Após os primeiros meses do segundo mandato da
presidente Dilma Rousseff, intensos ataques à sua gestão começaram a ser
disparados pela oposição e logo adquiriram o semblante de golpismo.
Aécio Neves, recém-derrotado nas eleições, assumiu o papel de garoto
propaganda das manobras e FHC veio à tona conclamar seus partidários.
Logrou-se até derrubar alguns peemedebistas de cima do muro e convocar
manifestações que, se não foram bem o que se esperava, conseguiram
encher avenidas por todo o país e gerar apreensão. Em meados do ano já
cogitávamos seriamente a possibilidade de que o governo do PT fosse
derrubado, trazendo algo ainda pior do que o seu “neodesenvolvimentismo”
alinhado com os usurários[1], e essa impressão se intensificou na última
semana com a aprovação de um pedido de impeachment pelo presidente da
Câmara dos Deputados. Mas, apesar de tudo, ficamos com a sensação de que
a concretização das ameaças não será tão simples.
Uma
pista de qual seria a ponta solta da trama golpista está na série de
declarações públicas contra a derrubada da presidente, vindas de
notórios representantes dos interesses atlantistas[2], de bancos a órgãos
de mídia[3]. Se o povo já não se levantar com o ímpeto necessário para
defender o governo após o “pacote de maldades”, outros atores – os quais
na democracia ocidental são, obviamente, muito importantes: os próprios
beneficiários das medidas de austeridade, isto é, os credores do Estado
– podem vir a evitar a sua derrocada. As questões que se colocam,
então, e às quais tentaremos buscar respostas, são: por que a finança
globalista, já estando em uma posição vantajosa com o PT, alimentou a
possibilidade de golpe? Como se explicam os recentes desenvolvimentos
dessa ofensiva? Quais são as possíveis estratégias por trás deles? E,
mais importante, qual a posição mais adequada a ser tomada nessa
conjuntura por aqueles que, como nós, buscam um Brasil soberano?
Achamos que as respostas estão em boa parte nas condições políticas
particulares do Brasil. Dentre as dezenas de partidos políticos ativos,
poucas são as figuras interessantes, com projetos diferentes e
condizentes com a nossa realidade, e essas poucas (poucas mesmo) são
quase sempre desconhecidas do grande público. As instituições políticas
no geral e aqueles que as compõem são alvo de desanimador (embora
compreensível) descrédito por parte da população, e se é verdade
que esta está insatisfeita com o PT, o PSDB não goza de maior prestígio.
Assim, o jogo democrático torna-se para o brasileiro cada vez mais um
amontoado propagandístico sem capacidade representativa, sofremos com a
carência de líderes e ideias autênticas, enquanto, por outro lado, isso
se traduz num movimento de maior acirramento e envolvimento das pessoas
com questões políticas, especialmente por parte dos jovens. Isto
caracteriza uma tendência à instabilidade, que poderia muito bem
resultar favorável para uma dissidência organizada, mas que carrega em
si uma alta dose de imprevisibilidade. Tendo isso em mente, passemos a
analisar os meios aventados para um golpe.
O Golpe Militar
A sanha oposicionista parecia tanta, que chegou a ser considerada por
muitos a ideia de uma intervenção direta das Forças Armadas no plano
político federal. É bem verdade que existem grupos de oligarcas
nacionais que trabalham para isso desde a derrubada do Regime Militar,
os quais se agitam esperançosamente a cada momento de efervescência
política no Brasil e se tornam mais impacientes a cada ano do Partido
dos Trabalhadores no poder. Entretanto, estes elementos da burguesia
interna vêm perdendo forças mesmo dentro das corporações militares, seu
poder de mobilização é débil e estão já obsoletos para influenciar
decisivamente os funcionários do governo americano, que ingenuamente
consideram seu parceiro.Isso porque ao longo do regime militar essa
oligarquia foi suplantada pelo aparelho midiático e a presença de
corporações multinacionais agindo com muito mais liberdade no cenário
político brasileiro. Embora ela mantenha sua influência local em alguma
medida, o imperialismo pode agora, quase sempre, dispensar o emprego de
intermediários nas questões de interesse externo.Tal situação apenas se
agravou durante a vigência do neoliberalismo pós-Constituição de 1988.
Analisando
as condições históricas, parece-nos que um golpe nos moldes de 64, ou
seja, perpetrado pela intervenção direta das forças armadas,
dificilmente se repetiria. No tempo de João Goulart não havia margem
para uma alternativa democrática, legal ou institucional, que
representasse um alinhamento com o poder anglo-americano que naquele
momento exigia colaboração de todos os países da América, iniciando a
Operação Condor com aval e apoio de setores políticos, militares, e
associações civis ligadas, diretamente ou não, aos interesses da
burguesia (e podemos citar com certa importância no caso brasileiro, a
Opus Dei, a Maçonaria e outros círculos do tipo).
Naquela situação, além do Ministério da Fazenda nas mãos de um
economista do naipe de Celso Furtado, tínhamos um Darcy Ribeiro, ambos
expoentes da corrente trabalhista.Não só isso, como se tinha um
nacionalista feroz no governo do Estado do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola, que estava disposto a reunir e convocar todo o III Exército a
uma guerra anti-imperialista que se daria em solo brasileiro. Ou seja, a
perspectiva de instaurarem-se projetos nacionalistas que poderiam vir a
contrariar ou se indispor com os EUA era algo muito palpável, mesmo
porque, no contexto de então, muito pouco era preciso para ser alvo de
suspeitas.
Com a
vitória do modelo estadunidense sobre a antiga União Soviética, a ordem
bipolar da Guerra Fria desmoronou e os representantes do Ocidente
puderam avançar em muito com suas expectativas de uma ordem unipolar,
sabendo que países que buscassem se livrar da sua influência não teriam
mais outra potência à qual recorrer para sua sustentação no cenário
geopolítico. Nós, na Ibero-América, logo sentimos os efeitos da nova
postura dos EUA e da onda neoliberal que se sucedeu. Hoje no Brasil,
temos um defensor de grandes conglomerados financeiros ocupando a pasta
da economia, o governo faz privatizações, concessões, e até apoia na ONU
a demonização do governo sírio de Assad.
A
própria oposição política, que caracteriza o maior veículo da ameaça
golpista contra o PT, não gostaria de dividir seu protagonismo com os
militares e correr o risco de ver o sistema democrático liberal
enfraquecido. Para os atlantistas estrangeiros, tampouco é desejável que
se abale esse sistema que tem garantido tão bem seus interesses no
nosso continente – um fechamento político nas mãos das Forças Armadas
poderia significar maior investimento na área de defesa, mudança de
atitude com relação à cultura e até arroubos patrióticos, o que para
aqueles seria puro retrocesso.
Além disso, dentre
os oficiais do Exército já são poucos os que aspiram a meter-se pela
política, a atitude legalista é enfatizada na instituição desde as
primeiras lições e a discussão ideológica desencorajada. Isso vem em boa
parte do fato de que os militares sofrem até agora as amargas
consequências do antigo golpe, em um duplo sentido. Por um lado, há uma
política que tende a condenar os militares não como traidores da
Pátria(que de fato foram), mas como violadores dos "direitos humanos",
política que leva a processos, sindicâncias, assédio e ações vexatórias
vindas de movimentos de esquerda (principalmente, mas não só de
esquerda). A Comissão da Verdade,criada por Dilma Rousseff e pautada por
uma moral "humanitária",quase nada falou do papel representado pelo
empresariado envolvido com multinacionais nas manobras que levaram ao
colapso de Jango, mas trouxe uma série de incômodos ao meio militar e
poderia ter sido bem pior, se fossem instaurados processos criminais tal
como certos movimentos cobravam. Digamos que as recentes provocações
certamente irritaram muitas pessoas ligadas à caserna brasileira, mas ao
invés de incitara uma reação revanchista,fizeram essas pessoas quererem
manter-se longe de dores de cabeça por algum tempo.
Por
outro lado, o próprio processo de golpe instalou uma cultura de
despolitização das Forças Armadas ao distanciá-las do amplo debate
público. No momento que precedeu o golpe, era comum ver os militares
divididos entre grupos nacionalistas, comunistas e liberais
filo-atlantistas. Com a vitória da ala liberal através do golpe, os
elementos militares pertencentes aos outros dois campos foram purgados
do aparato de defesa, levando à hegemonia de um único grupo e, por
consequência, à despolitização. Basta pensarmos na exclusão de Ivan
Cavalcanti Proença e Nelson Werneck Sodré, respectivamente um
nacionalista e um comunista.
O Golpe Institucional
A
forma mais cômoda para um golpe da direita contra Dilma seria a via
institucional, jurídica ou parlamentar. Isso poderia acontecer através
da anulação das eleições, o que foi tentado quando Gilmar Mendes,
ministro do STF(Supremo Tribunal Federal) requisitou a investigação das
contas de campanha da chapa eleita, alegando o possível uso de dinheiro
proveniente do esquema de corrupção da “Lava Jato”[4]. Mas o pedido foi
arquivado pelo procurador-geral eleitoral, que alegou falta de indícios
suficientes e expiração do prazo para a entrada com recursos. Desde
então, Mendes vem tentando outros caminhos para invalidar o pleito,
mas até agora nenhum logrou progresso.
Outra
forma de atacar pela via institucional é através da abertura de
processos de impeachment, e Eduardo Cunha (deputado eleito pelo PMDB e
presidente da Câmara) finalmente aceitou um pedido depois de ter
recebido uns 15 deles. Os antecedentes deste acontecimento envolvem toda
uma trama de denúncias e negociações políticas que vem se desenvolvendo
entre o governo e sua base, pressionada pela oposição. Já em setembro
havia sido criado um movimento congressista oficial pelo impeachment
unindo deputados oposicionistas e os rebeldes da base, ao que a bancada
governista reagiu com um movimento “anti”. Cunha vem sendo acuado por
investigações de corrupção e lavagem de dinheiro, e o fato de o PT ser o
principal partido que pretende levar adiante o processo de cassação que
corre contra ele no Conselho de Ética certamente influenciou sua ação
de ataque à presidência.
Para
que o processo de impedimento da presidente tenha sucesso, é necessário
que seja analisado por uma comissão parlamentar especial e aprovado na
Câmara por mais de dois terços dos deputados, com o que Dilma Roussef
seria afastada por 180 dias, assumindo o vice-presidente Michel Temer
(PMDB). A partir daí, o processo se encaminha ao Senado e, havendo a
condenação de dois terços dos senadores, Dilma deixa a função.
Entretanto, essas maiorias não são fáceis de conseguir, pois exigiriam
uma ruptura total da base com o governo e aqui vemos a necessidade de
falar do principal componente dela, o PMDB.
O
chamado Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) protagoniza a
situação politicamente escorregadia e imprevisível na qual nos
encontramos. A sigla representa o maior partido do país, o qual tem sido
essencial para o que se convencionou chamar “governabilidade”: sem
nunca ter elegido um presidente, a legenda está profundamente arraigada
em todo o aparelho estatal, influencia toda decisão abrangente e é
afamada por seu oportunismo. Dilma vem negociando com o PMDB
constantemente, os favoreceu na nomeação dos ministérios, mas ainda
assim o partido mostra-se pouco interessado em colaborar e nenhuma
declaração de apoio contra o impeachment veio até agora, nem sequer do
vice-presidente Michel Temer, de quem Roussef disse esperar “integral
confiança”. Muito pelo contrário, uma embaraçosa carta de Temer à
presidente foi divulgada na mídia essa semana, e Eliseu Padilha, homem
próximo àquele, acaba de pedir demissão do Ministério da Aviação Civil. O
partido ainda lançou, no final de outubro, um documento contendo
críticas às políticas econômicas dos petistas e reforçando seu
compromisso com o liberalismo econômico. Porém, não seria surpresa
nenhuma se esta organização grande, ideologicamente débil e com tantos
interesses conflitantes, acabasse dividida, o que inviabilizaria os
planos golpistas.
O
cenário de golpe institucional é possível, mas lhe falta respaldo de
importantes setores. O ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto, entre
outros especialistas do Direito Constitucional, manifestou-se
anteriormente ressaltando que não há base jurídica para um impeachment.
Há também diversas entidades de pressão popular que se mantêm do lado do
governo, pela sua ligação histórica com o Partido dos Trabalhadores. A
capacidade de apaziguar as demandas classistas dos trabalhadores tem
sido, na verdade, um dos pontos positivos para o capital nos anos de PT,
mas também vem gradualmente se desgastando. Apesar de toda a
insatisfação que as medidas deste mandato têm suscitado entre os seus
apoiadores mais à esquerda (ou simplesmente mais conscientes), em uma
situação de golpe da direita, provavelmente eles iriam às ruas e não
seriam facilmente reprimidos. O mesmo não se pode esperar dos
partidários da oposição.
O que é que está acontecendo?
A disputa pelo Estado que nos aparece na forma básica de PT versus PSDB
se digladiando corresponde a projetos concorrentes, em ambos os quais
atores econômicos saem ganhando e o país sai perdendo, mas um deles se
destaca como potencialmente mais nocivo do que o outro. Este se
caracteriza pela alternativa deliberadamente atlantista encabeçada pelo
PSDB.
É notório
que o governo petista tem cedido terreno ao grande capital e garantido
seu lucro em detrimento do nosso desenvolvimento (não apenas econômico,
mas também cultural e moral), quando não abertamente, por seu
envolvimento em práticas de corrupção que, além de constituir alta
traição em si mesmas, tornam nosso Estado vulnerável aos ataques do
interesse globalista. O escândalo da Petrobrás, por exemplo, não
obstante se tenha tornado um “escândalo” com um empurrãozinho da
influência externa e da mídia sua serviçal, resultou na desvalorização
da nossa principal estatal, com a venda de ativos a investidores
privados e a abertura do precedente para maiores concessões do pré-sal a
gigantes internacionais. Esta perda é incalculável para o Brasil.
Se, no entanto, o capital internacional tem avançado sobre os bens
brasileiros e o setor financeiro tem quebrado sucessivos recordes de
lucro por aqui[5], o fato é que nunca se dão por satisfeitos e sabem que
estariam em situação mais vantajosa com o PSDB no poder. Esta afirmação é
corroborada pela análise dos financiamentos de campanha das últimas
eleições[6]. O PT aparece atrás do PMDB, como o terceiro colocado com
relação ao montante arrecadado e uma receita total de $385,993,122.54,
enquanto o PSDB, campeão de arrecadação, tem um total
de $629,323,035.76. Ao sondar-se a proveniência das doações, nota-se a
aberta preferência do setor bancário e de serviços financeiros pelo
PSDB. Ora, qualquer um que esteja a par da importância da geopolítica
para se compreender o mundo atual e agir nele, sabe que o setor bancário
não é simplesmente mais um braço qualquer do capital[7], servindo como o
principal instrumento de submissão das nações pelo projeto liberal
globalista. É quando a atuação dos bancos é rechaçada por governos
resistentes que o atlantismo passa a lançar mão de outros tipos de
intervenção, suscitando guerras e “revoluções laranjas”, como vimos
recentemente na Líbia, na Síria e em um bocado de outras nações, nesses
tempos de ofensiva da unipolaridade.
No Brasil, bem menos que isso foi necessário para incomodar aqueles que
se sentem os donos do mundo: a presença dos bancos estatais na nossa
economia vem irritando os banqueiros. Ao disponibilizar linhas de
crédito acessíveis, a Caixa Econômica Federal tirou deles uma fatia
importante do mercado, e isso se traduziu em ataques à instituição, ao
que o governo respondeu sinalizando a privatização[8]. O BNDES, ainda mais
incômodo por financiar os grandes projetos do PAC, foi o alvo seguinte,
com a abertura de uma CPI debaixo de intensas críticas da mídia. Além
disso, outras movimentações do governo também contribuíram para
exasperar os financistas, são algumas delas: a intenção de não mais
operar com o manejo da taxa SELIC, que beneficiava os bancos; a sanção
da lei de superávit primário que privilegia as empreiteiras em
detrimento daqueles; a taxação sobre o lucro dos bancos que, ao estender
o ajuste fiscal aos mais ricos, aumentaria em 3 a 4 bilhões a
arrecadação estatal; e o esforço para restabelecer a CPMF.
Como toda ação que leve ao desabono de empresas nacionais abrirá espaço
para o capital internacional, e ainda com base nos financiadores do
PSDB e o projeto de enfraquecimento do aparelho estatal ao qual esse
partido se propõe, podemos afirmar que a disputa política entre PT e
PSDB reflete em boa medida a disputa levada a cabo entre capitais
internos e externos, não se limitando ao setor financeiro. Com isso,
temos de onde saíram, em termos econômicos, os incentivos ao golpismo e
não há dúvidas de que foram seguidos de perto pela intrusão política e
ideológica dos EUA[9].
Então, por que duvidamos do sucesso da empreitada golpista?
-
Em parte, pelo fracasso da oposição em conseguir apoio popular e político.As bases impulsionadas pelos thinktanks americanos e que lideraram as manifestações de rua anti-PTtem se enfraquecido, sofrendo seguidos rachas por discordâncias entre os líderes e também porque setores mais propensos ao conservadorismo, usados como idiotas úteis pelos liberais, têm começado a ressentir-se[10]. Por mais que a população esteja descontente com a crise financeira e desaprove a administração de Dilma Roussef, não há indícios de um movimento massivo e disposto a sair às ruas pelo impeachment.
-
Além disso, as medidas de austeridade impostas pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy,garantirão que o Brasil continue pagando as dívidas regularmente, com os juros abusivos de sempre, subsídios para o agronegócio, a deterioração dos direitos trabalhistas para a burguesia industrial (turbinada pela imigração direcionada pelos capitalistas aos municípios industriais) e a alegria do setor exportador com a alta vertiginosa do dólar. Sendo assim, para o capital atlantista pode ser mais seguro evitar a instabilidade e tentar manter os níveis de insatisfação das massas contra Dilma para serem usados em uma derrota eleitoral em 2018.
Temendo o trunfo Lula, a oposição
emplacou ainda certas alterações legislativas que inviabilizariam o
financiamento da campanha petista, já prejudicado de todo modo pelo
desmonte dos esquemas com empreiteiras. Nesse sentido, os oposicionistas
sofreram uma derrota com a aprovação do fim do financiamento de
empresas nas campanhas. De toda forma, a ofensiva liberal não está
derrotada e o Brasil precisa de um movimento que não se acue diante dela
para livrar-se do jugo imperialista de uma vez por todas. A nós está
muito claro que esse movimento não virá do PT.
Conclusão
Queremos deixar claro que repudiamos o PT, por toda sua condescendência
para com o globalismo no campo da economia e também pela adoção de um
programa completamente afeito às piores degenerações liberais nos
âmbitos social e cultural, com grande prejuízo para a tradição
brasileira. Entretanto, em política a neutralidade é impossível e
pretender refugiar-se nela é apoiar um ou outro lado, conscientemente ou
não. Com a crise política instalada no Brasil este ano, vimos partir
tanto de círculos da extrema-esquerda quanto de nacionalistas o reforço ao
coro golpista anti-PT por vários motivos. Essa atitude pode ser fruto de
legítima revolta, mas, no momento, não ajuda o Brasil, nem a classe
trabalhadora brasileira.
Não
estamos dizendo, com isso, que o governo petista (especialmente o de
Dilma Rousseff e ainda mais nesse segundo mandato) seja
minimamente contra- hegemônico. Por muito do que dissemos nesse texto, é
evidente que não é esse o caso. A questão que faz com que nos oponhamos
à derrubada do governo é a falta de qualquer alternativa que ofereça
melhores perspectivas no curto prazo – o fiasco nacional que é o sistema
partidário atual não acabará sem trabalho árduo e revolucionário, de
conscientização, desconstrução e conquista de espaços. A ascensão de
figuras do PSDB ou PMDB, partidos que não se preocupam em manter sequer
uma imagem de resistência, representaria uma vitória ainda maior para o
capital financeiro por aqui, causando danos que, mesmo com a construção
de uma alternativa realmente dissidente não poderiam ser reparados sem
muita dificuldade. O PT, por querer manter-se no poder, sabendo que não
tem a confiança do atlantismo e que pode perder o apoio das próprias
bases militantes, fica na defensiva e para isso precisa amparar-se em
algumas das posições que serão importantes para retomar uma política
soberana.A postura do PT contra a pilhagem do aparelho e empresas
estatais é fraca demais para impedir a rapina, mas ela não seria nem
encontrada com a oposição no poder, e o processo seria acelerado.
Talvez, tentando ser otimistas em uma situação bem pouco propícia a
isso, poderíamos pensar que uma pressão vinda das ruas lograria uma
postura mais incisiva do governo. Foram formadas frentes de esquerda com
esse propósito, ainda que por um viés com o qual temos muito
desacordo[11].
Assim, reafirmamos nossa ruptura com toda a política moderna, com as
direitas e as esquerdas, mas sem nunca tirar os pés do chão. Porque
queremos uma revolução real,será preciso saber valer-se de tudo o que
puder se tornar um recurso contra o inimigo e agir no mundo que ele
mesmo construiu para implodi-lo. Assim, buscamos no momento de crise a
oportunidade para inserir no debate público nacional uma opção autêntica
pautada pela Quarta Teoria Política[12] e não por falsas dicotomias como
petismo ou anti-petismo, dicotomias essas calcadas namodernidade a ser
ultrapassada e que podem distrair tanto dos pontos fundamentais sobre os
quais devemos estar atentos quanto do poder real de escolha que temos.
Notas:
[1]As
aspas são porque a versão de que os governos de Lula e Dilma
foram neodesenvolvimentistas é contestável. Falta à política petista uma
série de características centrais do desenvolvimentismo de Celso
Furtado, do qual a versão “neo” procederia. Furtado tinha em vista a
soberania nacional, através da internalização das decisões políticas e
econômicas, portanto, a condescendência atual para com as instâncias
estrangeiras já seria uma contradição, daí a ironia. Para maiores
detalhes referentes ao questionamento de tal tese, conferir:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-66282012000400004&script=sci_arttext
[2] “Atlantismo” é um termo importante para nós. Ele foi sucintamente definido por Aleksandr Dugin da seguinte forma:
“Atlantismo – termo geopolítico significando:
- sob o ponto de vista histórico e geográfico, o setor ocidental da civilização mundial;
- sob o ponto de vista estratégico-militar, os países membros da OTAN (em primeiro lugar, os EUA);
- sob o ponto de vista cultural, a rede unificada de informações criada pelos impérios midiáticos Ocidentais;
- sob o ponto de vista social, o ‘sistema de mercado’, afirmado como sendo absoluto e negando todas as formas diferentes de organização da vida econômica.”
- sob o ponto de vista histórico e geográfico, o setor ocidental da civilização mundial;
- sob o ponto de vista estratégico-militar, os países membros da OTAN (em primeiro lugar, os EUA);
- sob o ponto de vista cultural, a rede unificada de informações criada pelos impérios midiáticos Ocidentais;
- sob o ponto de vista social, o ‘sistema de mercado’, afirmado como sendo absoluto e negando todas as formas diferentes de organização da vida econômica.”
Texto completo e traduzido em: http://evrazia.info/article/4436
[3]Aqui podemos citar Itaú, NY Times, Globo, entre outros.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1672332-nao-ha-motivos-para-tirar-dilma-do-cargo-diz-presidente-do-itau-unibanco.shtml
http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/08/impeachment-sem-evidencia-concreta-traria-dano-diz-new-york-times.html
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/08/em-editorial-surpreendente-globo-pede-sustentacao-ao-governo-dilma.html
[4]Esta Operação mereceria um texto inteiro e é certamente a antessala da estratégia golpista.
[5]http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2015/08/mesmo-diante-de-crise-lucro-dos-bancos-nao-para-de-crescer.html
[6]Devemos
os créditos dessa análise e outros dados, referentes à conjuntura
econômica, ao artigo de Pablo Polese (Mestre em Sociologia pela UNICAMP,
doutorando em Serviço Social pela UERJ e UFRJ) no blog esquerdista
Passa Palavra.
[7] Ao que parece, a maior parte dos marxistas se esforça para ignorar peremptoriamente este fato.
8http://www.valor.com.br/politica/3833616/vou-abrir-o-capital-da-caixa-mas-processo-demora-adianta-dilma
[9]http://mundo.sputniknews.com/americalatina/20150414/1036371835.html
[10]Por
exemplo, o desentendimento entre “libertários” e “liberais” no
Instituto Mises Brasil, e entre o Movimento Brasil Livre e os seguidores
de Olavo de Carvalho, etc.
[11]É o casoda Frente
Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo. Embora essas iniciativas
tenham muitas pautas válidas, infelizmente, se desviam do foco e
valem-se de um discurso de cunho liberal em questões não econômicas,
defendendo degenerações absolutamente impopulares, como é comum às
esquerdasnos nossos dias.
[12]Quem não conhece os
fundamentos da Quarta Teoria Política, neste vídeo pode ver uma breve
explicação do Professor Aleksandr Dugin com legendas em português:
https://www.youtube.com/watch?v=YpRykFhRlIA
Quais são os partidos liberais da direita globalista
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