Foram propostas inumeráveis definições do fascismo. A mais simples é, no entanto, a melhor: o fascismo é uma forma política revolucionária, caracterizada pela fusão de três elementos principais: um nacionalismo de tipo jacobino, um socialismo não democrático e o chamado autoritário à mobilização das massas.
Apesar de ideologia, o fascismo nasce de uma reorientação do socialismo em um sentido hostil ao materialismo e ao internacionalismo. Dirigindo-se a um eleitorado majoritariamente de direita, ele teve por promotores homens da esquerda. Nem o racismo nem o antisemitismo lhe são consubstanciais (Zeev Sternhell). Em suas encarnações concretas, foi modelado pelos acontecimentos históricos do início do século XX (Primeira Guerra Mundial, revolução soviética), pelo quadro geral da época (modernização da sociedade global) e pela natureza de seu eleitorado (essencialmente as classes médias, as vezes com compomente proletário).
A experiência das trincheiras junto ao desencanto pela técnica, descreveu muito bem Jünger, marcou um corte fundamental. Durante a Primeira Guerra Mundial a sociedade pareceu dividir-se em dois grupos: os combatentes e os outros. Retornados do frente, os primeiros tiveram o sentimento de ter conquistado direitos sobre aqueles outros que não tinham lutado.
Os combatentes acreditaram em uma sociedade onde as virtudes da guerra (coragem, espírito de camaradagem, disponibilidade permanente) reinariam também em tempos de paz. A retórica patriótica, quando ela se desenvolvia sobre o fundo da luta de classes, não poderia ser senão uma ilusão trabalhosa. Depois da Grande Guerra se viu, pela primeira vez, coincidir a exaltação nacionalista e o desaparecimento (relativo) das diferenças sociais. Enfim, é também com a Primeira Guerra Mundial que o espírito antidemocrático "deixa de buscar seus principais apoios no passado" (Georges Valois). Mescla explosiva. A revolução bolchevique, ao mesmo tempo, mostra que um movimento revolucionário pode chegar ao poder mobilizando as massas.
Ela introduz a ideia do homem novo e impõe um modelo de compromisso político de tipo sacerdotal. Um apostolado político. As formas tomadas pelo fascismo para conjurar a ameaça do comunismo serão formas miméticas: elas imitaram mais as do adversário do que puderam eficazmente combatê-lo (Ernst Nolte).
Por detrás de um discurso as vezes tradicionalista, entendido como arcaizante, o fascismo foi fundamentalmente modernista: ele alentou e sustentou todos os desenvolvimentos da ciência e da indústria, favoreceu a tecnocracia nascente, contribuiu para a racionalização da economia e a institucionalização do Estado-Providência. Na medida em que ele vislumbrava a abolição das classes sociais do século XIX, e que, por outro lado, ele tinha portado uma vontade de poder que não podia desdenhar nenhum dos úteis postos a sua disposição pela tecnocracia, ele não poderia atuar de outra maneira. Como Adormo e Horkheimer tinham já observado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, o fascismo, o comunismo e o New Deal representaram diferentes versões de um projeto de reconstrução social do Estado que estava chamado a desempenhar uma função principal na racionalização da economia e na reconfiguração das relações sociais. O fascismo se apoia no fundo sobre a trilogia moderna: Estado-Povo-Nação. Todo seu esforço está dirigido a tornar sinônimos estes três termos, que se separam hoje em dia.
Nascido sobre o signo do Fascio, o fascismo antes de tudo desejou aparecer. Assim quis reunir as classes sociais e as famílias políticas em outra época opostas para consolidar a unidade da nação. Esta foi por sua vez sua força e sua debilidade. Obsessivo pela unidade, foi centralizador.
Pretendendo conjugar o espectro da guerra civil, ele engendrou ódios absolutos, deixando como herança sequelas incuráveis. Seu jacobinismo, seu nacionalismo subjetivo, é fonte de todos seus fracassos: quem tende à unidade exclui necessariamente aquele que não se deixa conduzir à unidade.
É o espírito de comunidade, que marcou profundamente o fascismo, que não permite caracterizá-lo como próprio. Ele não deu senão uma versão particular. No fascismo, a ideia de comunidade está viciada pela convicção de que aquela deve ser animada e dirigida a partir do alto, em uma perspectiva estatista, enquanto que um verdadeiro espírito comunitário é incompatível com o estatismo.
O século XX foi sem dúvida o século dos fascismos e dos comunismos. O fascismo nasceu da guerra e morreu na guerra. O comunismo nasceu de uma explosão política e social e morreu de uma implosão política e social. Não pôde ter fascismo senão em um estado em processo de modernização e de industrialização, estado que pertence hoje ao passado, pelo menos nos países da Europa Ocidental. O tempo do fascismo e do comunismo está acabado. Na Europa do Oeste todo "fascismo" não pode ser hoje senão uma paródia. E o mesmo ocorre com o "antifascismo" residual, que responde a este fantasma com palavras ainda mais anacrônicas. É porque o tempo dos fascismos já passou que hoje é possível falar dele sem indignação moral nem complacência nostálgica, como uma das páginas centrais da história do século que acaba de terminar.
Apesar de ideologia, o fascismo nasce de uma reorientação do socialismo em um sentido hostil ao materialismo e ao internacionalismo. Dirigindo-se a um eleitorado majoritariamente de direita, ele teve por promotores homens da esquerda. Nem o racismo nem o antisemitismo lhe são consubstanciais (Zeev Sternhell). Em suas encarnações concretas, foi modelado pelos acontecimentos históricos do início do século XX (Primeira Guerra Mundial, revolução soviética), pelo quadro geral da época (modernização da sociedade global) e pela natureza de seu eleitorado (essencialmente as classes médias, as vezes com compomente proletário).
A experiência das trincheiras junto ao desencanto pela técnica, descreveu muito bem Jünger, marcou um corte fundamental. Durante a Primeira Guerra Mundial a sociedade pareceu dividir-se em dois grupos: os combatentes e os outros. Retornados do frente, os primeiros tiveram o sentimento de ter conquistado direitos sobre aqueles outros que não tinham lutado.
Os combatentes acreditaram em uma sociedade onde as virtudes da guerra (coragem, espírito de camaradagem, disponibilidade permanente) reinariam também em tempos de paz. A retórica patriótica, quando ela se desenvolvia sobre o fundo da luta de classes, não poderia ser senão uma ilusão trabalhosa. Depois da Grande Guerra se viu, pela primeira vez, coincidir a exaltação nacionalista e o desaparecimento (relativo) das diferenças sociais. Enfim, é também com a Primeira Guerra Mundial que o espírito antidemocrático "deixa de buscar seus principais apoios no passado" (Georges Valois). Mescla explosiva. A revolução bolchevique, ao mesmo tempo, mostra que um movimento revolucionário pode chegar ao poder mobilizando as massas.
Ela introduz a ideia do homem novo e impõe um modelo de compromisso político de tipo sacerdotal. Um apostolado político. As formas tomadas pelo fascismo para conjurar a ameaça do comunismo serão formas miméticas: elas imitaram mais as do adversário do que puderam eficazmente combatê-lo (Ernst Nolte).
Por detrás de um discurso as vezes tradicionalista, entendido como arcaizante, o fascismo foi fundamentalmente modernista: ele alentou e sustentou todos os desenvolvimentos da ciência e da indústria, favoreceu a tecnocracia nascente, contribuiu para a racionalização da economia e a institucionalização do Estado-Providência. Na medida em que ele vislumbrava a abolição das classes sociais do século XIX, e que, por outro lado, ele tinha portado uma vontade de poder que não podia desdenhar nenhum dos úteis postos a sua disposição pela tecnocracia, ele não poderia atuar de outra maneira. Como Adormo e Horkheimer tinham já observado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, o fascismo, o comunismo e o New Deal representaram diferentes versões de um projeto de reconstrução social do Estado que estava chamado a desempenhar uma função principal na racionalização da economia e na reconfiguração das relações sociais. O fascismo se apoia no fundo sobre a trilogia moderna: Estado-Povo-Nação. Todo seu esforço está dirigido a tornar sinônimos estes três termos, que se separam hoje em dia.
Nascido sobre o signo do Fascio, o fascismo antes de tudo desejou aparecer. Assim quis reunir as classes sociais e as famílias políticas em outra época opostas para consolidar a unidade da nação. Esta foi por sua vez sua força e sua debilidade. Obsessivo pela unidade, foi centralizador.
Pretendendo conjugar o espectro da guerra civil, ele engendrou ódios absolutos, deixando como herança sequelas incuráveis. Seu jacobinismo, seu nacionalismo subjetivo, é fonte de todos seus fracassos: quem tende à unidade exclui necessariamente aquele que não se deixa conduzir à unidade.
É o espírito de comunidade, que marcou profundamente o fascismo, que não permite caracterizá-lo como próprio. Ele não deu senão uma versão particular. No fascismo, a ideia de comunidade está viciada pela convicção de que aquela deve ser animada e dirigida a partir do alto, em uma perspectiva estatista, enquanto que um verdadeiro espírito comunitário é incompatível com o estatismo.
O século XX foi sem dúvida o século dos fascismos e dos comunismos. O fascismo nasceu da guerra e morreu na guerra. O comunismo nasceu de uma explosão política e social e morreu de uma implosão política e social. Não pôde ter fascismo senão em um estado em processo de modernização e de industrialização, estado que pertence hoje ao passado, pelo menos nos países da Europa Ocidental. O tempo do fascismo e do comunismo está acabado. Na Europa do Oeste todo "fascismo" não pode ser hoje senão uma paródia. E o mesmo ocorre com o "antifascismo" residual, que responde a este fantasma com palavras ainda mais anacrônicas. É porque o tempo dos fascismos já passou que hoje é possível falar dele sem indignação moral nem complacência nostálgica, como uma das páginas centrais da história do século que acaba de terminar.
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