quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Conheça as meninas por trás das fotos de Nabi Saleh


"As fotos se tornaram virais. Isso é importante", disse Ahed Tamimi, 14 anos, "assim o mundo pode ver o que acontece". Ahed é a garota loura à esquerda na foto amplamente publicada de um violento confronto entre mulheres e crianças palestinas contra um soldado israelense na vila Nabi Saleh, Cisjordânia. No quadro Ahed está mordendo no soldado depois que ele a espancou no rosto. Desde que agora imagens não famosas foram primeiramente publicadas, Tamimis, e Ahed em particular, foram visitadas por multidões de jornalistas querendo saber como a família palestina se sentiu ao ver o pequeno Mohammed Tamimi, de 12 anos, também conhecido como Abu Yazan, despencou no chão.

Nas fotografias as garotas e as mulheres palestinas olham em pânico, e a expressão do soldado israelita é frenética. Abaixo dele está Abu Yazan, que olha como se gemesse de dor, amassado e empurrado pelo solado, seu braço amassado como se estivesse pressionado contra uma pedra. As quatro mulheres Tamimis - Nariman e Nawal, mães de meia-idade, e as garotas, Ahed e Nour, adolescentes - enfrentaram o soldado que tentava deter Abu Yazan por ter jogado pedra durante um protesto semanal contra os confiscos de terras.

"Quando você vê alguém da sua família em perigo, você não tem tempo para pensar", disse Nour Tamimi, 16 anos, quando sentamos no pátio da casa de Ahed. Ela é prima de Ahed e aparece na extrema direita, vestindo um top preto nas imagens virais.

"Ele estava me batendo e eu vi sua mão no meu rosto, então eu o mordi", disse Ahed com sua voz suave.

Ahed e Nour pareceram dolorosamente envergonhadas quando conversamos, Ahed mais que Nour. Ambas vestidas em seus jeans e camisetas, Ahed com uma estampa de Lola Bunny, interesse amoroso de Bugs Bunny. Ahed gosta de jogar futebol e dançar. Ela estuda inglês na escola, mas se envergonha de falar. Quando crescer, ela quer ser juíza. As duas foram a sofás ao ar livre, então se mudaram para uma cozinha para fazer um lanche da tarde, sanduíches com lebane, um iogurte típico do Oriente Médio, e shata, um tempero vermelho apimentado. Quando preparavam o lanche, elas fofocaram como meninas fazem. A noite estava fresca e agradável , um agradável mudança com relação à onda de calor que recentemente cobriu a região. O risto das duas, e a chegada de dúzias de visitantes das cidades ao redor da Cisjordânia deram um tom festivo à noite. Estava bem diferente do tumulto que passaram quatro dias atrás.

Ainda assim, os militares de Israel empoleiraram-se num checkpoint aéreo, procurando carros que entravam e saíam de Nabi Saleh. Alguns residentes foram proibidos de deixar a vila, inclusive os parentes de Ahed na terça-feira pela manhã. As duas foram detidas por uma hora e meia, antes que as forças israelitas as mandassem de volta para dentro da sua cidade.

Quando as fotos explodiram nas redes, a mídia internacional legendou o uso da força contra uma criança com um braço quebrado como o conto de "Davi e Golias", enquanto a mídia israelita ficou consternada que um grupo de mulheres botou um soldado pra correr. As mulheres morderam, arranharam, estapearam e socaram o soldado. Então elas tiraram a balaclava do rosto dele. Embora não tenha sido fotografado, e não incluso em um vídeo que também capturou a cena do fim de semana, foi Bassem Tamimi (marido de Nariman e pai de Mohammed e Ahed) e seu filho mais novo de nove anos, Salam Tamimi, quem também foram golpeados pelos soldados.

Em seguida o ministro da cultura e de esportes de Israel, Miri Regev, clamou por regulamentações perdidas no uso de fogo vivo por soldados, caluniando a "humilhação" que as fotos trouxeram ao exército israelita.

Agora para a família de Tamimi o incidente que se tornou um espetáculo na internet foi tão somente em uma outra sexta-feira vivendo na ocupação, nem mais nem menos. Começou com uma demonstração e terminou com cinco membros da sua família no hospital. Nariman tem asma e usa muletas, depois ela foi baleada por soldados israelitas meses atrás na rótula do joelho. Ela precisou de tratamento. Bassem, Ahed e Abu Yazan também sofreram estilhaços nos seus corpos. Como foi com Salam, ele foi baleado com uma bala de borracha, deixando seu dedo quebrado.

Uniformemente toda a família Tamimi ficou surpresa que tanta gente da mídia estrangeira tenha chegado para seguir as fotos icônicas. Além disso, que o protesto chamou atenção do governo israelita.

"Eles fizeram um grande estardalhaço com a 'humilhação' do soldado, mas estão matando o povo palestino", disse Nour, fazendo referência ao que disse Regev. Às adolescentes de Nabi Saleh, o exército israelita já é visto como belicoso. Em 2013, quando o jornalista e autor Ben Ehrenreich escreveu uma característica sobre Nabi Saleh para o The New York Times Magazine, Nariman estimou que umas 100 pessoas da vila tinham sido presas, e em torno de 500 violadas durante as demonstrações. Recentemente, dois dos membros da cidade - também parte do clã Tamimi - foram mortos por soldados israelitas. Mustafa Tamimi, 27, foi espancado na cabeça com uma bomba de gás lacrimogênio em 2011 e Rudshi Tamimi, 31, foi morto com tiro à queima-roupa no ano seguinte.

Para jovens em Nabi Salah, a morte de Mustafa e Rudshi causaram uma última impressão e as dificuldades a pioraram. "Depois de seis anos começaram a saber como lidar", disse Nour, indicando o tempo que os residentes de Nabi Saleh protestaram, que começaram em 2009 depois do fechamento do acesso ao povo à paisagem natural.

"Três anos e meio atrás meu amigo foi morto por soldados israelitas, então eu me tornei mais forte. Assim eu disse pra mim mesma 'por que não ser uma jornalista' que manda mensagem de todas as crianças, para todas as pessoas no mundo?" disse Janna Jihad, 9 anos, prima e amiga de Ahed. "Mustafa", Jihad continuou, "ele foi um amigo para todas as crianças em Nabi Saleh".

Jihad, uma irada e confidente garota que cresceu entre Nabi Saleh e West Palm Beach, na Flórida, então disse "sou a menor jornalista do mundo!" Ela tem uma página no facebook com em torno de 20.000 seguidores que leem suas postagens e veem suas fotos dos protestos de Nabi Saleh. Sua linha do tempo é cheia de imagens de seus parentes e colegas correndo do gás lacrimogênio tipicamente lançados em protestos durante as marchas semanais. Quando ela crescer, Jihad disse que quer reportar à CNN ou Fox, para ter uma plataforma a fim de alcançar pessoas divulgando sobre os modos com que as crianças sofrem com a ocupação. A morte de Mustafa, o baleamento de Nariman, o de Salam, o de outro parente três semanas antes que foi fuzilado com cinco balas no peito, deixou Jihad com a impressão de que sua vila está no caos "todo dia, todo dia, todo dia. Não é vida". Como falamos Ahed se uniu ao grupo de crianças que se reuniram em uma colina para ver Halamish, construída sobre as terras de Nabi Saleh. A construção foi feita por linhas-duras de Gush Emunim nos anos 1970 e desdeentão se tornou um subúrbio equipado com piscinas, caminhadas e guardas armados nos portões. Em Nabi Saleh, a maioria das ruas não são pavilhadas. A disparidade na riqueza é radicalmente aparente.

Voltando a Bassem, o pai de Ahed quando jovem costumava brincar nas encostas que agora estão cobertas por casinhas Halamish. O baixo vale era coberto por campos e jardins floridos.

"Há uma relação entre nós e esta terra", ele disse, entre conversas com vizinhos sobre um futuro Estado único ou dois Estados em Israel e no território palestino e sobre quão se ampliaram os conflitos não-violentos das demonstrações semanais. Bassem apoia o Estado único, o que ele vê como um fim lógico à ocupação que começou quando era criança. Sua esperança é que as demonstrações como Nabi Saleh se espalhem furiosamente e inaugurem condições, urgentemente, para o fim de uma ocupação sobre a qual comentadores estão dizendo que mudou de temporária para permanente. Até então ele continuará protestando toda sexta-feira - venha o que vier.

via mondoweiss

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