domingo, 6 de setembro de 2015

Jihadistas chechenos deixam Síria e juntam-se a Kiev


 Não é de se surpreender: jihadistas do Estado Islâmico, grupo terrorista financiado pelos Estados Unidos e que saiu do controle de seus tentáculos (aqui, aqui e aqui), e que se opõem à Rússia nos confrontos chechenos, estão saindo da Síria e rumando para a Ucrânia (cujo governo também é financiado pelos Estados Unidos), onde se supõe com isto uma reunião de forças por parte da OTAN em uma possível Terceira Guerra Mundial. Com o exército de Assad tomando controle do território sírio, os terroristas são realocados para outro ponto de atuação: governo de Kiev, ou o Praviy Sektor, batalhão neonazista também financiado pela OTAN, e que também está saindo de controle do governo de Kiev. A reportagem abaixo se trata de uma entrevista a um terrorista jihadista que fala um pouco sobre o deslocamento de forças islâmicas para lutar pelo Ocidente, por aqueles que supostamente desejam destruir.
"Morte separatista", escrito na faca
 [Anna Nemtsova para o Daily Beast]Um batalhão de combatentes do Cáucaso é entregue a Kiev na Guerra da Ucrânia. Contudo, a sua presença pode causar mais estrago do que auxiliar.

MARIUPOL, Ucrânia – Apenas a uma hora de distância dessa cidade sitiada, em um antigo resort localizado no mar de Azov*, que hoje é uma base militar, militantes da Chechênia – veteranos jihadistas em suas próprias terras e, mais recentemente, na Síria – agora servem no que é chamado de Batalhão Xeique Mansur. Alguns deles afirmam terem sido treinados, pelo menos, no Oriente Médio junto a combatentes do conhecido Estado Islâmico, ou EI.

Em meio às forças desiguais que se alistaram na luta contra os separatistas da região oeste da Ucrânia, Donbass, apoiado pela Rússia, poucos são mais controversos e mais nocivos para a reputação da causa que eles dizem querer servir. O Presidente russo Vladimir Putin adoraria apresentar os combatentes que ele apoia como cruzados enfrentando perigosos jihadistas, ao invés do governo Ucraniano que pretende integrar intimamente o país com a Europa Oriental.

Ainda assim, muitos ucranianos patriotas, desesperados para conquistar terreno na luta contra as forças apoiadas pela Rússia, estão dispostos a aceitar os militantes chechenos para seu lado.

Ao longo do último ano, dezenas de combatentes chechenos cruzaram a fronteira da Ucrânia, alguns de maneira legal, outros de maneira ilegal, e em Donbass encontraram-se com o Pravyi Sektor, uma milícia de extrema-direita. Os dois grupos, com dois batalhões, possuem muito pouco em comum, mas eles compartilham um inimigo e compartilham essa base.

O Daily Beast conversou com os militantes chechenos sobre o seu possível apoio ao Estado Islâmico e os seus afiliados no Norte do Cáucaso, que agora é chamado de Estado Islâmico e Emirado do Cáucaso e é considerado uma organização terrorista tanto pela Rússia quanto pelos Estados Unidos.

Os combatentes chechenos declararam-se motivados com a chance de lutar contra os russos na Ucrânia, a quem eles chamam de “invasores do nosso país, Ichkeria”, outro termo para designar a Chechênia.

De fato, eles estavam aborrecidos com as autoridades ucranianas por não terem permitido a entrada de mais militantes chechenos vindos do Oriente Médio e das montanhas do Cáucaso. O batalhão Xeique Mansur, fundado em outubro de 2014, “precisa de reforços”, eles afirmam.

O homem que os chechenos deferem como o seu “emir”, ou líder, é chamado “Muslim”, um nome de batismo comum no Cáucaso. Ele relatou como cruzou a fronteira ucraniana no ano passado: “Levei dois dias para atravessar a fronteira ucraniana, e as autoridades que controlam a fronteira atiraram em mim,” ele disse. Ele vive tranquilamente nessa base militar, mas está indignado porque um número maior de seus recrutas não pode chegar até ali. “Três dos nossos chegaram vindos da Síria, e quinze ainda estão esperando na Turquia” ele disse ao Daily Beast. “Eles querem abraçar o meu caminho, querem juntar-se ao nosso batalhão agora mesmo, mas as autoridades que patrulham a fronteira ucraniana não estão deixando que eles entrem”.

Muslim mostrou um pedaço de papel com o nome de outro checheno que está vindo juntar-se ao batalhão. O bilhete escrito à mão relata que Amayev Khayadhzi foi preso na Grécia no dia 4 de setembro de 2014, e agora poderia ser deportado para a Rússia. (na Grécia, o advogado de Khayadhzi contou ao Daily Beast via telefone que há uma chance de seu cliente ser transferido para a França, onde está sua família).

“Outros dois amigos nossos estão presos e ameaçados de deportação para a Rússia, onde eles ficariam presos por toda a vida ou seriam mortos por Kadyrov”, Muslim contou ao Daily Beast, referindo-se ao aliado de Putin e presidente da Chechênia, Ramzam Kadyrov.

O comandante apontou a um jovem militante próximo a ele: “Mansur veio para cá da Síria”, disse Muslim. “Ele utilizou o EI como base de treinamento para aprimorar as suas habilidades em combate”. Mansur esticou a sua mão direita, que estava desfigurada, segundo ele, por um ferimento de artilharia. E outros dois projéteis continuam cravados em suas costas, ele relatou.

“Sem fotografias”, Mansur sacudiu negativamente a sua cabeça quando um jornalista tentou tirar uma foto sua. Nem de sua mão, e nem de costas: “Minha religião não permite isso”.

De fato, para demonstrar que são perigosos, armados, e que seu número estava crescendo, esses chechenos postaram uma fotografia na rede social russa Vkontakt, que em realidade é controlada pelo governo russo. Porém, muitos deles tiveram seus rostos censurados, provavelmente para evitar processos, seja na Rússia ou no Ocidente.

“Kadyrovtsy [Kadyrov] conhece meu rosto e minha mão muito bem”, Mansur explicou ao Daily Beast.

Mansur disse que não teve de correr ao longo da fronteira sendo alvejado por balas como Muslim. “Nós conseguimos chegar a um acordo com os Ucranianos”, ele relatou.

A chegada de combatentes chechenos pró-Ucrânia do estrangeiro ajudou a aliviar os problemas de imigração dos chechenos já residentes na Ucrânia, os militantes explicaram.

Kadyrov enviou alguns de seus chechenos para lutar no conflito ao lado dos russos no ano passado, disse Muslim, e como resultado “havia um risco temporário de algumas famílias chechenas serem deportadas da Ucrânia... mas desde quando nós começamos a chegar aqui em Agosto do ano passado, nenhum checheno vivendo na Ucrânia teria razões para reclamar”.

Os ex-combatentes da Síria estavam indo para a Ucrânia porque estavam desapontados (ou horrorizados) pela ideologia do EI?

“Nós estamos lutando contra a Rússia há mais 400 anos; hoje eles [os russos] explodem e queimam vivos os nossos irmãos, juntamente com suas crianças, então aqui na Ucrânia nós continuamos lutando nossa guerra,” disse o comandante. Muitos chechenos hoje na Ucrânia relembraram a guerra da Chechênia nos anos 90 como uma guerra pela independência, que foi reconhecida por um breve período, e depois revogada.

Desde então a guerra no Cáucaso transformou-se em terrorismo, vitimando aproximadamente mil civis, muitos deles crianças, em uma série de ataques terroristas. E independentemente do inimigo em comum, isso se apresenta como um sério problema para Kiev, se ela aceitar receber esses combatentes.

“O governo ucraniano devia estar ciente de que os islâmicos radicais lutam contra a democracia,” diz Varvara Pakhomenko, uma especialista do International Crisis Group. “Hoje eles aliam-se com os nacionalistas ucranianos contra a Rússia, amanhã eles estarão lutando contra os liberais.”

Pakhomenko disse que algo similar aconteceu na Geórgia em 2012 quando o governo de lá foi acusado de cooperação com radicais islâmicos da Europa, Chechênia, e do Pankisi Gorge, uma região habitada por chechenos na Geórgia.

Para os observadores internacionais cobrindo o terrorismo na Rússia e no Cáucaso nos últimos quinze anos, a presença de radicais islâmicos na Ucrânia soa de maneira “desastrosa”, disseram ao Daily Beast os membros do International Crisis Group.

Não obstante, muitos ucranianos e oficiais em Mariupol apoiam a ideia de contratar mais milicianos chechenos. “Eles são guerreiros corajosos, prontos para morrer por nós, eles são amados, e da mesma maneira serão todos aqueles que nos protegerem da morte,” relatou Galina Odnorog, um voluntário que abastece os batalhões com equipamento, água, comida e outros itens. Na noite anterior as forças ucranianas contabilizaram seis soldados mortos e mais de uma dúzia de feridos.

“EI, terroristas – qualquer um é melhor do que nossos líderes preguiçosos,” disse Alexander Yaroshenko, deputado do conselho legislativo local. “Eu me sinto mais confortável ao redor de Muslim e seus rapazes do que com o nosso prefeito ou governador.”

O batalhão do Pravyi Sektor, que coopera com os militantes chechenos, é uma lei em si mesmo, no que diz respeito às suas ações, e frequentemente está fora de controle, tendendo a incorporar qualquer um em suas fileiras, de acordo com a própria vontade. Em julho, duas pessoas foram mortas e oito ficaram feridas em uma batalha entre a polícia e o Pravyi Sektor, houve troca de tiros e granadas. Na segunda-feira, militantes do Pravyi Sektor provocaram batalhas nas ruas do centro de Kiev, deixando três policiais mortos e mais de 130 feridos.

Ainda assim, o governo de Kiev está considerando a transferência do Pravyi Sektor para uma unidade especial do SBU, o serviço de segurança ucraniano, o que fez com que muitas pessoas questionassem se a milícia chechena irá juntar-se às unidades do governo também. Até agora, nem o batalhão do Pravy Sektor nem o batalhão de milicianos chechenos estão registrados com as forças oficiais.

Na Ucrânia, que continua perdendo dezenas de soldados e civis toda semana, muitas coisas podem sair fora do controle, mas “seria inimaginável permitir que os atuais e os ex-combatentes do EI viessem a participar de qualquer unidade controlada ou apoiada pelo governo” diz Paul Quinn-Judge, principal conselheiro do International Crisis Group na Rússia e na Ucrânia. “Seria politicamente desastroso para a administração de Poroshenko: nenhum governo Ocidental em sã consciência aceitaria isso, e seria um enorme presente para a propaganda do Kremlin. O governo ucraniano estaria melhor servido promovendo as suas decisões para encaminhar o EI de volta para a fronteira”.

*N.T. – A autora refere-se ao tempo do trajeto percorrido de carro entre os dois lugares.

Traduzido por Maurício Oltramari e revisado por Portal Legionário

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