domingo, 1 de março de 2015

O Terceiro Totalitarismo (crítica desde a Quarta Teoria Política)

Por Alexandr Dugin

Na ciência política, o conceito de totalitarismo está implícito nas ideologias comunistas e fascistas que proclamam abertamente a superioridade da totalidade (a classe e a sociedade no comunismo e o socialismo; o estado, no fascismo; a raça no nacional-socialismo) sobre o particular (indivíduo).

Se opõem à ideologia liberal que situa, do outro lado, o particular (indivíduo) sobre o todo (como se essa totalidade não pudesse ser compreendida enquanto tal no poderia ser plenamente entendida como tal). O liberalismo combate portanto o totalitarismo em geral, incluindo o do comunismo e o do fascismo. Mas, ao fazê-lo, o próprio termo "totalitarismo" revela muito sua conexão com a ideologia liberal - e nem os comunistas nem os fascistas estariam de acordo com o termo. Portanto, todos os que usam a palavra "totalitarismo" são liberais, independentemente de sua consciência a respeito.

À primeira vista, a imagem é perfeitamente clara e não dá lugar à ambiguidade - o comunismo é o primeiro totalitarismo, o fascismo é o segundo. E o liberalismo é sua antítese enquanto tal, negando a totalidade e situando o privado por cima dela. Se nos determos aqui, reconheceremos que a era moderna desenvolveu só duas ideologias totalitárias - o comunismo e o fascismo, com suas variações e matizes. Mas o liberalismo, como teoria política que aparece antes das outras e as supera, não poderia ser chamado de totalitarismo. portanto, a expressão "terceiro totalitarismo", que sugere uma ampliação da nomenclatura das ideologias totalitárias, para incluir o liberalismo, não têm sentido.

Mas o assunto do "terceiro totalitarismo" bem pode surgir no contexto da sociologia clássica francesa (escola de Durkheim) e da filosofia pós-moderna. A sociologia de Durkheim sustenta que os conteúdos da consciência individual se formam em sua totalidade sobre as bases da consciência coletiva. Em outras palavras, a natureza totalitária de qualquer sociedade, incluindo uma sociedade individualista e liberal, não se pode excluir. Portanto, o próprio fato de declarar o indivíduo como o valor mais alto e a medida de todas as coisas (liberalismo) é em si mesmo uma projeção da sociedade, quer dizer, uma forma de influência totalitárias e de indução ideológica. O indivíduo é um conceito social - sem a sociedade, o ser humano mesmo não sabe se é ou não é um indivíduo, e se o individualismo é ou não o valor mais alto. O indivíduo aprende que ele é um indivíduo, uma pessoa particular, só em uma sociedade na qual domina a ideologia liberal, que realiza a função de meio ambiente na operação. Assim, aquele que nega a realidade social e afirma a individual também possui em si mesmo uma natureza social. Em consequência, o liberalismo é uma ideologia totalitária que insiste, por métodos clássicos de propaganda totalitária, que o indivíduo é a instância suprema.

Este é o começo de uma crítica sociológica da sociedade burguesa, não de uma crítica social, mas desde uma perspectiva sociológica, ainda que normalmente na França e no Ocidente o socialismo e a sociologia foram se aproximando até o ponto de uma total identificação (por exemplo, ao modo de Pierre Bordeau). Nesse sentido, o caráter totalitário do liberalismo foi demonstrado cientificamente, e o termo "terceiro totalitarismo" adquire lógica e coerência, em vez de ser um paradoxo surpreendente. Desde então, aparece uma série de conceitos sociológicos, tais como "a multidão solitária" (la foule solitaire, David Riesman) e outros.

A sociedade liberal, opondo-se às sociedades de massas do socialismo e do fascismo, se converteu em uma sociedade massificada, padronizada e estereotipada. Quanto mais aspira o ser humano a ser extraordinário no contexto do paradigma liberal, tão mais se assemelha a todos os demais. O que o liberalismo traz consigo é precisamente a estereotipação e a a uniformização do mundo, destruindo a diversidade e a diferenciação.

Por outro lado está a filosofia pós-moderna. No espírito da busca da imanência radical - característica da modernidade - os pós-modernistas implantam a questão da figura do indivíduo. De acordo com seu ponto de vista, o indivíduo é um sinônimo do totalitarismo, mas transposto a nível micro. O indivíduo é um micrototalitarismo que projeta um aparato de supressão sobre o qual o totalitarismo normal é construído nos níveis individualista e subindividualista. Em seu espírito freudiano, os pós-modernistas, explicando a razão como ferramenta de repressão, substituição e também de projeção, a identificam com o Estado totalitário, que reprime a liberdade dos cidadãos impondo sobre eles sua própria perspectiva. O indivíduo é, pois, um conceito, uma projeção de obliteração e violência de uma sociedade totalitária em seus níveis mais baixos.

Os desejos e o poder criativo do indivíduo são constante obliterados. Por cima de tudo, os pós-modernos fazem a comparação com o totalitarismo social - o fascismo e o comunismo - como consequências da estrita estrutura hierárquica do indivíduo racional. Portanto, o conceito de totalitarismo liberal como um "terceiro totalitarismo" adquire pleno sentido e se situa sobre uma base legítima.

Assim, o liberalismo é uma ideologia totalitária e violenta, um meio para a repressão política direta e indireta, para a pressão educativa e a propaganda feroz, que se autoproclama como não-totalitária, ocultando sua própria natureza. Este é um fato científico. O terceiro totalitarismo é totalmente coerente com todas as perspectivas de sua concepção política.

A Quarta Teoria Política aceita completamente esta ideia, uma vez que a mesma permite compreender a imagem completa que unifica as três teorias politicas clássicas da modernidade - a) o liberalismo; b)o comunismo; c) o nacionalismo (e o fascismo). Todas elas são totalitárias, ainda que de maneira diferente. Precisamente, em outro contexto, a Quarta Teoria Política revela o caráter racista das três teorias: o racismo biológico dos nazistas, o racismo de classe de Marx (o progressismo e o evolucionismo universais), e o racismo colonial e cultural-civilizacional dos liberais (que era explícito até meados do século XX e depois se tornou subliminar - ver "A concepção eurocêntrica da política mundial" de John Hobson). A Quarta Teoria Política rechaça todo tipo de totalitarismo - comunista, fascista e liberais. O terceiro totalitarismo hoje é mais perigoso, já que é o dominante. Lutar contra ele é uma tarefa fundamental.

A Quarta Teoria Política propõe uma nova compreensão tanto do todo como de suas partes, para além das três ideologias políticas da modernidade. Esta compreensão pode ser chamado de Mit-sein (Ser-com) existencial. Mas esta compreensão existencial da presença (Dasein), não há nenhum átomo (partes, indivíduo), nem soma de indivíduos (totalitarismo). Na Quarta Teoria Política, "ser-com" significa existir, constituir uma presença - uma presença viva que enfrenta a morte. Estamos juntos só quando enfrentamos nossa própria morte. A morte é sempre profundamente pessoal e, simultaneamente, é algo comum, algo que afeta a cada um de nós. Portanto, é necessário falar não sobre o totalitarismo (uma concepção mecânica conectando as partes e o todo), mas sobre um holismo existencial orgânico. E seu nome é Narod (Povo). Dasein existiert völkisch [O Dasein existe através do povo]. Em clara oposição a um "terceiro totalitarismo". Por um Ser-para-a-morte. Mit-sein. Nós somos o povo.

via 4tpes

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