sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Obama a Putin: Faça o que eu digo e não o que eu faço...

Por Adrian Salbuchi


A contenda entre os EUA e o Moscou sobre a extradição de Snowden chegou a um novo nível de tensão após Barack Obama cancelar uma reunião há muito planejada com o presidente russo Vladimir Putin, mostrando mais uma vez a tendência dos EUA para políticas de ‘dois pesos e duas medidas’.

Isso se remonta a Putin finalmente ter decidido dar asilo temporário ao denunciante da NSA Edward Snowden, especificamente ignorando a diretiva pessoal de Obama que dizia que Snowden deveria ser entregue aos EUA. Com essa medida, Putin reafirma a crescente fadiga da Rússia e do Mundo sobre a estratégia estadounidense de ‘cenoura-e-vara’ e seu discurso de falsidade.

Ambos presidentes haviam concordado em fazer uma reunião em Moscou no mês que vem para discutir assuntos bilaterais mas, lendo nas entrelinhas, pode-se perceber claramente a crescente frustração por parte dos EUA e seus aliados globais quanto a Rússia e a China, as únicas potências principais que podem fazer frente a eles, trazendo, em alguma medida, o tradicional equilíbrio de poderes ao mundo atual; mesmo que receoso e frágil.

Revelação

Assim como com Julian Assange, o caso envolvendo Edward Snowden é bem conhecido ao redor do mundo:  ambos estavam em uma possível de acessar informações de ‘debaixo dos panos’ com credibilidade, junto com os documentos que as sustentam e ambos vieram bravamente a público revelando-as.

Se a prova está no pudim, então a raiva e a ira dos EUA e dos seus aliados são prova que as revelações são de fato verdadeiras,  que é o motivo pelo qual uma grande parte da opinião pública global louvam Snowden e Assange como verdadeiros heróis e lutadores pela liberdade.

Porque quando falam-se sobre os verdadeiros motives e das atitudes e objetivos inconfessáveis por trás de grande parte das políticas forâneas e domésticas de EUA, Grã-Bretanha e Israel, milhões de Hamlets modernos podem cheirar que há algo definitivamente muito podre, e não precisamente no Estado da Dinamarca.

Se, como acreditamos, as elites globais supranacionais estiverem profundamente enraizadas nas estruturas públicas e privadas de nações chave – notavelmente os Estados Unidos e o Reino Unido – então, claramente, o seu Calcanhar de Aquiles é toda e qualquer revelação dos seus crimes, da sua interferência nos negócios internos de outros países, seu envolvimento direto ou indireto em ataques de falsa-bandeira, seu apoio a regimes genocidas quando estes servem aos seus propósitos, suas invasões assassinas do Iraque, Afeganistão, Palestina e Líbia e seu obsceno financiamento e apoio a terroristas, guerrilhas e máfias na Síria e n’outros lugares, sob nome falso de ‘Primavera Árabe’.

Agora, se dar asilo temporário a um descontente ex-funcionário de 30 anos da Agência de Segurança Nacional (NSA)como Snowden, tem tamanho impacto na estrutura de poder dos EUA – tão grande que fez com que o presidente dos Estados Unidos cancelasse uma reunião chave com o presidente da Rússia – então pode-se questionar sobre o medo e temor que eles devem sentir quando se trata de potenciais ‘brechas na segurança’ muito mais sérias.

E se um grupo realmente organizado de gente realmente poderosa de dentro, transformados em gente de fora, decidisse confrontar Washington, Nova York, Londres e Tel-Aviv com evidências inquestionáveis de seus crimes e criminosos? E se, dizemos, alguém surja com provas totais e inquestionáveis da verdade por trás do 11 de setembro? Ou Iraque e Líbia? Ou de Wall Street em 2008? Ou Londres no 7/7…?

Rússia e China: inimigos estadounidenses do Século XXI


Naturalmente, os hegemônicos globais odeiam qualquer um que faça frente a eles, o que é claramente o que a Rússia vem fazendo na última década. Na ONU, onde a Rússia tem sido mais suportável com os interesses dos EUA, após o monstruoso assassinato do líder líbio, Muammar Gaddafi , apoiado pelos EUA, e transmitido ao vivo na TV, e do estupro da Líbia em 2011, parece que Moscou ficou realmente ‘de saco cheio’.

O assassinato de líderes globais, para a risada de Hillary Clinton na CBS News, definitivamente não esta na agenda de Moscou.

Uma mudança chave na política externa da Rússia pode ser vista claramente nos casos do Irã e, mais significativamente, na Síria, um tradicional aliado russo.

Os EUA, o Reino Unido e Israel sabem muito bem que mesmo que eles continuem a financiar os piores terroristas, mafias, assassinos, traficantes de arma e agentes da Al-Qaeda – a quem eles coletivamente chamam de ‘lutadores pela liberdade’ – contra o governo legítimo de Bashar Assad, a Rússia simplesmente não irá deixar.

A mensagem de Putin é clara: o Ocidente não terá as coisas ao seu modo na Síria. Ponto final.

Muitos leitores estão provavelmente perguntando, e a China? A China não deveria ser um alvo chave para o Pentágono nos anos vindouros, por causa do seu contínuo crescimento e pelo fato de que sua economia logo passará a dos EUA?

Sim, mas é apenas a economia e, sim, a China é dono de quase US$2 trilhões em letras de câmbio do Tesouro Americano, o que os dá o potencial de gerar o caos nos EUA simplesmente os liquidando a curto-prazo nos principais mercados financeiros globais. A China poderia, caso quisesse, derrubar o Dólar americano como as Torres Gêmeas do World Trade Center em 2001.

Mas os EUA sabem que a China não fará isso; não agora, pelo menos, já que eles têm muito mais a perder de um colapso financeiro dos EUA do que a ganhar. A China sabe que acionando a desvalorização em massa daqueles Tesouros, [o ato] iria produzir efeitos negativos e que iria explodir bem nas suas caras.

Além disso, a China nunca teve, nem tem hoje, objetivos de hegemonia global. A China parece bem feliz em ser e continuar sendo o poder inquestionável do Sudeste Asiático e do Leste do Pacífico, algo que é absolutamente contrastante com EUA/Reino Unido/Israel, que juntos insistem em mandar no mundo inteiro: politicamente, territorialmente, financeiramente, até mesmo tentando impor seus tribunais e leis.

Ademais, a China tem poucos problemas para um conflito aberto: Tibet, Taiwan, um par de ilhas disputadas com o Japão, talvez, mas é basicamente isso. A sua luta permanece nos estágios econômicos e de recursos.

Agora, comparem isso aos conflitos permanentes que os EUA e seus aliados agitam no Oriente Médio, África, América Latina, Europa Central, etc.

A China não precisa ser contida; ela é auto-contida. Os EUA e seus aliados, no entanto, devem ser contidos e, vendo como as coisas andam, a longo prazo, eles devem ser parados.

A Rússia pode ter bem menos poder econômico que os EUA, apesar disso, o Kremlin sempre teve objetivos geopolíticos a longo-prazo bem claros; inteligentemente desenhados e planejados desde os tempos dos czares, depois sob os Bolcheviques, e hoje sob a sua liderança madura, coerente e consistente.

Porque a Rússia não tem apenas objetivos globais, ela entende o mundo e suas complexidades multiculturais muito melhor que os EUA. Nisso a Rússia é apenas rivalizada pela Grã-Bretanha... e pela China.

Então os EUA estão voltando à retórica do ‘Império do Mal’, da Rússia se colocando como obstáculo no caminho da ‘democracia’, da Rússia apoiando os ‘vilões’?

A verdade é que a Rússia esta ajudando a desmascarar a decadência social e política dos EUA, sua fragilidade financeira e seu psicótico esgotamento imperialista.

Quando a Rússia faz frente aos EUA, ela demonstra força, personalidade e auto-respeito. O mundo observa e aplaude.

Dois pesos e duas medidas

No dia 7 de agosto, Obama apareceu no popular programa de Jay Leno, o ‘Tonight Show’, lamuriando e reclamando sobre Putin, acusando Moscou de voltar ao “modo Guerra Fria”. Ele listou as queixas dos EUA contra a Rússia: defesa de mísseis e controle de armas, relações comerciais, segurança global, direitos humanos, sociedade civil... e aconselhou o presidente Putin a não olhar para o passado mas para “pensar sobre o futuro, já que não há nenhuma razão de não podermos cooperar”.

Obama não parece entender que para pensar corretamente sobre o future, requer aprender das experiências do passado. Tratando do Assunto Snowden em isolamento não é nada além de outro exemplo dos dois pesos e duas medidas empregado pelos EUA e de seu discurso falso.

Como o jornalista Glenn Greenwalf, do The Guardian londrino lembrou seus leitores naquele mesmo dia, enquanto Obama e a mídia principal expressam tanta aflição sobre o asilo de Snowden concedido pela Rússia, eles parecem esquecer casos passados onde os lados estavam invertidos, e que não envolviam um jovem denuncista de modos simples, mas ao invés disso, onde os EUA protegeram os piores criminosos e assassinos.
Por exemplo, os EUA se negaram a analisar um pedido de extradição da Itália para dois agentes da CIA, indiciados no sequestro de um clérigo egípcio em Milão no ano de 2003 (New York Times, 28 de fevereiro de 2007); depois disso, quando o agente da CIA Robert Seldon Lady foi libertado no Panamá, ele voou direito para os EUA para evitar a possibilidade de ser extraditado para a Itália (Washington Post, 19 de julho de 2013).

Então nós temos a recusava estadounidense em extraditar o presidente boliviano apoiado pela CIA, Gonzalo Sánchez de Lozada – para quem por todas razões práticas foi dado asilo pelos EUA – para que ele fosse julgado por genocídio e crimes de guerra na Bolívia (The Guardian, 9 de setembro de 2012). Ou o caso de Luis Posada Carriles, de quem a extradição para a Venezuela também foi negada pelos EUA, sobre o seu alegado papel na explosão de um avião cubano em 1976, que matou 73 pessoas (El Paso Times, 30 de dezembro de 2010)

A lista não acaba aqui. Em anos recentes, Argentina, Uruguai, Chile e Brasil preencheram repetidos pedidos e citações legais pedindo para que os EUA entregassem um tal Sir Henry A. Kissinger, procurado para questionamento sobre seu envolvimento de uma década com os assassinatos dos governos militares apoiados pela CIA naqueles países durante os anos 70, sob uma estratégia de genocídio em massa que posteriormente ficou conhecida como ‘Plan Condor’.

Mas de novo, a Elite Global sempre apoiam seus filhos problemáticos como o Sir Henry até o final. O juiz espanhol Baltasar Garzón foi tão longe a pedir a Interpol para que prendesse Kissinger para questionamento durante sua visita a Londres mas – Ai de mim! – sem sucesso.

E nem vamos mencionar os repetidos pedidos de extradição das Cortes belgas contra o ex Primeiro Ministro Israelense Ariel Sharon pelos seus crimes de guerra e crimes contra a humanidade, requeridos pelas vítimas libanesas dos seus massacres em 2001.

A lista é grande demais. Mas os dois pesos e duas medidas são chocantemente óbvias, o que não parece chatear demasiadamente os Hegemônicos Globais, já que eles estão bem acostumados a sempre ter as coisas ao seu modo.


E mesmo quando eles tomam algum risco, eles usam sua avassaladora alavancagem para jogar seu jogo com segurança, como se dissessem “vamos tirar cara ou coroa: cara eu ganho, coroa vocês perdem”.



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