, a distinção entre arte e "entretenimento" era muito mais pronunciada. Poder-se-ia ser entretido pela arte, certamente, mas a experiência era ativa, não passiva. No primeiro nível, devia-se fazer uma escolha consciente para ir a um concerto, ver uma certa exibição de arte, comprar um livro ou uma partitura. Era improvável que mais de uma fração infinitesimal da população tivesse a oportunidade de assistir King Lear ou ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven mais de uma vez ou duas durante a vida inteira. A arte exigia que se empenhasse todos os poderes de concentração e conhecimento do assunto a cada experiência, caso contrário a experiência seria um desastre. Estes foram os dias em que a memorização de poemas e peças inteiras, e a reunião de amigos e da família para um "concerto de salão" eram a norma, até mesmo em povoados rurais. Estes também foram os dias anteriores à "apreciação da música"; quando se estudava música, como muitos fizeram, eles aprendiam a tocá-las e não apreciá-las.

No entanto, as novas tecnologias de rádio, filme e música gravada representaram, para usar a palavra apropriada à matriz marxista[1], um potencial dialético. Por um lado, estas tecnologias ofereceram a possibilidade de fazer surgir as maiores obras de arte para milhões de pessoas que, de outro modo, não teriam acesso a elas. Por outro, o fato de que a experiência era infinitamente reproduzível poderia tender a distrair a mente do público, tornando a experiência menos sacra, aumentando a alienação. Adorno chamou este processo de "desmitologização". Esta nova passividade, Adorno hipotetizou em um artigo crucial publicado em 1938, poderia rachar uma composição em partes de "entretenimento" que seriam "fetichizadas" na memória do ouvinte, e as partes difíceis, que seriam esquecidas. Adorno continua,

A contraparte do fetichismo é uma regressão do ouvir. Isso não significa um relapso do ouvinte individual em uma fase anterior de seu próprio desenvolvimento, nem um declínio do nível coletivo geral, desde que os milhões alcançados musicalmente pela primeira vez em nossos tempos pelas comunicações de massa de hoje não podem ser comparados com o público do passado. Mais do que isso, é o ouvir contemporâneo que regrediu e se prendeu a um estágio infantil (infantile). Não apenas os temas ouvidos perdem, juntamente da liberdade de escolha e responsabilidade, a capacidade de percepção consciente da música... eles flutuam entre um esquecimento compreensivo e súbitos mergulhos em reconhecimento. Eles ouvem atomisticamente e dissociam o que ouvem, mas precisamente nessa dissociação eles desenvolvem certas capacidades que concordam menos com os conceitos tradicionais de estética do que com aqueles do futebol ou de automobilismo. Eles não são inocentes (childlike)... mas são estúpidos (childish); seu primitivismo não é o do não desenvolvido, mas o do forçadamente retardado.

Esta retardação e precondicionalização conceitual causada pelo ouvir, sugeriu que a programação poderia determinar a preferência. O próprio fato de pôr, dizem, algo de Benny Goodman próximo a uma sonata de Mozart no rádio tenderia a amalgamar ambos em uma entretida "[programação de] música no rádio" na mente do ouvinte. Isto significa que mesmo novas e repulsivas ideias poderiam se tornar populares ao "renomeá-las" através do homogenizador universal da indústrial cultural. Como Benjamin expôs,

A reprodução mecânica da arte muda a reação das massas com relação a ela. A atitude reacionária em relação à pintura de Picasso muda para uma progressiva reação em relação a um filme de Chaplin. A progressiva reação é caracterizada pela fusão direta e íntima do divertimento visual e emocional com a orientação do especialista... Com relação à tela, as atitudes críticas e receptivas do público coincidem. O motivo decisivo para isto é que as reações individuais são predeterminadas pela reação da audiência de massa produzidas, e isto não é, de modo algum, mais pronunciado que no filme.

Ao mesmo tempo, o poder mágico da mídia poderia ser usado para redefinir ideias prévias. "Shakespeare, Rembrandt, Beethoven, todos farão filmes", concluiu Benjamin, citando o pioneiro do cinema francês Abel Gance, "... todas as lendas, todas as mitologias, todos os mitos, todos os fundamentos das religiões, e as próprias religiões em si... esperam sua ressurreição exposta".

Controle Social: o "Projeto Rádio"

Aqui, então, estiveram algumas teorias potentes de controle social. As grandes possibilidades do trabalho da mídia dessa Escola de Frankfurt foram provavelmente o maior fator contribuinte para o apoio dado ao I.S.R. (sigla em inglês para Instituto para Pesquisas Sociais, N.T.) pelos bastiões do Establishment, depois que o Instituto transferiu suas operações para a América em 1934.

Em 1937, a Fundação Rockefeller começou a financiar pesquisas sobre os efeitos sociais das novas formas dos meios de comunicação (mass media: mídia de massa, N.T.), particularmente o rádio. Antes da Primeira Guerra Mundial, o rádio foi um brinquedo para hobbies, com apenas 125.000 recebendo aparelhos em todo o EUA; vinte anos depois, tornou-se o modo primário de entretenimento no país; em torno de 32 milhões de famílias americanas em 1937, 27.5 milhões tiveram rádios - uma porcentagem maior que de telefones, automóveis, canalização ou eletricidade! Então, quase nenhuma pesquisa sistemática foi feita neste ponto. A Fundação Rockefeller listou várias universidades e sediou sua rede na Escola de Relações Públicas e Internacionais na Universidade de Princeton. Nomeado Escritório de Pesquisa de Rádio, era popularmente conhecido por "Projeto Rádio".

O diretor do Projeto foi Paul Lazerfeld, filho adotivo do economista marxista austríaco Rudolph Hilferding, e um colaborador de longa data do IS.R. desde os anos 1930. Sob Lazerfeld estava Frank Stanton, um recente PHD em  psicologia industrial do Estado de Ohio, que foi nomeado diretor de pesquisa do Columbia Broadcasting System (CBS, N.T.) - um grande título, mas uma baixa posição. Depois da Segunda Guerra Mundial, Stanton se tornou presidente da CNBS News Division, e ultimamente presidente da CBS no auge do poder televisivo; ele também se tornou presidente do conselho da RAND Corporation e um membro do "gabinete de cozinha" do presidente Lyndon Johnson. Entre os pesquisadores do Projeto estiveram Herta Herzog, que se casou com Lazerfeld e se tornou a primeira diretora de pesquisa para a Voice of America; e Hazel Gaudet, que se tornou um dos pesquisadores de opinião líderes no país. Theodoro Adorno foi nomeado chefe da seção de música do Projeto.

Apesar do brilho oficial, as atividades do Projeto Rádio tornam claro que seu propósito era testar empiricamente a tese de Adorno e Benjamin de que o efeito da rede dos meios de comunicação poderiam atomizar e aumentar a labilidade - o que pessoas mais tarde chamariam de "lavagem cerebral".

As Novelas e a Invasão de Marte

Os primeiros estudos foram promissores. Herta Herzog produziu "On Borrowed Experiences [Sobre Experiências Emprestadas, em tradução livre]", a primeira pesquisa compreensiva sobre novelas (soap operas). O formato "drama seriado em rádio" foi primeiro usado em 1929, em inspiração do suspense seriado "Perils of Pauline [Os Perigos de Paulina]". Por motivo de que estas pequenas peças de rádio eram altamente melodramáticas, ficaram popularmente identificadas com a grande novela (grand opera) italiana; por motivos de que eram frequentemente patrocinadas por fabricantes de sabão, acabaram com o nome genérico de "soap opera [ópera de sabão, em trad. literal]".

Até a obra de Herzog, era pensado que a imensa popularidade desse formato era ampla em mulheres do status socio-econômico mais baixo que, em restritas circunstâncias da suas vidas, precisavam de um escape para lugares exóticos e situações românticas. Um artigo típico desse período feito por dois psicólogos da Universidade de Chicago, "The Radio Day- Time Serial: Symbol Analysis [O Seriado Diário de Rádio: A Análise do Símbolo]", publicado no Genetic Psychology Monographs [Monografias de Psicologia Genética], solenemente enfatizou a reivindicação positiva de que as novelas "funcionam muito como contos populares, expressando as esperanças e os medos da audiência feminina, e no todo contribui para a integração de suas vidas no mundo em que vivem".

Herzog achou que não havia, na verdade, nenhuma correlação ao status socio-econômico. Mais do que isso, surpreendentemente havia pouca relação com o conteúdo. O fator-chave - conforme as teorias de Adorno e Benjamin sugeriram - era a forma em si do seriado; as mulheres aderiram efetivamente ao formato, não tanto pelo entretenimento ou pelo escape, mas para "ver o que acontece na próxima semana". Na verdade, Herzog pensou, você poderia quase duplicar uma peça de rádio dividindo-a em dois segmentos.

Os leitores modernos imediatamente reconhecerão que isso não era uma aula perdida sobre indústria de entretenimento. Nos nossos dias, o formato em seriado se espalhou para programação de crianças e para apresentações de alto orçamento do horário nobre. Os mais amplamente assistidos na história da televisão continuam sendo "Who Killed JR? [Quem Matou Júnior?]", de Dallas, e o episódio final de M*A*S*H, ambos baseados no tal formato de "o que acontece depois?". Mesmo os longa-metragens, como Star Wars e a trilogia Back to the Future são agora produzidos em seriados, a fim de prender uma audiência para os episódios seguintes. A humilde novela diária também contém suas qualidades aditivas na idade atual: 70% de todas as mulheres americanas acima de dezoito anos agora assistem pelo menos dois desses seriados por dia, e há um rápido crescimento na audiência entre homens e estudantes colegiais de ambos os sexos.

O próximo grande Projeto Rádio foi uma investigação sobre os efeitos da peça em rádio do Halloween de Orson Welles em 1938, baseado no War of the Worlds [Guerra dos Mundos] de H.G. Wells. Seis milhões de pessoas ouviram a transmissão descrevendo realisticamente uma invasão marciana aterrissando na zona rural de Nova Jersey. Apesar das repetidas e claras afirmações de que a peça era ficcional, aproximadamente 25% dos ouvintes pensaram que era real, sendo que alguns entraram em pânico. Os pesquisadores do Projeto Rádio pensaram que uma maioria das pessoas que entraram em pânico não pensaram que homens vindos de Marte invadiram [a Terra]; eles pensaram, na verdade, que os alemães estavam invadindo.

Acontece assim. Os ouvintes foram psicologicamente precondicionados pelas reportagens de rádio sobre a crise de Munique no início do ano. Durante aquela crise, um homem da CBS na Europa, Edward R. Murrow, insistiu na ideia de programação regular para apresentar curtos boletins de notícia. Pela primeira vez em transmissões, as notícias foram apresentadas não em longos pedaços analíticos, mas em clipes curtos - o que nós agora chamamos de "bits de áudio [literalmente, picadas de áudio]". No auge da crise, esses flashes ficaram tão numerosos que, nas palavras do produtor de Murrow, Fred Friendly, "os novos boletins eram novos boletins interrompidos". Conforme os ouvintes pensavam que o mundo se movia para a guerra, a CBS cresceu dramaticamente. Quando Welles fez sua transmissão ficcional mais tarde, depois que a crise retrocedeu, ele usou essa técnica de boletim para dar veracidade às coisas: ele começou a transmissão falseando um programa de dance-music padrão, que foi progressivamente interrompendo com terríveis "reportagens da cena" de Nova Jersey. Os ouvintes que entraram em pânico, reagiram não ao conteúdo, mas ao formato; eles ouviram "Interrompemos este programa para um boletim de emergência", e a "invasão", e imediatamente concluíram que Hitler tinha invadido. A técnica de novela, transposta às notícias, trabalhou em uma escala vasta e inesperada.

A Pequena Annie e o "Sonho Wagneriano" de TV

Em 1939, um dos membros do Journal of Applied Psychology, trimestral, foi cedido a Adorno e ao Projeto Rádio para publicar alguns de seus achados. Sua conclusão era que os americanos, ao longo dos últimos vinte anos, se tornaram "mentalmente orientados pelo rádio" (radio-minded), e que seu modo de ouvir se tornou tão fragmentado que a repetição do formato era a chave para a popularidade. A lista de reprodução determinou os "hits" - uma verdade bem conhecida a um crime organizado, tanto antes quanto agora - e a repetição poderia fazer qualquer forma de música ou qualquer artista, mesmo um artista de música clássica, uma "estrela". Na medida em que uma forma ou contexto familiar foi retido, quase qualquer conteúdo poderia se tornar aceitável. "Não apenas os sons, as estrelas e as novelas de sucesso são tipos ciclicamente recorrentes e rigidamente invariáveis", disse Adorno, resumindo esse material alguns anos mais tarde, "mas o conteúdo específico do entretenimento é derivado deles e apenas parece mudar. Os detalhes são intermutáveis".

A coroação do Projeto Rádio foi "A Pequena Annie", oficialmente entitulada de Stanton-Lazersfeld Program Analyser. A pesquisa do Projeto Rádio mostrou que todos os métodos anteriores de pré-visualização de votos foram ineficazes. Até aquele ponto, uma audiência pre-visualizada assistiu a uma apresentação ou a um filme, e então foi questionada sobre inúmeras questões: você gostou da apresentação? O que você pensa da performance tal? O Projeto Rádio pensou que este método não levava em conta a percepção do sujeito atomizada da audiência, e afirmou que elas fazem uma análise racional do que se propunha ser uma experiência irracional. Assim, o Projeto criou um dispositivo no qual cada membro da audiência era suprido com um tipo de reóstato no qual poderia registrar a intensidade de seus contentamentos ou descontentamentos em uma base momentânea. Ao comparar os gráficos individuais produzidos pelo dispositivo, os operadores puderam determinar não se a audiência gostou de toda a apresentação - o que é irrelevante - ,mas quais situações ou personagens produziram um sentimento positivo, se momentâneo.

Little Annie transformou a programação de rádio, de filme e ultimamente a de televisão. A CBS ainda mantém as facilidades do programa de análise em Hollywood e Nova Iorque; diz-se que os resultados correlacionam 85% das classificações. Outras redes e estúdios de filme têm operações similares. Este tipo de análise é responsável pelo sentimento sinistro que você tem quando, ao ver um novo filme ou programa de TV, você pensa já ter visto isso antes. Você já viu, muitas vezes. Se um analisador de programa indica que, por exemplo, a audiência foi particularmente contentada por uma cena curta em um drama da Segunda Guerra Mundial mostrando um certo tipo de ator beijando um certo tipo de atriz, então aquele formato de cena será trabalhado em dúzias de filmagens - transposta para a Idade Média, ao espaço sideral, etc. etc.

O Projeto Rádio também percebeu que a televisão teve o potencial para intensificar todos os efeitos que eles estudaram. A tecnologia de TV estava já por alguns anos, e foi exibida em 1936 no World's Fair em Nova Iorque, mas a única pessoa a tentar séria utilização do meio foi Adolf Hitler. Os nazistas transmitiram os jogos olímpicos de 1936 "ao vivo" para salões comunitários por toda Alemanha; eles tentaram expandir seu grande sucesso ao usar o rádio para nazificar todos os aspectos da cultura alemã. Depois os planos de desenvolvimento para a TV alemã foram desviados para preparações de guerra.

Adorno compreendeu este potencial perfeitamente, escrevendo em 1944:

A televisão mira a síntese do rádio e do filme, e se mantém apenas porque as partes interessadas não chegaram ainda a um acordo, mas suas consequências serão bem enormes e promete intensificar o empobrecimento da questão estética tão drasticamente que amanhã a finamente velada identidade de todos os produtos culturais industriais pode vir triunfante a céu aberto, ironicamente preenchendo o sonho wagneriano da Gesamtkunstwerk - a fusão de todas as artes em uma obra.

O ponto óbvio é este: as formas profundamente irracionais do entretenimento moderno - o imbecil e erotizado conteúdo da maior parte da TV e dos filmes, o fato de que sua estação de rádio local de música clássica programa Stravinksy próximo de Mozart - não precisam ser daquele jeito. Elas foram designadas a serem daquele jeito. O projeto (design) foi tão bem sucedido que hoje ninguém mais questiona os motivos e as origens[2].

III. Criando a "Opinião Pública": A "Personalidade Autoritária" do Bicho-Papão e a OSS

Os esforços dos conspiradores do Projeto Rádio para manipular a população geraram a pseudociência moderna da pesquisa de opinião pública a fim de alcançar um controle maior sobre os métodos que estavam desenvolvendo.

Hoje, as pesquisas de opinião pública, como as notícias de televisão, foram completamente integradas na nossa sociedade. Uma "investigação científica" sobre o que as pessoas dizem pensar em relação a uma questão pode ser produzida em menos de vinte e quatro horas. Algumas campanhas para altos cargos políticos são completamente baseadas em opinião pública; na verdade, muitos políticos tentam criar questões que são em si insignificantes, mas que eles sabem que ficarão bem nas pesquisas, puramente com o propósito de reforçar sua imagem como "popular". Importantes decisões políticas são feitas, mesmo antes do voto dos civis ou dos legisladores, através de resultados de pesquisas de opiniões. Os jornais ocasionalmente escreverão edições pias chamando o povo a pensar por si, mesmo que o agente de negócios do jornal envie um cheque para a organização de pesquisa.

A ideia da "opinião pública" não é nova, é claro. Platão discursou contra ela em sua República há mais de dois milênios atrás; Alex de Tocqueville escreveu longamente de sua influência sobre a América no início do século dezenove. Mas ninguém pensou em medir a opinião pública antes do século vinte, e ninguém antes dos anos 1930 pensou em usar essas medidas para tomadas de decisões.

É útil parar e refletir sobre o conceito inteiro. A crença de que a opinião pública pode ser um determinante de verdade é filosoficamente insano. Opõe-se à ideia de mente individual racional. Toda mente individual contém a centelha divina da razão, e assim é capaz de descobertas científicas e de entender as descobertas dos outros. A mente individual é uma das poucas coisas que não pode, portanto, ser "nivelada". Considere: no momento da descoberta criativa, é possível, se não provável, que o cientista que faz a descoberta é a única pessoa a ter aquela opinião sobre a natureza, enquanto qualquer um tem uma opinião diferente ou não tem opinião alguma. Pode-se apenas imaginar o que teria sido uma "investigação cientificamente conduzida" sobre o modelo de Kepler do sistema solar logo depois que ele publicou a Harmony of the World: 2% a favor, 48% contra e 50% sem opinião.

Essas técnicas de investigações psicanalíticas se tornaram padrão, não apenas para a Escola de Frankfurt, mas também para os departamentos americanos de ciência social, particularmente depois que o IS.R. chegou nos Estados Unidos. A metodologia usada foi a base da pesquisa para a qual a Escola de Frankfurt é mais bem conhecida, o projeto de "personalidade autoritária". Em 1942, o diretor do IS.R., Max Horkheimer, travou contato com o American Jewish Committee, que o pediu para estabelecer um Departamento de Pesquisa Científica dentro de sua organização. O American Jewish Committee também providenciou uma grande concessão para estudar o anti-semitismo na população americana. "Nosso objetivo", escreveu Horkheimer na introdução do estudo, "é não meramente descrever o preconceito, mas explicá-lo a fim de ajudar em sua erradicação... erradicação significa reeducação cientificamente planejada na base do entendimento cientificamente alcançado".

A Escala A-S

Por fim, cinco volumes foram produzidos para esse estudo no decurso dos últimos anos 1940; o mais importante foi o último, The Authoritarian Personality, por Adorno, com ajuda de três psicólogos sociais de Berkley, Califórnia.

Nos anos 1930, Erich Fromm idealizou um questionário para ser usado para analisar trabalhadores alemães psicanaliticamente como "autoritários", "revolucionários" ou "ambivalentes". O coração do estudo de Adorno foi, mais uma vez, a escala psicanalítica de Fromm, mas tendo o fim positivo, mudou de uma "personalidade revolucionária" para uma "personalidade democrática", a fim de tornar as coisas mais palpáveis para uma audiência pós-guerra. Nove traços de personalidades foram testados e medidos, incluindo:

- Convencionalismo: rígida aderência aos valores convencionais da classe média

- Agressão autoritária: tendência a vigiar, condenar, rejeitar e punir pessoas que violam os valores convencionais.

- Projetividade: disposição para acreditar que coisas selvagens e perigosas acontecem no mundo

- Sexo: preocupação exagerada com assuntos sexuais.

A partir dessas medidas foram construídas várias escalas: a escala E (etnocentrismo), a PEC (conservadorismo político e econômico), A-S (anti-semitismo) e F (fascismo). Usando a metodologia de Rensis Lickerts de pesar resultador, os autores foram capazes de provocar juntos uma definição empírica do que Adorno chamou de "novo tipo antropológico", a personalidade autoritária.O truque aqui, como no trabalho de investigação psicanalítica, é a afirmação de um "tipo" weberiano. Uma vez que o tipo foi estatisticamente determinado, todo comportamento pode ser explicado; se uma personalidade anti-semita não age de modo anti-semita, então ele tem um motivo ulterior para a ação, ou está sendo descontínuo. A ideia de que uma mente humana é capaz de transformação é ignorada.

Os resultados desse estudo podem ser interpretados de maneiras diametricamente diferentes. Pode-se dizer que o estudo prova que a população dos EUA foi geralmente conservadora, não quis abandonar uma economia capitalista, acreditou em uma família forte e que a promiscuidade sexual deveria ser punida, pensou que o mundo pós-guerra era um lugar perigoso e sempre suspeitou dos judeus (e dos negros, católico-romanos, orientais, etc. - infelizmente verdade, mas corrigível em um contexto social de crescimento econômico e otimismo cultural). Por outro lado, poder-se-ia ter os mesmos resultados e provar que os pogroms anti-judeus e o julgamento de Nuremberg ferviam apenas abaixo da superfície, esperando para que um novo Hitler desse a ignição neles. Qual das duas interpretações você aceitar é uma decisão política, não científica. Horkheimer e Adorno firmemente acreditaram que todas as religiões, o judaísmo incluso, foram "o ópio das massas". Seu objetivo foi não a proteção dos judeus contra os preconceitos, mas a criação de uma definição de autoritarianismo e anti-semitismo que poderia ser explorado para forçar a "reeducação cientificamente planejada" dos americanos e dos europeus para longe dos princípios da civilização judaico-cristã, que a Escola de Frankfurt desprezava. Em seus escritos teóricos desse período, Horkheimer e Adorno empurraram a tese para sua maior paranoia: assim como o capitalismo era inerentemente fascista, a filosofia do cristianismo em si é a fonte do anti-semitismo. Segundo Horkheimer e Adorno juntamente escreveram em seu "Elementos do Anti-Semitismo" de 1947:

Cristo, o espírito tornado carne, é o feiticeiro deificado. A auto-reflexão do homem no absoluto, a humanização de Deus por Cristo, é o proton pseudos [falsidade original]. O progresso para além do judaísmo é acoplado à afirmação de que o homem Jesus se tornou Deus. O aspecto reflexivo do cristianismo, a intelectualização da magia, é a raiz do mal.

Ao mesmo tempo, Horkheimer pôde escrever em um artigo mais popularizado entitulado "Anti-Semitismo: Uma Doença Social", que "no presente, o único país onde parece não haver qualquer tipo de anti-semitismo é a Rússia"[!].

Essa tentativa de auto-justificar-se para maximizar a paranoia foi depois auxiliada por Hannah Arendt, que popularizou a pesquisa da personalidade autoritária no seu amplamente lido Origens do Totalitarismo. Arendt também acrescentou o famoso florescimento retórico sobre a "banalidade do mal" em seu posterior Eichmann em Jerusalém: mesmo um tipo simples, comerciante, como Eichmann pode se tornar uma besta nazista sob certas circunstâncias psicológicas - todo gentio é suspeito, psicanaliticamente.

É a versão extrema de Arendt da tese da personalidade autoritária que é a filosofia operante do atual Cult Awareness Network (CAN), um grupo que trabalha com o Departamento de Justiça dos EUA e com a Liga Anti-Difamação da B'nai B'rith, entre outros. Usando o método padrão da Escola de Frankfurt, CAN identifica grupos políticos e religiosos que são seus inimigos políticos, e então rotula-os de"seita" a fim de justificar operações contra eles[3].

A Explosão da Opinião Pública

Apesar de sua improvável tese central dos "tipos psicanalíticos", a metodologia de investigação interpretativa da Escola de Frankfurt se tornou dominante nas ciências sociais, e essencialmente assim permanece hoje. Na verdade, a adoção dessas novas e supostamente científicas técnicas nos anos 1930 trouxe uma explosão no uso de pesquisa de opinião pública, muito financiadas por Madison Avenue. A maioria dos pesquisadores de opinião de hoje - A.C. Neilsen, Goerge Gallup, Elmo Roper - começaram em meados 1930 e começaram usando os métodos do IS.R., especialmente dado o sucesso do Stanton-Lazerfeld Program Analyzer. Em torno de 1936, a atividade de pesquisas públicas se tornou suficientemente difundida para justificar uma associação comercial, a Academia Americana de Pesquisa de Opinião Pública de Princeton, encabeçada por Lazerfeld; ao mesmo tempo, a Universidade de Chicago criou o Centro de Pesquisa de Opinião Nacional. Em 1940, o Escritório da Pesquisa de Rádio foi transformado no Escritório de Pesquisa Social Aplicada, uma divisão da Columbia University, com o infatigável Lazerfeld como diretor.

Depois da Segunda Guerra Mundial, Lazerfeld particularmente inaugurou o uso das pesquisas para psicanalisar o comportamento de voto americano, e pela eleição presidencial de 1952, as agências de publicidade Madison Avenue estiveram firmemente no controle da campanha de Dwight Einsenhower, utilizando o trabalho de Lazerfeld. Em 1952 foi também a primeira eleição sob influência da televisão, que, conforme Adorno previu oito anos antes, cresceu a uma influência incrível em muito pouco tempo. Batten, Barton, Durstine & Osborne - a fabulosa agência de publicidade "BBD&O" - desenhou as aparências da campanha de Ike inteiramente para câmeras de TV, e tão cuidadosamente como os comícios de Nuremberg de Hitler; propagandas "spot" de um minuto foram pioneiras em suprir as necessidades dos eleitores determinadas pelas pesquisas.

Essa bola de neve não parou de rolar desde então. Todo o desenvolvimento de televisão e publicidade nos anos 1950 e 1960 teve por pioneiros homens e mulheres treinados nas técnicas de alienação massiva da Escola de Frankfurt. Frank Santon foi diretamente do Projeto Rádio para se tornar o único e mais importante líder de televisão moderna. O chefe rival de Stanton no período formador da TV era Sylvester "Pat" Waver da NBC; depois de um Ph.D em "comportamento de escuta", Weaver trabalhou com o Analyzer Program no final dos anos 1930, antes de se tornar o vice-presidente da Young & Rubicam, depois diretor de programação da NBC e por fim presidente da rede. As histórias de Stanton e Weaver são típicas.

Hoje, os homens e mulheres que administram as redes, as agências de publicidade, as organizações de pesquisas de opinião pública, mesmo que eles nunca tenham ouvido falar de Theodoro Adorno, firmemente acreditam na teoria de Adorno de que a mídia pode, e deveria, transformar tudo que ela toca em "futebol". A cobertura da Guerra do Golfo em 1991 deveria tornar isso claro.

A técnica de comunicação e publicidade de massa desenvolvida pela Escola de Frankfurt agora efetivamente controla as campanhas políticas americanas. As campanhas não são mais baseadas em programas políticos, mas antes em alienação política. Queixas mesquinhas e medos irracionais são identificadas pelas pesquisas psicanalíticas para serem transformadas em "questões" a serem atendidas; as propagandas de "Willy Horton" da campanha presidencial de 1988 e a "emenda de queima da bandeira" são dois exemplos recentes. As questões que determinarão o futuro de nossa civilização são escrupulosamente reduzidas a oportunidades fotográficas e "bites" (aspas acrescentadas, N.T.) de áudio - como as originais reportagens de Ed Murrow dos anos 1930 - em que o efeito dramático é maximizado e o conteúdo da ideia anulado.

Quem é o Inimigo?

Parte da influência do embuste da personalidade autoritária em nossos dias também deriva do fato de que, incrivelmente, a Escola de Frankfurt e suas teorias foram oficialmente aceitas pelo governo dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, e estes Cominteristas foram responsáveis por determinar quem foram os inimigos da América nos tempos de guerra e de pós-guerra.

Em 1942, o Escritório de Serviços Estratégicos, unidade de espionagem apressadamente construída e de operações de cobertura, pediu ao antigo presidente de Harvard, James Baxter, para formar uma filial da Research and Analysis (R&A) sob a Divisão de Inteligência do grupo. Em torno de 1944, o R&A Branch (filial da R&A) coletou um tão grande e prestigioso grupo de estudiosos emigrantes que H. Stuart Hughes, então jovem Ph.D., disse que trabalhar para isso era "uma segunda graduação" às custas do governo. A Seção Europeia Central foi encabeçada pelo historiador Carl Schorske; sob seus comandos, na totalmente importante Seção Alemã/Austríaca, estava Franz Neumann, como chefe de seção, com Herbert Marcuse, Paul Baran, e Otto Kirchheimer, todos veteranos do IS.R. Leo Lowenthal chefiou a seção de língua alemã do Escritório de Informação de Guerra; Sophie Marcuse, esposa de Marcuse trabalhou no Escritório de Inteligência Naval. Também na R&A Branch estiveram: Siegfried Kracauer, o antigo instrutor em Kant de Adorno, agora teórico de cinema; Norman O. Brown, que se tornaria famoso nos anos 1960 por combinar a teoria do hedonismo de Marcuse com a orgonoterapia de Wilhelm Reich para popularizar a "perversidade polimórfica"; Barrington Moore, Jr., mais tarde professor de filosofia, coautor de um livro com Marcuse; Gregory Bateson, marido da antropóloga Margaret Mead (que escreveu para o jornal da Escola de Frankfurt), e Arthur Schlesinger, historiador que se uniu à administração de Kennedy. A primeira tarefa de Marcuse foi chefiar um time para identificar tanto aqueles que seriam julgados como criminosos de guerra depois da guerra como aqueles que seriam líderes potenciais da Alemanha pós-guerra. Em 1944, Marcuse, Neumann e Kirchheimer escreveram o Denazification Guide [Guia de Desnazificação], que foi mais tarde emitido aos oficiais das Forças Armadas dos EUA que ocupavam a Alemanha, para ajudá-los a identificar e oprimir comportamentos pró-nazistas. Depois do armistício, o R&A Branch enviou representantes para trabalhar como conexões de inteligência com vários poderes ocupantes; a Marcuse foi atribuída a Zona dos EUA, a Kirchheimer a da França e a Barrington Moore a ocupada pelos soviéticos. No verão de 1945, Neumann deixou para se tornar chefe de pesquisa do Tribunal de Nuremberg. Marcuse permaneceu ali e em torno da inteligência dos EUA durante os anos 1950, sendo promovido a chefe do Central European Branch do Escritório de Pesquisa de Inteligência do Departamento do Estado, um escritório formalmente empenhado em "planejar e implementar um programa de pesquisa de inteligência positiva... para encontrar os requerimentos inteligentes da Agência Central de Inteligência (CIA) e outras agências autorizadas". Durante seu mandato como oficial do governo dos EUA, Marcuse apoiou a divisão da Alemanha no Oriente e no Ocidente, notando que isso preveniria uma aliança entre os partidos de esquerda novamente liberados e as camadas antigas de industriais e negociantes conservadores. Em 1949, ele produziu uma reportagem de 532 páginas, "Os Potenciais do Comunismo Mundial" (desclassificado apenas em 1978), que sugere que a estabilização econômica da Europa do Plano Marshall limitaria o potencial de recrutamento dos partidos comunistas da Europa Ocidental para níveis aceitáveis, causando um período de hostil coexistência com a União Soviética, marcado pelo confronto apenas em locais distantes como América Latina e Indochina - sobretudo, uma surpreendentemente acurada previsão. Marcuse deixou o Departamento de Estado com uma admissão na Fundação Rockefeller para trabalhar com vários departamentos de estudos soviéticos que foram estabelecidos em muitas universidades top depois da guerra, amplamente pelos veteranos da R&A Branch. Ao mesmo tempo, Max Horkheimer estava causando danos ainda maiores. Como parte da desnazificação da Alemanha sugerido por R&A Branch, o alto-comissário dos EUA para Alemanha, John J. McCloy, usando fundos pessoais, trouxe Horkheimer de volta à Alemanha para reformar o sistema de universidade alemão. Na verdade, McCloy pediu ao presidente Truman e ao Congresso para passar uma fatura a Horkheimer, que se tornou naturalizado americano, com dupla cidadania; assim, por um breve período, Horkheimer foi a única pessoa no mundo a manter ambas cidadanias, alemã e estadunidense. Na Alemanha, Horkheimer começou o trabalho preliminar para maduro renascimento da Escola de Frankfurt naquela nação no final dos anos 1950, incluindo o treinamento de toda uma nova geração de estudiosos de uma civilização anti-ocidental, como Hans-Georg Gadamer e Jügen Habermas, que teriam uma influência destrutiva na Alemanha dos anos 1960. Em um período da história americana quando alguns indivíduos foram levados ao desemprego e suicídio pelo mais débil aroma do esquerdismo, os veteranos da Escola de Frankfurt - tudo com soberbos credenciais do Comintern- levaram aquilo que só pode ser chamado de vida boa [charmous lives]. A América manteve, a uma incrível extensão, a determinação de quem foram os inimigos da nação sobre os piores inimigos da própria nação.

IV. O Eros Aristotélico: Marcuse e a Contracultura Narcótica da CIA

Em 198, Hans-Georg Gadamer, um protegido de Martin Heidegger e o último da geração original da Escola de Frankfurt, foi reivindicado a fornecer uma apreciação de seu próprio trabalho para o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. Ele escreveu que

Tem-se de conceber a ética aristotélica como verdadeira realização do desafio socrático, que Platão colocou no centro de seus diálogos sobre a questão socrática do bem... Platão descreveu a ideia do bem... como última e maior ideia, que é supostamente o princípio mais alto do ser para o universo, o Estado e a alma humana. Contra isto Aristóteles opôs uma crítica decisiva, sob a famosa fórmula "Platão é meu amigo, mas a verdade é ainda mais minha amiga". Ele negou que poder-se-ia considerar a ideia do bem como princípio universal do ser, que supõe-se sustentar o conhecimento teórico bem como o conhecimento prático e a atividade humana.

Essa afirmação não apenas sucintamente estabelece a filosofia subjacente à escola de Frankfurt, mas também sugere um ponto de inflexão em torno do qual podemos ordenar muito do combate filosófico dos dois últimos milênios. Em termos simples, a correção aristotélica de Platão divide a física da metafísica, relegando o Bem a um mero objeto de especulação sobre o qual "nosso conhecimento permanece apenas hipótese", nas palavras de Wilhelm Dilthey, filsósofo favorito da Escola de Frankfurt. Nosso conhecimento do "mundo real", conforme Dilthey, Nietzsche e outros precursores da Escola de Frankfurt costumavam enfatizar, torna-se erótico, no sentido mais amplo do termo, como fixação objetiva. O universo se torna uma coleção de coisas que operam na base de suas próprias naturezas (isto é, geneticamente), e através da interação entre elas (isto é, mecanicamente). A ciência se torna a dedução das categorias apropriadas dessas naturezas e interações. Desde que a mente humana é meramente um sensório esperando pela maçã de Newton para agitar-se em dedução, a relação da humanidade com o mundo (e vice-versa) se torna uma ligação erótica com objetos. A compreensão do universal - a mente buscando ser imagem viva do Deus vivo - é portanto ilusão. Esse universal ou não existe, ou existe incompreensivelmente como deus ex machina; ou seja, o Divino existe como superação [superaddition] ao universo físico - Deus é realmente Zeus, arremessando raios no mundo desde um local externo. (Ou talvez mais apropriadamente: Deus é realmente Cupido, deixando cair flechas douradas para tornar os objetos atraentes ou flechas plúmbeas para fazer os objetos repelirem) A chave para todo o programa da Escola de Frankfurt, do autor Lukacs, é a "liberação" do eros aristotélico, para tornar os estados sentimentais individuais psicologicamente primários. Quando os líderes do IS.R. chegaram nos Estados Unidos em meados anos 1930 eles alardearam que aqui era um lugar que não tinha defesas filosóficas adequadas contra o estigma do Kulturpessimismus [pessimismo cultural]. Entretanto, embora a Escola de Frankfurt tenha feito incursões na vida intelectual americana antes da Segunda Guerra, aquela influência foi amplamente confinada à academia e ao rádio; e o rádio, embora importante, ainda não teve a influência esmagadora na vida social que adquiriria durante a guerra. Ademais, a mobilização americana para a guerra e a vitória contra o fascismo desviaram o programa da Escola de Frankfurt; A América em 1945 era quase sublimemente otimista, com uma população firmemente convicta de que uma república mobilizada, apoiada pela ciência e pela tecnologia, poderia fazer jus a qualquer coisa. Os quinze anos depois da guerra, no entanto, viram a dominação da vida familiar pelo rádio e pela televisão mudarem pela Escola de Frankfurt, em um período de erosão política na qual o grande potencial positivo da América degenerou a uma postura puramente negativa contra a real e frequentemente manipulada ameaça da União Soviética. Ao mesmo tempo, centenas de milhares de gerações jovens - chamados "baby boomers" - foram entrando no colégio e sendo expostos ao veneno da Escola de Frankfurt, direta ou indiretamente. É ilustrativo que em torno de 1960 a sociologia se tornou o curso mais popular de estudo nas universidades americanas. De fato, quando se olha às primeiras agitações da rebelião de estudantes no início dos anos 1960, como os discursos do Berkeley Free Speech Movement ou o Port Huron Statement que fundaram a Students for a Democratic Society, se é golpeado com o quão desprovidas de conteúdo real essas discussões eram. Há muita ansiedade sobre ser manipulado para conformar-se ao sistema - "Eu sou um ser humano, não dobre, fure ou mutile" era um slogan de Berkeley - mas está claro que os "problemas" citados derivam muito mais de textos adquiridos de sociologia do que das necessidades reais da sociedade.

A Revolução Psicodélica da CIA

O fervente desassossego no campus em 1960 pode bem também ter passado ou ter tido um resultado positivo, não fosse pela incapacitação traumática da nação através do assassinato de Kennedy, acrescentado ao simultâneo início da dispersão do uso de drogas. As drogas foram sempre uma "ferramenta analítica" dos românticos do século XIX, como os simbolistas franceses, e foram populares entre a margem dos boêmios europeus e americanos bem como no período pós Segunda Guerra Mundial. Mas, na segunda metade dos anos 1950, a CIA e os serviços de inteligência aliados começaram uma extensiva experimentação com o alucinógeno LSD para investigar seu potencial para controle social. Já foi documentado que milhões de doses do químico foram produzidas e disseminadas sob a égide da Operação MK-Ultra da CIA. O LSD se tornou a droga da vez dentro da própria agência, e foi passada livremente para amigos da família, inclusive um número substancial de veteranos da OSS. Por exemplo, foi o veterano Gregory Bateson da OSS Reasearch and Analysis Branch (R&A Branch, N.T.) que "ligou" o poeta beat Alenn Ginsberg ao experimento de LSD da Marinha dos EUA em Palo Alto, Califórnia. Não apenas Ginsberg, mas o novelista Ken Kesey e os membros originais do grupo de rock Grateful Rock abriram as portas da percepção cortês da Marinha. O guru da "revolução psicodélica" Timothy Leary ouviu sobre alucinógenos em 1957 da revista Life (a cujo editor, Henry Luce, foi dado ácido do governo, como a muitos outros formadores de opinão), e logo começou sua carreira como empregado contratado da CIA; em uma "reunião" de 1977 dos pioneiros do ácido, Leary abertamente admitiu, "tudo que eu sou eu devo à previdência da CIA". Os alucinógenos têm o efeito singular de tornar a vítima anti-social, totalmente auto-centrada e preocupada com objetos. Mesmo os objetos mais banais assumem a "aura" sobre a qual Benjamin falou, e se tornam intemporais e ilusoriamente profundos. Em outras palavras, os alucinógenos instantaneamente ativam um estado mental idêntico ao prescrito pelos teóricos da Escola de Frankfurt. E a popularização desses químicos criou uma vasta labilidade psicológica para levar essas teorias à prática. Assim, a situação no início dos anos 1960 representou um ponto de reentrada brilhante para a Escola de Frankfurt, e foi totalmente explorado. Uma das ironias da "Nova Geração" de 1964 é que embora seus protestos fossem de modernidade absoluta, nenhuma de suas ideias ou artefatos tinha menos do que trinta anos. A teoria política veio completamente da Escola de Frankfurt; Lucien Goldmann, uma radical francesa que foi uma professora visitante em Colúmbia em 1968, estava absolutamente correta quando disse de Herbert Marcuse em 1969 que "os movimentos estudantis... encontraram em seus livros e por fim em suas obras particulares a formulação teórica de seus problemas e aspirações". O cabelo longo e as sandálias, as comunas de livre amor, o alimento macrobiótico, os estilos de vida liberados, foram desenhados na virada do século e completamente testados em campo por vários experimentos sociais New Age [Nova Era] conectados com a Escola de Frankfurt como a comuna Ascona antes dos anos 1920. Mesmo o desafiador "nunca confie em ninguém com mais de trinta [anos]" de Tom Hayden foi meramente uma versão menos urbana do "ninguém com mais de trinta [anos] é digno de conversa" de Rupert Brooke em 1905. Os planejadores sociais que moldaram os anos 1960 simplesmente fiaram-se nos materiais disponíveis.

Eros e Civilização [Eros and Civilization]

O documento fundador da contracultura dos anos 1960 e que trouxe o "messianismo revolucionário" da Escola de Frankfurt dos anos 1920 para os anos 1960 foi Eros and Civilization de Marcuse, originalmente publicado em 1955 e financiado pela Fundação Rockefeller. O documento magistralmente resume a ideologia da Escola de Frankfurt do Kulturpessimismus no conceito de "dimensionalidade". Em uma das mais bizarras perversões da filosofia, Marcuse afirma derivar esse conceito de Friedrich Schiller. Schiller, que Marcuse propositalmente confunde com o herdeiro de Imannuel Kant,  discerniu duas dimensões na humanidade: um instinto sensitivo e um impulsivo para a forma. Schiller advogou pela harmonização desses dois instintos no homem na forma de um instinto de jogo criativo. Para Marcuse, por outro lado, a única esperança para escapar da unidimensionalidade da sociedade industrial moderna era liberar o lado erótico do homem, o instinto sensitivo, em rebelião contra a "racionalidade tecnológica". Segundo Marcuse diria mais tarde (1964) em seu One-Dimensional Man (O Homem Unidimensional), "uma falta de liberdade confortável, suave, razoável e democrática prevalece na civilização industrial, símbolo do progresso técnico". Essa liberação erótica que ele confunde com o "instinto de jogo", que, muito antes de ser erótico, é uma expressão de caridade, o maior conceito do amor associado com a verdadeira criatividade. A teoria oposta de Marcuse da liberação erótica é algo implícito em Sigmund Freud, mas não explicitamente enfatizado, exceto por alguns freudianos renegados como Wilhelm Reich e, em uma certa extesão, Carl Jung. Todo aspecto da cultura no Ocidente, inclusive a razão em si, diz Marcuse, age para repreender isto: "o universo totalitário da racionalidade tecnológica é a última transmutação da ideia de razão". Ou: "Auschwitz continua a perseguir, não a memória, mas as realizações do homem - os voos no espaço, as bombas e os mísseis, as belas usinas eletrônicas..."

Essa liberação erótica deveria tomar a forma da "Grande Recusa", uma total rejeição do monstro "capitalista" e todos os seus trabalhos, inclusive a razão "tecnológica" e a "linguagem ritual-autoritária". Como parte da Grande Recusa, a humanidade deveria desenvolver um "ethos estético", transformando a vida em um ritual estético, um "estilo de vida" (uma frase sem-sentido que veio à linguagem nos anos 1960 sob influência de Marcuse). Com Marcuse representando o ponto da cunha, os anos 1960 foram preenchidos pelas obtusas justificações intelectuais da vazia rebelião sexual adolescente. Eros and Civilization foi reeditado como brochura barata em 1961 e passou por várias edições; no prefácio à edição de 1966, Marcuse acrescentou que o novo slogan "Faça amor, não faça a guerra" era exatamente o que ele estava falando: "A luta pelo eros é uma luta política". Em 1969 ele notou que mesmo o uso obsessivo por parte da Nova Esquerda das obscenidades em seus manifestos era parte da Grande Recusa, chamando-o de "rebelião linguística sistemática, que destroi o contexto ideológico no qual as palavras são empregadas e definidas". Marcuse foi auxiliado pelo psicanalista Norman OB. Brown, seu protegido da OSS, que contribuiu com Life Against Death em 1959 e Love's Body em 1966 - convocando o homem a compartilhar seu sensato ego "blindado" e substituí-lo por um "ego corporal dionisíaco", que abraçaria a realidade instintiva da perversidade polimórfica e levaria o homem de volta para a "união com a natureza". Os livros de Reich, que disse que o nazismo foi causado pela monogamia, foram reeditados. Reich morreu em uma prisão americana, enjaulado por tomar dinheiro sob a justificativa de que o câncer poderia ser curado ao recanalizar a "energia orgone". A educação primária foi dominada pelo seguidor de Reich, A.S. Neill, um membro de seita teosófica dos anos 1930 e ateu militante, cujas teorias educacionais demandaram que os estudantes fossem ensinados a se rebelar contra os professores que era, por natureza, autoritários. O livro de Neill Summerhill vendeu 24.000 cópias em 1960, subindo para 100.000 em 1968 e 2.000.000 em 1970; por 1970, sua leitura era exigida em 600 cursos universitários, tornando o livro um dos textos educacionais mais influentes do período e ainda uma referência para escritores recentes sobre o assunto. Marcuse liderou o caminho para o completo renascimento do resto das teorias da Escola de Frankfurt, reintroduzindo o há muito esquecido Lukacs à América. O próprio Marcuse se tornou para-raio de ataques contra a contracultura e foi regularmente atacado por fontes tais como o diário soviético Pravda e o então governador californiano Ronald Reagan. A única crítica de qualquer mérito no momento, no entanto, foi uma do papa Paulo VI, que em 1969 nomeou Marcuse (um passo extraordinário, já que o Vaticano normalmente se abstém de denúncias formais de indivíduos vivos), junto com Freud, por sua justificativa de "nojentas e desenfreadas expressões de erotismo"; e chamou a teoria da liberação de Marcuse de "teoria que abre o caminho para a licença camuflada de liberdade... uma aberração do instinto". O erotismo da contracultura significou muito mais que livre amor e violento ataque ao núcleo da família. Também significa a legitimação do eros filosófico. As pessoas foram treinadas a verem-se como objetos, determinados por suas "naturezas". A importância do indivíduo como pessoa presenteada com a centelha divina da criatividade e capaz de agir em toda a civilização humana foi substituída pela ideia de que a pessoa é importante porque é negra, mulher ou sofre de impulsos homossexuais. Isso explica a deformação do movimento dos direitos civis em um movimento de "poder negro" e a transformação da questão legítima dos direitos civis para mulheres em feminismo. A discussão dos direitos civis das mulheres foi forçada a ser apenas outro "culto de liberação" completado com a queima de sutiãs de outros rituais, algumas vezes abertamente no estilo Astarte; uma revisão do Sexual Politics (1970), de Kate Millet, e do The Female Eunuch (1971) de Germaine Greer demonstra sua completa confiança em Marcuse, Fromm, Reich e outros extremistas freudianos.

Em Maus Lençois (The Bad Trip, lit.: A Má Viagem)

A popularização da vida como um ritual erótico e pessimista não mitigou, mas se aprofundou ao longo dos últimos vinte anos, é a base do horror que vemos ao nosso redor. Os herdeiros de Marcuse e Adorno dominaram completamente as universidades, ensinando seus próprios alunos a substituir com exercícios ritualísticos do "politicamente correto". Há muitos poucos livros teóricos sobre arte, literatura ou linguagem publicados hoje nos Estados Unidos ou na Europa que não abertamente reconhecem se débito com a Escola de Frankfurt.

A caça às bruxas nos campi de hoje é meramente a implementação do conceito de Marcuse de "tolerância repressiva" - "tolerância por movimentos de esquerda, mas intolerância por movimentos de direita" - reforçada pelos estudantes da Escola de Frankfurt, agora tornando-se professores de estudos femininos e afro-americanos. O mais erudito portavoz dos estudos afro-americanos, por exemplo, Cornell West de Princeton, publicamente afirma que suas teorias são derivadas de Georg Lukacs. Ao mesmo tempo, a feiúra tão cuidadosamente nutrida pelos pessimistas da Escola de Frankfurt corrompeu nossos mais altos esforços culturais. Dificilmente se encontra uma ópera de Mozart que não tenha sido totalmente deformada por um diretor que, seguindo Benjamin e o IS.R., queira "liberar o sentido erótico". Você não pode pedir uma orquestra de Schönberg e Beethoven no mesmo programa e sustentar a integridade do último. E quando nossa alta cultura se torna impotente, a cultura popular se torna abertamente bestial. Uma imagem final: crianças americanas e europeias diariamente assistem filmes como Nightmare on Elm Street e Total Recall, ou programas de televisão comparáveis a eles. Uma cena típica em um deles terá uma figura emersa da televisão; a pele de seu rosto realisticamente descascar-se-á para revelar um homem ocultamente deformado por dedos de tesoura, dedos que começam a crescer a vários pés de tamanho e - de repente - a vítima é fatiada em tiras sangrentas. Isso não é entretenimento. Isso é uma alucinação profundamente paranoica do ácido LSD. O pior que aconteceu nos anos 1960 é hoje senso-comum (daily-fare, no original). Devido à Escola de Frankfurt e aos seus conspiradores, o Ocidente está em "maus lençois" (bad trip, literalmente: em má viagem) para fora do qual não é permitido escapar.

Os princípios através dos quais a civilização judaico-cristã ocidental foi construída não são mais dominantes em nossa sociedade; eles existem somente como um tipo de movimento subterrâneo (underground) de resistência. Se essa resistência for por fim submersa, então a civilização não sobreviverá - e, em nossa era de doenças pandemônicas incuráveis e armas nucleares, o colapso da civilização ocidental levará o mund todo ao inferno.

O caminho para fora [desse destino] é criar um Renascimento. Se isso soa grandioso, é não obstante o que se precisa. Um renascimento significa começar de novo; descartar o mal, o inumano e simplesmente estúpido, e voltar atrás, centenas ou milhares de anos, às ideias que permitem à humanidade crescer em liberdade e bondade. Uma vez que tenhamos nos identificado com aquelas crenças essenciais, podemos começar a reconstruir a civilização.

Por fim, um novo Renascimento depende de cientistas, artistas, compositores, mas, no primeiro momento, depende das pessoas aparentemente ordinárias que defenderão a centelha divina da razão em si mesmas e não tolerarão menos em outras. Dado o sucesso da Escola de Frankfurt e seus patrocinadores da Nova Idade das Trevas, seremos "impopulares". Mas nenhuma boa ideia foi alguma vez popular no início.

NOTAS

[1]Hippies Nazi-Comunistas dos Anos 1920

Uma quantidade enorme de filosofia e artefatos da contracultura americana dos anos 1960, mais o sem-sentido New Age de hoje, deriva de um experimento social em larga escala localizado em Ascona, Suíça entre 1910 e 1935. Originalmente uma área de resort para membros do culto de teosofia da Helena Blavatsky, a pequena vila suíça se tornou refúgio para todas as seitas ocultas, esquerdistas e racialistas do movimento New Age do início do século XX. Por fim da Primeira Guerra Mundial, Ascona estava indistinguível do que Haight-Ashbury mais tarde se tornaria, repleta de vendas de alimentos saudáveis, lojas de livros ocultistas vendendo o I Ching e o Naturmenschen, "Sr. Natureza" que caminharia com longos cabelos, miçangas, sandálias e mantos a fim de "retornar à natureza". A influência dominante na área veio de Dr. Otto Gross, um estudante de Freud e amigo de Carl Jung, que fez parte do círculo de Max Weber quando o fundador da Escola de Frankfurt, Lukacs, também era membro. Gross levou Bachofen ao seus extremos lógicos e, nas palavras de um biógrafo, "diz-se ter adotado a Babilônia como sua civilização, em oposição à da Europa judaico-cristã... se Jezebel não tivesse sido derrotada por Elija, a história mundial teria sido diferente e melhor. Jezebel era a Babilônia, religião do amor, Astarte, Ashtoreth; ao matá-la, o moralismo monoteísta judeu expulsou o prazer do mundo". A solução de Gross era recriar o culto de Astarte a fim de começar uma revolução sexual e destruir a burguesia e a família patriarcal. Entre os membros de seu culto foram: Frieda e D.H. Lawrance, Franz Kafka, Franz Werfel, o novelista que mais tarde foi a Hollywood e escreveu The Song of Bernadette; o filósofo Martin Buber, Alma Mahler, esposa do compositor Gustave Mahler, e mais tarde o contato de Walter Gropius, Oskar Kokoschka e Franz Werfel; entre outros. A Ordo Templis Orientalis (OTO), fraternidade ocultista estabelecida pelo satanista Aleister Crowley, teve sua única loja feminina em Ascona. É preocupante notar o número de intelectuais agora condecorados como herois culturais que foram influenciados pela loucura New Age em Ascona - incluindo quase todos os autores que se desfrutaram um maior rival na América nos anos 1960 e 1970. O lugar e sua filosofia figuram muito nas obras não apenas de Lawrance, Kafka e Werfel, mas também dos vencedores do prêmio Nobel Gerhardt Hauptmann e Hermann Hesse, H.G. Wells, Max Brod, Stefan George e os poetas Rainer Maria Rilke e Gustav Landauer. Em 1935 Ascona se tornou sede da anual Conferência Eranos de Carl Jung para popularizar o gnosticismo. Ascona também foi lugar de criação da maior parte do que chamamos agora de dança moderna. Foi QG de Rudolf von Laban, inventor da mais popular forma de notação de dança, e Mary Wigman. Isadora Duncan foi uma visitante frequente. Laban e Wigman, como Duncan, procuraram substituir as geometrias formais do ballet clássico por recriações de danças "cult" que seriam adequadas a ritualisticamente desenterrar as memórias raciais do público. Quando os nazistas vieram ao poder, Laban se tornou o maior oficial de dança do Reich, e ele e Wigman criaram o programa de dança ritual para os Jogos Olímpicos em Berlim de 1936 - que foram filmados pela diretora pessoal de Hitler, Leni Riefenstahl, antiga estudante de Wigman. A oculta e peculiar psicanálise popular em Ascona foi também decisiva no desenvolvimento de grande parte da arte moderna. O movimento Dada originou-se próximo de Zurique, mas todas suas primeiras figuras foram asconianos de mente e corpo, especialmente Guillaume Apollinaire, que foi fã particular de Otto Gross. Quando o "Dada de Berlim" anunciou sua criação em 1920, seu manifesto de abertura foi publicado na revista fundada por Gross. O documento primário do surrealismo também veio de Ascona. O doutor Hand Prinzhorn, psiquiatra de Heidelberg, trocou com Ascona, onde ele era amante de Mary Wigman. Em 1922, ele publicou um livro, "The Artwork of the Mentally Ill", baseado em pinturas se seus pacientes psicóticos, acompanhado de uma reivindicação analítica de que o processo criativo mostrado nessa arte era verdadeiramente mais liberado do que dos Antigos Mestres. O livro de Prinzhorn foi amplamente lido pelos artistas modernos da época, e um recente historiador chamou-o de "A Bíblia dos surrealistas".

[2]A Mudança do Paradigma New Age [Nova Era]

O trabalho de investigação original da Escola de Frankfurt dos anos 1930, inclusive o da "personalidade autoritária", foi baseado nas categorias psicanalíticas desenvolvidas por Erich Fromm. Fromm derivou estas categorias das teorias de J.J. Bachofen, um colaborador de Nietzsche e Richard Wagner, que afirmou que a civilização humana era originalmente "matriarcal". Esse período primordial de "democracia ginecocrática" e de domínio do culto da Magna Mater (Grande Mãe), disse Bachofen, foi submerso pelo desenvolvimento do "patriarcalismo" racional e autoritário, incluindo a religião monoteísta. Mais tarde, Fromm utilizou essa teoria para reivindicar que o apoio à família era evidência de tendências autoritárias.

Nos anos 1970, quarenta anos depois que ele proclamou primeiramente a importância da teoria de Bachofen, Erich Fromm da Escola de Frankfurt inquiriu sobre como as coisas desenvolveram. Ele listou sete "mudanças psico-sociológicas" que indicaram o avanço do matriarcalismo sobre o patriarcalismo.

- "A revolução das mulheres";

- "A revolução das crianças e dos adolescentes", baseado no trabalho de Benjamin Spock e outros, permitindo meios novos e infantis mais adequados para expressar a rebelião.

- Surgimento do movimento radical da juventude, que Bachofen abraça totalmente, em sua ênfase em grupos sexuais, queda da estrutura familiar e roupas e comportamentos unissexuais.

- Aumento no uso de Bachofen pelos profissionais para corrigir a análise sexual de Freud do relacionamento mãe-filho - isso faria do freudismo menos ameaçador e mais palpável à população geral.

- "A visão do paraíso consumista... em sua visão, a técnica assume a característica da Grande Mãe, uma [característica] técnica ao invés de natural, que cuida de suas crianças e as pacifica com uma canção de ninar interminável (na forma do rádio e da televisão). No processo, o homem se torna emocionalmente criança, sentindo-se seguro na esperança de que o peito da mãe sempre suprirá leite abundante, e de que as decisões não precisam mais serem tomadas pelo indivíduo".

[3]A Teoria da Personalidade Autoritária

A Escola de Frankfurt idealizou o perfil da "personalidade autoritária" como uma arma a ser usada contra seus inimigos políticos. A fraude está na afirmação de que as ações de uma pessoa não são importantes; antes, a questão é a atitude psicológica do autor - conforme determinado pelos cientistas sociais como aqueles da Escola de Frankfurt. O conceito é diametralmente oposto à ideia de lei natural e aos princípios legais republicanos sobre os quais os EUA foram fundados; É, na verdade, fascista, e idêntico à ideia de "crime de pensamento" descrito por George Orwell em seu 1984, e à teoria de "crime volitivo" desenvolvida pelo juiz nazista Roland Freisler no início dos anos 1930.

Quando a Escola de Frankfurt estava na sua fase abertamente pró-bolchevique, seu trabalho sobre personalidade autoritária era designado a identificar pessoas que não fossem suficientemente revolucionárias, a fim de que essas pessoas pudessem ser "reeducadas". Quando a Escola de Frankfurt expandiu sua pesquisa depois da Segunda Guerra Mundial na ordem do American Jewish Committee e da Fundação Rockefeller, seus propósitos não eram identificar o anti-semitismo; essa era meramente uma história coberta. Seu objetivo era medir a aderência às crenças centrais da civilização judaico-cristã ocidental, a fim de que essas crenças fossem caracterizadas como "autoritárias" e descreditadas. Para os conspiradores da Escola de Frankfurt, o pior crime era a crença de que cada indivíduo tinha uma razão soberana que poderia permiti-lo determinar o que é certo e o que é errado para toda a sociedade; assim, contar às pessoas que você tem uma ideia razoável com a qual elas deveriam se conformar é autoritário, é extremismo paternalista.

Dentro desses padrões os juizes de Sócrates e de Jesus estiveram corretos em condenar estes dois indivíduos (como, por exemplo, as afirmações de I.F. Stone no caso de seu "Julgamento de Sócrates"). É a medida de nosso próprio colapso cultural o fato de que essa definição de autoritarismo é aceitável para a maioria dos cidadãos e é livremente usada por operações políticas como a Anti-Defamation League e o Cult Awareness Network para "demonizar" seus inimigos políticos.

Quando Lyndon LaRouche e seus de seus colegas enfrentaram julgamento por conta de charges em 1988, LaRouche identificou que a acusação aconteceria sob a fraude da personalidade autoritária da Escola de Frankfurt, para clamar que as intenções dos réus eram inerentemente criminosas. Durante o julgamento, o advogado de defesa de LaRouche tentou demonstrar que a Escola de Frankfurt é a raiz da teoria conspiratória da acusação, mas foi anulado pelo juiz Albert Bryan Jr., que disse "não estou voltando aos anos 1930 ao abrir as afirmações ou o testemunho".