segunda-feira, 10 de junho de 2013

O feminismo contra a Vênus do espelho

Por Lúcia Hernández Soria

Uma das obras mais polêmicas e discutidas de Diego Rodriguez de Silva y Velázquez se trata de "Vênus ao espelho", que desde sua realização provocou o escândalo sobre o erotismo com o qual foi elaborada, fazendo sua recepção como de uma obra menor e um tanto vulgar por ser atrevida segundo a época. O tema já havia sido executado anteriormente por outros autores, mas o que fez Velázquez, o pintor favorito da corte espanhola, gerou posições contrárias.



A mudança de proprietários e conflitos armados fizeram com que essa obra se mantivesse perdida por alguns anos, o que provocou a perda de seu registro, no entanto, dada a técnica que Velázquez usou em sua maturidade acredita-se que a pintou em 1649, período de suas obras finais; a interpretação simbólica que os críticos fizeram, vão desde a desafiante cor escurecida do cabelo de Vênus que confronta todas as escolas de pintura e que mostra o interesse por fazer uma deusa mais ao gosto espanhol.

Também é conhecida com o nome "O amor conquistado pela beleza", pois o cupido se encontra parado contemplando sua mãe segundo a mitologia, e é aqui que está o ponto chave desta obra: o rosto que aparece borrado no espelho não obstante que no barroco se dava maior importância à expressividade, ainda mais tratando-se do autor de um dos maiores retratistas. Enigmaticamente é aqui onde Vênus foca sua maior atração, o que faz dessa pintura uma obra única pela suavidade em que se perde o traço em contraste da matéria que a rodeia, dando impressão que se trata de algo etéreo.

Esta pintura também provocou reações contra si como o atentado de 10 de março de 1914, quando uma ativista feminista chamada Mary Richardson com um pequeno machado fez cortes sobre a tela, se bem que na época manteve a versão de que o ato foi em protesto pela detenção de uma sufragista britânica, disse em uma entrevista em 1952 que "não gostava da maneira com que os visitantes masculinos a olhavam (a pintura) boquiabertos o dia inteiro".

A tela foi restaurada, causando a manifestação de grupos feministas as quais consideravam como um símbolo de opressão masculina, ao se tratar de uma encomenda de Carpio Gaspar de Haro y Guzmán, que se diz que "amava tanto a pintura quanto amava as mulheres" e foi o maior colecionador de nu artístico de sua época além de libertino.

O feminismo radical ainda mantém a ideia de que as obras de arte onde se mostra a mulher nua a representam como um objeto, e que para a devida aceitação da mulher estas pinturas e esculturas deverão ser destruídas sem importar o legado cultural ou histórico tal como é a "Vênus de Milo", esse efeito é conhecido como "A repressão de Vênus" e indica que as primeiras obras que devem desaparecer são as que sejam delicadas como essa deusa.

Tradução Conan Hades

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