sábado, 11 de julho de 2015

O Amor perde: A falsa união da sodomia


Escrevemos (xaviersthrone) este curto e introdutório artigo sobre o Amor e sua decadência perpetrada pelo ethos moderno, não porque estamos 'desapontados' ou de algum modo escandalizados pela recente aprovação do "casamento" gay nos EUA; aceitamos este evento como algo inevitável, um tipo de 'símbolo' no sentido de Spengler de eterna decadência da Civilização Ocidental. Há muito que nos conformamos com a queda do Ocidente e, salvo pela intervenção de fontes sobrenaturais, com a impossibilidade de sua salvação ou recuperação da sua saúde anterior. Simplesmente estamos usando este evento como desculpa para proliferar uma crítica essencial das perversões homossexuais, para investigar como o fenômeno do "casamento" gay simboliza ou de fato epitomiza a weltanschauung moderna, e finalmente reforçar o tradicional, supramoral sentido de Amor.

Em segundo lugar, desde que compreendemos a definição de sodomia como um ato meramente sexual que não é em vista à procriação, estamos usando-a para se referir exclusivamente aos atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Isto é porque, desde que masturbação, felatio e especialmente o sexo anal entre um homem e uma mulher são perversões, os atos feitos entre membros do mesmo sexo são particularmente desvios da ordem normal e por isso ainda mais representativos do que estamos falando aqui: é o pecado da sodomia entre homens, sobretudo, que 'clama aos Céus por vingança' (entre pessoas do mesmo sexo, não pode haver ato sexual em vista de outra coisa senão aos prazeres da carne, e é por isso que o homossexualismo é essencialmente pecador).

I

Aqui está a chave para toda a metafísica do sexo: Através da Díade para a Unidade ~Julius Evola

Para realmente compreender algo físico devemos primeiro compreender o metafísico. O homem, em sua original e superior forma, é um ser sexualmente indiferenciado. Seu estado ontológico em sua perfeição primordial é de absoluta unidade, possuindo dentro de si tanto o princípio masculino como o feminino coerentemente organizado e todo em si mesmo. É só como resultado da criação, da participação no mundo da regeneração, onde as coisas são caracterizadas por sua multiplicidade e dualidade ao invés da unidade ou unicidade, que as formas masculina e feminina surgem: 'Trazido para baixo pelo abismo de seu pecado, o homem sofreu a divisão de sua natureza no masculino e no feminino, e pelo fato de que ele não quis usar o modo celeste de propagação, um justo julgamento reduziu-o à multiplicidade da forma animal e corruptível, consistindo em masculino e feminino' (John Scotus Eriugena, De Divisione Naturae). A queda mitologizada no Gênese descreve a queda do homem originalmente integrado para dois entes separados, enquanto certamente capaz de recrear depois a anterior unidade através do amor mútuo, que são não obstante condenados a continuamente engendrar entes separados por copulação. Essa interminável divisão do homem representa sua separação de Deus, cuja semelhança o homem carrega em sua totalidade:

Deus criou sua imagem e semelhança em um único homem. Adão foi um homem e também uma mulher... pois Deus não fez no começo homem e mulher, ele não os criou ao mesmo tempo, porque a vida na qual as duas propriedades do masculino e do feminino são unidas em uma só consiste no homem em imagem de Deus (Jacob Böhme, Mysterium Magnun)

Homem e mulher são portanto duas metades de um todo, dissociados um do outro em toda forma concebível. Eles são como dois polos opostos em um espectro metafísico, com o princípio de masculinidade representando a criatividade e a liderança e o princípio feminino representando a fertilidade e a submissão: 'O masculino representa a forma específica; o feminino representa a matéria, sendo passivo desde que ela é feminina, onde o masculino é ativo' (Aristóteles, De Generatione Animalium). Na 'realidade ordinária', i.e., o domínio da multiplicidade; esses dois polos constituem a Díade que define toda criação material; essa dualidade é expressa simbolicamente, tal como o Sol e o elemento do fogo simbolizam a masculinidade enquanto a Lua e o elemento da água simbolizam a femininidade.

Isso se estende para toda a metafísica tradicional; assim como as escolas peripatéticas ocidentais consideram a forma como masculina e a matéria como feminina, o sistema védico compreende purusha (espírito) como masculino e prakriti (natureza) como feminina. Nos Upanishads, purusha é o princípio criativo imaterial, que se expressa através de prakriti, o material mutável; e no Tantra a entidade principial e imóvel é o deus Shiva, cuja 'emanação' no sentido blakeano é a deusa Shakti, que orbita Shiva e permite à natureza hipostática dele que se manifeste em si na criação. No 'Grande Tratado', um dos principais comentários do I Ching, a mesma fórmula é expressa assim: 'O masculino age de acordo com o modo do criativo, onde o feminino opera de acordo com o modo do receptivo' (T Chuan, I, p. 4). Dos rituais helênicos e romanos que associaram a masculinidade com o fogo e a femininidade com a água aos conceitos da Kabbalah de dubrah e nubkah (Deus e sua Shekinah), toda metafísica tradicional intuiu a mesma fundamental realidade: o masculino é criativo e o feminino é receptivo, e juntos eles são necessários para o sustento da vida como a conhecemos. São duas partes de um todo (por isso o Shiva hermafrodita, Ardhanarishvara, que representa o todo sintético de Shiva e Shakti).

O conceito de yin e yang é um exemplo particularmente útil no que ele precisamente explica a interdependência dos princípios masculino e feminino e a necessidade de sua união. De novo, toda realidade é condicionada e concebida em termos do masculino e do feminino, yang e yin. 'Todos os fenômenos, forma, entes, e mudanças do universo são considerados no nível de vários encontros e combinações do yin e do yang... Do seu aspecto dinâmico yang e yin são opostos, mas também forças complementárias. A luz e o Sol têm uma qualidade yang, ao passo que a sombra e a Lua têm a qualidade yin' (Julius Evola, Eros e os Mistérios do Amor: a Metafísica do Sexo). O masculino e o feminino pertencem à mesma ordem de ideias, como virilidade e fertilidade, atividade e passividade, espírito e natureza; eles são análogos um ao outro, cada um representando de forma diferente o que o outro também representa. Eles representam essencialmente o princípio da dualidade que intervém sobre toda a realidade criada; eles representam o que os pitagóricos chamam de 'Díade', a lei da oposição que define tudo que é manifestado.

Está também de acordo com esta lei que cada princípio requer e deseja seu oposto, pois em seu estado diferenciado é inútil: o que é a criatividade sem o material para o uso da criação? o que é a virilidade quando tudo é estéril? Assim como não podemos reproduzir sem cooperação com o sexo oposto, também não podemos preencher nosso si sem a participação 'no outro', o que quer que seja aquilo que não possuímos. O próprio Platão diz que 'qualquer pessoa sem qualquer hesitação julgaria que se ouvisse seu próprio desejo por longo tempo, seria estar unido e fundido com seu amado a fim de formar uma única natureza de todos os entes distintos. Agora, a causa desse desejo está na nossa natureza primitiva quando constituímos uma unidade que era completa; é realmente o anseio ardente por essa unidade que carrega o nome do amor' (Platão, O Banquete). Toda criação deseja a totalidade desde que toda criação deseja retornar à sua forma original e precondicionada.

Em seu aspecto mais profundo, o Eros incorpora um impulso para superar as consequências da Queda, para deixar o mundo restritivo da dualidade, restaurar o estado primordial, ultrapassar a condição da existencialidade dual, rachada e condicionada pelo "outro". (Julius Evola, Eros e os Mistérios do Amor: A Metafísica do Sexo)

II

Isso nos traz de volta ao nosso assunto. Como Platão disse acima, o Amor é o meio pelo qual alcançamos essa totalidade, nossa união conosco mesmos. Quando desejamos fortemente algo, vemos nesse objeto uma parcela do Céu, da realidade inteligível, e acima de tudo uma parcela daquilo que nós mesmos somos: 'o Amor, assim, é toda intenção para aquele outro encanto, e existe para ser o medium entre o desejo e o objeto do desejo. É o olho do desejador; por seu poder o que ama é capaz de ver a coisa amada' (Plotino, As Enéadas, III, v. 2). Essa dor inicial que sentimos quando o amor é despertado é evidência de nosso conhecimento sobre a ausência de uma parte de nós mesmos; é como uma pessoa faminta que se torna sutilmente, tortuosamente consciente da sua fome quando vê e cheira algo delicioso, apenas mil vezes mais agonizante devido à mais grandiosa necessidade de satisfação espiritual ao invés de física. Soloviov concorda que o homem em sua 'natureza empírica' é cheio desse estado constante de querer, e tenciona que o fim do Amor é reintegrá-lo em suas 'partes perdidas':

O caráter peculiar da nossa natureza espiritual consiste apenas em uma habilidade humana, enquanto permanecer o mesmo ser humano, de acomodar o conteúdo absoluto em sua forma própria, tornar-se uma personalidade absoluta. Mas a fim de ser preenchido com o conteúdo absoluto... este mesmo homem deve ser restaurado em sua inteireza (deve ser integrado). Na natureza empírica do ser humano, assim, não é assim - ele existe só em uma univocidade e finitude específica, como uma individualidade masculina ou feminina. No entanto, um homem verdadeiro na totalidade de sua personalidade ideal... não pode ser meramente masculino ou feminino, mas deve ser a maior unidade de ambos. realizar essa unidade, criar o verdadeiro ser humano como uma unidade livre dos princípios masculino e feminino, preservar sua individualização formal, mas tendo ultrapassado sua separatividade e divergência essencial - essa é a missão própria e imediata do amor. (Vladimir Soloviov, O Significado do Amor)

A reconciliação da individualidade masculina com a feminina é necessária para a formação da verdadeira personalidade. Isso é verdade porque o homem em sua essência não é nenhuma delas: ele é ambas. Otto Weininger supôs que somos naturalmente atraídos a, mesmo no sentido psicossomático, indivíduos que possuem uma substância que não possuímos. 'Todos os indivíduos têm tanta femininidade quanto carecem de masculinidade. Se são completamente masculinos eles desejarão uma contraparte completamente feminina, e se são completamente femininos, uma completamente masculina. Se, no entanto, eles contêm uma grande proporção de Homem e outra, de modo algum desprezível, proporção de Mulher, vão demandar um indivíduo que complementará as partes e a masculinidade fragmentada para formar um todo; ao mesmo tempo, sua proporção de femininidade será completada do mesmo modo' (Otto Weininger, Sexo e Caráter). Assim, alguém que é, por exemplo, '75% masculino' será naturalmente mais atraído a uma mulher que é '75% feminina', e vice-versa, porque é nesse sentido que ambos indivíduos melhor completam um ao outro; eles estão preenchendo o que cada um deles carece dentro de si. A lei da 'atração dos opostos' nunca foi mais clara. De modo algum há algo como um 'transgênero', porque conforme somos nascidos masculino ou feminino teremos sempre uma maior porção do princípio em cuja representação sexual somos nascidos. Mesmo se alguém é somente '51% masculino' (e portanto '49% feminino'), ele é um masculino autêntico, e nenhum tipo de cirurgia ou drogas alterará seu estado interior. Isto é porque as coisas são manifestadas de acordo com os princípios metafísicos, e portanto não sujeito à probabilidade, mas por autoridade causal:

Se o nascimento não é uma questão de probabilidade, então não é uma coincidência para um ente estar "desperto" para si no corpo de um homem ou uma mulher. Aqui também, a diferença física deveria ser vista como equivalente a uma diferença espiritual; por isso um ente é um homem ou uma mulher no modo físico somente porque um ente é ou masculino ou feminino de um modo transcendental; diferenciação sexual, longe de ser fator irrelevante na relação com o espírito, é o sinal que aponta para uma vocação particular e para um dharma distintivo... O homem e a mulher são dois tipos distintos; aqueles que são nascidos homens devem realizar-se como homens, enquanto aquelas que são nascidas mulheres devem realizar-se como mulheres, superando qualquer mistura e promiscuidade de vocações. (Julius Evola, Revolta Contra o Mundo Moderno)

Nós já podemos adivinhar o que isso tudo significa para a atividade 'homossexual', e de fato Weininger vai dizer que a grande maioria das relações homossexuais ocorrem onde os parceiros são intermediatamente diferenciados, significando que eles possuem altas proporções de H e M e assim desejam parceiros que são também intermediatamente diferenciados; o homem que tem 49% M em si terá mais atração por um homem com o mesmo de proporção do que por um homem que é 80 ou 90% H. Isto explica a muito alta proporção de homossexuais homens e mulheres que também se identificam como 'bissexuais', ou são pelo menos não aversos às relações sexuais normais. Evola também apoia esta ideia, mas acrescenta que 'quando a homossexualidade não é "natural" [de acordo com a teoria mediana da diferenciação sexual explicada acima] ou então não pode ser explicada em termos de formas incompletas de desenvolvimentos sexuais no nascimento, deve haver um caráter de desvio, um vício ou perversão' (Julius Evola, Eros e os Mistérios do Amor: A Metafísica do Sexo). Então, na nossa sociedade, por exemplo, onde as desordens espirituais e mentais (aquelas que não são simulação psiquiátrica) resultado da dissolução da família, da comunidade, e da natureza socio-política inteira, são mais difundidas que nunca, é completamente esperado que o nível de sexo sodomita seja alto como é, certamente mais alto que teria sido se seria limitado a parceiros que beiram os 50% H e 50% M.

O verdadeiro crime da atividade homossexual consiste simplesmente em sua completa inversão da interação normal dos sexos. As tradições metafísicas que sublinhamos acima não são abstrações teóricas que existem em um 'vácuo intelectual'; são fundamentalmente reais, em comparação com este mundo criado, o 'véu de Maya', que não é senão distorção ilusória. Elas profundamente influenciam este mundo porque são este mundo em sua forma mais verdadeira e articulada. Na performance da união copulativa, por exemplo, o homem e a mulher recriam a gênese do mundo; eles se fundem e criam não apenas uma vida gerada por eles, um novo mundo, mas criam a si mesmos através da síntese erótica de cada um. 'Cada um dos dois sexos é uma imagem do poder e da ternura de Deus, com igual dignidade embora em modo diferente. A união do homem com a mulher em casamento é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador' (Catecismo da Igreja Católica, n. 2335). O homem se torna homem verdadeiro, a mulher se torna mulher verdadeira, e juntos se tornam o novo Adão: 'E eles dois devem ser um na carne. Portanto eles não são mais dois, mas uma carne' (Marcos, 10:8). A Queda é vencida pela união física que, sacramentalmente, também tem a natureza da união mística; onde eles foram anteriormente opostos um ao outro, os princípios duais (yin e yang, Shiva e Shakti, Nut e Geb) são agora imediatamente combinados na máxima expressão da natureza essencial e nas suas relações um com o outro:

Se a raiz da falsa existência consiste na impenetrabilidade, i.e., na exclusão mútua dos entes, então a verdadeira vida é viver num outro ao invés de em si mesmo, ou encontrar no outro o positivo e absoluto preenchimento do próprio ser. A base e o tipo dessa verdadeira vida permanece e sempre será sexual ou amor conjugal... A união pressupõe a verdadeira separatividade daquele ser unificado, i.e., uma separatividade pelo poder do qual eles não se excluirão, mas mutualmente preencherão um ao outro, cada qual encontrando no outro o preenchimento a sua própria e adequada vida [his own proper life]. (Vladimir Soloviov, O Significado do Amor)

A sodomia não tem nenhuma justificação ou bênção; não há telos qualquer para sua prática: 'Os atos homossexuais são contrários à lei natural. Eles fecham o ato sexual ao presente da vida. Eles não procedem de uma complementariedade genuína, afetiva e sexual' (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357). Esta intransponível disputa entre a atividade sodomita e o homem e a mulher como eles realmente são é o que torna anti-natural em ambos um sentido metafísico e físico. De fato, é pelo fato de que não há legitimidade metafísica às relações homossexuais que não há legitimidade física: a copulação do homem com a mulher resulta no nascimento de uma nova vida por causa de sua união em um nível superior (pelo menos in potentia; a procriação que é a consequência de sexo extraconjugal é ainda natural, mas está divorciada do sacramento do casamento, por isso é de menor qualidade devido à ausência de uma autoridade sacra que abençoa a união).

A copulação do homem com um homem ou de uma mulher com uma mulher, por outro lado, não carrega nenhum fruto por causa da sua incompatibilidade na natureza principial. O princípio de masculinidade só age de acordo com sua natureza quando é associado com o princípio de femininidade , que correspondentemente age de acordo com sua natureza; aquele que é viril e criativo naturalmente deseja aquela que fará manifestar estas qualidades em si, que é, claro, a fertilidade e a passividade da contraparte feminina. Ao renegar este acordo primordial e a lei metafísica, a 'união' homossexual se condena a uma perseguição infrutífera de algo que mira para uma direção completamente errada; é uma caricatura sacrílega da suprema união, e torna algo que é idealmente espiritual e sacro em algo estritamente físico e portanto feio. Ao invés da satisfação sentida quando algo suavemente se encaixa, como derramar vinho em uma taça, o ato sexual consiste essencialmente da frustração envolvida em derramar água em uma peneira, porque há zero de complementariedade entre dois princípios ativos e dois passivos: o masculino e o feminino criam um todo auto-suficiente que completa um ao outro, ao passo que o masculino e o masculino ou o feminino e o feminino são condenados a vagar sozinhos, irresgatáveis e inseparados de si mesmos.

Todos os amores naturais, todos que servem aos fins da Natureza, são bons... aquelas formas que não servem aos propósitos da Natureza são meramente acidentes em perversão: em nenhum sentido são Entes-Reais ou ainda mesmo manifestações de qualquer realidade; pois eles não são assuntos da alma; são meramente acessórios de um defeito espiritual que a alma automaticamente exibe na total disposição e conduta. (Plotino, As Enéadas, III, v. 7)

III

Se a meta de toda vida humana é se tornar reintegrada como uma pessoa inteira no modo de Adão antes de sua Queda, não pode se seguir disso que estabelecendo uma relação erótica com uma mulher é necessário para este fim, pois isto significaria a futilidade e todos ascetas e homens santos e outros tipos que têm certamente se aproximado a esta realidade que a vasta maioria dos homens e mulheres casados. A verdade é que a capacidade para reintegração subsiste na profundeza de nós próprios: o potencial para se tornar inteiro está em cada um de nós. Amar uma mulher é simplesmente o meio mais direto disponível porque está ordenadamente alinhado com nossos apetites da libido, mas é dificilmente o único, como os vários caminhos espirituais ou iogues para a auto-completude são manifestamente singulares pela natureza, orientados em torno do preenchimento da própria natureza ou dharma. De fato, até mesmo no amar uma mulher o que na verdade estamos fazendo é amar a nós mesmos; a presença de outra pessoa é meramente o objeto que faz faiscar no homem o desejo por algum elemento de si mesmo mostrado em uma indivíduo separado. A verdade disso deveria já ser aparente pela virtude de nossos argumentos anteriores, que homem e mulher são realmente uma entidade, e que homens e mulheres inerentemente perseguem seres cujas naturezas correspondem ao que eles carecem em um esforço de criar um inteiro; assim, se nós realmente sentimos amor como um desejo ardente para restaurar a nós mesmos a um estado anterior de integração, faria sentido ver em nosso amado simplesmente a outra metade da qual nós uma vez fomos.

É crucial não ser confundido pelo que significamos com "amar a si mesmo". Nós certamente não queremos dizer que estamos engajados em um narcisismo auto-erótico em que idolatramos nosso ego ou os fragmentos sombrios da nossa própria personalidade maleável; o que realmente queremos dizer é que o amor daquilo que somos como um todo composto, de nosso si como um composto da pessoalidade do masculino e do feminino harmonicamente organizado. Em nosso amor por outra pessoa nós vemos nós mesmos como perfeitos: 'Quando acontece de um homem amar,, ele ama a si mesmo. Não sua subjetividade, não o que atualmente representa como um ente infectado com toda fraqueza e baixeza, toda falta de graça e toda mesquinhez, mas o que ele quer ser completamente e o que ele deve ser completamente, sua natureza mais pessoal e mais profunda, livre de qualquer migalha de necessidade e de qualquer resíduo de sua natureza terrena' (Otto Weininger, Sexo e Caráter). A constituição perturbada e amorfa da realidade ordinária e de nossas mentes conscientes é repentinamente clarificada em algo tão sólido e verdadeiro que nós não podemos ajudar, mas derramar nossos corações, sentindo nosso amado como algo absolutamente necessário para o nosso ser. 'Não é por amor à mulher que ela é desejada pelo homem, mas antes por amor ao atman' (Brihadaranyaka Upanishad, IV). O atman é o mais alto princípio do Si, absolutamente real e imutável pelos fatores condicionais (tais como espaço e tempo) do mundo criado, e é o que vemos no que amamos. Shakespeare lindamente expressa esta ideia em um soneto:

Mine eyes have drawn thy shape, and thine for me
Are windows to my breast, wherethrough the sun
Delights to peep, to gaze therein on me.
[Meus olhos puxaram tua forma, e elas para mim
São janelas para meu peito, onde o sol
Adora chilrear e mostrar para mim.]
(William Shakespeare, Soneto 24)

O poeta neoplatônico francês Antoine Hermoet é igualmente sublime em sua descrição da mesma coisa:

[I meditated upon] how our hearts, bent on "death",
Revived one another;
How mine, loving his,
Transformed itself into his without changing.
[Meditei sobre como nossos corações, curvados para a "morte",
Reviveram um no outro;
Como o meu, amando o seu,
Transformou-se no seu sem mudar]
(Antoine Heroet, La Parfaicte Amye)

Então, de novo, em forte contraste com a ordem normal das coisas, as relações homossexuais são fundadas não em um amor espiritual do Si concebido como um todo perfeito composto tanto de masculino e de feminino, mas em um amor puramente físico do ego. O ato sexual do sodomita não é algo que simboliza a harmonização do masculino e do feminino em uma carne e uma alma, mas algo que representa o falso amor do homem por si mesmo; não é o atman que ele 'ama', porque isto implicaria a reconciliação dos opostos em um única Si, mas meramente seu próprio prazer e desejo ourobórico e possivelmente sua própria personalidade demente. É de fato nem mesmo uma entrada no Outro: pois ao couplar com outro homem (ou mulher com mulher) ele está copulando consigo mesmo; enquanto eles são ostensivamente duas pessoas diferentes, ambos membros do ato derivam do mesmo princípio de masculinidade, e assim metafisicamente correspondem ao mesmo indivíduo. É como se Shiva tivesse tentado atuar através de Shiva ao invés de Shakti; o mundo não seria criado, e nunca seria reunificado em si mesmo.

O pecado da sodomia é o pior exemplo do onanismo possível porque simultaneamente satiriza a união sagrada do masculino e feminino e projeta sobre outra pessoa os próprios defeitos; pelo fato disso ser extra-matrimonial é manifestamente e monstruosamente pior neste caso pela virtude do envolvimento de mais um extremo narcisismo, de desordens psíquicas e espirituais que tomam prazer de práticas anormais, a confusão da própria masculinidade ou femininidade principial (i.e., seu desejo natural em estar com o outro), e a completa ausência de qualquer fim natural para o fato. Uma vez mais, é essencialmente caracterizado pelo amor-próprio: 'Perversão pode ser definido como a diversão do desejo sexual de uma pessoa do sexo oposto para um corpo do sexo oposto... ou a uma pessoa do mesmo sexo... ou a uma coisa inanimada (fetichismo). Na raiz de todas as formas de perversão está o amor-próprio, a utilização do outro, que... é visto como nada menos do que um instrumento para os próprios prazeres (ou dores)' (Vladimir Moss, A Teologia do Eros). A extensão de quão moralmente e espiritualmente adverso esse tipo de comportamento é, na medida em que não é auto-evidente, é completamente iluminada por comparação com o comportamento sexual normal:

O homem deveria ajudar a mulher a se libertar da sua mulherzisse [womanliness] (como incompletude), e a mulher, por sua vez, deveria ajudar o homem, a fim de que em ambos toda a imagem primitiva do homem será interiormente fundida de novo. Ambos os dois, ao invés de serem meio-homens (homem no sentido geral da palavra, sentido de humano, N. do B.), tornar-se-ão homens inteiros mais uma vez, i.e. cristãos. Pois as expressões: ter se tornado um cristão, ser nascido de novo, e ter encontrado integridade da natureza humana são sinônimos. (Franz Xaver von Baader, Werke [Trabalhos])

Na crise do mundo moderno, os princípios que foram uma vez intimamente conhecidos e até mesmo tomados por certo são inteiramente obscurecidos por tanto um entendimento exclusivamente empírico e positivista da realidade que determina tudo de acordo com sua natureza material, como por uma cruzada falsamente 'humanista' pelos 'direitos humanos' ao ponto em que os desejos instintivos e temporais do indivíduo, independentemente de quão perversos, importam mais que a saúde da alma ou da comunidade por inteiro. É nesse ambiente que o 'culto ao corpo', exemplificado pela 'Revolução Sexual' no meio do século passado, foi capaz de florescer, pois é só na ausência do intelecto e da consciência moral que os impulsos morais são capazes de revoltar-se desinibidos por seus constrangimentos normais. Evola está certo em atribuir isso ao atraso do nosso atual ciclo civilizacional, pois, como qualquer organismo na natureza, nossa cultura é um antigo animal agonizante: 'Permanece verdade que um interesse universal e febril pelo sexo e pela mulher é marca de todo período crepuscular e que esse fenômeno de hoje é um entre muitos sinais de que essa época é a fase terminal de um processo regressivo... Está claro que hoje pela regressão estamos vivendo em uma civilização cujo interesse predominante não é nem intelectual, nem espiritual, nem heróico, nem mesmo direcionado às formas superiores de emoção. Ao invés disso, o subpessoal - sexo e comida [sex and belly] - são idolatrados...' (Julius Evola, Eros e os Mistérios do Amor: A Metafísica do Sexo). É exatamente isto, o subpessoal, que motiva tais noções como núpcias homossexuais (ou mesmo a normalização da pedofilia, conforme a 'ladeira escorregadia' procede depressa), pois a real pessoalidade consiste não em realizar as próprias fantasias sexuais em outro indivíduo, mas em identificar quem é você, que invariavelmente significa uma reconciliação do masculino e do feminino dentro de você.

Conforme o demonstravelmente falso fenômeno do 'casamento gay' se alastra para aqueles lugares no Ocidente que mais acuradamente imita o ethos da modernidade, é crucial lembrar que o amor fraternal, ou amor sincero entre homens, é inteiramente possível - previsto que tais relações são celibatárias. Precisamos apenas trazers a atenção do leitor para tais práticas de adelhopoiesis da Igreja Bizantina, que ritualizaram uma extraordinária amizade entre homens, ou da sociedade co-sanguínea da sociedade nórdica e dos citas que uniram homens em algo mais que amigos. A diferença, claro, consiste na permissividade modernista no domínio sexual, onde tudo é permitido tão logo é um 'crime sem vítimas' (uma terrível vacuidade quando considerado os danos espirituais que tais atos perpetram); o homem 'gay' se torna gay não meramente por seus hábitos perversos e sexuais, mas por sua própria identidade. A gayzisse de um 'gay' o marca como se ele fosse mais que qualquer faceta do seu caráter, desse modo epitomiza a moderna compreensão puramente física da realidade, onde nada existe a não ser o que se pode tocar e sentir. De fato, a ridícula ideia de 'orgulho gay' serve como um ordinário e transparente símbolo da hubris do homem moderno: não estamos meramente permitindo nossa regressão em formas piores de barbaridade, estamos orgulhosos disso, como se estivéssemos chamando Deus para destruir Babel mais uma vez, desafiando-o a nos ferir.

Em profunda contradição com isso é a visão de mundo tradicional, de acordo com a qual o espiritual não é apenas real, mas é mais real que o físico. O homem é chamado não para 'ser o que é' no sentido vulgar, mas a se tornar aquilo que ele é essencialmente; que significa a reconciliação dos sexos, que significa se tornar um homem não-decaído, que significa se tornar como Deus. Sim, isso pode ser alcançado através do amor especial entre homem e mulher; mas pode ser ainda mais fortemente alcançado através de uma direta unidade entre homem e Deus: 'Há necessidade de uma paixão bendita do eros sacro; ele liga a mente aos objetos espirituais e persuade-a a preferir o imaterial ao invés do material, o inteligível e o divino ao invés do sensível' (São Maximus o Confessor, Sobre a Caridade). A 'paixão do eros sacro' é um meio excelente de descrever o fervor do homem por Deus; em lugar de uma mulher que o inspira a encontrar seu Si, o homem começa a ver Deus, que o ajudará nisso mais do que qualquer outra coisa. Ao imitar Deus, o homem se torna como Deus: 'Pois o Filho de Deus se tornou homem a fim de que nós possamos nos tornar Deus' (Santo Atanásio, De Incarnatione). O amor entre um homem e uma mulher não é outra coisa além de uma reflexão do amor que Deus tem por suas crianças, e aqueles que o amam, por sua vez, estão garantidos pela salvação: 'Eu os amo aqueles que me amam: e aqueles que pela manhã cedo buscam por mim, encontrar-me-ão' (Provérbios 8:17). O amor perde quando é reduzido a algo físico, a algo que faz das leis de Deus uma zombaria e tenta casar duas coisas que já são uma só; o amor vence quando dois entes diferentes vêm juntos de vidas separadas e solitárias para formar um inteiro. Pois o amor existe não para nos dividir ou nos juntar aos nossos elementos mais básicos; o amor existe para nos unificar.

Eu sou você e você em mim mútuo no amor divino ~ William Blake, Jerusalém

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