domingo, 31 de maio de 2015

Dostoievsky e a "Questão da Mulher"

por Steve Kogan

O problema dos "direitos das mulheres" já era quase centenário quando Nietzsche o cortou rapidamente com uma resposta de cinco palavras: "Feminismo: a feificação (de tornar-se feio, N. do B.) da Europa". Por anos, não pensei nada para equiparar sua picada até que recentemente veio à mente a recordação em The Dostoevsky Archive: Firsthand Accounts of the Novelist from Contemporaries’ Memoirs and Rare Periodicals (1997). A descrição é tomada das memórias de um Príncipe Vladimir Meshchersky (São Petersburgo, 1898), um amigo de Tchaikovsky e neto de Nikolai Karamzin, historiador do século XVIII e XIX, cujos volumes sobre a história russa se tornaram clássicos em seu tempo:

Nas festas que dei, Dostoievsky mostrou-se uma pessoa charmosa. Contava histórias e demonstrou sua inteligência e seu humor, tão bem quanto seu incomum e original modo de pensar. Na medida em que uma nova pessoa entrava na sala, no entanto, Dostoievsky se silenciava por um momento e olhava como um caracol entrando na sua concha, ou como um silencioso e maquiavélico ídolo pagão. E isto durava até que o novato produzia boa impressão para ele... Se o estranho travava conversa com Dostoievsky, poder-se-ia ouvi-lo fazer algumas considerações rudes, ou ver uma expressão azeda no seu rosto. Dostoievsky se opunha à tão chamada "Questão da Mulher". Na época, este movimento tomou a forma de um comportamento excêntrico e uma personificação em algumas mulheres, tal como cortes de cabelos curtos, espetáculos de azul-escuro e outros caprichos. Entre outras coisas, essas mulheres não notavam que Dostoievsky as detestava, e até mesmo elas o veneravam como seu professor.

Muitas vezes, estive presente em tais encontros. Uma mulher contemporânea entrou na sala. Ela não notou a expressão repugnante no rosto de Dostoievsky. Ela não ouviu seu tom frio de voz ou sua expressão formal, "O que você quer?". Esta mulher, cheia de seu enlevo, começou a contar sua história, com os olhos brilhantes e bochechas coradas.

Dostoievsky a ouviu atentamente. Sua expressão se tornou muito nervosa, e eu vi que toda característica de seu rosto se tornou muito tensa, assim que ele queimava por dentro. Senti que ele estava se contendo. Assim que sua mulher terminou seu discurso sobre a Questão da Mulher, ela esperou alguma palavra de apoio de Dostoievsky. Neste ponto, o inimigo resoluto da Questão da Mulher retribuiu a ela sua própria questão. "Terminou?" "Sim, terminei", respondeu a mulher de cabelos curtos.

"Então me escute. Meu discurso será bem mais curto que o seu. Quero contar-te isto: tudo que você contou-me agora foi muito estúpido e banal. Você me entendeu? Foi estúpido. Seria melhor desistir de você, nesse assunto, mas sua família, suas crianças e sua cozinha não podem sobreviver sem uma mulher... uma mulher tem somente um propósito na vida: ser uma esposa e uma mãe... não há, não houve e não haverá nenhum outro 'propósito social' para uma mulher. Isso é tudo estupidez, falação sem-sentido, algazarra. Tudo que você me contou não tem sentido, você me entendeu? É sem-sentido, e não direi mais nada para você."

Esta foi a conversação que testemunhei e de que eu lembro. Ele foi igualmente estrito e descompromissado com relação a todos os modismos, questões liberais e sociais, e ele odiava esses assuntos porque considerava-os falsos.

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