Marine Le Pen, líder da Frente Nacional francesa, denunciou a aproximação da União Europeia à crise ucraniana como intervenção em assuntos internos de uma nação, que ela disse ser desnecessária a integração em primeiro lugar. Ela também descreveu como "estranho dizer que a menos" que a União exija que o governo legalmente eleito renuncie só porque algumas dezenas de milhares querem. A chefe do terceiro maior partido francês comparou a situação da Ucrânia com a da França quando mais de 1.5 milhões de protestantes tomaram as ruas para agir contra a decisão de Paris de permitir casamentos gays, e criticou Bruxelas de nunca duvidar da legitimidade de François Hollande.
Segue abaixo a entrevista feita pela Voz da Rússia:
Voz da Rússia: Durante a visita à Sevastopol no último verão, você falou sobre a integração da Ucrânia à União Europeia, cujo país você tem como amigo, mas acrescentou "amigos não são bem-vindos a um pesadelo". Mudou sua opinião?
Marine Le Pen: Não, claro que não. Primeiro, penso que não há argumento para a Ucrânia entrar para a União Europeia. Segundo, penso que não há motivo para a UE continuar sua expansão no momento em que está a beira da ruína e do colapso.
V.d.R.: Você segue os desenvolvimentos da Ucrânia?
M.L.P: Sim - mas só através da imprensa francesa que dificilmente é imparcial.
V.d.R: Qual sua avaliação do presidente Viktor Yanikovich?
M.L.P.: Não estou falando no papel de um administrador de assuntos internos de países soberanos. Mas o que me surpreende é que a União Europeia declarou o presidente ucraniano como ilegítimo, contando com a opinião de apenas alguns milhares de manifestantes. Acho ainda mais surpreendente que, se estou lembrada, um milhão e meio de franceses tomaram as ruas contra François Hollande um ano atrás, mas a União Europeia falhou em acusá-lo de ilegitimidade. Se há diferença entre parte da população ucraniana e o presidente, isso pode ser resolvido com eleições. Mas exigir a renúncia do presidente por causa das manifestações eu acho muito estranho. Houve manifestações em massa na França no último ano, mas nenhuma exigência foi feita [ao presidente Hollande].
V.d.R.: Você diz que considera não ter direito de julgar outros Estados em questões internas. No entanto, alguns líderes da Europa e dos EUA agora vêm a Kiev e publicamente advogam por independência. Você pensa que é interferência em assuntos internos de um Estado soberano?
M.L.P: Claro, e fiquei chocada quando Sr. Fabius, ministro das relações internacionais da França, tentou se encontrar com a oposição ucraniana. Vejo, no entanto, que cancelou seu encontro, mas ainda acho isso chocante. Não se deveria fazer uma coisa dessas. Ou isto significa que a lei internacional não existe mais?
V.d.R: O que você pensa sobre as últimas exigências de Kiev, que anunciaram que o acordo será assinado com a UE no caso da Ucrânia receber assistência financeira da Europa na soma de 20 bilhões de euros?
M.L.P: Eu não sei o nível de sinceridade desta proposta.
V.d.R: Mas não é a UE quem oferece à Ucrânia, é Yanukovich que está exigindo...
M.L.P.: Eu sei. Alguns analistas acreditam que o presidente Yanukovich formou suas exisgências para assegurar que a UE rejeitaria, com fim de demonstrar ao povo ucraniano que a assistência financeira esperada pela União Europeia é, na verdade, uma mentira. Então eu não sei qual foi a natureza desta exigência, se foi sincera ou uma jogada tática... eu não sei, não tenho informação o bastante sobre isso.
V.d.R: Na sua opinião, a União Europeia realmente aceita a Ucrânia? Apesar do fato do primeiro ministro britânico, David Cameron, alertar que ele não deixará irem ao Reino Unido para trabalhar bulgários e romenos que recentemente entraram para a UE, mesmo se isto viola os princípios da UE?
M.L.P.: A União Europeia hoje não está pronta para aceitar qualquer país. A União Europeia está quase arruinada e está experimentando os problemas mais severos com a entrada dos últimos países, Bulgária e Romênia. Qualquer nova "janela" para novos países apenas contribuirá para a aceleração do enfraquecimento da UE.
V.d.R.: Mas, por exemplo, a Polônia se uniu à UE 10 anos atrás, e 10 anos atrás o nível de desenvolvimento da Ucrânia e da Polônia eram o mesmo, ademais, o povo polonês veio à Ucrânia por dinheiro. Hoje, o nível de desenvolvimento da Polônia é incompatível com o da Ucrânia.
M.L.P.: O problema é que os "novos países" que tiveram o nível de desenvolvimento econômico diferente dos países "antigos" da UE receberam centenas de bilhões de euros de ajuda. Uma tal assistência dura por alguns anos. Mas então o pão branco é substituído pelo pão preto. Hoje a União Europeia não tem mais dinheiro. Não tem mais nível de prosperidade como dez anos atrás. Do que se segue que a esperança ucraniana em se juntar à UE e receber a ajuda que a Polônia recebeu é um erro.
V.d.R.: Qual, na sua opinião, é a melhor forma para a Ucrânia tratar esta situação?
M.L.P.: O melhor jeito de sair de qualquer crise política é as eleições. Pelo menos resolve o problema. Na minha opinião, se o processo de diplomacia entre a oposição e a maioria parlamentária não levar à saída da crise, é necessário reconhecer um referendo.
V.d.R.: É exatamente o que a oposição exige de Yanukovich - eleições.
M.L.P.: Isso é muito bom! Uma coisa é quando acontece dentro do quadro de acordos entre o governo atual e a oposição que decidiu organizar eleições, uma outra coisa é a UE exigir a eleição. A UE não tem nenhum direito de exigir nada.
V.d.R.: 'Forbes' reconheceu o presidente Vladimir Putin como "o homem mais poderoso do mundo" em 2013. O que você pensa de Vladimir Putin?
M.L.P.: Indubitavelmente, Vladimir Putin trouxe a Rússia de volta ao grupo de países que tem forte influência no mundo. E isso é novo. Penso que no momento da crise síria a Rússia de novo tomou um muito importante lugar no mundo da diplomacia, um lugar que a Rússia, talvez, perdeu no passado. Claro, em 2013 Vladimir Putin falou da arena política como uma personalidade bastante influente.
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