Menos de duas horas depois do julgamento político que destituiu o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, nesta sexta-feira (22), por “mau desempenho de suas funções”, o vice-presidente Federico Franco assumiu o cargo, que deverá exercer pelos próximos nove meses, até a próxima eleição presidencial.
Franco tomou posse em uma sessão conjunta do Congresso, em meio a
aplausos, pouco mais de 90 minutos depois do impeachment de Lugo, que
foi encarado como um golpe pelo presidente afastado, por seus
partidários e pela comunidade de países sulamericanos.
Venezuela, Bolívia e Equador já anunciaram que não reconhecem Franco como presidente. Chile e Argentina.
Após prestar juramento, Franco recebeu a faixa e o bastão presidenciais. Em seu discurso de posse, Franco fez referência à morte de policiais no
confronto armado com sem-terra em Curaguaty, um dos motivos alegados
pela oposição para afastar Lugo. "A melhor maneira de honrar nossos policiais mortos é iniciar verdadeiro desenvolvimento rural sustentável", disse.
“Este compromisso só será possível com a ajuda e colaboração de todos
vocês. A única maneira de levar adiante é entendendo que o Paraguai deve
ser comandado por liberais e colorados, católicos e não católicos, e
integrantes de todos os movimentos sociais", disse.
Entenda o caso
Eleito presidente do Paraguai em 2008, interrompendo uma hegemonia de
seis décadas do Partido Colorado no poder, Fernando Lugo foi
derrubado nesta sexta-feira em um conturbado processo "relâmpago" de
impeachment.
Conhecido como o "bispo dos pobres" por seu histórico de liderança de
movimentos sociais quando era bispo da Igreja Católica, Lugo assumiu a
Presidência com uma ampla aliança. Porém, acabou governando sem maioria
na Câmara dos Deputados e no Senado.
Setores da oposição já tinham tentado, no passado, iniciar um
processo político contra o presidente quando ele assumiu a paternidade
de crianças geradas na época em que ainda era bispo, mas a iniciativa
não prosperou devido à discordância de forças políticas da própria
oposição.
Desta vez, o apoio do partido de seu vice-presidente, Federico
Franco, do PLRA (Partido Liberal Radical Autentico), foi decisivo para
que o processo de impeachment fosse iniciado. Lugo e Franco haviam
rompido sua aliança recentemente.
"Sem o apoio do PLRA Lugo ficou politicamente isolado", disse à BBC Brasil
o analista político Francisco Capli, da consultoria First Análisis y
Estudos. Para o analista político Alfredo Boccia, colunista de política
dos jornais paraguaios e médico particular de Lugo, "há muito tempo a
oposição buscava esse momento".
O que detonou a crise que levou à queda de Lugo?
Parlamentares da oposição acusam Lugo de ser responsável pelas mortes de 11 camponeses e sete policiais em um confronto, na última sexta-feira, na fazenda de Curuguaty, no Departamento (Estado) de Canindeyú, próximo à fronteira com o Paraná. A propriedade pertence ao empresário e político paraguaio Blas Riquelme.
Parlamentares da oposição acusam Lugo de ser responsável pelas mortes de 11 camponeses e sete policiais em um confronto, na última sexta-feira, na fazenda de Curuguaty, no Departamento (Estado) de Canindeyú, próximo à fronteira com o Paraná. A propriedade pertence ao empresário e político paraguaio Blas Riquelme.
Conflito em Curuguaty deixou 18 mortos e vários feridos |
Opositores sugeriram que o grupo armado EPP (Exército do Povo
Paraguaio) estaria envolvido na reação contra os policiais e teria
recebido apoio "disfarçado" de Lugo, segundo Boccia. Não existem, porém,
comprovações sobre a participação do EPP. A ocupação das terras foi
liderada pela Liga Nacional de Carperos (Liga Nacional de Acampados, em
tradução livre).
A disputa por terras se intensificou nos últimos meses com
líderes dos sem-terra pedindo uma revisão dos títulos de propriedade dos
fazendeiros - em muitos casos brasiguaios - sob argumento de que os
latifúndios foram distribuídos de forma ilegal durante o regime militar
liderado por Alfredo Stroessner (1954-1989).
A Constituição do país estabelece que o presidente pode ser
processado por "mau desempenho de suas funções, por delitos cometidos no
exercício de seus cargos ou por delitos comuns", daí o processo de impeachment.
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