domingo, 30 de agosto de 2015

Sobre memórias geneticamente herdadas por ancestrais - existem memórias inatas?

No seriado Supernatural Memória, escrito por Bennet Joshua Davlin, Dr. Taylor Briggs, que lidera pesquisas em memória, examina um paciente encontrado próximo da morte na Amazônia. Enquanto checava o paciente, Taylor é acidentalmente exposto a uma droga psicodélica que ativa memórias de um assassino que cometeu assassinatos muitos anos antes que Taylor tivesse nascido. O assassino era seu ancestral. As memórias de Taylor, apesar de serem memórias de acontecimentos que Taylor nunca experienciou, são bem detalhadas. Elas contêm o ponto de vista do seu ancestral e todo o cenário visual experienciado pelo assassino.

Embora o filme seja sobrenatural, traz à tona uma questão interessante. É possível herdar as memórias de nossos ancestrais? A resposta não é preto no branco. Depende do que estamos significando com "memória". A história do filme é muito buscada: não há evidência ou teoria científica crível que sugere que podemos herdar memórias de episódios específicos de acontecimentos que nossos ancestrais experienciaram. Em outras palavras, é bem improvável que você de repente se lembre do dia do casamento de seu tataravô ou do parto da sua tataravó.

Mas a ideia de herança ou memória genética de um tipo distinto tem um grau de plausabilidade. Há muitos tipos distintos de memória. Memória episódica é memória de acontecimentos específicos, tais como sua memória da sua última festa de aniversário. Memória semântica é memória de informação que é apresentada como um fato, por exemplo, o fato de que Obama é o atual presidente, que "ranariano significa um tipo de sapo, ou que 31 é um número primo. Finalmente, memória procedural é memória de como fazer coisas, por exemplo, sua memória de como nadar ou trocar uma lâmpada.

É controverso que a memória procedural pode ser herdada. Bebês sabem como chupar sem serem ensinados a isso. Isso é um tipo de memório procedural, e é claramente genético. A controvérsia central e muito mais controversa é a questão de se a memória episódica e a semântica podem ser herdadas. A memória semântica parece ser o candidato, pelo menos parcialmente, mais genético. Filósofos proeminentes, psicólogos e linguístas através da história já pensaram que a memória semântica não é sempre adquirida através do ensinamento. O grande e antigo filósofo grego, Platão, pensou que as almas que não são instanciadas em um corpo humano são parte de um céu platônico. No céu platônico, as almas adquirem ideias universais platônicas (por exemplo, piedade, justiça, bondade moral). Quando uma alma é instanciada em um novo nascimento, o bebê aprende estes universais ao "olhar para trás" em direção ao véu da realidade física e encontrar as verdades na sua alma.

Car Gustav Jung, um psicoterapeuta suíço e psiquiatra fundador da psicologia analítica, é bem conhecido por sua teoria do inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo, diferente do inconsciente pessoal, é um tipo de memória genética que pode ser compartilhado por indivíduos com um ancestral comum da história. Enquanto não somos conscientes do inconsciente coletivo, pode influenciar nossas ações. Tomando um exemplo bem mundano, se nossos ancestrais tiveram uma crença de que o fogo era perigoso, essa crença pode ser parte de nosso inconsciente coletivo e influenciar como nos comportamos quando estamos próximos do fogo.

Jung encontrou esta teoria do inconsciente coletivo durante a psicanálise dos sonhos dos seus pacientes. Ele acreditou que o simbolismo que ele encontrou era proeminente nos sonhos dos seus pacientes, comumente marcas emprestadas de um ancestral histórico. Este tipo de simbolismo é um tipo de evento de sonho que é difícil de explicar por qualquer coisa na própria vida daquele que sonha.

Em tempos modernos, Noam Chomsky, um influente linguísta americano, é famoso por ter levado adiante uma teoria que tem um elemento de memória semântica genética como seu núcleo. Chomsky argumentou que os homens nascem com uma capacidade para a aquisição linguística que põe certas limitações sobre que tipos de línguas humanas são possíveis. As limitações que limitam que tipo de gramática uma língua humana pode ter são também algumas vezes referentes à "gramática universal". A gramática universal pode ser compreendida como uma rede de estruturas de linguagem herdada, que é comum a todos nós.

Como nossa memória semântica genética pode ser manifestada no cérebro? As memórias são armazenadas no cérebro na forma de redes neurais no córtex cerebral, a camada externa do cérebro. O cérebro deposita específicas proteínas ao longo das sinapses neurais que tornam os neurônios possíveis de se comunicar no futuro. Isso é também conhecido como "potenciação de longo prazo". Enquanto as proteínas são normalmente depositadas como um resultado de aprendizado, é possível que algumas delas sejam codificadas pelo código genético.

Mas se, na verdade, há algo como memória semântica, qual parte do genoma humano a codifica? Nós realmente não sabemos. O que sabemos é que não temos ainda descoberto o propósito de muitos segmentos de código genético. Alguns desses segmentos podem conter informação de memória semântica.

Há alguma evidência de pessoas que nascem sem um dos sentidos que ainda têm habilidade para formar imagens visuais que representam a falta de informação sensorial. Por exemplo, pessoas que sempre foram cegas, de nascimento, reportam imagem visual. Não podemos confirmar que o que elas reportam como imagem visual seja realmente visual. Para confirmar isto deveríamos investigar se há atividade neural nas áreas visuais do cérebro quanto a estes assuntos, no momento em que reportam estas imagens visuais. Mas é ainda um projeto para o futuro.

sábado, 29 de agosto de 2015

Estudo aponta: mulheres são lésbicas porque não conseguem namorados


Mulheres tendem a ser homossexuais quando não conseguem transar com homens, aponta um estudo feito por Elizabeth McClintock, da Universidade de Norte Dame, na Indiana.

A doutora McClintock disse que as mulheres tendem menos ao bissexualismo se encontram facilmente um parceiro masculino. Ela disse: 'Mulheres que têm sucesso em conseguir um parceiro masculino, como é esperado tradicionalmente, nunca explorará atração por outras mulheres. No entanto, mulheres que possuem as mesmas tendências sexuais (heterossexuais, N. B.), mas são menos favorecidas, terão grande oportunidade de experimentar parceiros do mesmo sexo (relações homossexuais, N. B.).'

Parece, então, que as mulheres incapazes de conseguir namorados se tornam lésbicas. O estudo descobriu que as mulheres menos atrativas tendem a se tornar lésbicas.
 
O estudo conclui: A análise mostrou que mulheres atrativas tendem a se considerar puramente heterossexuais.

Além disso, o estudo falou sobre mulheres que voltaram atrás em sua orientação sexual, como um jogador de tênis que muda a raquete de mão a cada momento. É muito comum mulheres que passam a vida resmungando contra os homens, afirmando seu inabalável lesbianismo, até que alguns velhos carentes lhe deem uma cantada e imediatamente as transformam em donas de casa.

sábado, 8 de agosto de 2015

Ivan Ilyin sobre a Ortodoxia


O grande filósofo russo do século XX, Ivan Ilyin (1883-1954), atacado pela mídia ocidental depois que Putin o recomendou para seu governo, explica como a nação russa não foi forjada apenas através da guerra, mas também pelo amor e beleza divinos - a fé cristã ortodoxa. Abaixo, texto do filósofo.

A cultura espiritual nacional foi criada de geração em geração não por pensamento consciente nem por escolha arbitrária, mas por uma longa, integral e inspirada tensão de todo o ser humano; e sobretudo por um instinto inconsciente, forças noturnas da alma. Essas forças misteriosas da alma são capazes de criatividade espiritual apenas quando são iluminadas, enobrecidas, formadas e cultivadas pela fé religiosa.

A história não conhece um grande povo cultural e espiritualmente criativo que habitou na divindade. Mesmo os mais antigos selvagens tiveram sua fé. Caindo na descrença, as nações degeneraram e morreram. Que a elevação da cultura nacional depende da perfeição da religião é incompreensível.

Desde tempos imemoriais a Rússia foi uma nação cristã ortodoxa. Seu principal núcleo nacional-linguístico criativo sempre confessou a fé ortodoxa. (Ver, por exemplo, os dados estatísticos de D. Mendeleiev. Sobre a Sabedoria da Rússia. pgs. 36-41, 48-49. No início do século XX a Rússia contou com uma população em torno de 66% ortodoxa, em torno de 17% cristãos não ortodoxos e em torno de 17% de religiões não-cristãs - alguns 5 milhões de judeus e povos turco-tártaros). Eis porque o espírito da ortodoxia sempre definiu e continua definindo profundamente a criatividade nacional russa.

Pelos presentes da ortodoxia todos os povos russos viveram, educaram-se e encontraram salvação ao longo dos séculos. Eles foram todos cidadãos do Império Russo - tanto aqueles que esqueceram estes presentes quando aqueles que não os perceberam, renunciando e até mesmo blasfemando sobre eles; cidadãos pertencentes a outras confissões cristãs; e outros povos europeus além das fronteiras russas.

Precisaríamos de todo um estudo histórico para uma descrição exaustiva destes presentes. Posso apontá-los apenas com uma breve enumeração.

1. Toda básica composição da revelação cristã foi recebida pela Rússia do Leste Ortodoxo na forma da Ortodoxia, em línguas grega e eslava. "A grande revolução espiritual e política do nosso planeta é o cristianismo. Dentro desse elemento sacro do mundo desapareceu e foi renovado" (Pushkin). O povo russo experienciou esse elemento sacro do batismo e a investidura no Cristo, o Filho de Deus na Ortodoxia. Foi para nós o que foi para os povos ocidentais antes da divisão das igrejas; deu-as o que elas logo mais perderam, e o que nós preservamos; pois este espírito perdido eles começam agora a se voltar para nós, chocalhados pelo martírio da Igreja Ortodoxa na Rússia.

2. A Ortodoxia estabeleceu na fundação do ser humano a vida do coração (os sentimentos e o amor), e a contemplação derivando do coração (a visão e a imaginação). Aqui está a mais profunda distinção do catolicismo, que leva a fé da vontade para a razão, e do protestantismo, que leva a fé da razão para a vontade. Essa distinção, definindo a alma russa, permanece eterna; nenhuma "União", nenhum "rito oriental", e nenhuma atividade missionária protestante pode refazer a alma ortodoxa. Todo o espírito russo e todo o caminho foram feitos pela Ortodoxia. Aqui está o porque de que quando o povo russo cria, busca ver e expressar o que ama. Esta é a base do ser e da criatividade nacional russa. Eles foram fundados pela Ortodoxia e cingidas pelo eslavismo e pela natureza da Rússia.

3. Na esfera moral, isto deu ao povo russo um sentido vivo e profundo de consciência; um sonho de retidão e sacralidade; uma acurada percepção do pecado; o presente de um arrependimento que renova; a ideia da catarse ascética; e um agudo senso de "verdade" e "mentira", bem e mal.

4. Por isso o espírito de piedade e fraternidade popular, sem-castas, supranacional tão característico do povo russo, a simpatia pelo pobre, pelo fraco, doentes e oprimidos, e até mesmo criminosos (vejam, por exemplo, no Diário de um Escritor de Dostoievsky de 1873, Artigo III "Ambiente" e Artigo V "Vlas"). Por isso nossos mosteiros e tsares que amam os pobres; por isso nossos hospícios, hospitais e clínicas criadas com doações privadas.

5. A Ortodoxia cultivou no povo russo esse espírito de sacrifício, servidão, paciência e lealdade, sem o que a Rússia nunca teria resistido a seus inimigos nem construído uma morada terrena. No curso de toda a história, os russos aprenderam a construir a Rússia "beijando a cruz" e a basear-se sua força moral na oração. O presente da oração é o melhor presente da Ortodoxia.

6. A Ortodoxia afirmou a fé religiosa sob liberdade e seriedade, conectando-as em uma só; com esse espírito informou-se a alma russa e a cultura russa. As missões ortodoxas trouxeram pessoas "ao batismo" "através do amor", e de nenhum modo através do medo (Da instrução do Metropolita Makário ao Arcebispo Gury em 1555. As exceções só confirmam a regra básica). Por isso vem da história russa precisamente aquele espírito de tolerância religiosa e nacional que os cidadãos russos de outras confissões e religiões valorizam por seu mérito apenas depois das perseguições revolucionárias da fé.

7. A Ortodoxia trouxe ao povo russo todos os presentes do sentido cristão de justiça - uma vontade para a paz, para a fraternidade, justiça, lealdade e solidariedade; um sentido de dignidade e categoria; uma capacidade para o auto-controle e respeito mútuo; em uma palavra, tudo o que pode levar o mais perto dos mandamentos de Cristo.

8. A Ortodoxia nutriu na Rússia o sentido de uma responsabilidade cidadã, aquela de um oficial diante do Tsar e de Deus, e acima de tudo consolidou a ideia de uma monarquia, clamada e ungida, que serviria a Deus. Graças a isto os governadores tirânicos na história russa foram uma completa exceção. Todas as reformas humanas na história russa foram inspiradas ou sugeridas pela Ortodoxia.

9. A Ortodoxia russa fielmente e sabiamente resolveu a mais difícil tarefa com a qual a Europa Ocidental quase nunca lidou - encontrar uma correta correlação entre a Igreja e o poder secular, um apoio mútuo sob lealdade mútua e sem usurpações.

10. A cultura monasterial ortodoxa deu à Rússia não apenas tropas de homens retos. Deu a ela crônicas, i.e. estabeleceu uma fundação para a historiografia russa e para a consciência russa. Pushkin expressou isso assim: "Somos obrigados perante os monges por nossa história, e consequentemente por nossa iluminação" (Pushkin, Notas Históricas de 1822). Nós não podemos esquecer que a fé ortodoxa foi desde muito considerada como o verdadeiro critério de "russidade" na Rússia.

11. A doutrina ortodoxa sobre a imortalidade da alma de uma pessoa (perdida no protestantismo contemporâneo, interpretando a "vida eterna" não no sentido de imortalidade da alma, que é vista como mortal); sobre a obediência às autoridades superiores por uma questão de consciência; sobre a paciência e a entrega da vida "por seus amigos" deram ao Exército Russo todas as fontes de seu conquistador espírito cavalheira e individualmente destemido e sacrificial, que desenvolveu em suas guerras históricas e especialmente no ensinamento da prática de Alexandr Surovov - e foi frequentemente reconhecido por grandes capitães inimigos (Frederico o Grande, Napoleão, etc.).

12. Toda a arte russa derivou da fé ortodoxa, no início nutrindo seu espírito de contemplação profunda, crescente oração, livre franqueza e responsabilidade espiritual (vejam "O que, ultimamente, é a essência da poesia russa?" e "Sobre o lirismo de nossos poetas" de Gogol; vejam meu livro Fundamentos da Arte. Sobre a Perfeição na Arte). A pintura russa veio do ícone; a música russa foi inspirada pelos cantos da Igreja; a arquitetura russa veio do trabalho das catedrais e monastérios; o teatro russo nasceu dos "atos" dramáticos sobre temas religiosos; a literatura russa veio da Igreja e das obras monásticas.

Por acaso foi tudo enumerado aqui, tudo mencionado? Não. Ainda não falamos dos anciões ortodoxos; das peregrinações ortodoxas; do significado da língua Antiga Eslavônica Ortodoxa; da escola ortodoxa e da filosofia ortodoxa. Mas tudo o que é ainda impossível exaurir.

Tudo isso forneceu a Pushkin a base para estabelecer a seguinte e inquebrantável verdade: "A confissão grega, separada de todas as outras, nos dá um caráter nacional especial" (Notas Históricas, Pushkin, 1822). Este é o significado cristão ortodoxo na história russa. Assim é como essas perseguições selvagens e nunca expostas contra a Ortodoxia, que agora endurece com os comunistas. Os bolcheviques entendem que as raízes do cristianismo russo, o espírito nacional russo, da honra e consciência russas, a unidade estatal russa, a família russa, e o senso de justiça russo - são estabelecidos em nome da fé ortodoxa, portanto tentam desenraizá-la.

Na luta com tais tentativas, o povo russo e a Igreja Ortodoxa trouxeram toda uma tropa de confessores, mártires e santos mártires; e ao mesmo tempo eles restauraram a vida religiosa da era das catacumbas em todo lugar - nas florestas, nas ravinas, nas vilas e cidades. Por vinte anos o povo russo aprendeu a concentrar-se em silêncio, limpar-se e forjar suas almas diante da face da morte, orando em sussurros e organizando a vida da Igreja em perseguições, fortalecendo-a em segredo e silêncio. E no momento, depois de vinte anos de perseguição, os comunistas tiveram que admitir (no inverno de 1937) que um terço dos residentes em cidades e dois terços da população nas vilas continuam abertamente a acreditar em Deus. E quantos dos que restaram ainda acreditam e rezam em segredo?

As perseguições estão despertando dentro do povo russo uma nova fé, uma força plena toda nova e um novo espírito. Corações sofridos restauram sua contemplação antiga e religiosa. E a Rússia não apenas não deixará a Ortodoxia, mas seus inimigos no Ocidente esperam, mas serão fortalecidos nos fundamentos sacros do seu ser histórico.

As consequências da revolução superará suas causas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Os EUA podem impedir uma guerra contra a Rússia?


por Jack Hanick
Os Estados Unidos tendem a uma guerra contra a Rússia. Alguns chamam esta nova situação de "aumento de hostilidade" ou "Guerra Fria II". Há dois lados nesta história. Penso que os jornalistas estadunidenses de todas as convicções geopolíticas não estão oferecendo análises críticas. Compreender o lado russo e tomar seriamente seus argumentos podem ajudar a prevenir sérias consequências.

Os estadunidenses (o povo) acreditam que os russos são alimentados por propaganda feita pela mídia controlada pelo Estado. Se os russos (o povo) só pudessem ver a verdade, eles pensam, eles adotariam a posição dos EUA. Isto não é verdade. Há mais que 300 estações de televisão disponíveis em Moscou. Apenas 6 são controladas pelo Estado. A verdade é que os russos preferem ouvir as notícias do Estado ao invés aquelas da internet ou de outras fontes. É diferente de quase qualquer outro país do mundo. Não é a Coreia do Norte, onde as notícias são censuradas. Cada noite durante a crise da Crimeia, qualquer um poderia assistir a CNN ou a BBC meterem pau na Rússia.

Com relação à Ucrânia, a Rússia desenhou uma linha vermelha: nunca permitirá a Ucrânia ser parte da OTAN. A Rússia vê os EUA como o agressor, rodeando a Rússia com bases militares na Europa Oriental em todas as oportunidades desde o colapso da União Soviética. Os EUA veem a Rússia como o agressor contra seus vizinhos. Um pequeno passo em falso poderia levar à guerra. Agora a guerra não será mais "lá". Os bombardeiros russos voando para a Califórnia em 4 de julho claramente demonstram isso. Os russos compreendem que os EUA nunca lutaram uma guerra em sua própria terra desde a guerra civil. Se novas hostilidades começarem, a Rússia não deixará a guerra ser à distância, na qual os EUA disponibilizam as armas e os conselheiros, deixando que os outros "de botas no chão" combatam. A Rússia levará a guerra para os EUA. Como chegamos a este ponto crítico em tão pouco tempo?

Primeiro, algum retrospecto. Fui à Moscou há dois anos e meio. Fui à Rússia para construir um canal de notícias não-governamental com visões editoriais consistentes com a Igreja Ortodoxa Russa. Completei a missão e retornei ao Ocidente. Vejo dois lados desse conflito e, a menos que haja mudança de pensamento, o resultado será catastrófico. Quando cheguei, a relação entre os EUA e a Rússia pareciam normais. Como americano, minhas ideias foram aceitas, mesmo buscadas. No momento, o sr. Obama planejava atacar o exército de Assad na Síria por ter cruzado a "linha vermelha" em busca de armas químicas. A Rússia interveio e persuadiu a Síria a destruir suas armas químicas. O sr. Putin ajudou o sr. Obama salvar o rosto e não fazer uma mancada ainda maior na Síria. Logo depois, o sr. Putin escreveu um editorial publicado no The New York Times, no qual foi em geral bem recebido. As relações pareciam estar no seu curso normal. Houve cooperação no Oriente Médio e a russofobia estava leve.

Então a Rússia passou uma lei que preveniu a propaganda sexual para menores de idade. Foi o início das tensões. O lobby LGBT no Ocidente viu esta lei como anti-gay. Não foi isso que eu vi. A lei foi uma cópia direta da lei inglesa e foi tencionada a prevenir a pedofilia, não se referindo a relações entre adultos. Relações gays na Rússia não são ilegais (embora não sejam aceitas pela maioria do povo). Com relação aos protestos gays, ficaram longe da visão das crianças. Vejo isto do mesmo modo que vimos nos EUA crianças serem distanciadas de ver filmes marcados com "R". A punição por quebrar esta lei é um tanto menos que $100. Estacionamento duplo em Moscou é mais pesado: $150. Não obstante, a reação estava generalizada contra a Rússia.

O boicote das Olimíadas de Sochi foi o modo do Ocidente de descreditar a Rússia. A Rússia viu este boicote como um ato agressivo feito pelo Ocidente para interferir em suas políticas internas e ridicularizar a Rússia. Sochi foi para os russos uma grande fonte de orgulho nacional e não teve nada que ver com política. Para o Ocidente, isso foi o primeiro passo para criar a narrativa de que a Rússia era a antiga repressora União Soviética e que a Rússia deve ser parada.

Então vieram as revoluções coloridas na Ucrânia. Quando o presidente da Ucrânia foi derrubado (Yanukovich), do ponto de vista russo foi um golpe organizado pelo Ocidente. A derrubada de um presidente democraticamente eleito sinalizou que o Ocidente estava interessado em uma expansão de poder, não em valores democráticos. As conversações vazadas da Secretária Assistente de Estado, Victoria Nuland, e o Embaixados estadunidense, Geoffrey Pyatt, sugerem que os EUA estiveram ativamente envolvidos na mudança de regime na Ucrânia. Para a Rússia, os ucranianos são seus irmãos, muito mais que qualquer outro grupo. As línguas são similares; eles são ligados culturalmente e religiosamente. Kiev teve um papel central na cristianização da Rússia. Muitos russos têm membros familiares na Ucrânia. Para os russos, esta relação especial foi destruída por forças externas. Imaginem se o Canadá de repente se aliasse à Rússia ou à China. Os EUA certamente veriam isto como uma ameaça em sua fronteira e agiriam decisivamente.

Quando a União Soviética colapsou, do ponto de vista estadunidense, as fronteiras da Europa Oriental foram congeladas. Entretanto, no fim dos anos 1990, as fronteiras da Iugoslávia mudaram, dividindo o país ao meio. Os russos tinham aceitado o governo de Kiev sobre a Crimeia desde 1954, como um irmão confiável pode cuidar de uma propriedade da família. Mas quando este irmão não mais fazia parte da família, a Rússia quis a Crimeia de volta. A Crimeia também queria a Rússia de volta. Os crimeanos falam russo e estão atados com a herança russa de 300 anos. Do ponto de vista russo, foi um problema familiar que não interessa ao Ocidente, as sanções impostas foram vistas como agressão por parte do Ocidente para manter a Rússia no seu lugar.

As sanções separam a Rússia do Ocidente e a empurram para a China. O turismo chinês na Rússia bate os níveis recordes. Mais transações são agora estabelecidas diretamente entre o Rublo e o Yuan, sendo o dollar estadunidense um meio que já míngua. Embora o dollar permanece forte agora, é enganador. A China criou o banco banco AIIB para diretamente competir contra o FMI por poder bancário mundial, e os EUA estão tendo problemas em prevenir seus aliados de se juntar a ele. Esta é a primeira rachadura na dominação financeira dos EUA, como resultado direto das sanções.

Estamos nos movendo mais perto de uma guerra real. Os republicanos e os democratas falam em política externa com a Rússia. Quando todos os políticos estão de acordo, não há discussão de abordagens alternativas. Qualquer alternativa para o isolamento completo da Rússia e para a construção da OTAN em torno das fronteiras russas é um sinal de fraqueza. Qualquer alternativa para a construção militar é criticada como "apaziguamento", comparada à falida política externa do primeiro ministro britânico, Neville Chamberlain, com relação à Alemanha Nazista entre 1937 e 1939.

Os liberal-democratas historicamente são anti-guerra, mas não agora. Na República Tcheca houve o começo de um movimento anti-guerra quando a OTAN pôs seu armamento nas suas fronteiras. "Tanques, mas nenhum obrigado [Tanks but no thanks]" se tornou um coro. Os tchecos ficaram desconfortáveis com um músculo que flexionava rumo ao impasse. Apenas um só libertário, Ron Paul, elevou uma crítica da sabedoria dessa construção militar.

O erro que custará aos EUA muito caro é a hipótese de que a Rússia  tem as mesmas ambições que a União Soviética. A estratégia da Guerra Fria usada contra a União Soviética não pode ser repetida com os mesmos resultados. A União Soviética foi comunista e ateia. A Rússia moderna retornou às suas raízes cristãs. Há um renascimento na ortodoxia russa com mais de 25.000 novas igrejas construídas na Rússia depois da queda do comunismo. Em qualquer domingo, as igrejas são embaladas. Mais de 70% da população se identifica como cristã ortodoxa. Combinados este renascimento religioso com o renovado nacionalismo a Rússia cresce auto-confiante.

A ideologia marxista seguida pela União Soviética foi evangelista. Apenas quando todo o mundo tiver se tornado comunista é que os princípios marxistas teriam sido realizados. Quando as fazendas coletivas perderam seus fins, foi porque todo o mundo não era mais comunista, não porque a ideologia destruiu a iniciativa individual. Por esta razão, a União Soviética precisou dominar o mundo todo. Para a Rússia moderna, a dominação mundial não é o objetivo. A Rússia quer manter sua identidade russa e não perdê-la para forças estrangeiras.

A história russa é repleta de invasores tentando conquistar a Rússia Napoleão e Hitler são apenas os últimos exemplos. A Rússia sempre prevaleceu. Dirigindo do aeroporto, você pode ver exatamente o quão perto Hitler chegou de Moscou. Você também lembrou que foi aqui que ele foi parado. A Rússia está certa de que repelirá o novo invasor: a OTAN.

Uma guerra com a Rússia não pode ser vencida economicamente. O petróleo russo e uma abundância de recursos naturais ocupa o maior perímetro do mundo. Está crescendo em sua habilidade de substituir bens restritos [sancionados] do Ocidente. Uma guerra à distância usando o exército ucraniano não resolverá o problema.

Ainda há tempo de fazer um acordo. Mais sanções e mais isolamento do Ocidente não são o meio para resolver as diferenças. Os EUA articulando seu músculo militar não resolverá os problemas. A guerra não é a resposta, mas muito frequentemente na história se torna a única solução quando dois lados se recusam a ver o ponto de vista do outro.

via katheon