Um ótimo artigo que prova que ainda não morreu no mundo a capacidade de se voltar a Deus, que acontece na simplicidade da vida e na disposição para descobrir o tesouro do silêncio, da introspecção e da oração. Segue, retirado de um site ortodoxo:
Vejo essas pinturas quase todos os dias... conheci sua história há um longo tempo e contei a muitas pessoas sobre ela... É hora de ocupar-se dela... E então, eu quase choro toda vez que as vejo.
Sim, sou sentimental, mas isso é diferente. Estas não são lágrimas penosas, mas doces. Talvez sejam só minhas fantasias, mas essas pinturas me fazem sentir um hálito DAQUELA vida. Não sei nada sobre aquela vida, mas quem desenhou essas pinturas soube. É um hálito de eternidade. Está aqui, diante das pinturas, onde eu posso sentir, como em mais nenhum lugar, que a morte não existe. Uma porta simplesmente se abrirá e terá luz e calor do outro lado. Você dará um passo, girar-se-á, sorrirá em um Adeus e vai para LÁ em direção a Deus... Haverá felicidade, silêncio e calmaria, e não haverá amargura, maldade nem doença. Lá tudo está bem e todos o amam e o esperam... Lá é sua morada...
É uma história muito triste, mas iluminada... A história sobre uma menina, a morte e Deus...e sobre um mistério irresoluto...
...Um dia, cinco anos atrás, levei minha filha mais velha Varenka para uma escola dominical na região da Igreja de Arcânjo Miguel em Troparevo pela primeira vez. Ela tinha três anos de idade.
Nós fomos para lá cedo. Estávamos muito preocupadas e aflitas pensando que tínhamos chegado tarde como todos os novatos. Tiramos nossos casacos e fomos para o corredor. Ninguém estava lá...Estava silencioso...Tateamos o disjuntor na parede e ligamos a luz. Vimos pinturas. Não eram desenhos, mas pinturas de fato, e havia muitas delas, talvez algumas dúzias. Nos aproximamos delas.
"Mãe, lembra das nossas leituras?" sussurrou Varya. "Veja, é Deus. Ó, e Theotokos. Ó, olha!, aqui é Zaqueu em uma árvore..." "Sim, sim, lembro" eu disse também em um sussurro, por alguma razão, embora estivéssemos a sós.
Toda a doutrina de Cristo foi desenhada com lápis de cor de uma forma muito bela e amável. Sim, sim. Eu até mesmo pensei então: "Incrível. É realmente a doutrina para as crianças. Ou para aqueles que não ouvem ou não podem ler. Até mesmo uma criança de três anos reconhece tudo"... Tudo que aconteceu no tempo de Jesus Cristo foi pintado tão cuidadosamente, passo por passo, sem perder um único detalhe. Em minha opinião de amadora, foi feito de um modo muito profissional. "Algum artista", concluí.
Enquanto isso, minha filha puxava minha mão para ir adiante: "Mãe, aqui eles estão afundando, mas Jesus salvará eles, não vai? Aqui um homem doente, mas esqueci quem é... Ó, aqui Ele está carregando a cruz. Está tão triste! Olha, ele está quase chorando". Nós fomos de uma pintura para outra e Varyushka comentava sem parar.
"Vocês gostam delas?" alguém disse atrás de nós. Estávamos tão fascinadas com as pinturas que não notamos quando uma mulher entrou. Mais tarde descobrimos que era uma professora das crianças da "pré-escola", chamada Ksenia Ivanovna. Logo passamos a amá-la muito.
"Incrivelmente, foi uma vida curta, mas tão completa!" ela disse depois de uma pausa. "Maravilho-me toda vez que vejo". "Por que curta?" retruquei. "Por que, vocês não sabem? Ah, vocês são os novatos", Ksenya Ivanovna sorriu tristemente. "Foi desenhado por uma menina. Ela morreu. Estas pinturas são presente dela para nós."
Puxei Varyushka para mais perto por algum motivo, "Como era o nome dela? Ela veio para cá?" "Não, ela não era daqui. Não sabemos no nome dela", Ksenya Ivanovna respondeu. "Nós sequer sabemos alguma coisa dela... alguns dizem que ela tinha quinze anos, outros dizem que tinha doze. Hoje ninguém mais se lembrará exatamente".
... Foi há muito tempo, quase vinte cinco anos se passaram. Serviços divinos tiveram então apenas retomado para manter depois de um período de desolação em nossa igreja. Um dia um homem veio e se dirigiu ao reitor da igreja, Padre Georgy Studenov. O homem pareceu ser o padre da criança. Ele trouxe uma pasta de papeis bem grande, na qual estavam estas pinturas.
"Ele disse que sua filha estava muito doente e morreu. Ela amava a Sagrada Escritura", o reitor lembra. "Ela pintava e pintava... ela pintou Deus e tudo o que leu sobre. Mesmo morrendo, ela continuava lendo e pintando". Depois de sua morte, seus pais decidiram dar as pinturas para a igreja, para a escola domincal. Depois, um pai de um estudante da escola, sendo um artista, fez molduras para as pinturas.
"Por que eles não ficaram com isso? Não sei... talvez, era dolorido demais para eles olhar para as pinturas", notou Padre Georgy. "Talvez eles tiveram esperanças de que o Senhor manteria sua filha viva, mas Ele julgou diferente. Eles rezaram para Ele, enquanto que os Anjos já carregavam sua alma pura para Ele, terna e alegremente".
O homem deixou seus contatos, mas infelizmente eles se perderam durante a restauração da igreja. Os seniores da escola disseram que tentaram encontrar sua família e sonhavam em falar com eles sobre esta menina maravilhosa e saber mais sobre ela. Eles perguntaram a todos sobre ela... "Mas, talvez, o Senhor desejou manter seu nome oculto para nós", disse Tatyana Borisovna (ela foi uma professora na escola antes). "Ainda assim, temos esperanças... embora muitos anos tenham se passado, ainda esperamos que alguém dos seus parentes ou conhecidos venham para nós algum dia..." confessou o Padre Georgy.
... Anos se passaram... as crianças da nossa escola cresceram. Alguns já trouxeram suas crianças para a escola. Todo novato, assim como eu naquele dia, param diante daquelas pinturas e perguntam: "Quem desenhou?" Então eles ouvem a história sobre a curta vida de uma criança que era plena de Deus. Tendo ouvido isto, todos caem em silêncio. Alguns escondem as lágrimas. Quase todo mundo começam a se afligir...
A menina há muito se fora, mas suas pinturas vivem. E de fato, ela não está morta. Ela apenas se foi do mundo, aquele que ela desenhou e pintou. Tendo retornado por um momento e sorrido, se foi para Deus... essas pinturas são seu sorriso compartilhado conosco... e tendo a felicidade do encontro com Deus, com Quem ela tanto amou...
via Pravmir
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