quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"Os fantasmas arrogantes de Perón sobrevivem"


 "Não deixem que Argentina se convirta em potência. Arrastará com ela toda a América Latina" (Winston Churchill, Yalta, 1945).

"A queda do tirano Perón na Argentina é a melhor reparação ao orgulho do Império e tem para mim tanta importância como a vitória da segunda guerra mundial, e as forças do Império Inglês não lhe darão trégua, quartel nem descanso na vida, nem tampouco depois de morto" (Winston Churchill, Discurso na Câmara dos Comuns, 1955)

"Que te passas, pirara/ Não te esqueças do escárnio/ quando Mansilla e Rosas te deram/ lá em Obligado/ Que te passas, pirata?/ Acorda-te da água fervente/ quando aqui, em Buenos Aires, te sacamos correndo".

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Os fantasmas arrogantes nacionalistas de Perón

Por Enrique Oliva

O fantasma do retorno do peronismo aterrorizava boa parte da Europa colonialista e particularmente Inglaterra. O apoio do povo à recuperação das ilhas o entendia como uma ação da ditadura para perpetuar-se, mas sua derrota levaria à Argentina a mãos peronistas. Dali o apuro de François Mitterand, presidente da França, o principal país colonialista do velho mundo, para ser o primeiro em oferecer solidariedade e colaboração à senhora Tatcher, segundo reconhecera esta. As manifestações populares em Buenos Aires e no resto do território, eram uma preocupação permanente, culpando delas "comunistas e peronistas". Nada se escutou na Grã Bretanha que frente à Casa Rosada, um dos lemas mais repetidos era "as Malvinas são Argentina e a praça é de Perón". Vejamos como se traduzia esta situação na imprensa britânica. Os jornais do domingo 04 de Abril de 1982, já confirmada a ação argentina, repetem numerosas fotos do General Galtieri, mapas das ilhas e tomas de manifestações na Plaza de Mayo. "Por que o povo de Evita volta a alegrar-se?", se pergunta o Sunday Telegraph, e como outros meios, falam de "Galtieri no balcão de Evita". Na Segunda de 5 de Abril, uma das fotos difundidas apresentavam o general Perón e Evita com um epígrafe dizendo: "os fantasmas arrogantes nacionalistas de Perón sobrevivem" (Express). Andrés Graham-Yool, que em nada defende a Junta, no Guardian do 6 de Abril, aporta novos pontos de vista para interpretar os sentimentos argentinos. Insinua que "o golpe de efeito de Galtieri pode convertê-lo em um novo Perón". Também temos visto o caso do perseguido diretor de Buenos Aires Herald, Robert Cox, escrevendo em diversos meios, a favor de uma mais correta valorização das demandas argentinas sobre Malvinas. A Tribuna Herald de 7 de Abril publica uma foto em primeira página do presidente de fato, e seu principal título disse: "Galtieri triunfante e com certos ecos de Perón". Como lema da campanha psicológica, os meios insistem na frequente comparação de Galtieri a Perón. Uma repetida caricatura mostra uma rua de Puerto Argentino cujo noome foi tachado e substituido por outro pintado que disse: "Boulevar Evita". Uma nota vinda de Buenos Aires, escrita por Amit Roy para o Daily Mail, o 8 de Maio traz um título chamativo: "Os peronistas voltam a chorar a sua deusa Evita". Ali disse: "Os peronistas se encontraram com a oportunidade perfeita no aniversário da lendária María Eva Perón, cuja magia se mantém incólume entre os pobres a quem ela amou e explorou" (!). "A terra da mentira virtuosa". É um insólito artigo firmado por V. S. Naipaul, em Daily Mail do 19 de Maio entrando por nossa história recente e utilizando os termos mais grosseiros e insultantes imagináveis. A nota mostra três fotos com um epígrafo único: "Maus governantes de um povo bom? De esquerda a direita os ditadores Rosas, Eva e Juan Perón e o general Galtieri". Disse que os argentinos afirmam: "Somos boa gente, mas temos maus governantes... Em 1972, quase todos os argentinos eram peronistas".

"O peronismo seria pior que a Junta"

Inquieta Washington a mudança da realidade na Argentina, consciente de que "logo do sangue derramado e da calamitosa situação econômica interna e sua enorme dívida externa, será muito difícil evitar desestabilizações se eo governo não ceder a dar lugar a democratização do país". Esta opinião corresponde ao chanceler paralelo Denis Healey e vai acoompanhada pelo termos já manifestado repetidas vezes nos Comuns por membros dos principais partidos políticos: "o peronismo seria pior que a Junta". Então se chega a uma situação muito curiosa. A maioria governante, conservadora, está coincidindo nestes momentos com o general Haig, sem consultar o povo argentino, sugerindo um plano tipo Brasil, onde elegiriam presidentes entre os partidos "democráticos", presididos por um militar. Estas ideias se sustentam a gritos em todos os meios e dizem que se consideram também Buenos Aires, segundo se escreve em 13 de Junho no The Sunday Mail, um tal Toki Theodorocopulos, especialista em chismes sociais, que cita opiniões de seus amigos ali, "entre jogadores de polo". Seu pensamento, que disse compartilhar, o resume assim: "Multipartidária com militares como cães de guarda". Não descarta a inclusão de alguns peronistas, mas "sem Perón nem Evita" (?). A maior inquietude se centra agora na necessidade de que "os militares voltem aos quartéis em desgraça" porque abririam o caminho ao poder ao peronismo, coisa que supõe fará muito mal ao país, "porque com nacionalizações e expropriações de propriedades privadas isolarão a Argentina". Ainda que pareça estranho, Londres e Washington, que dizem lutar pela democracia, liberdade e autodeterminação dos moradores da ilha, estão preparando um governo para Argentina, acomodado a seus interesses. Para eles tudo seria questão de "estilo", disse Theodorocopulos, pois "os argentinos preferem estilo a substância". A tudo isto se agregam as persistentes ideias dos falcões apoiadores de Margaret Tatcher sobre "a necessidade de humilhar Argentina", segundo disse em 13 de Junho um de seus principais oradores, Woodrow Wyatt, em Daily Mirror. Este coincide com Parkinson e também com Winston Churchill. O neto do ex-primeiro ministro foi chamado à discreção por sua mãe Pamela, ex-esposa de Randolhp Churchill e logo casada com o ancião miltimilhonário e político Averell Harriman. Esta senhora vivia a 50 quilômetros de Washington em uma residência onde concorriam poderosos norte-americanos e estrangeiros. em cujos salões se decidiam questões públicas de importância nacional e internacional. Uma destas foi pedir a seu filho, por sugestão da Casa Branca, que fechasse a boca. A ideia repetida por Wyatt, era falar, não de humilhar determinado setor, mas a Argentina toda. Tende a lograr que "até as crianças não voltem a pensar mais nas Falklands, impondo-lhes o pagamento dos danos dessa louca aventura". Não obstante o chamado de atenção materno, Winston Churchill não se cala e declarou aos peronistas, logo da decisão dos conservadores de pedir à Comunidade Europeia o mantimento das sanções econômicas contra Argentina, e disse: "A Comunidade Europeia já deve ter compreendido que a Junta era um trio de pequenos ratos que enfrentou um leão de verdade e a coletividade internacional. Demonstraram que não entendem outra língua que o da força. A causa da liberdade e da justiça deve consolidar-se agora com consições que garantem o acato e uma ordem internacional sem agressões. A prolongação de sanções por parte da comunidade contribuirá para esse fim, para concluir o iniciado em forma segura e definitiva. Este caso prpecisa ser instrutivo, fazendo compartilhar ao povo uma cota de responsabilidade ao respaldar uma ditadura fascista".

Londres e Washington se preocupam com Galtieri

Em 15 de Junho, já confirmada a capitulação do general Ménendez, os temores expressados em Londres tendiam à conveniência de preservar o governo de Galtieri pois "as hordas peronistas nas ruas" podiam desestabilizá-lo. Esta inquietude era compartilhada pelos conservadores da senhora Tatcher, como de boa parte da oposição trabalhadora. Um conservador chegou a recomendar à Junta que "devia impor a lei marcial para evitar o transbordar das massas fascistas". Quer dizer, que os efendosres da liberdade e da democracia agora desejam apoiar "a ditadura apodrecida". Este é um dos qualificativos mais suaves que vieram adjucando-lhe, até chamar o presidente como "pior que Hitler". Naturalmente, se estão mobilizando "cavaleiros razoáveis" amigos da Grã Bretanha para que influam nas Forças Armadas e ofereçam sua colaboração para integrar um "governo confiável". O "Financial Times", porta-voz da City, disse que até hoje (2006) o muito influente trabalhador escocês Tam Dalyell "prognosticou que quando os argentinos tiverem sido repatriados, haveria uma declaração por parte da metade do mundo que reconhecem os reclames argentinos pela soberania. Inspirador por esta declaração os argentinos seguirão combatendo. As vezes não serão mais que escaramuças, mas eventualmente a luta de incrementará. Assim como os norte-americanos se e aproveitaram em Vietnã e a opinião pública norte-americana se opôs ao ponto de que tiveram que trazer de volta seus homens, assim nos veremos forçados a enfrentar o imenso custo em sangue e dinheiro da aventura Malvinas". "O povo nas ruas", disseram em 16 de Junho os correspondentes ingleses de Buenos Aires como um chamado de atenção. A ITV, televisão privada, recomendou como fizera dias atrás, que "o governo deve impor a lei marcial para evitar o transbordar das massas fascistas". Isto demonstra as duas grandes preocupações dos britânicos e de seus aliados ocidentais. Primeiro, que Argentina não se descontrole politicamente como se corresse perigo de cair na "democracia", e segundo que abandonem a guerra e a deem por definitivamente perdida em Puerto Argentino.

Ontem e hoje a mídia inglesa e de seus aliados europeus, Le Monde de Paris entre eles, se inquietaram pelo futuro governo da Argentina. Não preferindo um imediato chamado a eleições democráticas, sugerem entregar o mando "a figuras prestigiosas radicais como o ex-presidente Arturo Illia ou Raúl Alfonsin". Assim destacou como uma boa solução, especialmente em Londres e Washington, o secretário geral da OEA, Alexandro Orfila, que segundo The Guardian, está "disposto a agir como presidente interino da Argentina".

"Perigo de democracia na Argentina"

Sem embargo, a maioria da mídia não oculta sua preocupação pelos massivos distúrbios em Buenos Aires, que se extendem a todo o país, e fazem cambalear o regime militar da Junta. The Daily Telegraph, citando um editorial da New York Times entitulado "Um erro fatal nos cálculos da Junta", disse: "Galtieri pensou que poderia salvara sua cambaleante Junta das turbas peronistas". Ali, no "perigo de democracia na Argentina", se centra a maior preocupação da Grã Bretanha, Estados Unidos e seus aliados. Eles estão acostumados a dominar muitos países impondo e manejando ditadores mutáveis, de cujos delitos contra os direitos humanos não se sabe pela grande imprensa. The Times se opõe em 18 de Junho a "um governo descontrolado pela demagogia". Hoje persiste em sugerir "um presidente de transição". Assim como antes falou de Alejandro Orfila ("disposto a assumir a presidência interina", segundo suas próprias declarações em Washington), se volta a falar de outros civis, incluindo o chanceler Costa Méndez. Agora mais bem se despejam suas preferências por Martínez Raimonda, "muito respeitado nos círculos políticos por sua moderação e homem para o caminho da democracia". Se trata do embaixador na Itália da Junta, "fundador e líder do pequeno Partido Democrático Progressista" (sic). O outro candidato civil é Nicanor Costa Méndez, "um ex diplomata, que não tem base de poder efetivo e a pouca autoridade que tinha se perdeu por seu desempenho nas negociações da disputa das Malvinas". Destas considerações, pode supor-se que em Martínez Raimona pensa o governo britânico, quando disse The Times. Daily Express traz uma nota sobre "Como os machos devem humilhar-se". Uma segunda é entitulada: "A queda de um belicista". Disse: "Implacável até o final...". "Vão e arrogante, Galtieri se via a si mesmo como o novo Juan Perón".

Traduzido por Álvaro Hauschild

Via Pensamientonacional

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