quinta-feira, 22 de março de 2012

Ataques e cerco policial podem beneficiar candidatura de Sarkozy

Os ataques contra uma escola judaica e contra militares em Toulouse poderão criar uma reviravolta na campanha às eleições presidenciais francesas, em abril, e favorecer o presidente, Nicolas Sarkozy, e também a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen.

Uma pesquisa do instituto CSA para o jornal 20 Minutos e BFM TV, realizada na segunda e terça-feira, logo após o drama na escola judaica, e divulgada nesta quinta-feira, revela que Sarkozy passou a liderar as intenções de voto para o primeiro turno com 30%, com dois pontos à frente do rival socialista François Hollande.

Essa é a primeira vez que Sarkozy lidera no primeiro turno nas pesquisas do instituto CSA. No segundo turno, no entanto, não houve mudanças, e Hollande continua totalizando 54% e Sarkozy, 46%.

"Hoje, os franceses não acreditam mais em Sarkozy quando ele faz propostas. Mas no caso de uma forte crise ocorrer durante a campanha, em relação a questões de segurança ou econômicas, o candidato Sarkozy pode ser beneficiado pelo seu status de presidente", afirma Gaël Sliman, diretor do instituto de pesquisas BVA.

"Essas eventuais crises, sobretudo terroristas, podem mudar a natureza da disputa", diz ele. "O candidato UMP (partido de Sarkozy) vai recolher o sucesso do presidente", escreve o jornal Le Monde.

Função presidencial

Desde a segunda-feira, quando quatro pessoas, sendo três delas crianças, foram mortas a tiros em uma escola judaica, Sarkozy deixou de aparecer na mídia como simples candidato.

Seus discursos e encontros realizados nos últimos dias, amplamente cobertos pela imprensa, voltaram a ter maior visibilidade e assumiram o caráter solene da função presidencial neste momento de choque no país.

A situação atual é bem diferente de uma participação recente de Sarkozy, como candidato, em um programa de entrevistas na televisão, cuja audiência teve milhões de telespectadores a menos do que a série americana House, transmitida por outro canal no mesmo horário.

Como chefe de Estado, foi Sarkozy quem recebeu as famílias das vítimas na sede da Presidência, se reuniu com líderes judaicos e muçulmanos para pedir união nacional após os ataques, participou da homenagem aos mortos na escola e fez os discursos da homenagem militar, na quarta-feira, aos soldados assassinados na semana passada.

Cinco outros candidatos às eleições presidenciais também participaram das homenagens aos militares, mas não puderam, por razões protocolares, por exemplo, falar com as famílias dos soldados mortos.

"A atualidade favorece Sarkozy, que tenta melhorar sua imagem. Ele pode tentar se mostrar sensível diante da emoção da população", disse à BBC Brasil o cientista político Stéphane Monclaire, da Universidade Sorbonne.

Credibilidade

A localização do suspeito, Mohammed Merah, um jovem que teria dito pertencer à rede Al-Qaeda e que planejaria novos ataques, pode ter algum impacto positivo para Sarkozy na opinião pública.

O tema da segurança é um dos poucos assuntos em que Sarkozy possui, segundo pesquisas, mais credibilidade do que seu rival socialista, François Hollande, embora essa questão não esteja entre as principais preocupações dos franceses nestas eleições.

Mesmo tendo subido nas últimas semanas nas pesquisas de opinião e se aproximado de Hollande no primeiro turno, chegando até a superá-lo em algumas projeções, Sarkozy é tido como derrotado no segundo turno em todas as pesquisas por pelo menos dez pontos percentuais de diferença.

Analistas dizem, no entanto, que não é possível saber se esse eventual impacto positivo na candidatura de Sarkozy decorrente do drama nacional poderia durar até o primeiro turno, em 22 de abril.

Especialistas também afirmam que o fato de o suspeito, um francês de origem argelina, estar ligado a movimentos radicais islâmicos poderá favorecer a candidatura de Marine Le Pen, do partido de extrema-direita Frente Nacional.

Ela é a terceira colocada nas pesquisas de opinião, com 13% a 15%, segundo diferentes pesquisas, mas sua candidatura vem perdendo ritmo, com constantes quedas nas intenções de votos.

Antes da descoberta do suspeito, estimava-se que os crimes poderiam ter sido cometidos por neonazistas por motivos racistas, o que afundaria a campanha de Le Pen.

Agora, diante das revelações de que Merah, segundo autoridades, disse estar ligado à rede Al-Qaeda, a candidata se sente reforçada em seus temas prediletos: a luta contra o islamismo e a imigração e problemas de segurança.

Logo após o início do cerco ao suspeito, Le Pen declarou "guerra ao fundamentalismo", acrescentando que o governo não é eficaz em relação às questões de segurança.

"Quanto mais o suspeito aparecer como um fundamentalista islâmico, mais a Frente Nacional vai tentar tirar proveito da situação", diz Montclaire.

Segundo ele, Sarkozy irá sofrer a concorrência de Le Pen nesse caso, mas tentará evitar que a candidata "recupere os benefícios dessa exploração ideológica" do assunto.


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