domingo, 24 de janeiro de 2016

A Ilusão da Democracia


Alguém uma vez definiu o "idiota" como uma pessoa que continua respondendo a uma mesma situação do mesmo modo, esperando um resultado diferente. Talvez a melhor ilustração dessa enfermidade é encontrada, a cada dois anos, no sistema conhecido como votação, em que milhões de pessoas são induzidas às urnas para votar por candidatos que continuam prometendo cumprir as promessas feitas nas eleições anteriores[1]

Ocasionalmente, nesses momentos corruptos, degenerados e decadentes existem eleições políticas das quais se espera que participamos. Supõe-se que façamos nosso "dever enquanto cidadãos do livre mundo democrático" e "defendamos nosso modo de vida". Contra o quê nunca é propriamente definido. É típico que a palavra 'nosso' é usada com fim de arrastar todo mundo para o mesmo nível. É realmente meu modo de vida e é realmente meu dever defendê-lo? O que, na verdade, está sendo pedido que se defenda? Se nós realmente temos liberdade de escolha, não deveríamos ser livres para escolher não defender algo que eu nem sequer posso dizer que desejo? Se eu decido não tomar parte no processo democrático e não votar, instantaneamente surgem acusações de que eu não estou "cumprindo com meu dever", ou que estou renunciando e, portanto, não tenho direito de comentar e, menos que isso, queixar-me. Eles me dizem que é a coisa mais passiva não votar e sugerem que é porque eu sou de algum modo moralmente corrupto.

Mas se eu realmente quero uma mudança; se eu realmente desejaria fazer algo em relação a uma situação, o que mais eu poderia fazer em um mundo de cabeça para baixo além de me abster do voto? Não é meu "direito democrático"? Se vivemos em um mundo de cabeça para baixo, não é o que é considerado "ativo" em verdade o "passivo" e vice-versa?

O que é democracia?

A maioria das pessoas pensam que democracia é algo "bom". Isso representa tudo que a maioria das pessoas consideram valoroso e precioso. A mídia de massa moderna usa a democracia como um rótulo para ideias, valores e princípios que eles consideram "corretos". Frequentemente se vê e se ouve pessoas dizendo coisas como "é meu direito democrático", ou "é o dever democrático de cada um" - votar, por exemplo. "Parecem valores democráticos" é outra expressão críptica frequentemente usada por qualquer um dos líderes mundiais e influentes homens de negócio até os jornalistas e pessoas comuns. Ninguém questiona ou define estas vagas expressões. Espera-se de nós todos que "sabemos" o que é entendido por elas - não apenas isso, mas que nós todos esperamos ter o mesmo entendimento deles.

Mas todos os pontos acima são de fato a democracia?

Não. As coisas mencionadas acima são todos valores relativos e vagos ou definições não-existentes dadas à palavra democracia por pessoas que as usam ao seu modo.

Democracia é uma forma de governo. Não tem valor intrínseco. Além disso, democracia é o governo "do povo". Pelo menos "o povo" gosta de pensar assim. Mas o que é o povo? Eles estão realmente qualificados a governar e se estão, por qual autoridade eles estão qualificados a governar? Quem faz o papel do governador? Eles mesmos?

O fato é que o povo nunca pode governar, seja em uma democracia ou em qualquer outra forma de governo. O povo é incapaz de governar. O povo é sempre governado em qualquer forma de governo. Em uma democracia o povo delega seu poder a um representante que supõe-se representar seus interesses. Em outras palavras, o povo capitula - renuncia seu poder sobre si mesmo a outra pessoa. O quão provável esta pessoa representará o eleitor ao invés de ele mesmo e seus próprios interesses? Quão provável é que os interesses do eleitor e os interesses do representante político do eleitor são idênticos?

A democracia é o governo dos muitos sobre os poucos. Nós sempre ouvimos que "é o maior bem para a maioria do povo". Sim, estas pessoas concedem, a minoria não tem espaço, mas pelo menos a maioria tem e isto é justo. Tão logo você concorde com a maioria você não tem que sofrer sua decisão. Isso poderia ser comparável à descrição popular de democracia como dois lobos e uma ovelha decidindo o que terá para o jantar. O que a maioria decide sempre é a melhor decisão para todos? Em que base eles tomam suas decisões? Eles são tão bem informados para serem capazes de uma decisão balanceada e pesada, tendo tomado todo aspecto em consideração? E é realmente eles, a maioria, quem toma sua decisão?

Se alguém de repente colapsa na rua o povo se reuniria em volta dele e votaria para decidir o que deveria ser feito pela pessoa machucada? Não seria mais provável que a questão levanta seria "alguém é médico"? Em outras palavras, olhar-se-ia por alguém com qualificações, competência e habilidade, que fosse treinado, para lidar com a pessoa machucada. Nenhuma necessidade de voto, o senso comum decide o curso da ação.[2]

É um mistério para mim que ninguém aplicou à democracia a máxima antiga de divide et impera.

O sistema democrático divide a população em duas partes de políticas e ideologias ostensivamente diferentes. Tomemos como exemplo que temos cinco grandes partidos em um país. Se a população dividiria seus votos igualmente entre os cinco partidos eles teriam 20% cada com uma participação de voto de 100%. Desse modo nenhum partido estaria à frente. Daremos então a um partido 30%, a outro 28, 23, a outro 15 e ao último 4. O partido com 30% dos votos vence e governa. Mas 30% é realmente uma minoria, não uma maioria, o que quer dizer que nossa teoria da maioria do povo não é verdade. A porcentagem real é na verdade ainda menor, porque 100% de participação eleitoral é uma fantasia. Este é o motivo do porque é mais importante para os políticos democratas convencer o povo pelo voto - não importa quem, porque quanto menor o número de participação de eleitores em uma eleição, menos justificados são os políticos ao afirmarem que o sistema é legítimo. Se cada vez menos e menos pessoas realmente rendessem seu poder aos políticos que clamam ser seus representantes, eventualmente o sistema implodiria.

Se formos ainda mais a fundo na questão, a democracia é a manipulação das massas - a mente da massa - por uma minoria que persegue seus próprios interesses. Mas essa minoria é qualificada a governar sobre a maioria? Eles estão em posse das qualidades necessárias para ter a autoridade de empunhar o poder político e tomar as decisões que têm consequências para todos? Hoje é inquestionável que a autoridade do governo é derivada da riqueza econômica. Quantidade de ativos econômicos decidem quem se torna um governador. O que nós na verdade temos é o governo da quantidade sobre o da qualidade; a quantidade de dinheiro sobre a qualidade de ideais. Você pode advogar por qualquer ideologia - não importa o quão degenerada e corrupta - se você tem apoio financeiro suficiente, enquanto que a defesa dos maiores e mais nobres ideais está condenada a fracassar sem qualquer dinheiro para apoiá-lo na arena política. Um exemplo mais palpável é a recente criação de um partido político que advoga pela pedofilia na Holanda. Sem qualquer apoio financeiro e conexões poderosas esta ideia jamais teria a cobertura da mídia.

Agora, quanto mais partidos em um sistema democrático de governo, mais divisão no país, e assim menor é a minoria que governa sobre a maioria que não votou no partido vencedor. A maioria desejaria acreditar que quanto mais partidos políticos estão disponíveis, maior é a "liberdade de escolha" - quanto mais partidos políticos, mais opiniões políticas você está permitido a ter, parece lógico - só o povo não desejaria colocá-la negativamente.

Como eu mencionei acima, nestes dias a democracia é tão oca que os políticos candidatos nem mesmo se preocupam se o povo realmente vota neles, desde que votem. É como o imbecil politicamente correto afirma: "não é a vitória que importa, é a participação". Pessoalmente, não tenho interesse de participar mais dessa piada oca. Não estou interessado a estar do lado "vencedor".

Notas
[1] A Holiday For Fools by Butler Shaffer
[2] The Illusion of Democracy by Rene Guenon

via cakravartin (1 e 2)

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