terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Rafael Lusvarghi está sob plano de extermínio na Ucrânia

Rafael Lusvarghi, voluntário brasileiro pela Novarrússia, preso pela SBU (serviço de segurança ucraniano) na primavera do hemisfério sul em 2016, está sujeito a ser assassinado na cadeia de Lukyanovsky

 
Três meses e meio preso pelos fascistas ucranianos está o soldado voluntário brasileiro Rafael Lusvarghi, cujo destino não importa para o governo brasileiro. As embaixadas brasileiras em Kiev (capital ucraniana) e Moscou, supostamente "anti-fascistas", não manifestaram ação alguma para proteger seu cidadão.

Neste período a vida do ex-combatente brasileiro corre gravíssimo perigo. Segundo as informações que se tem, Rafael está sob tortura e transferido para a prisão de Lukyanovsky, em Kiev, onde está sujeito a levar um sumiço por parte do governo neonazista ucraniano, financiado por Goerge Soros, junto com outro grupo de combatentes. Assim, em 23 de janeiro de 2017 ele foi severamente espancado, no dia seguinte, dia 24, teve sua perna quebrada. Ele também foi "posto na parede": ameaçado de morte, caso até 25/01 (no dia seguinte) ele não encontrar dinheiro. A alegação é que ele está sendo condenado por "matar ucranianos e estuprar ucranianas". A guarda e a administração do presídio não toma medidas para proteger Rafael, abandonando-o às torturas perpetradas pelo governo corrupto e desesperado de Kiev, sob presidência de Poroshenko, que se vê abandonado pela União Europeia e por Soros depois da derrota dos Clinton no governo americano, quem mantinha o projeto de financiar o governo ucraniano para criar uma guerra contra os russos. No Leste Europeu há milhares de tropas da OTAN desde o ano passado, que esperavam o aval de Hillary (que acreditava vencer as eleições) para iniciar uma guerra mundial atacando os russos.

... o brasileiro Rafael Fernandes Marques Lusvarghi era comandante do pelotão "Viking": em Donbass lutou em setembro de 2015, onde se converteu à Igreja Ortodoxa Russa e jurou lealdade ao Exército do Todo-Poderoso e foi ferido.

Foi detido pela SBU de Kiev em 6 de outubro de 2016: o avião em que estava foi ordenado pelo serviço secreto britânico a desviar da rota e pousar em Kiev, onde ele pôde ser preso pelo governo ucraniano. Ele ia para o leste europeu trabalhar em uma empresa de segurança, sem nenhum plano de reintegrar ao exercício das armas de novo.

De acordo com um de seus camaradas no Brasil, Raphael Machado, depois de ser ferido o ex-voluntário foi mobilizado, embora seu objetivo com a viagem tinha tão somente interesses profissionais e privados. "No início de 2016 Lusvarghi escreveu e-mails para muitos serviços privados de segurança a fim de trabalho. Ele recebeu vagas de muitos lugares diferentes. Seis meses depois ele recebeu uma mensagem de um grupo chamado "Omega Consulting Group". Ele respondeu ao serviço britânico. -- contou ao Tsargrad.

Assista ao vídeo para a NTV no site Antifaschist.
 
A presidente da União dos presos políticos e refugiados políticos na Ucrânia, Larisa Shesler, também acredita que seus amigos em Donbass subestimam as ações do SBU:
 
"Isso aconteceu porque subestimam os serviços do SBU. Eles não se dão conta de que até informações de participantes em missões humanitárias na LNDR (em Lugansky e Donbass) são enviados pelo governo secreto de Kiev a Interpol... nós estamos tomando as medidas cabíveis para livrar o Rafael, e a única maneira é extraditando-o de volta para o Brasil. Mas, infelizmente, até agora sem sucesso.

Rafael está abandonado pelo governo brasileiro, que não se manifesta para proteger seu cidadão. E com a justiça do governo de Kiev não há nada a fazer. Devido às dificuldades, a OSCE, as organizações humanitárias e a Cruz Vermelha devem ser acionados para alcançar o objetivo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Sunitas e xiitas: o mito dos ódios remotos e novo mapa do Oriente Próximo

Por Martí Nadal

elordenmundial.com-14/11/2016

O oriente próximo encontra-se afundado em uma guerra total entre as duas correntes do Islã? Investigar os conflitos da região é necessário para desfazer os relatos que desconectam a violência atual de eventos contemporâneos e em seu lugar associam a ódios étnicos ancestrais.

Sunitas e xiitas seguem lutando desde o cisma que dividiu os muçulmanos depois da morte de Maomé no ano de 632? Dando uma olhada no mapa dos conflitos da região, temos a impressão de que nos países onde convivem Sunitas e Xiitas, acabam se enfrentando sem remédio. Na Síria, o regime de Bashar al Assad, dominado pela maioria alauíta, um ramo distante do xiismo, enfrenta uma oposição formada majoritariamente por grupos islamitas sunitas. No Iraque, a caída do sunita Saddam Hussein elevou ao poder a maioria Xiita, que agora deve fazer frente a uma insurgência liderada pelo grupo terrorista Estado Islâmico nas regiões sunitas do país. E, no esquecido Yemen, os huties uma milícia pertencente ao ramo do xiismo, tem tomado a capital do país e desde janeiro de 2015 sofrem os bombardeios de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita. A tudo isso deve-se somar a guerra fria que protagonizam a República Islâmica xiita doIrã com a Arábia Saudita, bastião do fundamentalismo sunita, cujas disputas espalham-se por todos os campos de batalha do oriente próximo.

As divisões étnico religiosas do oriente próximo:fonte https://thesinosaudiblog.files.wordpress.com/2011/05/mid-east-religion.jpg

O sectarismo entendido aqui como um enfrentamento entre as distintas correntes do Islã é sem dúvida um componente vigoroso nos conflitos atuais, O auto denominado Estado Islâmico e suas pretensões genocidas tem convertido em habituais os ataques suicidas em bairros xiitas de Damasco, Bagdá ou Sanar, que tem deixado milhares de civis mortos. A isto se deve somar a proliferação de milícias xiitas que frequentemente molestam e aterrorizam aspopulações sunitas, antes controladas por grupos jihadistas. A retórica sectária também se assenta no atual alvoroço regional, promovido por clérigos e autoridades fundamentalistas e difundida através de cadeias por satélite e redes sociais. O teólogo e figura televisiva Yusuf al Qaradawi, que apresenta o programa mais popular da Al Jazeera, a cadeia mais vista do mundo árabe, tem acusado os alauitas de serem “mais infiéis que os judeus e cristãos”; por sua parte, outro célebre locutor da mesma emissora tem pedido em mais de uma ocasião a limpeza étnica de xiitas e alauítas sírios.

Respaldados por esta linguagem sectária, os meios ocidentais assumem que os conflitos na Síria, Iraque e Iêmen formam parte de uma guerra histórica de aniquilação étnica de onde os estados e as milícias se alinham em um grupo e outro dependendo de sua afiliação religiosa. Esta leitura etno-religiosa da violência que hoje sacode o oriente próximo é denominada ”relato dos ódios remotos” ( ancient hatreds, em inglês), porém, tal e como veremos, essa história é na realidade um mito.

O relato dos ódios remotos: da Iugoslávia ao Oriente Próximo

A origem desta teoria sobre conflitos étnicos perenes se encontra no final da Guerra Fria e não se tem aplicado só a sunitas e xiitas. O primeiro caso que se popularizou ocorreu depois da desintegração da Iugoslávia comunista. Autores como Samuel Huntington ou Robert Kaplan ajudaram a definir a guerra na Bósnia como um conflito plenamente étnico religioso entre croatas católicos, bósnios muçulmanos e sérvios ortodoxos. Também se construiu um relato sugerindo que o comunismo foi só um remendo transitório que unia alguns grupos étnicos que realmente seguem se odiando desde séculos atrás.

O colapso do forte governo central precipitou a violência, que só havia sido contida, porém nunca erradicada.

Hoje em dia, muitos artigos que pretendem explicar a violência atual entre sunitas e xiitas no oriente próximo seguem pautas similares.O relato geralmente se repete assim:depois de morrer o profeta Maomé, alguns muçulmanos consideraram que Abu Bakr amigo do profeta, devia ser o novo líder, enquanto que outros fiéis eram partidários de seu primo Ali.Os seguidores de Abu Bakr venceram e acabaram convertendo-se nos sunitas; os partidários da linha familiar de Ali, os xiitas, seriam derrotados, convertendo-se numa minoria freqüentemente perseguida dentro do islã.Nascia assim um ódio eterno e inalterável, agora desatado pela ausência de uma autoridade superior que os mantivessem unidos.

Em sua pretensão de responder a pergunta ‘’Porque matam-se sunitas e xiitas?, os meios ocidentais freqüentemente consideram as guerras na Síria e Iraque como de aniquilação étnica, com origem nas disputas sucessórias à morte de Maomé, na veneração de santos, nas interpretações distintas do Corão e demais diferenças doutrinais.O impacto dos eventos históricos e políticos contemporâneos são erroneamente descartados.

Em nenhum dos conflitos no oriente médio há só dois grupos definidos pela confissão religiosa.O intento de explicar de forma simples a violência por parte de alguns meios de informação a levado freqüentemente a reducionismos absurdos.Fonte: Chappatte (International New York Times).

As guerras que ocorrem no oriente próximo desde a 1.400 anos não são fruto de antipatias
sectárias, irracionais e intermináveis.Tais ódios não constituem o motor dos conflitos, mas sua consequência.O relato dos ódios remotos está baseado em conceitos errôneos, amplia inimizades sectárias e ignora os elementos geopolíticos e sociais e os interesses dos Estados do Oriente Próximo.

Esta teoria é herdeira do orientalismo clássico, que pressupõe que o oriental, o muçulmano, guia-se por sua identidade mais primária, a religião, em todos os aspectos de sua vida.Deste modo, os meios ocidentais tendem a buscar explicações étnicos e religiosos em conflitos que explodem por problemas socioeconômicos e políticos e que se espalham devido aos cálculos políticos interessados de potências exteriores.Os sírios não se levantaram contra Al Assad porque é alauíta nem o Irã saiu a seu resgate porque compartilham certas crenças.

A principal consequência dos relato dos ódios remotos é a construção em nosso imaginário de dois grandes blocos monolíticos e antagônicos constituídos por sunitas e xiitas.Não existem raízes nacionais, ideológicas, linguísticas ou socioeconômicas dentro destes dois grupos e pressupõe-se uma inimizade e um fervor religioso a indivíduos, à milícias e inclusive a países que na realidade carecem deles.

Rivalidade dentro da seita e alianças intersectárias

Em realidade, os países e milícias que os meios atribuem dentro do sunismo ou no xiismo não são nem comportam-se como blocos homogêneos e por utilizarem as duas seitas como as duas principais unidades de análises nas relações internacionais da região conduzirá a mais equívocos que a acertos.

Sunitas

Por um lado, o grupo sunita na realidade está repartido em três frentes visíveis.De entrada,a Wahabita Arabia Saudita exerce a liderança de um grupo de países que pretendem preservar o status quo regional.Junto a Riad caminham o governo secularista egípcio de Abdel Fatah al Sisi e as monarquias da Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Bahrein.Entre suas prioridades figura dizimar o expansionismo iraniano onde ele surge.Por isso que derrubar Al Assad, um fiel aliado de Teerã, é um de seus principais objetivos.Ademais, esses países viram as revoluções árabes de 2011 como um grave desafio à sua hegemonia.

Não obstante, os partidários do statu quo devem lidar com rivais dentro de sua própria seita.O pequeno reino do Qatar a anos vem exercendo uma política exterior potente, porém flexível, que a levado a se unir com os islamitas da Irmandade Muçulmana e Turquia.Esse grupo, que em teoria é ideologicamente próximo ao islamismo da Arábia Saudita, envolve uma de suas maiores dores de cabeça.A diferença de seus vizinhos, o Qatar percebeu as malogradas Primaveras Árabes como uma oportunidade para estender sua influência.É por isso que celebraram a caída do regime de Mubarak no Egito e a ascensão ao poder do islamita Morsi.Seu contínuo apoio a agora deposta Irmandade Muçulmana egípcia trouxe em 2014 a pior crise entre as monarquias do golfo:Arábia Saudita, os Emirados e Bahrein retiraram seusembaixadores da capital do Qatar.

Líbia é um caso que evidencia as fissuras dentro do denominado bloco sunita.O país é esmagadoramente sunita, todavia encontra-se profundamente dividido e afundado em uma guerra civil desde as revoltas populares e a operação da Otan que derrubaram Kadafi em 2011.Atualmente, Líbia está dividida entre dois governos.Por umlado, os Emirados e Egito dão apoio a um executivo secular a leste,enquanto Turquia e Qatar apoiam a um governo de tribunal islâmico emTrípoli.Líbia é a prova de que o aumento da violência tem menos que ver com brigas sectárias do que com cálculos geopolíticos de países vizinhos.

Estas dissonâncias também se evidenciaram durante o golpe de estado contra Erdogan no verão deste ano.Arábia Saudita demorou 15 horas para condenar a ação do exército e alguns meios têm acusado aos Emirados de financiar os responsáveis do fracassado golpe.Enquanto o Irã, que há anos luta indiretamente com a Turquia na Síria, foi o primeiro país a condená-lo.

Finalmente, existe um terceiro grupo dentro do sunismo que em realidade está composto por centenas de organizações que minam a suposta unidade sunita.Trata-se das numerosas milícias jihadistas que, apesar de receberem apoio logístico ou financeiro por parte dos Estados sunitas, seguem considerando esses regimes ilegítimos.A relação entre os governos e os grupos jihadistas deve entender-se mais como de benefício mútuo e não baseada numa concepção similar de religião.O Estado Islâmico, por exemplo, dedica mais tempo e recursos a derrotar outros grupos rebeldes sunitas que a lutarem contra Al Assad.

Apesar dos evidentes sentimentos sectários que possuem, esses grupos são capazes de ações pragmáticas para perseguir seus interesses.Em2016, o ex-chefe dos serviços secretos israelenses admitiu que seupaís ajudou aos jihadistas da Frente AL Nusra, filial da Al Qaeda emSíria, e nas colinas de Golan.Esta assombrosa aliança obviamente não é baseada em um sentimento de afinidade, porém em interesses comuns, neste caso, arrebatar posições chaves à milícia libanesa Hezbollah, que combate junto ao governo sírio e envolve um dos maiores riscos para a segurança de Israel.

Xiitas

O denominado grupo xiita tampouco está isento de dissonâncias.Recentemente popularizou-se a expressão ‘’meia lua xiita’’ para se referir a aliança entre Hezbollah, Síria, Iraque e Irã.Embora certamente esses atores são estreitos aliados, os motivos dessa união não devem se buscar em simpatias dogmáticas.A coalizão original entre o regime laico, baathista e pan árabe da Síria com a teocracia persa do Irã nunca se á baseado no credo, mas que é herdeira da suposta ameaça comum do regime laico, baathista e pan árabe de Saddam Hussein.

A rivalidade entre Arábia Saudita e Irã que se espalha por todo oriente próximo não baseia-se em diferenças religiosas surgidas depois da morte de Maomé, mas nos interesses regionais opostos.Fonte: Kal (The Economist).

É comum também reduzir os alauítas ou os zaides a um ramo do xiismo, porém seus credos ortodoxos são bastante distintos do xiismo majoritário.Em realidade, as crenças dos alauítas tem permanecido ocultas durante séculos aos principais clérigos do xiismo.Não foi até 1948, quando os primeiros estudantes alauítas assistiram pela primeira vez a seminários religiosos na cidade iraquiana de Nayaf, centro da teologia xiita.Os alunos foram insultados e humilhados por suas crenças e, ao fim de pouco, a maioria deles voltaram à Síria.Recentemente um grupo de líderes religiosos alauíta emitiuum comunicado onde negavam sua condição de ‘’ramo do xiismo’’ com o objetivo de se distanciar do regime de Al Assad e do Irã.

Tampouco é estranho encontrar alianças entre grupos sunitas e xiitas que não se encaixam no molde do relato dos ódios remotos.Irã há décadas vem sendo o principal provedor do grupo islamico Hamas, e Al Qaeda e os Talibãs também colaboram com Teerã quando a sido necessário.Em Síria, grupos palestinos sunitas lutam junto com Al Assad e seu exército segue formado majoritariamente por sunitas; no Iraque várias tribos sunitas do oeste colaboram com Bagda para frear os terroristas do Estado Islamico.
Se bem é verdade que afinidades religiosas ou ideológicas podem ajudar na hora de costurar alianças e, sobretudo, justificá-las discursivamente, a geopolítica do oriente próximo segue regendo-se majoritariamente pelos interesses particulares dos estados.

Implicações políticas:um país para cada grupo étnico

Poderia parecer que o mito dos ódios remotos é simplesmente uma ocorrência devido a periodistas ou pretensos especialistas sem um conhecimento profundo da região, porém sua propagação não é inócua e tem consequências políticas.Bill Clinton, influenciado enormemente porum livro de Robert Kaplan, planejou a política estadunidense naguerra da Bósnia baseando-se na crença de que muçulmanos,católicos e ortodoxos massacram-se há séculos.Barack Obama também atua influenciado pelo relato dos ódios remotos entre sunitas e xiitas.Durante o último discurso sobre o estado da união, assegurouque parte da atual agitação no oriente próximo está ‘’originadaem conflitos de a milhares de anos’’ e em mais de uma ocasião manifestou sua preocupação pelos ódios entre países sectários.

A percepção de que os distintos grupos étnico religiosos não podem coexistir devido a ódios eternos é em primeiro lugar errônea e em segundo lugar perigosa.Por um lado, pretende negar qualquer suspeita de culpabilidade europeia e estadunidense sobre o estado atual da região.Dado que seguem lutando desde há milhares de anos, o apoio ocidental à ditaduras opressoras, a grupos rebeldes partidários de limpezas étnicas ou a calamitosa guerra do Iraque que oxigenou o sectarismo, não são responsáveis do estouro sectário atual.

Também, a consolidada imagem dos orientais como seres movidos por paixões étnicas e religiosas propensos a se matarem implica outra grave consideração: a corrente -crescente- opinião que pede que o mapa do oriente próximo seja redesenhado baseando-se nas fronteiras de seita.Desde a invasão do Iraque, mas especialmente depois das revoluções de 2011, tem-se popularizado vários mapas que pretendem redesenhar as fronteiras da região para assim salvá-los desses ódios étnicos.Numerosos políticos e especialistas defendem o desmembramento do Iraque* e Síria*, apesar de que tais pretensões secessionistas não figuram nas agendas dos grupos sunitas, xiitas e alauítas.Esses cartógrafos amadores culpam o acordo Sykes-Picot, que partiu as províncias otomanas depois da Primeira Guerra Mundial, por todos os males na região.Em suas opiniões, o grande erro das potências coloniais foi criar Estados ‘’artificiais’’ onde as seitas e outros grupos étnicos mesclavam-se, impossibilitandoassim a concepção de um estado homogêneo para a Europa*.O que muitos desses artigos esquecem de mencionar é que a criação do Estado-Nação europeu se baseia em séculos de limpezas étnicas e genocídios culturais para atingir tal nível de uniformidade.

Em 2016, um tenente coronel do exército estadunidense , Ralph Peters, publicou versão do que deveria ser a região argumentando que, ‘’sem esta revisão considerável das fronteiras não conseguiremos um oriente próximo em paz’’.No entanto recentemente, o New YorkTimes publicou um mapa onde cortava 5 países em 14 pedaços.


Proposta de Ralph Peters https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/7/7c/Ralph_Peters_solution_to_Mideast.jpg


É ilusório pensar que a única via para a paz na região é colocar cada grupo étnico em sua própria caixa, fechada e separada das demais.A história do Oriente Próximo está atormentada de violência dentro das mesmas seitas; você só precisa ver países como Argélia, Líbia e Egito, que, apesar de não terem minorias xiitas relevantes, possuem um passado recente com abundante violência.Este artigo não pretende argumentar que qualquer tipo de modificação de fronteiras na região é prejudicial nem nega a existência da violência sectária.Sua intenção é evidenciar o perigo de que as políticas ocidentais na região estão baseadas nos mesmos princípios orientalistas de cem anos atrás, que reduzem a identidade e os interesses dos atores da região ao sectarismo levando a um ponto absurdo.Paradoxalmente, o uso do prisma sectário conduz a políticas sectárias.Estabelecer cotas de poder confessionais, como no Iraque, ou fazer um país para cada etnia só implica a criação de novas minorias ao qual negaram-lhes a plena consideração de cidadãos por não pertencerem à nação.

Tradução: Elvis Braz Fernandes