domingo, 22 de janeiro de 2012

Milhares nas ruas em apoio ao governo húngaro

"Não seremos uma colónia", ouviu-se em Budapeste
Foto: Bernadett Szabo/Reuters

Milhares de pessoas saíram à rua em Budapeste - o Governo fala em 400 mil, outros observadores falam em 100 mil - para manifestar apoio ao primeiro-ministro Viktor Orbán, duramente criticado na Hungria e na União Europeia por estar a promover uma reforma constitucional que reforça o controlo político sobre várias instituições do país.

PÚBLICO - Com cartazes em inglês e mensagens dirigidas sobretudo à União Europeia, pelo menos 100 mil pessoas participaram numa “marcha pela paz”, que na noite de sábado desfilou no centro de Budapeste, organizada pelo Fidesz, o partido do Governo. Na Hungria, as grandes manifestações são normalmente as protagonizadas pela direita, e esta foi a resposta a vários protestos contra as controversas leis adoptadas pelo Governo de Viktor Orbán que motivaram uma reacção da União Europeia.

A Comissão Europeia ordenou à Hungria que modifique a controversa legislação que considera pôr em perigo a independência do Banco Central, dos seus juízes e da autoridade de protecção de dados e adiantou que poderia ser instaurado um processo no Tribunal de Justiça Europeu. Entretanto, Viktor Orbán esteve na quarta-feira no Parlamento Europeu e garantiu que a questão poderá ser “resolvida rapidamente” e o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, adiantou ter recebido garantias de que a legislação seria alterada.

O primeiro-ministro húngaro deverá encontrar-se na terça-feira com responsáveis europeus para definir os detalhes dessas mudanças, e neste sábado contou com uma manifestação de apoio que juntou milhares de pessoas na Praça dos Heróis em Budapeste, para um desfile em direcção ao Parlamento.

“Chamo-lhe marcha pela paz, para mostrar ao Governo que não está sozinho e à União Europeia que não gostamos da forma como o está a tratar”, disse à BBC Zsolt Bayer, colunista com presença habitual em vários jornais e um dos organizadores da manifestação. Jornalista do diário Magyar Hirlap e um dos fundadores do partido de direita Fidesz de Viktor Orbán, que conta com maioria parlamentar de dois terços, Bayer distinguiu-se ainda no ano passado por ter defendido nos seus artigos posições anti-semitas. Chegou a referir-se aos judeus como “excrementos mal cheirosos” ou “ocupantes de Israel”, sublinhou o jornal isreaelita Jerusalem Post.

“Dizemos sim à Europa, mas não ao que a Europa está a fazer ao Governo da Hungria”, defendeu Bayer, numa mensagem de vídeo colocada na Internet pouco antes da manifestação. Um dos slogans do protesto, “Não seremos uma colónia”, foi repetido várias vezes pelo polémi o fundador do Fidesz em frente ao Parlamento.

O primeiro-ministro Viktor Orbán manteve-se afastado da manifestação, mas hoje um seu porta-voz, Peter Szijjarto, manifestou à agência noticiosa oficial MTI a sua satisfação: "Estamos muito satisfeitos por ver que tantas pessoas julgaram ser importante sair à rua para defender a Hungria", disse. "Foi um prazer ver que, com a maior manifestação da história da Hungria, o povo demonstrou que a coesão de larga escala das eleições de 2010, que permitiu renovar e reformar a Hungria, continua a existir", afirmou Szijjarto.

De acordo com sondagens recentes, 84% dos húngaros considera que o país caminha “numa má direcção”, e o Fidesz perdeu 1,5 milhões dos 2,7 milhões de eleitores que teve em 2010. Mas, apesar disso, o apoio à oposição não tem crescido. Cerca de 60% dos eleitores não consegue decidir-se por um partido.

A dimensão da manifestação deste sábado demonstra que o Fidesz continua a ser a principal força política no país, defendeu em declarações à Reuters o analista Zoltan Kiszelly. “Enviou uma mensagem aos parceiros do Governo no estrangeiro para pararem de tentar dizer o que se deve fazer”, adiantou.

A oposição deverá agora reagir a este protesto e para este domingo foi marcada uma manifestação contra o encerramento da rádio Klubradio, ligada à oposição, e que perdeu a licença de emitir, com o objectivo de defender o direito à liberdade de expressão, adiantou a Bloomberg. A partir de Fevereiro deverá deixar de emitir na capital e em grande parte do território.

A Hungria enfrenta uma grave crise económica e tem procurado obter um financiamento de 20.000 milhões de euros por parte da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. Mas essa negociação não será retomada antes de serem alteradas as leis que reforçam o controlo político sobre várias instituições, e que a Comissão Europeia exige que sejam alteradas.

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