O presidente Americano Barak
Obama disse que a a morte do icônico líder da Venezuela, Hugo Chávez, abre “ um
novo capítulo na história do país”. Isso significa que Chávez continuará a ser
demonizado nos EUA, acredita o jornalista investigativo Pepe Escobar.
O líder carismático sofreu um número
de complicações de saúde após retornar de sua última volta de tratamento em
Cuba.
A verdadeira causa de sua morte
ainda está para ser descoberta, disse Pepe Escobar, um jornalista investigativo
e correspondente do Asia Times cobrindo a América-Latina, que não exclui a
possibilidade de um dedinho americano.
Ele teme um golpe de estado após
a eleição presidencial no próximo mês.
RT: “[A] Venezuela começa um novo capítulo em sua história” – essas
foram as palavras do presidente dos EUA, Barak Obama. O que é essa mensagem?
PE: Na verdade, a mensagem de Obama foi um pouco ridícula. Ele
disse que os EUA vai pôr-se de pé unido com o povo venezuelano. Que tipo de
pessoa ele quer dizer? Ele se refere ao povo que elegeu e reelegeu Chávez em 13
das 14 eleições democráticas ou ele se refere àqueles que vão para Nova York e
Miami para rotular e demonizar Chávez e os chavistas como comunistas perigosos?
Isso é ridículo. A coisa mais importante é que, na minha opinião, Chávez, em
termos de líder político, sempre se referiu à tradição revolucionária
internacional, desde Mao Zedong até Che Guevara. Ele foi como um Elvis da
geopolítica moderna, maior que Elvis na verdade, porque ele ganhou quase todas as
eleições que participou. E o que acontece é que essa demonização de Chávez, até
depois da morte, crescerá nos EUA. Em primeiro lugar, a Venezuela tem as
maiores reservas de petróleo do mundo. Os Estados Unidos e a União Europeia
podem cantar “All you need is love” (tudo o que você precisa é amor) para
aquelas monarquias de gás e petróleo no Golfo Pérsico, mas o líder da Venezuela
decidiu que toda a riqueza do petróleo iria beneficiar as classes baixas. Isso
é algo que não se vê no Golfo Pérsico. É por isso que ele é demonizado e
continuará a ser demonizado. O veredicto histórico sobre Chávez é complicado.
Levará alguns anos para colocá-lo em uma tradição revolucionária como um líder
popular em termos de acabar com a hegemonia dos interesses Imperialistas na
América-Latina. Depois de Chávez, lembre-se, há [Luiz Inácio] Lula no Brasil,
[Rafael] Correa no Equador, [José] Mujica no Uruguai, [Evo] Morales na Bolívia –
governos de esquerda progressista por toda a América do Sul. A ideia de Chavez
sempre foi de uma melhor integração da América Latina em geral.
RT: O que você pensa das acusações de Caracas sobre um ‘jogo sujo’
na morte de Chávez – é apenas uma teoria da conspiração ou há fundamentos para
fazer esse tipo de alegações?
PE: Isso é muito complicado porque nós não temos provas. Nos levou
anos para entender o que aconteceu a [Yasser] Arafat. Isso foi em 2004 e apenas
seis anos depois nós descobrimos que ele foi envenenado com polônio 210.
Poderia ser a mesma coisa com Chávez. É possível. Não se esqueça, e isto não é
uma teoria da conspiração, que a CIA tentou envenenar Fidel Castro milhares de
vezes. Talvez eles tiveram um furo com Chávez também – ninguém sabe. Nós temos
sempre que lembrar do golpe militar em 2002. Ele foi promovido por Washington,
organizado pela Embaixada Americana em Caracas com o envolvimento desses
venezuelanos poderosos, que sempre voltam para Miami e Nova York. Então os
chavistas tinham razões para estar levemente paranoicos com isso. Nós ainda não
conhecemos os fatos, assim como nós ainda não conhecemos os fatos sobre o
câncer de Chávez. A informação foi retida do público por alguns meses. E é
loucura, porque a Fox News disse hoje que a péssima medicina Cubana matou Hugo
Chávez, o que é completamente estúpido. Há 30.000 médicos cubanos ajudando os
pobres na Venezuela. Isso fala por si mesmo. Você pode imaginar se esses
médicos estivessem ajudando o povo pobre nos EUA também, o que Barak Obama
falaria disso?
RT: Foi uma corrida presidencial acirrada ano passado – Quais são
as chances do sucessor escolhido por Chávez, Nicolás Maduro, ganhar o poder?
PE: É muito simples. Maduro não é um articulador como [Diosdado]
Cabello, o orador da Assembléia Nacional Venezuelana. Houve uma especulação
sobre se Cabello estaria no poder pelos próximos 30 dias antes das eleições.
Não, será Maduro. Ele vai se candidatar, como vice-presidente, e ele vai
ganhar. Primeiramente, porque a oposição prefere Miami-Nova York, assim como as
classes médias da Venezuela e como as outras classes médias e altas da América
do Sul, que estão incomodadas pelo fato de que na Venezuela, no Equador, no
Uruguai, na Argentina, no Brasil houve uma enorme redistribuição de riquezas
nos últimos dez anos, por aí. Ele vai ganhar, mas o problema é se ele pode
continuar o que nós chamamos de “revolução socialista Bolivariana” na
Venezuela, que não é exatamente uma revolução, mas um governo mais inclusivo e
participativo, mas com certeza não é socialismo. Ele tem elementos do
neo-liberalismo também. Como isso será organizado sem esse Elvis
maior-que-a-vida da geopolítica? Espere muitas perturbações dentro da
Venezuela, porque a oposição desorganizada e uma pequena facção das forças
armadas estarão em contato com Washington e Nova York diariamente. E quanto ao
próximo golpe de estado?
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