sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O Confronto: Dugin, Fukuyama e Krastev

Por Flavia Virginia

Steve Paikin da TVO - âncora da mídia educacional canadense de Ontário, o mesmo entrevistador de Michael Millerman em Dezembro passado - convida o filósofo russo Alexandr Dugin, o político-cientista norte-americano Francis Fukuyama e o búlgaro presidente do Centro de Estratégias Liberais (Sofia), Ivan Krastev, para discutir suas perspectivas sobre um punhado de temas no campo político.

Os caráteres

Steve Paikin é o âncora da TVO - não muito inteligente, mas esperto o bastante para fazer duas coisas importantes: jogar a bola para Fukuyama sempre que necessário; convidar uma pessoa para fazer o papel que ele não poderia fazer como um convidado, mas precisa de um empregado liberal: Krastev, o descrente.

Fukuyama aparece como um liberal de moda antiga: operando através de mentiras físicas e metafísicas, levando seus credos e maneiras liberais, para o indissimulado contentamento de Paikin. Ele é certamente um habitué no show e se sente confortável, e também fatigado. O que ele faz ali? Vende seu livro, agradece seus empregados, troça as pessoas com algumas técnicas refinadas - o que é comum.

Krastev, por outro lado, é um liberal pós-moderno contemporâneo, que procede via verdades virtuais, ou seja, verdades que não convêm humanamente. Ele é, assim, mais preparado aos aspectos dividualistas da próxima época (pós-modernidade), e oferece suas bênçãos em uma conversa que terminará como que "por que confiar em instituições que falharam conosco? Atualmente, se é livre para criar/recriar a gama de relações, o modo como se trabalha, o sexo; portanto, é puramente natural que também se escolha sua política, uma política que fecha precisamente com você! Espere apenas dez minutos, estou preparando um app que ajudará você a fazer isto!"

O app não vem, não porque os mestres não podem fazê-lo, mas porque seu dever é gerar um topos de descrença, um vácuo epistêmico, uma desesperança epistêmica. E ele é bom nisso.

Alexandr Dugin pacientemente e etnosociologicamente faz o papel do Outro, de que o liberalismo não pode permanecer de qualquer modo. Ele explica que outros povos podem querer, e querem, destinos feitos por eles mesmos e que o direito de não-interferência é uma dignidade pela qual se deve lutar. Ele também cria uma ponte vanguardista, mas difícil de sustentar, entre passado e futuro, entre tradição e uma Pós-Modernidade feita por cada povo sem a intrusão do Ocidente. Ele explica como o sofrimento, por exemplo, é visto como parte natural da vida russa. Ele está querendo problemas.

Os Dogmas Principais

Os de Fukuyama:
1- Nunca ir ao núcleo das coisas - "Nós [EUA] não somos bons em democratizar países". Mas então de novo, quem no mundo perguntou a você para fazer isto "por nós"? Esta questão tem de ser respondida honestamente - o fato de Paikin não fazer esta questão prova que o show é vendido.
2- Substituir a verdade por correção política - "Democracias liberais não lutam entre si". A ideia é misciva no mínimo por três razões:
2.1 - o problema com esta afirmação está não só na exatidão em si (houveram guerras entre democracias), mas também no fato de que seu credo é precisamente o que leva à guerra entre outros tipos de regime, que são considerados intrinsecamente um crime punível pela guerra; portanto, a afirmação reconhece sua visão prejudicial do Outro como um fenômeno e legitimiza a necessidade de sua morte;
2.2 - a guerra, então, assume uma variedade de funções que, acima de tudo, enfraquecem o valor da vida, que o liberalismo pretende defender, precisamente, a todo custo; a guerra é um sistema fechado de negócios com a participação de alguns terceiros partidos, que fecham com os interesses dos próprios grupos específicos e, por aquelas razões extremamente importantes, não tem de seguir qualquer papel internacional, incluindo o "acordo de gentlemen" estabelecido acima;
2.3 - até mesmo antes da guerra, no entanto, precisamos tomar em consideração outras formas de opressão, como a economia, violência, corrupção, patrocínios de ditaduras, mercado negro, psicologia farmacêutica, substituição de cultura por subculturas, etc., todas elas muito mais "corretas" no quadro discursivo.
3 - tão logo que os princípios soam politicamente corretos ou têm chegado ao nível de cega conformidade, os meios para se chegar a eles e as consequências não contam, deixando de existir no discurso epistêmico liberal - "Há uma obrigação moral para apoiar povos que querem ser auto-determinados". Sim, como no Iraque, levando democracia através do sangramento do povo se supõe salvá-los através da democracia.

Os de Krastev
1 - concordando e discordando na mesma sentença para dissimular suas visões reais e assim manter-se trabalhando por seu mestre, executando suas ordens: descreditar, confundir e, acima de tudo, não deixar espaço para uma conclusão pessoal de parte do telespectador. Krastev vai como "Não quero, não vejo, não creio". Ele soa como um homem no meio do caminho, mas ele é realmente bem assentado na presidência do seu Centro de Estratégias Liberais.

2 - não há confiança possível. O que estava certo é o que ultimamente estava errado. Coisas fora de si. Ou, nas entrelinhas, criar um NGO e obter algum dinheiro para pesquisas de liberais, que é o que melhor pode fazer;

3- Claro que apoia a União Europeia acima de tudo (não está dito lá, mas quase em tudo o mais em sua obra).

Os de Dugin

1 - ele representa o Outro total: tudo que foi antes virtua, tudo que deve existir depois. Dugin deve seguir adiante - nós somos a verdadeira maioria, mas temos muito poucos profetas para lutar nas velozes arenas. Ademais, para lutar com virtualidade. Verdade para manter, apenas não-liberais podem compreender sua mensagem. Entretanto, somos muitos e o que mais precisamos agora é representação.

A moral: vamos traduzir mais dos seus trabalhos, treinar mais pessoas para estar no fronte e vamos nos unir por liberdade.

O Sentido Final

Tanto Fukuyama como Krastev sempre se submeteram a um quadro institucional, nunca chegando ao papel da espiritualidade, da coletividade, da família como entidades outras além das institucionais. Por sua vez, a Igreja existe para atender "momentos" religiosos; como votar ou participação política substitui a coletividade e a família está realmente sob ataque. A pessoa não é vista como um todo, e esta não-antropologia ou pós-antropologia é tão importante para suas ideologias ocultas como a nossa antropologia holística é central para a Quarta Teoria Política.

Isto fica bem claro quando Fukuyama diz "eu não penso que a cultura guia as características humanas que transcendem a cultura - ou seja instituições políticas contam para a cultura", ou com Krastev repetindo "a cultura muda". O resultado desse pensamento é que as identidades podem ser substituídas por qualquer construto ideológico. Isso é precisamente a razão dos liberais compreenderem a cultura como uma configuração de instituições apesar da dinâmica expressão da própria identidade.

Mas, como dito antes, Fukuyama (ou o fukuyanismo) não mais representa um perigo para o cerne das instâncias tais como a Quarta Teoria Política, Eurasianismo e Multipolaridade. Essa retórica carece de pós-modernidade, ainda está cheia de cegas crenças nas maravilhas do mundo liberal ainda mesmo se Fukuyama entitula seu livro "Political Order and Political Decay". Há ainda um gosto de esperança humana aí, e isso deve ficar no passado. Essa é outra era quando povos estão sendo preparados para um profundo mergulho no niilismo. Eles precisam de um discurso nessa direção. Eles precisam estar desconectados do que está dentro, rompido e fragmentado. Uma existência virtual trabalhará como um refúgio para as mentiras que a política, uma pseudo-espiritualidade e um fácil entretenimento cria para eles. Krastev é sua meta perfeita.

Assim, ultimamente, nós temos o seguinte quadro:

-Fukuyama: permanece com o liberalismo (democracia liberal, liberdade individual, individualismo, relatividade, livre-mercado, unipolaridade, imperialismo, politicamente correto);
-Krastev: permanece com o pós-liberalismo (pós-humanidade, dividuum e dividualismo, hegemonia norte-americana/OTAN como globalização, vacuum de valores, virtualidade);
-Dugin: permanece com a Quarta Teoria Política (Tradição, Eternidade, Pós-Modernidade da Luz, Multipolaridade, Eurasianismo, Família, o Sagrado).

Nossas tarefas futuras

Precisamos reconfigurar o modo de transmitir informação e nossas ideias centrais através da mídia. Não podemos emular o modo liberal, não funciona para nós - modo demasiado oco, e somos criaturas do profundo, da amplitude e das alturas. O todo é o nome de nossa identidade, com muitos comos. Nossa principal tarefa é a desconstrução do liberalismo.

via 4pt 

Abaixo, o debate em inglês
 

À Laocracia!

Por Alexander Dugin


Sob o capitalismo, os capitalistas governam. Sob o socialismo - representantes das classes operárias, o proletariado. Sob o nazismo e o fascismo - a elite racial ou nacional, "a nova aristocracia". Sob a Quarta Teoria Política deveria reinar o Narod (Povo, semelhante à palavra Volk para os alemães, e não no sentido de "população").

A Rússia Moderna - tem capitalismo. Logo, é necessário levantar uma revolução anti-capitalista (anti-oligárquica). Magnatas financeiros deveriam ser excluídos do poder político. E isto é o principal. Todos deveriam escolher - poder OU riqueza. Escolha riqueza, esqueça o poder. Escolha o poder - esqueça a riqueza.

A revolução deve acontecer em três estágios:

1 - Ultimato a todos os oligarcas (cem pessoas da lista da Forbes e mais outras cem que se escondem, mas que nós sabemos de quem se trata) juramenta fidelidade ao pensar russo (todos os pensares estrangeiros e estratégicos nacionais devem ser controlados por forças especiais).

2 - Nacionalização da maioria das propriedades privadas de importância estratégica.

3 - Transferência de representativos patriotas de grande capital na categoria de oficiais com a transferência voluntária da sua propriedade ao Estado. Derrota nos direitos civis (inclusive a privação do direito ao voto, participação em campanhas eleitorais, etc.) àqueles que preferem preservar capital em escala não-estratégica, mas significante.

O Estado deve se tornar um instrumento do Narod. Este sistema deveria ser chamado de "Laocracia", literalmente, "poder dos povos" (Laos - do grego, Povo).

Em uma batalha sangrenta pela Ucrânia, nós vemos a verdadeira face do capital - grandes negociantes ucranianos (oligarcas como Poroshenko, Kolomoysky, Ahemetov, etc.) comandam o genocídio contra o Narod; oligarcas russos traem o Narod encabeçando um acordo criminoso com as partes ucranianas. E tudo isso no interesse da oligarquia global - o sistema capitalista global, centrado nos Estados Unidos.

Agora expõe toda incompatibilidade da Rússia com o capitalismo. Ou Capitalismo, ou Rússia.

Isto não é claramente compreendido pelos líderes da Nova Rússia (Novorossiya). Eles, na frente de todo o Narod russo, de fato começaram esta Revolução do Narod Russo. Este é o motivo de furiosamente atacarem os devotos mercenários da junta, porcos-fascistas ucranianos, tão bem como os elementos liberal-capitalistas da quinta e sexta colunas da Rússia. E o mais importante é que se tornaram inimigos existenciais dos EUA e do Governo Mundial. Strelkov, Gubarev, Purgin, Pushilin, Mozgovoy - desafiaram o capital global. E eles fizeram em nome do Narod. Nesse caso, em nome do Povo Russo. Mas se os apoiadores do povo ucraniano fossem consistentes, seriam aliados da Revolução, e não escravos miseráveis do capital global - como o são.

Voltando-se para a Nova Rússia, os ucranianos não se voltam exatamente para a Rússia, e nem mesmo no lado russo, mas no lado do Narod, o Povo com uma carta capital, com lutas em batalha mortal com o mundo do Capital, no lado da Laocracia.

Portanto, a vindoura campanha contra Kiev não é meramente em vingança e não apenas pela liberação das antigas terras russas, mas é uma campanha contra o Capital em favor da Laocracia, o poder do Narod, pelo Estado do Narod.

Não penso que a oligarquia russa apoiará esta campanha, não pode deixar de compreender que seus dias estão contados. É por isso que ela tão histericamente grita "não enviem tropas", desde que a vitória da Nova Rússia significará inevitavelmente um renascimento da Rússia em si mesma, o despertar do Narod. Esta é a razão das tentativas desesperadas em trair a Nova Rússia. Esta agonia da oligarquia russa e de seus mercenários públicos. Sua tarefa - destruir os heróis da Revolução da Nova Rússia - não somente Popular, mas também social, e destruir na raiz.

via Openrevolt