quinta-feira, 20 de junho de 2019

Capitalismo, não o Socialismo, que Levou aos Direitos Gays

Por David Boaz


Alguns historiadores gostam de declarar que ideias socialistas ajudaram a trazer os direitos gays na era moderna. Mas eles estão erroneamente tomando a teoria acadêmica pela realidade.


Jim Downs é um historiador no Connecticut College e em Harvard. Um especialista na história da raça e da escravidão, ele publicou recentemente um novo livro, Stand by Me: The Forgotten History of Gay Liberation, no qual ele tenta remover a história gay recente de um foco excessivo no sexo e na AIDS.

Há várias coisas erradas nisto. Primeiro, é superestimado. Eu estive por perto, em torno dos anos da década de 1970, e eu diria que o socialismo era uma parte bem marginal da comunidade gay ou mesmo do movimento dos direitos gays. Ativistas gays definitivamente se inclinavam para a esquerda, mas eles eram focados no avanço dos direitos gays através do Democratic Party. Downs também tem um novo artigo na revista digital Aeon, no qual ele escreve que "ao longo dos anos 1970, as pessoas LGBT teorizavam sobre os benefício do socialismo em livros e panfletos e criticavam o capitalismo nos jornais e na cultura impressa". Ele segue adiante para discutir os "grupos LGBT" e os jornais que "fizeram do socialismo um assunto principal do interesse político no movimento". Mais significativamente, ele argumenta que "se você quiser dar crédito para a liberação gay e para a igualdade do casamento, crédito deve também ser dado ao socialismo".

Segundo, houveram escritores libertários gays na época, também, na academia, na imprensa popular, e se juntavam em torno do Libertarian Party, salientando os benefícios dos livre-mercados e os problemas do socialismo.

Terceiro, o uso do LGBT é anacrônico. O termo foi dificilmente, se é que foi, usado nos anos 1970. (Ele não usa muito no livro.)

Mas a declaração é mais que superestimada. É errada. E o artigo do próprio Downs oferece a evidência. Em meio ao seu artigo sobre como o socialismo infundiu o movimento dos direitos gays e levou à liberação gay, ele nota o trabalho do historiador John D'Emilio sobre como "o capitalismo tornou possível que o LGBT se movesse para as cidades e se tornasse independente da família como uma fonte de renda. Uma vez que o capitalismo criou a oportunidade para que pessoas vivessem autonomamente, ele involuntariamente permitiu que as pessoas LGBT privilegiassem o desejo homossexual como força diretriz em suas vidas".

Apesar das inclinações à esquerda, D'Emilio viu o mundo de modo mais claro que Downs. Todos os avanços nos direitos humanos que nós vimos na história americana -- abolicionismo, feminismo, direitos civis, direitos gays -- partem de nossa fundação de ideias pela vida, pela liberdade, e pela busca de felicidade. A ênfase na mente individual no Iluminismo, a natuyreza individualista do capitalismo de mercado, e a demanda pelos direitos individuais que inspiraram a Revolução Americana naturalmente levaram as pessoas a pensar mais cuidadosamente sobre a natureza do individual e a gradualmente reconhecer que a dignidade dos direitos individuais deveria ser estendida para todas as pessoas.

Aquelas tendências intelectuais rapidamente levaram aos sentimentos feministas e abolicionistas. Levou mais tempo para que as pessoas tomassem a sério a ideia da atividade homossexual como uma questão de liberdade pessoal e para reconhecer os homossexuais como um grupo de pessoas com direitos. Mas os libertários e seus ancestrais liberais-clássicos chegaram lá primeiro. De Adam Smith e Jeremy Bentham ao Libertarian Party e ao Cato Institute (onde eu trabalho), os libertários estiveram à frente da curva intelectual ao aplicar as ideias da liberdade individual às pessoas gays.

É claro que o capitalismo é mais que uma ideia. É um conjunto de instituições sociais, que Downs corretamente nota que veio sob ataque contundente dos socialistas gays. Mas, como D'Emilio reconheceu, foi o capitalismo que, na verdade, permitiu que os indivíduos vivessem autonomamente e florescessem. O capitalismo libertou as pessoas do feudalismo e da fazenda da família. Ele permitiu a eles que construíssem suas próprias vidas em uma sociedade de mercado com espaço para vidas pessoais e profissionais separadas. Ele deu a elas liberdade e afluência para viver por sua própria conta. O capitalismo levou à industrialização, que levou à urbanização, que ofereceu a anonimidade da cidade para qualquer um que atritava sob as constrições da família e da vila, bem como a chance de encontrar pessoas que compartilhassem seus próprias interesses.

O escritor Eric Marcus produziu um livro de entrevistas com ativistas gays chamado Making History. O que seus assuntos ilustraram -- mesmo quando eles não se davam conta -- foi que era a liberdade de sair de casa e a afluência que permitiu às pessoas que fizessem assim que tornou possível que elas se movessem e escolhessem estilos de vida que quisessem.

Em 1982 o intelectual australiano Dennis Altman escreveu:

"A mudança real na década passada foi um movimento de massa político e cultural através do qual mulheres e homens gays se definiram como uma nova minoria. Este desenvolvimento foi possível apenas sob o capitalismo moderno consumista, que, por todas as duas injustiças, criou as condições para uma maior liberdade e diversidade que são presentes em qualquer outra sociedade conhecida até então. Para aqueles de nós que são socialistas, isso apresenta um importante dilema político, a saber como guardar aquelas qualidades do capitalismo que permitem a diversidade individual enquanto abandona suas iniquidades, exploração, desperdício e feiura."

É claro, qualquer um que encontrar "iniquidades, exploração, desperdício e feiura" nos países capitalistas provavelmente não viveu em países socialistas. Mas como D'Emilio, Altman entendeu as fundações institucionais reais para a vida gay moderna e a identidade gay.

Estes efeitos do capitalismo não aconteceram apenas na Europa e nos Estados Unidos. Em China's Long March to Freedom, o acadêmico chinês-americano Kate Zhou escreve que quando a habitação pertencia e era alocada pelo Estado, era apenas alocado geralmente para casais casados. Uma vez que a habitação foi privatizada, pessoas solteiras e casais gays poderiam providenciar ou alugar acomodações. Mercados de propriedade mais livres também levaram à criação de bares gays, algo que as autoridades estatais de habitação provavelmente não aceitariam. Olhe ao redor do mundo, e está claro que os países com maior liberdade para pessoas gays são aqueles com um grau maior de liberdade econômica. Países que são realmente socialistas estão no nível mais baixo de qualquer medida de liberdade política, liberdades civis, liberdade pessoal, e os direitos LGBT.

Claro, alguns países que são chamados de "socialistas", tais como Dinamarca, Suécia e Canadá, não são realmente socialistas. Eles têm sistemas políticos e econômicos baseados na propriedade privada, no livre-mercado, nos valores liberais, e altos níveis de taxas e transferência de pagamentos -- não tão libertário, mas definitivamente economias de mercado.

Não é o que socialistas gays dos anos 1970 buscavam. Eles queriam o socialismo real, o fim das relações de mercado. Os países que implementaram um tal sistema, desde a União Soviética à Tanzânia e à Venezuela, tiveram menos sucesso em sustentar tanto a prosperidade quanto a liberdade individual do que os países capitalistas.

Aqueles gays intelectuais disseram muito sobre socialismo, mas eles viveram no capitalismo. E se tratava da realidade capitalista, não dos sonhos socialistas, que liberaram o povo gay.

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