Segundo uma notícia publicada em Msn, os índios da Amazônia já não sofrem tanto com a malária,
relativamente sob controle na maior floresta tropical do mundo, mas sim
com as doenças comuns das grandes cidades, como a hipertensão arterial e
a dislipidemia.
Assim constatou um estudo da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp) feito com índios da etnia Khisêdjê que vivem no
Parque do Xingu, um enorme conjunto de reservas ambientais e indígenas
com 27 mil km² no meio da Amazônia do Mato Grosso e longe das grandes
cidades.
Os índios, apesar de permanecerem na selva e conservarem
parte de suas tradições, não são alheios às chamadas 'doenças da
modernidade', disse à Agência Efe Suely Godoy Agostinho Gimeno,
coordenadora do estudo que elaborou o 'Perfil Nutricional e Metabólico
dos Khisêdjês'.
O estudo, baseado em avaliações médicas feitas em
179 índios em 2011, constatou que a doença de maior incidência
atualmente entre os khisêdjês é a hipertensão arterial, ao contrário de
1965, quando as principais causas de morte nesta etnia eram a malária,
as doenças respiratórias e a diarreia.
De acordo com a pesquisa,
apesar das doenças infecciosas e parasitárias ainda serem uma importante
causa de mortalidade entre estes índios, as que mais cresceram nos
últimos anos foram as crônicas não transmissíveis, como a hipertensão, a
intolerância à glicose e a dislipidemia, que é um aumento anormal na
taxa de lipídios no sangue.
A avaliação mostrou que 10,3% dos
índios sofrem de hipertensão arterial. Os casos mais preocupantes
atingem 18,7% das mulheres e 53% dos homens.
A intolerância à
glicose foi diagnosticada em 30,5% das mulheres e em 17% dos homens, e a
dislipidemia em 84,4% dos pacientes avaliados.
Se comparada à
população não indígena a prevalência dessas doenças ainda é inferior,
mas significativa para um grupo em que os índices de doenças da
modernidade eram irrelevantes.
'Nossa hipótese é que essas
transformações ocorreram devido a uma maior aproximação dos centros
urbanos e à intensidade do contato dos índios com a sociedade não
indígena', afirmou Suely Godoy.
A especialista também atribuiu o
fenômeno ao fato de alguns índios passarem a ser assalariados e deixar
de lado as práticas de subsistência tradicionais.
O problema
também pode ser explicado, segundo a pesquisadora, pelo 'maior acesso
dos índios a bens de consumo como alimentos industrializados,
eletrônicos e barcos a motor, que anula a necessidade de remar'.
Suely
Godoy esclareceu que os khisêdjês vivem nas aldeias do Parque do Xingu e
estão distantes cerca de cinco horas por terra do centro urbano mais
próximo.
'Mas, eventualmente, eles vão até lá e têm acesso aos
mercados das cidades', disse ao se referir à presença de alimentos
industrializados na dieta de uma etnia que durante séculos viveu da
agricultura, da caça e da pesca.
O perfil de saúde da etnia ficou
prejudicado devido às mudanças que 'favorecem a incorporação de novos
hábitos e costumes, e reduzem os níveis de atividade física
tradicional', afirmou.
O estudo constatou que 36% das mulheres estão com sobrepeso ou obesidade, porcentagem que chega a 56,8% no caso dos homens.
A
doutora em Saúde Pública admite que é difícil 'generalizar' para outras
etnias da Amazônia ou do Brasil o ocorrido com os khisêdjês devido à
diversidade existente entre os povos indígenas do país, principalmente
pelas diferenças culturais e ambientais.
Mas esse perfil de saúde,
que inclui atualmente a presença das chamadas 'doenças da modernidade',
já foi relatado em outros povos que vivem tanto no Parque do Xingu como
em outras regiões, como é o caso dos Xavantes, assegurou.
N.doB.: A aproximação dos centros urbanos a culturas tradicionais, a despeito de oferecer "conforto" para a população, primeiramente destrói a tradição local, desenraíza sua população da própria visão que tinha do mundo, seja por instituição religiosa ou tradição popular, e assim abre as portas para uma confusão sobre sua situação espiritual e existencial, destruindo barreiras necessárias para a compreensão de si mesmo. Assim, perdem-se não somente as culturas, mas a saúde do próprio povo, a própria vida do povo, que eram garantias da sua tradição religiosa, através da qual conheciam a si mesmos e assim podiam cuidar melhor do próprio corpo.
A urbanização forçada dos povos é uma dissolução deles próprios, feita com preconceitos culturais urbanos (diz a crença urbana e moderna que televisão e produtos industrializados são conforto para todo mundo, e que todo mundo necessita de tais coisas). Se isto não é um nazismo às avessas, então não se sabe o que é.
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