5 perguntas para Alexandr Dugin
1. Ataques recentes sobre você, especialmente vindos de Glenn Beck dos Estados Unidos, rotulam você de um racista fascista. Eu acredito que você seja um comunista conservador (comunista nacionalista) e antiracista - estou certo?
Dugin: Obviamente que eu não sou "racista fascista". Não sou fascista (terceira posição). Sou um convicto antiracista. Odeio o racismo como parte da ideologia liberal eurocêntrica e imperialista. A maioria dos ocidentais, inclusive os partidários dos Direitos Humanos - são definitivamente racistas no momento em que são universalistas e compartilham da visão da civilização do Ocidente moderno como forma normativa.
Eu defendo a pluralidade das civilizações, a ausência do padrão universal (ocidental) de desenvolvimento social. Fortemente me oponho a qualquer tipo de xenofobia e nacionalismo como construção artificial burguesa e essencialmente moderna.
Não sou comunista nem marxista porque recuso o materialismo de qualquer tipo e nego o progressismo. Assim, é melhor descrever meus pensamentos como a Quarta Teoria Política e como o tradicionalismo.
No nível de Relações Internacionais está traduzido o Teoria do Mundo Multipolar, baseado na visão da arquitetura pluralista do mundo fundamentado no princípio dos grandes espaços (Grossraum). Sou contra o capitalismo, desde que é um fenômeno essencial da modernidade.
Acredito fortemente que a modernidade está absolutamente errada e que a Tradição Sacra está absolutamente correta. Os EUA são a manifestação de tudo que eu odeio - a modernidade, a ocidentalização, a unipolaridade, o racismo, o imperialismo, tecnocracia, individualismo, capitalismo.
Estão nos meus olhos a sociedade do Anticristo. Os EUA me odeiam - repreendendo, pondo-me sanções (apenas por minhas ideias!), blasfemando, mentindo, organizando a difamação em escala global (Glenn Beck é apenas a mínima parte disso tudo).
Mas eu aceito tudo isso pacientemente. Se você está contra a modernidade é lógico que a modernidade está contra você.
2. Na sua Quarta Teoria Política você empresta muito das teorias ontológicas de Martin Heidegger em cujo ser é a pátria, uma teoria que permitiu o reembasamento do neo-fascismo depois da Segunda Guerra Mundial baseada no enraizamento do ser, e não da teoria do "racismo científico" dos nazistas. Essa ontologia dá suporte ideológico ao neofascismo e ao nacionalismo étnico.
Dugin: Eu não posso classificar Heidegger como "neofascista". Ele é simplesmente o maior pensador europeu do século XX. Analiso-o e considero-o como o fundador da Quarta Teoria Política.
Ele foi resolutamente antiliberal e anticomunista, mas também muito crítico do nacional socialismo. Ele deixou a base para uma filosofia política completamente nova que eu tento tornar explícita. Estou convicto de que necessitamos re-descobrir Heidegger, re-ler suas leituras para além de qualquer forma de classificações. Ele é um tipo de profeta metafísico.
3. Até mesmo o nacionalismo civil burguês sobre o modelo escocês oferece um meio melhor de tratar com contradições sociais como classe do que o nacionalismo étnico que simplesmente lida com o outro étnico. O nacionalismo civil oferece um quadro no qual um movimento socialista e comunista podem ser levados adiante. A Ucrânia ocidental é um exemplo de um nacionalismo étnico autodestrutivo.
Dugin: penso que o problema tem dois níveis. Primeiro - as sociedades orgânicas étnicas deveriam ser salvas da ditadura nacionalista modernista do tipo moderno. O eurasianismo é precisamente isto: um sacro império tradicional religioso e espiritual baseado em sociedades étnicas tradicionais orgânicas contra o Estado Nação burguês e contra a globalização (que é a universalização do padrão liberal em escala mundial). Aqui no primeiro nível o nacionalismo étnico pode ser considerado como parte legítima da luta pela liberação contra o imperialismo. Este é o caso dos escoceses (Welsh) que lutam hoje e que eu apoio.
Ademais: eu considero legítimo a vontade dos ucranianos de reafirmar sua identidade étnica. Mas uma coisa é afirmação de identidade e outra é a criação do novo Estado Nacional burguês que necessariamente oprimirá as minorias étnicas. Assim, o Estado Nacional - grande ou pequeno nunca é a solução.
Aqui estamos chegando ao segundo nível. A luta pela identidade étnica histórica é legítima se estiver no contexto correto. Este contexto deveria ser o sacro, o imperial, não o nacional. O Império Russo foi sacro.
Penso que o mito do Sacro Império do Rei Arthur pode ser considerado como um projeto celta para a unificação escatológica da Europa Ocidental. Era a ideia de Henrique VII que foi totalmente invertida pelo Henrique VIII. Então eu sugiro o Império do Dragão Vermelho como um tipo de visão Pan-Celta do grande espaço que deveria substituir o contexto do pequeno nacionalismo étnico.
O passado teve suas raizes na eternidade. E a eternidade é sempre nova e fresca. Assim eu considero Rei Arthur e o Santo Graal como ontologicamente reais.
O Império Inglês foi talassocrático e mercantilista, a nova Cártago. Isto foi anti-imperial - modernista, capitalista e racista. Estava errado não porque era um império, mas porque era um anti-império. Contra isto precisamos opor não somente luta étnica de liberação, mas a alternativa num Império continental e telurocrático. Irlandeses, galeses e escoceses, assim como bretões e francos deveriam criar sua própria visão de império. As figuras do Rei Ambigatos e do Rei Arthur podem ser tomadas como símbolos para isto.
Assim, a Primavera Russa, como é chamada, não é nacionalista. É um renascimento imperial e espiritual das raizes sacras da nossa identidade eurasiana - inclusiva e não exclusiva! Nós somos a Terceira Roma. É nosso projeto escatológico. Não um pútrido nacionalismo ou novo tipo de imperialismo, mas uma visão que recusa o pluralismo do império anglossaxão modernista global e aceita, por outro lado, a pluralidade dos espaços imperiais. Não queremos trocar a dominação americana pela dominação russa. Estamos lutando pela independência dos grandes espaços - eurasiano, europeu, celta, germânico, norte-americano, sul-americano, muçulmano, chinês, indiano, africano e assim por diante.
Então, o primeiro nível - luta anticolonial em base étnica; em segundo nível - visão positiva multipolar baseada no conceito de pluralidade dos impérios sacros (grandes espaços).
4. A teoria de conhecimento de Mao baseada sobre conhecimento através do agir (Sobre a Prática) e sua teoria de contradição (Sobre a Contradição) e marxismo, leninismo, maoísmo oferecem um rumo melhor para o conhecimento que o conhecimento intuitivo de Heidegger através do ser.
Dugin: Mao estava certo ao afirmar que o socialismo não deveria ser exclusivamente proletário, mas também camponês e baseado sobre tradições étnicas. É mais próximo da verdade que a versão universalista, industrial e internacionalista representada pelo trostkismo. Mas eu penso que a parte sacra no maoísmo se perdeu ou ficou por ser desenvolvida. Suas ligações com o confucianismo e com o taoísmo foram fracas. O maoísmo é moderno demais para mim. Para a Chiina seria a melhor solução preservar o socialismo e a dominação política do partido nacional-comunista (como hoje), mas desenvolver mais a tradição sacra - confucianismo e o taoísmo. É muito interessante o fato de que as ideias de Heidegger são atentamente exploradas agora por centenas de cientistas chineses. Penso que a Quarta Teoria Política poderia servir acima de tudo para a China contemporânea.
5. Maoísmo é o reembasamento mais bem sucedido do comunismo no século XXI. O que você pensa do marxismo, leninismo e maoísmo desenvolvido por Chairman Gonzalo no Peru, Ganapathy na Índia e de José Maria Sison nas Filipinas? Todas essas lutas foram sínteses de lutas nacionais e de classes e são lutas patrióticas.
Dugin: amplamente falando, sou muito a favor de tais tendências - antiimperialistas, anticapitalistas e direcionadas para a justiça social. Mas eu recuso o seu materialismo, universalismo e progressismo. Eles poderiam transformar em algo mais próximo da Quarta Teoria Política. A QTP é baseada no Dasein e na Tradição. A QTP recusa a hegemonia ocidental e a modernidade.Nós poderíamos colaborar com a esquerda e com a direita, com os maoístas e com os evolianos, mas sempre seguindo a própria visão.
Últimas palavras: eu aprecio muito os galeses, irlandeses, escoceses, bretões, pela luta de afirmação da profunda identidade celta. Sou um admirador da cultura e da história celta. Considero isto o grande tesouro da herança indo-europeia.Assim eu penso que o fronte celta é parte muito importante da nossa luta comum.
Traduzido por Portal Legionário via democracyandclassstrugle
Nenhum comentário:
Postar um comentário